Sitio abre cowork em Guimarães e prepara mais três em Gaia e Lisboa. Quer investir até 5 milhões

Rede de coworks aumenta para 15 o número de espaços sob gestão, em cinco cidades. Até 2025, quer atingir 50.000 metros quadrados sob gestão.

Guimarães, Gaia e dois novos coworks em Lisboa, na zona do Oriente e em Alvalade, são os novos espaços que a rede Sítio planeia abrir até março do próximo ano. Até 2025, a rede de coworks vai investir até cinco milhões de euros no seu processo de expansão, avança ao ECO Miguel Ricardo, general manager da rede Sitio.

“A nossa ambição é atingir uma capilaridade no país, para apoiar a democratização deste tipo de espaços de trabalho ao máximo de localizações. Aliás, por isso criámos um novo modelo do negócio, o coworkplace management, para cumprir este desígnio ao lado de parceiros e proprietários que podem ver nos seus metros quadrados inutilizados um “novo sitio” a crescer, com a marca SITIO”, afirma Miguel Ricardo, general manager da rede Sitio.

“As cidades e localizações na mira do Sitio serão sempre locais alinhados com novos ecossistemas a nascer, como há a norte, a emergir no sul e em regiões como Aveiro, Setúbal e agora Guimarães”, refere o responsável quando questionado sobre possíveis novas localizações da rede.

Esta semana abre no Minho Innovation & Technology Hub, em Guimarães, o novo espaço da rede na região Norte. Com cerca de 1.200 metros, capacidade para 202 postos de trabalho e um Sitio Café, a unidade está instalada num espaço dedicado a negócios, tecnologia, que pretende atrair gabinetes de engenharia e arquitetura, mas também a criação de startups e scaleups, tirando partido da proximidade à Universidade do Minho.

E ainda a Norte, com abertura prevista o primeiro trimestre de 2024, irá surgir o Sitio Gaia, frente ao El Corte Inglés, com capacidade para 360 desks em 2.400 metros quadrados.

Em Lisboa, a rede inaugura o primeiro exemplo de uma nova área de negócio – o coworkplace management – na “Cidade Bi4All”, com a Sitio a ficar responsável pela gestão dos 4.400 metros quadrados da tecnológica que, em 2021, investiu oito milhões de euros nas novas instalações (com um total de 7.000 metros quadrados), na zona Oriente.

Em Alvalade, no primeiro semestre de 2024 a rede conta aumentar a área do atual cowork em cerca de 2.200 metros quadrados, para acolher um “vertical estratégico e exclusivo”, com capacidade para 270 postos de trabalho.

Expansão com regresso ao escritório

Com este movimento de expansão, a rede aumenta para 15 o número de unidades de coworks em cinco cidades – Lisboa, Porto, Setúbal e Guimarães –, adiciona à atual rede mais 5.000 metros quadrados, para 26.000 metros quadrados, e mais 650 postos de trabalho, para 2.650, a capacidade da rede.

No início do ano, o plano era, até 2025, atingir os 50.000 metros quadros. Mantém-se? “O plano foi revisto e foram tomadas decisões estratégicas de reestruturação da rede, encerrando unidades mais pequenas que não permitiam, pela sua reduzida dimensão, oferecer o serviço que pretendemos”, admite Miguel Ricardo. “Com as aberturas já planeadas atingiremos os 26.000 metros quadrados no primeiro semestre de 2024, mantendo o objetivo de continuar a abrir novos espaços”, diz.

A expansão surge ainda num momento em que o Governo se prepara para retirar benefícios fiscais aos residentes não habituais – que também se aplicava aos nómadas digitais – e trabalhadores internacionais já se queixam do aumento do custo de vida e da dificuldade da habitação. Miguel Ricardo admite um impacto q.b. na operação.

O perfil das nossas comunidades e o nosso posicionamento no mercado está muito mais direcionado para empresas do que para nómadas digitais. Contudo, seremos sempre uma porta aberta e temos espaços e estações de trabalho pensados, tanto para nómadas digitais, como para profissionais, freelancers e outros congéneres que procuram espaços colaborativos para desenvolver os seus negócios e fazer parte de uma comunidade, em vez de trabalhar de forma mais isolada”, começa por referir o general manager da rede Sitio.

Temos várias empresas internacionais que escolheram Portugal para desenvolver o seu negócio e aqui sim, poderá ter algum impacto”, admite. “Portugal tem vivido alguma instabilidade legislativa e, a par do que assistimos no mundo, em nada contribui para a confiança das empresas. Nesse caso, impacto atingirá a todas as fileiras de uma forma geral. Mas no que respeita à tipologia do nosso negócio, o sentimento e resultados que temos – daí a nossa aposta na expansão –, permite-nos afirmar que estamos numa fase de democratização dos espaços de cowork, em que várias empresas, de maior ou menor perfil corporativo, procuram este tipo de ambiente e vêm uma oportunidade de contacto com comunidades inovadoras. No final do dia, continuamos a ser um país espetacular para viver, apesar do aumento do custo de vida e dificuldades de habitação”, refere.

O cada vez maior movimento de regresso ao escritório não deixa preocupado o responsável da rede de coworks, com as taxas de ocupação “acima dos 85% na maioria das localizações”.

“Esse é claramente um dos nossos objetivos, ajudar as empresas a juntar os seus colaboradores no escritório, mas por iniciativa dos próprios colaboradores e não por obrigação. Num mercado de trabalho cada vez mais global as empresas portuguesas têm grandes dificuldades em competir no componente salário, com empresas internacionais. Será muito mais fácil captar e manter talento fazendo com que os colaboradores se sintam felizes e parte de uma equipa e comunidade que se interliga”, considera o gestor.

“Estamos a apostar em atividades que tragam pensamento, criatividade, diálogo e eventos – sejam eles específicos para a empresa ou abertos à comunidade. Isto, aliado à localização conveniente e boa energia dos espaços e um profundo acolhimento e envolvimento com as comunidades, quase como se fossemos uma extensão dos RH das empresas que acolhemos. E mais planos estamos a desenhar, de futuro, ao nível de serviços que, embora ainda não nos vamos comprometer, acreditamos que serão catalisadores de vontade de ingressar ao local de trabalho”, refere ainda.

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Fiscalistas da Rödl & Partner reunidos em Portugal

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  • 23 Outubro 2023

Conferência internacional do grupo de Direito Fiscal da empresa alemã Rödl & Partner decorreu em Lisboa e contou com a presença do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Nuno Santos Félix.

Cinco anos depois da chegada da Rödl & Partner a Portugal, o ITLG meeting realizou-se pela primeira vez em terras lusas, nos dias 13 e 14 de outubro. Fundado em 2005, o ITLG é um fórum técnico onde se debatem temas de fiscalidade internacional, com o intuito de partilhar as melhores práticas globais. Integra os principais especialistas da Rödl & Partner na área da fiscalidade, representativos de mais de quatro dezenas de nacionalidades, e reúne duas vezes por ano. Desta vez, o palco escolhido para um intenso programa de trabalhos de dois dias foi a cidade de Lisboa. Marcaram presença mais de seis dezenas de fiscalistas de diferentes nacionalidades, bem como o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Na sessão de encerramento, Nuno Santos Félix destacou a importância do evento, sobretudo numa altura em que se vivem “tempos interessantes no que diz respeito ao direito tributário internacional”. O Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais admitiu que os portugueses são dos que pagam mais impostos nos países da OCDE mas que “Portugal tenta ser competitivo e focar os instintos sobretudo no que se refere à pesquisa e ao desenvolvimento das políticas fiscais”.

