Regulador suíço diz que publicitar Mundial do Qatar como neutro em carbono é “falso e enganador”
A Comissão Suíça para Justiça na Comunicação Comercial ordenou à FIFA, que tem sede em Zurique, que parasse de descrever o Mundial de futebol, no Qatar, como “neutro em carbono”.
A Comissão Suíça para Justiça na Comunicação Comercial (SLK, na sigla em alemão) ordenou à FIFA, que tem sede em Zurique, que parasse de publicitar o Mundial de futebol, no Qatar, como sendo evento neutro em carbono, por considerar a mensagem como “falsa e enganadora”. Para a associação ambientalista Zero, que divulga a informação, esta terça-feira, um comunicado, “esta é uma vitória contra o greenwashing com implicações a nível mundial para os megaeventos, empresas e legisladores”.
Esta decisão surgiu em resposta a uma queixa apresentada em novembro pela Associação de Defesa do Clima Avocats.e.s pour le Climat) em nome da Alliance Climatique (Suíça) e de quatro organizações da sociedade civil europeia, que tinham apresentado queixas na sua própria jurisdição e que foram reencaminhadas para a Suíça. As queixas basearam-se nas conclusões da investigação da Carbon Market Watch, de que a Zero faz parte, sobre as alegações climáticas do torneio. Segundo a associação, uma das principais razões pelas quais a alegação de neutralidade carbónica do Campeonato do Mundo do Qatar “foi exagerada” deve-se à subestimação das emissões atribuíveis associadas à construção dos novos estádios permanentes, que foram subestimadas por um fator de oito.
“Tal foi possível através de uma manobra de contabilização criativa das emissões, em que apenas foram consideradas as emissões associadas a algumas semanas, quando o alegado tempo de vida dos estádios do campeonato é de 60 anos”, explica o comunicado. Ademais, acrescentam, “outras fontes de emissões foram provavelmente igualmente subestimadas, como as relacionadas com os voos de vaivém para os jogos do Campeonato do Mundo”.
Para a associação ambientalista Zero, “é impossível, por uma série de razões”, que um evento desportivo à escala mundial anule o seu impacto climático através de compensações de carbono. Um dos principais problemas prende-se com a qualidade e a falta de benefícios climáticos dos créditos de carbono utilizados para neutralizar o impacto climático do Mundial de futebol.
“Os créditos de carbono utilizados provêm, predominantemente, de projetos de energias renováveis que já não são aceites pelos principais organismos de normalização no mercado do carbono porque se tornaram economicamente viáveis por direito próprio e, por isso, o seu financiamento através de créditos de carbono não oferece qualquer benefício adicional para o clima”, explica a ONG liderada por Francisco Ferreira. Além disso, apesar de a FIFA se ter comprometido a comprar e a utilizar créditos suficientes para cobrir a totalidade das emissões do Campeonato do Mundo, tal ainda não aconteceu, reportam.
As contas dos ambientalistas sugerem que a FIFA utilizou créditos que representam pouco menos de 1,1 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono. Isto equivale a menos de um terço das estimativas da própria FIFA sobre a pegada de carbono do Campeonato do Mundo que, segundo a entidade, seria de cerca de 3,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
Além disso, a FIFA anunciou que iria compensar metade do impacto climático do Campeonato do Mundo através de reduções de emissões conseguidas por uma central de energia solar. “No entanto, este projeto não está registado em nenhuma norma do mercado de carbono existente e, por conseguinte, não gerou quaisquer créditos de carbono”, denuncia a Zero.
Para Francisco Ferreira a decisão do regulador suíço vem sustentar o combate contra o greenwashing, ou seja, falsa aparência pública de sustentabilidade e “envia um sinal aos governos e às entidades reguladoras para que se mobilizem e imponham
uma proibição total no uso de termos que impliquem a neutralidade carbónica ou climática de produtos (bens e serviços) ou empresas”.
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