Altice foi alertada para risco de fraude com fornecedores antes da Operação Picoas
Trabalhadores, sindicatos e uma consultora já tinham alertado a gestão da Altice para receios e riscos envolvendo Armando Pereira e a rede de fornecedores do grupo, segundo a Bloomberg.
O grupo Altice garante ser “vítima” das alegações que estão a ser investigadas na Operação Picoas, e o fundador do grupo, Patrick Drahi, mostrou-se chocado com o caso. No entanto, ao longo dos anos, trabalhadores, sindicatos e uma consultora externa lançaram vários alertas sobre as relações do grupo com alguns dos principais fornecedores, noticia esta segunda-feira a Bloomberg.
De acordo com a agência, que falou com mais de uma dúzia de fontes ligadas à multinacional, incluindo trabalhadores e ex-trabalhadores, responsáveis de alto nível na Altice foram informados de problemas de governação, da potencial viciação de contratos e do alegado nepotismo de Armando Pereira. O cofundador, parceiro de negócios de longa data de Patrick Drahi, é uma das figuras centrais no caso judicial que eclodiu em Portugal no início do verão.
A Bloomberg noticia que, numa reunião em 2017, pouco depois de Armando Pereira se tornar vice-presidente executivo da operadora francesa SFR (atual Altice France), membros de um sindicato francês confrontaram o cofundador com alegações de que adjudicaria contratos a empresas suas ou de familiares.
Também foram feitas referências à alegada “interferência sistemática” de Armando Pereira em processos de decisão na Altice, “opacidade financeira” e “confusão entre interesses pessoais e o propósito social da companhia”, descreve a agência. Nessa reunião, estavam presentes o CEO da SFR e representantes do departamento de recursos humanos, refere.
Além disso, em 2019, a Deloitte, uma consultora, chamou a atenção para o que descreveu como “risco de fraude” na Altice Europe, no relatório anual da empresa. A auditora referiu que a gestão conseguia sobrepor-se aos controlos internos que existiam para prevenir a corrupção e, numa carta remetida ao Conselho de Administração nesse ano, alertou para “deficiências significativas no controlo interno”. Nesse mesmo ano, a Altice substituiu a Deloitte pela KPMG.
Nos EUA, onde a Altice USA abriu uma investigação interna depois das buscas em Portugal, trabalhadores também sinalizaram preocupações com o facto de algumas empresas vencerem constantemente contratos para construir redes de fibra ótica apesar de nem sempre oferecerem as melhores condições, segundo a Bloomberg. A agência sublinha ainda que alguns trabalhadores seniores da Altice foram despedidos depois de levantarem dúvidas sobre a regularidade dos processos de contratação.
As alegações da Operação Picoas, que implicam ainda Hernâni Vaz Antunes (outra personalidade do universo Altice) e Alexandre Fonseca (ex-CEO da Altice Portugal, que não foi constituído arguido), já levaram à suspensão de mais de uma dezena de funcionários do grupo – incluindo do próprio Alexandre Fonseca, que pediu a suspensão do mandato de co-CEO do grupo Altice, que desempenhava, para proteger os interesses da Altice. Armando Pereira é investigado por suspeitas de lavagem de dinheiro, corrupção e fraude fiscal e está em prisão domiciliária.
Num comunicado divulgado em julho, a Altice International, o ramo do grupo que controla a Altice Portugal, citou as autoridades portuguesas para frisar que a investigação da Operação Picoas “está relacionada com práticas prejudiciais que afetaram a Altice Portugal e suas subsidiárias”, sublinhando, portanto, que a Altice foi “vítima de fraude” em todo este processo.
Segundo a Bloomberg, Patrick Drahi vai reunir com sindicatos franceses esta terça-feira, escreve a agência, o que acontece pela primeira vez desde que a Altice Portugal foi alvo de buscas das autoridades. O encontro vai decorrer na sede da Altice em Paris, França.
Contactada antes da publicação desta notícia, a Altice Portugal não quis fazer comentários.
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