Filipe Lobo d´Avila, antigo Secretário de Estado da Administração Interna e atual Country Manager da Rödl & Partner Portugal estava naturalmente satisfeito com a escolha da cidade de Lisboa para os trabalhos do grupo de especialistas internacionais.

"Para o escritório português este é um momento particularmente importante. É o primeiro evento internacional com enorme relevância que realizamos em Portugal, com a presença dos nossos melhores especialistas internacionais em fiscalidade, em semana de apresentação do orçamento do Estado para 2024 pelo Governo Português e com a presença do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Temos que estar satisfeitos. A escolha de Lisboa é um reconhecimento pelo caminho realizado em Portugal, de crescimento e consolidação, mas é igualmente um alento para o futuro.”

Filipe Lobo d´Avila, Country Manager da Rödl & Partner Portugal

Por sua vez, o Managing Partner da Rödl & Partner e principal responsável internacional do ITLG, Hans Wegermann, sublinhou a importância do evento na partilha de boas práticas internacionais e na resposta articulada que se pretende dar aos clientes, referindo que “são reuniões técnicas muito importantes para a partilha de conhecimento, para a partilha de boas práticas e para partilha dos últimos desenvolvimentos fiscais nos diferentes países”. Wegermann agradeceu ainda a presença de Nuno Santos Félix no evento, sublinhando “a honra para a firma pela sua participação e a possibilidade de conhecer com maior detalhe a política fiscal que o Governo Português pretende desenvolver, em particular o novo regime de investimento que o Governo pretende criar em matéria de R&D”.

António Matos, novo responsável pelo departamento fiscal em Portugal, estava igualmente satisfeito com o resultado das reuniões. “A presença em Portugal de especialistas internacionais de vários países, como Alemanha, Espanha, Estados Unidos da América ou Quénia, entre outros, é uma oportunidade única para partilhar conhecimentos e encontrar soluções que melhor respondam aos desafios dos nossos clientes, num ambiente de tributação cada vez mais global”, referiu.

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Um preso em Portugal custa 56,33 euros por dia ao Estado

Feitas as contas, com o custo médio diário de 56,33 euros por preso, e tendo em conta a população prisional, os mais de 12.000 presos custam anualmente ao Estado cerca de 250 milhões de euros.

Um preso custa em média em Portugal, por dia, cerca de 56,33 euros. O valor foi avançado pelo Ministério da Justiça à Advocatus. Ou seja, por ano, cada recluso “pesa” na carteira dos contribuintes cerca de cerca de 20 mil euros (20.560,45 euros).

“O valor é calculado com base num conjunto de despesas que vão dos custos com pessoal, à assistência médica e medicamentosa, alimentação, limpeza, água, luz, gás, entre outras. Ou seja, todos os gastos com o funcionamento dos estabelecimentos prisionais, excluindo-se os custos relativos à construção, conservação e manutenção do edificado”, explicou fonte oficial do Ministério da Justiça.

Ainda assim, alertam que este custo médio, de 56,33 euros, tem subjacentes diferenças entre “tipologias de estabelecimentos”. “A título de exemplo, mais elevados os custos de funcionamento e por consequência o custo diário de um recluso internado num estabelecimento prisional de segurança especial e/ou num hospital prisional, que os custos de um recluso internado num estabelecimento prisional comum”, explicam.

Segundo dados da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, em 2022, estavam presos nos estabelecimentos prisionais portugueses 12.198 reclusos. Feitas as contas, com o custo diário de 56,33 euros, e tendo em conta a população prisional, os mais de 12.000 presos custam anualmente cerca de 250 milhões (250.796.369 euros) ao Estado.

Estabelecimento Prisional de LisboaWikimedia Commons

O custo médio de um preso tem aumentado gradualmente ao longo dos anos. A título de exemplo, em 2011 um recluso custava cerca de 40 euros por dia. Mas dois anos depois, em 2013, o valor ascendeu aos 53,7 euros. Entre 2013 e 2019, a variação foi menor, tendo o custo médio sido fixado nos 54 euros.

Recorde-se que em 2022, o Governo autorizou a despesa de aquisição de refeições confecionadas destinadas às populações dos estabelecimentos prisionais e dos centros educativos num valor de 68 milhões de euros entre 2023 e 2025. A este montante acresce o valor equivalente do IVA à taxa em vigor.

“A satisfação das necessidades alimentares das populações dos estabelecimentos prisionais e dos centros educativos, a cargo da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, é imprescindível e contínua”, justificou na altura o Governo.

Mas e como estão as prisões portuguesas? Sobrelotadas. Esta é a conclusão do relatório anual, relativo a 2022, do Mecanismo Nacional de Prevenção (MNP).

Segundo o MNP, quase metade dos presos em Portugal está num Estabelecimento Prisional sobrelotado. Ou seja, cerca de 5.422 reclusos estão a viver em condições de sobrelotação, o que representa cerca de 44,5% do total.

Este Mecanismo deixa ainda o alerta de que Portugal precisa de reverter esta situação e cumprir as condições mínimas de alojamento digno dos presos.

Qual é o país europeu com a duração média mais alta de penas de prisão?

É verdade, Portugal é o país europeu com a média mais alta de duração das penas de prisão, com 30,6 meses em 2021, mais do dobro da média europeia de 11,2 meses, segundo um relatório divulgado em junho.

De acordo com o SPACE I, o relatório anual de estatísticas penais do Conselho da Europa — organização europeia de defesa de direitos humanos, democracia e Estado de Direito — Portugal destaca-se entre 46 países analisados como aquele onde o tempo médio das penas de prisão cumpridas pelos reclusos é mais elevado, à frente da Ucrânia (27,9 meses) e da Moldávia (27,7 meses). No extremo oposto está o Chipre, com uma duração média de 1,3 meses.

Por outro lado, quase um quinto da população prisional em Portugal (19%) não se encontrava em janeiro de 2022 a cumprir uma pena de prisão decorrente de uma sentença, ou seja, estavam detidos ou em prisão preventiva.

Portugal encontra-se entre os países europeus com as percentagens mais baixas de presos não condenados, sendo a média europeia de 29%, altamente inflacionada por casos como o do Mónaco, com 64% de presos não condenados, ou do Liechtenstein, com 100% da população prisional nesta situação.

Portugal registava em janeiro de 2022 uma população prisional de 114 reclusos para cada 100 mil habitantes, ligeiramente abaixo da média europeia de 117 reclusos por cada 100 mil habitantes, mas era o quarto país europeu com uma maior percentagem de presos com 50 ou mais anos de idade, quase um quarto da população prisional dentro deste critério (24%), apenas atrás de Espanha (25%), Itália (28%) e Liechtenstein (33%).

Entre os critérios para uma população prisional envelhecida, Portugal destaca-se também entre os que têm uma maior percentagem de reclusos com 65 ou mais anos (4,1%), sendo o oitavo entre os que têm presos mais idosos, numa lista que não é um decalque ou consequência direta do critério anterior, uma vez que, admite-se no relatório, a percentagem de 6,6% de reclusos com 65 ou mais anos registada pela Sérvia pode estar relacionada com o elevado número de condenados por crimes de guerra.

A média europeia para a percentagem de reclusos com 50 ou mais anos é de 17% e a mediana é de 16%, com a média de reclusos com 65 ou mais anos nos 3,1%.

As mulheres representavam em janeiro de 2022 uma percentagem de 7% da população prisional portuguesa, acima dos 5,4% da média europeia. Os estrangeiros eram na mesma data 14% dos reclusos em Portugal, abaixo da média europeia de 25%. Neste indicador, o principado do Mónaco destaca-se com 93% de reclusos estrangeiros.

A densidade populacional nas prisões em janeiro de 2022 em Portugal era de 91 presos por cada 100 lugares, indicando que o país não se encontra em situação de sobrelotação prisional. Os dados revelam também que para cada funcionário prisional existiam na mesma data 1,7 reclusos, acima da média europeia de 1,6.

Ao longo de 2021, durante a pandemia de covid-19, Portugal registou na Europa a taxa mais baixa de novas admissões no sistema prisional, com 45 novos reclusos por cada 100 mil habitantes, mas registou também a segunda taxa mais baixa de libertações, com 42 saídas por cada 100 mil habitantes.

Portugal adotou durante a pandemia um regime excecional de perdão de penas para crimes com sentenças abaixo dos dois anos e excluindo crimes graves e de autorizações de saídas administrativas sob controlo das autoridades como forma de controlar a evolução da pandemia dentro dos estabelecimentos prisionais.

Ainda segundo o relatório do Conselho da Europa, Portugal tinha em janeiro de 2022 uma percentagem de 18% dos reclusos a cumprir pena por crimes relacionados com droga, próxima dos 19% da média europeia de condenações por crimes desta natureza.

Numa comparação com dados de 2005, Portugal registava em 2022 menos 6,6% de presos, situando-se entre o grupo de países europeus com uma variação positiva neste indicador.

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Relatório M&A: a análise da atividade em Portugal

  • ECO
  • 23 Outubro 2023

A Abreu Advogados, em parceria com o TTR e com o ECO, organizou o evento de lançamento do relatório Portugal M&A Report – An overview of the Portuguese M&A activity, que decorreu no dia 18 de outubro.

Os tempos de incerteza e insegurança que se vivem atualmente, tanto a nível geopolítico como económico, têm vindo a afetar vários setores de atividade e, consequentemente, os investimentos que se fazem neles. A preocupação com os riscos tem levado vários investidores a procurarem setores da economia portuguesa que se mostraram mais resilientes a todos os contratempos, de forma a sentirem-se mais seguros.

Mas quais são as áreas do mercado que se mostraram mais resilientes? E quais são as tendências para 2024? Os dados recolhidos pelo relatório Portugal M&A Report – An overview of the Portuguese M&A activity respondem a estas e outras questões e foram apresentados na passada quarta-feira, dia 18 de outubro, num evento organizado pela Abreu Advogados, em parceria com o TTR – Transactional Track Record e o jornal ECO, em Lisboa.

Assista ao vídeo da conferência:

Nesta conferência estiveram presentes vários especialistas, nomeadamente Ana Sofia Batista, Abreu Advogados; Manuel Santos Vítor, Abreu Advogados; Oliver Hill, Editor TTR Data; Luís Marques Mendes; Hugo Teixeira, Abreu Advogados; e Pedro Alves da Silva, Abreu Advogados, que foram responsáveis pela primeira parte do evento.

A parte final da conferência foi dedicada a um debate, moderado por Shrikesh Laxmidas, do ECO, que teve como oradores João Pratas, Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios; João Nuno Palma, Banco Comercial Português; Manuel Queiroz Ribeiro, Banco Português de Fomento; e José Maria Corrêa de Sampaio, Abreu Advogados.

Depois da sessão de boas-vindas, feita por Ana Sofia Batista, seguiram-se algumas apresentações, que tinham como objetivo mostrar o estado da atividade de M&A em Portugal. Na primeira apresentação, Manuel Santos Vítor começou por dizer que “as estrelas da atividade de M&A foram os setores habituais – imobiliário, energia (sobretudo renováveis), tecnologias de informação, empresas digitais, com muitas transações a serem realizadas por vendedores e compradores não portugueses“.

Perspetivas para a atividade de M&A em 2024

O facto de a maior parte dos investidores que apostam em Portugal serem estrangeiros é uma tendência que o responsável da Abreu Advogados realçou que “não vai mudar no curto ou no médio prazo”, no entanto também destacou a guerra na Ucrânia e o recente ataque em Israel como sendo situações que causam imensas preocupações no setor de M&A.

Ainda assim, Manuel Santos Vítor mostrou-se otimista com os indicadores macroeconómicos de 2023, que ajudam a atividade de fusões e aquisições e que considera que devem consolidar-se em 2024. São eles o controlo eficaz da inflação; uma maior robustez da economia em setores fundamentais, como o turismo; a redução do endividamento público e dos juros; e a melhoria dos outlooks e dos ratings da dívida pública.

“O que se segue? Vamos ter de falar, inevitavelmente, do PRR. Os anos de 2023 e 2024 vão ser marcados pela injeção massiva de fundos na nossa economia, fundos esses vindos do PRR, de fundos estruturais da UE. Esta injeção massiva de fundos levará a maior investimento público, nomeadamente nos serviços, equipamentos, e em ferramentas inovadoras necessárias para o crescimento da qualificação digital, para a transição energética e climática, para a descarbonização da economia e do reforço do sistema de saúde“, afirmou.

Com a mesma visão otimista estava Oliver Hill, que apresentou vários dados que demonstram a recuperação de Portugal depois da pandemia: “O volume de transações de fusões e aquisições no primeiro trimestre de 2023 ultrapassou os trimestres correspondentes em cada um dos quatro anos anteriores. A atração por Portugal nunca foi tão forte e os setores que consistentemente representam o maior volume de fusões e aquisições nos últimos anos indicam claramente que o país está no bom caminho”.

“Ao entrarmos no último trimestre de 2023, há boas razões para otimismo. A implementação do regime de sustentabilidade da UE está em pleno vigor e exigirá mudanças no business as usual que estimularão as despesas e, em última análise, posicionarão as empresas portuguesas para uma maior resiliência e crescimento. O financiamento da recuperação e o financiamento climático estão disponíveis e podem servir de catalisadores para a transformação das empresas”, acrescentou.

“Devemos ser otimistas, mas sobretudo realistas”

Por sua vez, Luís Marques Mendes teve um discurso menos otimista que Manuel Santos Vítor e Oliver Hill e justificou as suas preocupações o risco de insegurança provocado pelas duas guerras que estão a acontecer no mundo, na Ucrânia e em Israel.

Gostava de partilhar convosco boas notícias e bom futuro, mas acho que isso seria enganar toda a gente. Devemos ser otimistas, mas sobretudo realistas. Tudo o que é realmente importante para nós, portugueses, desde logo em termos económicos, depende muito mais do mundo e da Europa do que aquilo que se passa cá dentro”, disse, realçando a dependência de Portugal face ao exterior e a insegurança que isso traz devido à instabilidade que se verifica.

O especialista acrescentou, ainda, que a situação já era séria, mas foi “agravada pela questão do Médio Oriente que, em termos globais e económicos, torna a situação mais sensível do que a guerra na Ucrânia“. E, a acrescentar a isso, Luís Marques Mendes referiu, ainda, a “guerra fria” entre os EUA e a China, que, mesmo sendo “menos militar e mais económica, é um risco a ter em atenção”.

“Há, ainda, outro desafio para esta década que convém ter em atenção: a entrada da Ucrânia na UE, que não será a curto prazo, mas será numa perspetiva de meia dúzia de anos. É uma grande notícia do ponto de vista geoestratégico, da solidariedade europeia, mas a outra dimensão disto é que vai significar um problema político, isto porque vamos ter metade da Europa a favor e outra metade contra, também vai significar um problema institucional porque vai ser inevitável termos uma Europa a várias velocidades, e ainda um problema financeiro porque a Ucrânia é um país muito grande e muito pobre, então isto significa que vai ser a entrada do país mais pobre de sempre dentro da UE. Sendo grande já precisa de muitos fundos, sendo pobre precisa ainda de mais”, explicou.

Os dados do relatório e as oportunidades para o futuro

Depois das intervenções iniciais, seguiu-se a apresentação dos dados recolhidos no relatório Portugal M&A Report – An overview of the Portuguese M&A activity, realizada por Pedro Alves da Silva e por Hugo Teixeira.

“Navegar nos mercados neste segundo semestre de 2023 e em 2024 exigirá não só superar as dificuldades de financiamento, mas também enfrentar efeitos diretos e indiretos de guerras, efeitos de uma inflação bastante alta e juros altíssimos quando comparados aos últimos 10 anos. Isto tudo provoca um impacto grande na avaliação das empresas para quem investe”, começou por dizer Hugo Teixeira.

Alguns dados apresentados pelos dois especialistas que corroboram esta ideia são uma queda de 37% no volume de transações em 2022 face a 2021 e uma tendência relativamente decrescente no primeiro semestre de 2023. A acrescentar a isso está também a subida da Euribor, em 450 pontos base, entre julho de 2022 e setembro de 2023.

Hugo Teixeira alertou, ainda: “A previsão de crescimento da UE para 2024 é de 1.4%. Temos uma já anunciada e sentida recessão na Alemanha, por isso os próximos tempos vão ser duros e a adaptação das empresas e dos investidores económicos terá que ser grande“.

Apesar disso, Pedro Alves da Silva destacou o posicionamento de Portugal na lista dos países mais atrativos da Europa para investimento estrangeiro. “Portugal é o sexto país mais atrativo da Europa para investimento. Em 2022, de acordo com os números do TTR e das operações reportadas, foram registadas transações transfronteiriças em Portugal no valor de 12.6 mil milhões de euros. E a razão de ser deste investimento estrangeiro em Portugal tem, sobretudo, quatro fatores: estabilidade política; alguma estabilidade económica; mão-de-obra qualificada; localização estratégica do ponto de vista geográfico; e também incentivos governamentais de apoio à economia”.

Nesse seguimento, Hugo Teixeira destacou os quatro setores que foram mais atrativos para os investidores, nomeadamente o imobiliário e construção; a energia e energias renováveis; as tecnologias e telecomunicações; e o setor financeiro e de seguros. “O ano de 2022 registou um crescimento médio, tanto em valor como em volume, da atividade de M&A nestes quatro setores”, referiu.

Pedro Alves da Silva especificou que esse crescimento “rondou os 8.7%” e que o crescimento no valor das transações em termos médios foi de 11%, principalmente no setor financeiro e de seguros, de tecnologias e telecomunicações, “que foram os mais resistentes ao impacto macroeconómico e geopolítico de 2022”.

“No total, a atividade de M&A nos quatro setores referidos aumentou do valor de 6.3 mil milhões de 2021 para 7 mil milhões de euros. E, no total, foram registadas 287 transações relativamente ao mesmo período”, revelou.

A M&A pelo ângulo da banca

Durante o painel de debate, que se seguiu à apresentação do relatório, José Maria Corrêa de Sampaio afirmou que, depois de analisar com mais detalhe a atividade de M&A em 2023, pôde perceber que “não está tão negativa nem tão diferente” dos outros semestres dos outros anos. “Ou seja, houve realmente uma ligeira diminuição do volume de transações, mas que se pode vir a recuperar no segundo semestre“, disse.

A mesma opinião foi partilhada por João Pratas que referiu: “As ações sofrem com as subidas das taxas de juro, mas as obrigações também sofreram. Havendo um ajuste e uma taxa de juro estável, eu acho que o mundo volta à normalidade“.

Por sua vez, João Nuno Palma destacou o papel dos empresários neste “regresso à normalidade” e a capacidade que a banca tem de apoiar as empresas portuguesas. “A constante da recuperação são os empresários, sempre foram em todas as crises em Portugal. E o setor financeiro está muito mais resiliente e muito mais capacitado para apoiar o tecido empresarial português“, garantiu.

Nesse sentido, Manuel Queiroz Ribeiro também destacou o papel dos produtos de private equaty, que considera fundamental: “Por um lado, pelo reforço do balanço das empresas, da valorização de ativos, de recursos humanos e sistemas das empresas investidas, pelo facto de ser a própria operação de M&A, em particular o M, um meio rápido para alcançar escala e para, com isso, fazer uma relação direta para a produtividade. Por outro lado, estes produtos, ao introduzirem novos investidores, vão motivar novas valias“, concluiu.

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Santa Casa cancela exploração de jogo e lotaria em Brasília

  • ECO
  • 23 Outubro 2023

A instituição liderada por Ana Jorge cancelou a parceria para explorar e operar os jogos e lotarias em Brasília. A decisão evita perder mais 14 milhões de euros.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) cancelou uma parceria para explorar e operar jogos e lotarias em Brasília, avança o Público (acesso pago). Ana Jorge, a provedora, tomou esta decisão para não perder mais 14 milhões de euros.

A medida surge na sequência da auditoria externa a cargo da consultora internacional BDO, que está a ser feita à Santa Casa Global (SCG), uma empresa criada há três anos para gerir as lotarias e jogos de apostas no mercado externo. A parceria com o Banco de Brasília neste Estado brasileiro tinha sido anunciada pelo antigo provedor, Edmundo Martinho, em abril. No entanto, menos de um mês depois, o Tribunal de Contas do Distrito Federal determinou a suspensão do negócio e pediu esclarecimentos ao Banco de Brasília.

Como o processo se arrastou, os advogados da nova administração da Santa Casa, já com Ana Jorge a assumir as rédeas da instituição, viram uma janela de oportunidade para cancelar a parceria com o banco sem custos, dado que, se se concretizasse teriam de ser avançados mais 14 milhões de euros. A Santa Casa também decidiu encerrar de vez a Artentik, uma plataforma que disponibilizava peças de arte em NFT (um criptoativo), após um investimento de meio milhão de euros.

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Hoje nas notícias: Santa Casa, taxas e grafite

  • ECO
  • 23 Outubro 2023

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

As receitas do Estado com taxas e multas dispararam desde 2016. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa cancelou a parceria para explorar e operar jogos e lotarias em Brasília. Um promotor suíço decidiu cancelar um projeto superior a 100 milhões de euros em Lisboa perante o fim do regime dos Residentes Não Habituais. Conheça estas e outras notícias em destaque na imprensa nacional.

Taxas e multas rendem mais 92% ao Estado desde 2016

O Estado vai arrecadar mais de 3,5 mil milhões de euros com taxas e multas no próximo ano, segundo a proposta de Orçamento do Estado para 2024. É um aumento de apenas 1,2% face a este ano. Porém, desde 2016, ano do primeiro Orçamento de um Governo liderado por António Costa, as receitas provenientes de taxas e multas dispararam 92%, depois de terem tido um aumento inferior a 12% nos Governos liderados por Pedro Passos Coelho.

Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago).

Santa Casa cancela exploração de jogo e lotaria em Brasília

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa cancelou a parceria para explorar e operar jogos e lotarias em Brasília. A decisão surge na sequência da auditoria externa a cargo da consultora internacional BDO que está a ser feita à Santa Casa Global, a empresa criada há três anos para a internacionalização da Santa Casa, quando Edmundo Martinho era provedor da instituição. Ana Jorge, a atual provedora, evitou, com esta decisão, a perda de mais 14 milhões de euros, que teria ocorrido automaticamente se a parceria se tivesse concretizado.

Leia a notícia completa no Público (acesso pago).

Projeto de 100 milhões em Lisboa cancelado após anúncio do fim do regime dos Residentes Não Habituais

O fim do regime dos Residentes Não Habituais (RNH) levou um promotor suíço a cancelar um projeto superior 100 milhões de euros em Lisboa. “Tudo isto aconteceu na semana passada. Tínhamos um projeto de 150 unidades residenciais para portugueses da classe média e média-alta no centro de Lisboa e o investidor suíço que ia avançar connosco disse-nos que tinha perdido a confiança no mercado português e que estava muito preocupado com o efeito que esta decisão vai ter no mercado”, revelou Pedro Vicente, CEO da promotora Overseas.

Leia a notícia completa no Jornal Económico (acesso pago).

Conflito China-EUA pressiona 500 empresas com preços da grafite

A Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) vê com preocupação as restrições às exportações de grafite que a China pretende impor, em resposta ao bloqueio dos EUA ao fornecimento de chips para as empresas chinesas. O vice-presidente desta associação estima que a decisão de Pequim vá impactar mais de 500 empresas de metalomecânica que “não terão capacidade para repercutir essa subida”. “Os preços vão seguramente aumentar”, avisa Rafael Campos Pereira.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago).

Governo falha prazo europeu para pôr “imagens-choque” no tabaco aquecido

A partir desta segunda-feira, o tabaco aquecido em Portugal devia passar a exibir “imagens-choque”, à semelhança do que acontece nos maços de cigarros convencionais. A medida resulta da transposição de uma diretiva europeia. Contudo, com o processo legislativo ainda numa fase inicial, esta e outras alterações à lei do tabaco propostas pelo Governo, como a proibição de fumar ao ar livre no perímetro de hospitais e escolas, são adiadas. O tabaco aquecido com aromas só será banido em 2024.

Leia a notícia completa no Público (acesso pago).

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O dia em direto nos mercados e na economia – 23 de outubro

  • ECO
  • 23 Outubro 2023

Ao longo desta segunda-feira, 23 de outubro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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Nortech AI capta 2,5 milhões para ajudar setor marítimo a ser mais verde

Em 2024, a startup luso-norueguesa quer duplicar a equipa para cerca de 30 pessoas. Indico Capital coliderou a ronda da empresa que usa IA para ajudar indústria marítima a ser mais sustentável.

A startup luso-norueguesa Nortech AI levantou 2,5 milhões de euros para ajudar a indústria marítima a tornar-se mais sustentável com o apoio da Inteligência Artificial (IA). A expansão do produto e duplicar a equipa já em 2024 são os principais objetivos desta ronda coliderada pela Indico Capital Partners e pelo fundo Alemão Earlybird-X.

“Esta ronda está focada maioritariamente na expansão comercial e de produto (Investigação e Desenvolvimento) da Nortech AI, principalmente no setor marítimo e da energia, e no desenvolvimento de ferramentas para reduzir o consumo energético e emissão de gases de estufa. Como tal o capital será aplicado no crescimento da equipa comercial, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Além disso haverá um reforço da equipa de engenharia, nas áreas de AI/ML e no desenvolvimento de aplicações baseadas nos dados adquiridos”, explica ao ECO Francisco Roque, CEO da Nortech AI.

Com presença em Portugal e na Noruega, a startup tem uma oferta de hardware e software dedicada à recolha e tratamento de dados industriais e ao suporte à decisão dirigida ao setor marítimo, permitindo, por exemplo, maior eficiência energética, redução da emissão de gases de estufa, uma melhor de gestão de operações e uma eventual manutenção preventiva de muito menor custo, referem.

Esta ronda está focada maioritariamente na expansão comercial e de produto (Investigação e Desenvolvimento) da Nortech AI, principalmente no setor marítimo e da energia, e no desenvolvimento de ferramentas para reduzir o consumo energético e emissão de gases de estufa. Além disso haverá um reforço da equipa de engenharia.

Francisco Roque

CEO da Nortech AI

“O setor marítimo necessita da implementação de sistemas que o tornem mais sustentável. O software da Nortech integra-se rapidamente com os sistemas existentes a bordo e, por conseguinte, permite que as operações dos navios se tornem imediatamente mais sustentáveis. É uma excelente oportunidade de apoiar esta transição do setor marítimo a nível global com o nosso Blue Fund”, diz Stephan Morais, presidente da Indico Capital Partners, citado em comunicado.

A solução da companhia já está a ser usada por vários clientes, em particular no norte da Europa. “Temos um portefólio de clientes de grande perfil internacional maioritariamente sediados na Noruega, como a Kongsberg Maritime e a OSM Thome“, adianta Francisco Roque.

“Vemos uma grande oportunidade em expandir o nosso negócio no mercado escandinavo onde o setor marítimo é relativamente grande e explorar também os mercados do sul da Europa, como a Grécia. Não obstante, podemos estabelecer o paralelo entre as necessidades do vertical maritime e outros setores que operam maquinaria pesada, como, por exemplo, no aumento da eficiência energética e o foco na sustentabilidade”, continua o CEO da Nortech AI.

Duplicar equipa em 2024

Uma expansão do negócio que será acompanhada com o crescimento da equipa. A empresa conta com 12 pessoas, dos quais sete em Portugal — “estamos no processo final com um oitavo” –, mas a expansão “passa pela aposta no mercado de trabalho português e nas excelentes competências técnicas que aqui se encontram a nível de inovação”, assegura Francisco Roque. A empresa conta fechar o ano com 15 pessoas.Para 2024, pretendemos duplicar a equipa e estamos a recrutar para a área comercial, apoio ao cliente, desenvolvimento de aplicações, AI/ML, e engenharia de automação industrial”, diz.

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Espanhóis da Miya querem explorar solar flutuante em Portugal com tecnologia israelita

Empresa de eficiência hídrica prevê que solar flutuante cresça de forma significativa até 2030. Através da Xfloat, Miya escolhe Portugal para lançar até final da década 250 MW de painéis com sensores.

A espanhola Miya, especializada em projetos de eficiência hídrica, e antiga gestora das concessões da Indaqua em Portugal, quer alargar o seu portefólio de negócios através do solar flutuante. Depois de o ter feito em Israel, país onde será inaugurado o maior parque solar flutuante com um sistema de rastreamento, a intenção é explorar o mesmo potencial em Portugal. “O mercado português é muito interessante e confere-nos grandes oportunidades de crescimento”, revela José Carazo, Miya Water Chief Growth Officer (CGO) ao Capital Verde.

A estratégia tem por base as metas portuguesas. Segundo o Plano de Energia e Clima (PNEC), até 2030, Portugal tem a ambição de instalar mais de 20 gigawatts (GW) de produção solar fotovoltaica, sendo que desses, quase 15 GW são referentes à produção centralizada. A ambição nacional interessou a empresa espanhola que prevê que da capacidade prevista para a produção fotovoltaica em Portugal, pelo menos 1 GW será representado pelo solar flutuante, tecnologia que por cá, atualmente, está a ser unicamente explorada pela EDP, na barragem do Alqueva. É neste setor que a Miya pretende crescer.

“As projeções para a energia fotovoltaica flutuante são realmente muito positivas. A nível mundial, antecipamos que o mercado cresça até 4 GW nos próximos cinco anos, atingindo cerca de 30 GW de capacidade acumulada até 2030. E em Portugal estimamos um crescimento com o mesmo potencial”, previu o responsável, adiantando que a empresa espanhola pretende acelerar as metas portuguesas.

A aposta no fotovoltaico sobre água será concretizada através da Xfloat, empresa israelita – da qual a Miya tornou-se acionista, em fevereiro passando a deter os direitos de exploração – que desenvolveu uma tecnologia que incorpora sensores (trackers) nos módulos. De acordo com a empresa, esta solução “diferenciadora” permite aumentar a rentabilidade na produção até 30% em comparação com as outras tecnologias fixas uma vez que estes módulos, através dos trackers, acompanham as horas de sol ao longo do dia.

“Alcançamos estes números porque a tecnologia Xfloat utiliza um sistema de rastreio que nos permite alterar o ângulo do painel da instalação fotovoltaica flutuante de 60 graus para -60 graus em tempo real”, explica o responsável, acrescentando que a operação é gerida por um sistema de controlo inteligente.

Além de ter a capacidade de otimizar a produção de energia solar, a Miya assegura que a tecnologia da Xfloat tem uma maior “durabilidade” devido à incorporação de materiais de qualidade marítima, nomeadamente, metais mais resistentes à corrosão da água e à instalação da estrutura a um metro acima do nível da água.

A esta durabilidade, acresce ainda a garantia de a estrutura ter uma melhor capacidade de resposta a condições climatéricas adversas, como ventos ou chuvas fortes, dada a possibilidade de colocar os módulos totalmente na horizontal.

Acreditamos que dispomos da melhor tecnologia e que, obviamente, traríamos vantagens significativas para os operadores em Portugal”, sublinha o CGO espanhol.

Além de produzir eletricidade, os espanhóis da Miya garantem que a aposta no solar flutuante tem capacidade para criar sinergias “muito significativas” com a irrigação, as centrais hidroeléctricas e também com os serviços de abastecimento de água. “Isto vai trazer uma sinergia significativa para ter alguma produção de eletricidade para cobrir os custos de bombagem e eletricidade, porque os serviços de água são uma despesa”, argumenta Carazo.

De momento, ainda não é certo quando é que se materializarão os primeiros projetos, embora a Miya esteja confiante que dos 1 GW de painéis solares que deverão nascer em Portugal até ao final da década, pelo menos, 250 MW serão provenientes da tecnologia da Xfloat. Certo é que as conversações com os promotores a nível nacional, até ao momento, têm gerado interesse e feedback “positivo” na proposta espanhola, garantem.

Quanto a possíveis localizações, o Algarve e Alentejo são aquelas que conferem maior interesse para a empresa espanhola.

“Temos uma equipa em Portugal pronta para continuar as discussões com operadores e promotores para encontrar novas oportunidades”, indica José Carazo. “Vemos Portugal como um dos mercados de mais rápido crescimento em termos de solar flutuante, em comparação com Espanha e França, por exemplo”, acrescenta, apontando a regulação da energia fotovoltaica flutuante em Portugal como “uma das mais avançadas na União Europeia”.

De Israel para Portugal

A tecnologia da Xfloat já está testada e pronta para arrancar. Em Israel, a empresa espanhola prepara-se para inaugurar o maior parque flutuante do mundo com um sistema de rastreamento, ainda este ano. O parque terá uma potência de 10,6 MW com capacidade de produzir 21 GWh por ano, o suficiente para abastecer cerca de três mil famílias em Tel Aviv, estima Miya, sem revelar o valor do investimento. Naquela região, o consumo médio de eletricidade é de 8,000 kWh.

Mas neste momento, os planos de inauguração do parque estão suspensos devido ao conflito armado que decorre em Israel entre as forças militares e o grupo terrorista palestino Hamas. “O parque está completo e operacional. O evento de inauguração pode, contudo, ser adiado devido à situação atual”, admite a empresa. Ainda assim, a Miya mantém-se confiante nos resultados daquele parque.

Além de Portugal, a tecnologia da Xfloat poderá chegar também aos Estados Unidos e à Ásia onde prevê que haja também “um rápido crescimento” no setor do solar flutuante. Feitas as contas, a Miya prevê que até ao final do próximo ano, a tecnologia israelita permita inaugurar até 120 MW de nova capacidade de solar flutuante a nível mundial.

Aposta em Portugal também passa pela água

Ainda que a Miya esteja focada em explorar o potencial do fotovoltaico flutuante em Portugal, certo é que a aposta em sistemas de eficiência hídrica no país continua a ser uma prioridade para a empresa espanhola.

Em 2016, a empresa chegou a gerir todas as concessões da gestora de sistemas de abastecimento de água em Portugal, Indaqua, com o objetivo de melhorar o desempenho operacional, tendo colocado em curso três projetos sobre a água não faturada, isto é, a água que se perde na rede antes de chegar ao consumidor.

No entanto, no ano passado os espanhóis desvincularam-se dos portugueses e tornaram-se totalmente independentes, mas sem intenções de perder a experiência que ganharam por cá graças aos projetos sobre água não faturada. O foco da Miya agora é conseguir por mérito próprio o que conseguiu em Portugal através da Indaqua.

A ideia será escalar os projetos de eficiência sobre água não faturada nos próximos anos em todo o território, tal como já acontece nos 200 mercados onde está presente, nomeadamente, na Ásia, América Latina e em África. Para Carazo, o enquadramento legal português é “atrativo” para a empresa e confere “uma boa oportunidade” não só de crescimento para a empresa mas também “para melhorar as infraestruturas de água e os rácios operacionais em Portugal“, prevê o responsável.

Em 2021, a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) dava conta de que não foram faturados 234 milhões de metros cúbicos de água, dos quais a esmagadora maioria, 174 milhões (74%), dizem respeito a perdas de água no sistema. O resto, está relacionado com falhas na medição e outras questões. O regulador aponta ainda que, em 2021, 197 milhões de metros cúbicos (m3) de água, ou seja 23,9% do total de água que entrou no sistema, foram perdidos.

“Temos capacidade para melhorar a rede de água em Portugal”, assegura Carazo. Quanto a prazos, a empresa espanhola espera ter novidades no próximo ano, altura em que serão conhecidos os resultados dos concursos em que participou para a concessão de projetos no país.

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5 coisas que vão marcar o dia

Banco de Portugal e Eurostat divulgam dados e indicadores. Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE debatem conflitos. Autoeuropa retoma produção normal.

Esta segunda-feira, dia 23 de outubro, o Banco de Portugal (BdP) divulga vários indicadores relacionados com endividamento e Eurostat também divulga dados sobre o défice e dívida. O dia de hoje também fica marcado com a retoma de produção normal por parte da Autoeuropa e pelo Conselho de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE para debater os conflitos que pautam a atualidade. É ainda lançado o estudo “Infraestruturas de Carregamento de Apoio à Transição Energética da Mobilidade em Portugal”.

Banco de Portugal divulga indicadores

O Banco de Portugal (BdP) vai divulgar vários indicadores económicos, nomeadamente os relacionados com a dívida das Administrações Públicas (agosto de 2023), a dívida direta do Estado (setembro de 2023), o endividamento do setor não financeiro (agosto de 2023), o endividamento do setor não financeiro (segundo trimestre de 2023) e com o financiamento das Administrações Públicas (agosto de 2023).

Autoeuropa retoma produção normal

Depois de a Autoeuropa ter retomado a produção a 2 de outubro com um número de turnos menor que o esquema de trabalho habitual – na sequência de uma paragem iniciada em 11 de setembro devido à falta de peças provenientes de uma fábrica da Eslovénia afetada pelas cheias que ocorreram no país –, a produção da fábrica de Palmela retoma a laboração ao esquema de trabalho de 19 turnos semanais esta segunda-feira.

Lançamento do estudo sobre carregamento elétrico

Numa iniciativa promovida pela MOBI.E – Mobilidade Elétrica, a sessão de lançamento do estudo “Infraestruturas de Carregamento de Apoio à Transição Energética da Mobilidade em Portugal” decorre esta segunda-feira na Gare Marítima de Alcântara contando, com a presença do secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado. O estudo aborda temáticas sobre o futuro da mobilidade, como o “Balanço e crescimento da atual rede de carregamento de carros elétricos”, “Soluções de carregamento para pesados”, “Estruturas de carregamento de hidrogénio”, “Meios de pagamento” ou “Perspetivas e projeções para o crescimento da rede (2050)”.

Eurostat divulga défice e dívida

A Eurostat também divulga esta segunda-feira os dados relativos ao défice e dívida das administrações públicas (2022 – 2.ª notificação), à dívida pública (segundo trimestre) e ao défice orçamental (segundo trimestre).

Chefes da diplomacia da UE debatem Israel e Ucrânia

Esta segunda-feira também fica marcada pela reunião dos ministros dos Estados membros da União Europeia (UE) responsáveis pelos Negócios Estrangeiros, a qual é presidida por Josep Borrell, alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. A reunião visa a troca de pontos de vista sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, sobre a situação na Arménia e Azerbaijão e sobre a situação em Israel e na região.

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Família Roquette afasta investidores da Quinta do Crasto. “Caminho será feito com o pelo do cão”

Numa altura em que se multiplicam os negócios no Douro, Tomás Roquette recusa a hipótese de vender a histórica Quinta do Crasto, que produz 1,4 milhões de garrafas e fatura quase 10 milhões de euros.

Tomás Roquette já quase perdeu a conta às abordagens que tem tido nos últimos tempos para aferir a disponibilidade da família em vender a Quinta do Crasto. “Se quisermos, com certeza que as propostas chegarão. Não temos é abertura [para alienar capital]. Temos uma ideia muito clara do caminho que queremos seguir e temos ainda vários projetos a desenvolver. Para já, não estamos abertos a isso”, sentencia o administrador da histórica empresa do Douro, em entrevista ao ECO.

Atualmente, 95% do capital da produtora de vinhos do Douro e do Porto está nas mãos de Leonor e Jorge Holtreman Roquette, com os restantes 5% a pertencerem ainda a um outro neto de Constantino de Almeida. Tomás, pertencente à quarta geração, garante que a família está capitalizada para avançar com esses projetos. “Temos de analisar sempre o enquadramento económico, mas temos tido até agora o apoio dos bancos, que estão sempre muito ativos e [a perguntar] em que é que podem ajudar mais. Por isso, o caminho será feito um bocadinho com o pelo do próprio cão”, acrescentou.

Tomás Roquette, administrador da Quinta do Crasto

A Teak Capital, holding que agrega os investimentos da família de Carlos Moreira da Silva, acaba de notificar a Autoridade da Concorrência sobre a compra de 50% da Quinta do Vallado à família Ferreira, descendente da Ferreirinha e que detém mais de 100 hectares no Douro – abarcando a Quinta de Orgal e hotéis em ambas as propriedades.

Também na semana passada, o Grupo José de Mello, que já era dono da Ravasqueira (Alentejo), anunciou a aquisição da Wiese & Krohn (vinho do Porto), que tinha sido comprada em 2013 pela Fladgate à família Falcão Carneiro, incluindo a Quinta do Retiro Novo no vale do Rio Torto. E firmou um contrato de arrendamento de longa duração da também duriense Quinta do Côtto e do Paço do Teixeiró em Baião (Verdes), que continuam a ser propriedade da família de Miguel Champalimaud.

Poucas semanas antes, em setembro, foi a vez da gigante Roullier, que fatura 4,1 mil milhões de euros e está em 131 países com atividade em áreas como a nutrição de solos e de plantas, a extração de minerais ou a produção de energia a partir de biomassa, entrar na Quinta de São José (Ervedosa do Douro, São João da Pesqueira), que tem uma área total de 20 hectares, 15 dos quais dedicados à vinha.

O projeto iniciado pela família do enólogo João Brito e Cunha passou para as mãos da filial do grupo para a atividade vitivinícola, que já produz no Tejo (Falua) e nos Vinhos Verdes (Quinta do Hospital).

Outro negócio de relevo aconteceu há dois anos, quando já depois de iniciar a aposta nos vinhos do Douro com a compra da Quinta da Costa e do Sol em Gouvinhas (Sabrosa), o milionário brasileiro Rubens Menin, dono da construtora MRV e do banco Inter – já pediu autorização ao Banco de Portugal para trazer para o país a plataforma de e-commerce e produtos financeiros –, avançou com a aquisição da Horta Osório Wines (H.O.) à família que detinha a EIP – Eletricidade Industrial Portuguesa, que passou para as mãos da Visabeira na sequência de um processo especial de revitalização. Contabiliza já um investimento acumulado de quase 40 milhões de euros na região.

“Acho normais essas movimentações. O Douro está a ter uma valorização cada vez maior, é uma região única e que já há alguns anos está fechada a novas plantações, e os vinhos portugueses têm visto crescer o seu valor. Portanto, acho perfeitamente natural que empresas ou pessoas que tenham capital e que tenham essa ambição queiram entrar no setor, que tem de ser pela aquisição de quota ou a totalidade de uma empresa. Já aconteceu, está a acontecer e provavelmente vai acontecer mais no futuro”, comenta Tomás Roquette, que é um dos elementos dos “Douro Boys”, juntamente com o Vallado, Vale Meão, Vale D. Maria e Niepoort.

Não quer dizer que eu não ache que o valor [100 milhões de euros] seja, de facto, considerável. Mas, para mim, o nosso projeto tem um valor inestimável. O Douro tem feito um percurso e temos visto uma maior valorização dos seus ativos.

Tomás Roquette

Administrador da Quinta do Crasto

E o Douro fica a ganhar com este movimento? “Acho que sim. Normalmente, quem faz esse tipo de investimentos – não sei os valores envolvidos nas últimas transações que aconteceram, mas imagino que sejam consideráveis –, entra para trazer mais desenvolvimento e mais projeção a essas empresas onde estão a entrar com capital. É inegável [o ganho]”, responde o administrador da Quinta do Crasto, que no ano passado faturou 9,5 milhões de euros e produziu 1,4 milhões de garrafas de vinho (90% tranquilos e o resto categorias especiais de vinho do Porto).

Há dois anos surgiram rumores de que um fundo brasileiro teria feito uma oferta superior a 100 milhões de euros pela Quinta do Crasto. Tomás Roquette assegura que foi “completa especulação” e obrigou mesmo a produtora a dirigir um comunicado interno aos trabalhadores, aos distribuidores e aos bancos.

“Não quer dizer que eu não ache que o valor seja, de facto, considerável. Mas, para mim, o nosso projeto tem um valor inestimável. O Douro tem feito um percurso e temos visto uma maior valorização dos seus ativos. Não me estou a referir ao valor como um exagero; estou é a dizer que essa proposta e essa abordagem nunca existiu. Mas se chegasse, provavelmente também não iríamos considerá-la”, conclui.

Embora não tenha envolvido qualquer propriedade no Douro, a Fladgate, uma das maiores operadoras e proprietárias da região, dona de marcas de vinho do Porto Taylor’s, Fonseca ou Croft – além de projetos turísticos como o hotel Yeatman ou o World of Wine, em Gaia –, surpreendeu o setor ao entrar no segmento dos vinhos tranquilos.

Comprou a Quinta da Pedra (Verdes), a Quinta de Bella (Dão) e a Quinta Colinas de S. Lourenço (Bairrada) à Ideal Drinks, empresa fundada por Carlos Dias, que fez fortuna com a venda em 2009 da relojoeira Roger Dubuis ao grupo suíço Richemont.

Preço do vinho subiu 7% em 2023

Depois de ter fechado o exercício anterior com um novo máximo histórico de vendas, até ao final de setembro, a Quinta do Crasto estava com um crescimento acumulado de 6% em termos homólogos, justificado pelo aumento de preços “à volta de 7%”, em termos médios, com que avançou em 2023 para fazer face ao disparo “muito forte” dos custos suportados no ano passado com materiais como as garrafas, as caixas, o cartão ou as rolhas.

“Tentamos [subir] o mínimo possível. Não compensou totalmente o aumento de custos porque também tínhamos uma expectativa, que se está a verificar gradualmente, que iriam baixar um bocadinho. Sinceramente, não acredito que, de forma geral, voltemos aos patamares anteriores, mas teremos de nos adaptar e provavelmente corrigir [o preço] num vinho ou outro para fazer face a isso. De facto, não queríamos era perder margem. Não vamos se calhar aumentá-la tão rapidamente como gostaríamos, mas evitamos perdê-la”, relata.

Já o peso das exportações, que “tradicionalmente” rondava os 70%, baixou para cerca de 45%. Não porque as vendas ao exterior tenham baixado, mas porque o mercado nacional “cresceu muito mais”. Puxado também pelo turismo, que faz com que Portugal tenha o maior consumo per capita do mundo, equivalente a cerca de 52 litros de vinho. Porém, Tomás Roquette confessa que “gostaria de ver a exportação a ter um peso maior”, passando a estratégia por reforçar os mercados onde o Crasto já tem “bom posicionamento”, como é o caso do Brasil, Inglaterra, Suíça, Macau ou Canadá.

“Nos EUA mudámos um importador, estamos agora a recuperar e espero que venha a dar um contributo mais forte. E vamos estando atentos às oportunidades de entrar em novos mercados, como fizemos recentemente em Malta, e estamos em vias de abrir a Costa Rica. Queremos também ter uma presença mais forte na China porque podemos crescer ali claramente. Mas, acima de tudo, solidificar o que temos nos mercados maduros”, detalha o empresário nortenho.

Enoturismo vai ter alojamento no Douro

Mais do que pelo aumento da produção, Tomás Roquette antevê “muito mais o crescimento da empresa, da sua faturação, da sua rentabilidade, pelo aumento do preço médio e do volume nos vinhos melhores e que dão mais margem”. Depois do “investimento grande” feito nos últimos anos na área da viticultura e que “dá uma garantia de qualidade todos os anos”, cerca de 70% das uvas usadas proveem de produção própria na Quinta do Crasto e na Quinta da Cabreira. Já a Quinta do Meco abastece as uvas para o projeto Roquette & Cazes, uma parceria com o francês Château Lynch-Bages (Bordéus).

E se as “ameaças muito fortes” que enfrenta – a climática e a falta de mão-de-obra, cita –, desaconselham aumentar muito mais a área de vinha, nos planos de investimento da família, que emprega diretamente perto de 90 pessoas, está o desenvolvimento de um centro logístico no Douro e o alargamento da oferta no enoturismo, até agora limitada às visitas, provas e refeições, promovendo “alguns melhoramentos” nos edifícios que já possui para “melhorar um bocadinho a maneira como [recebe] as pessoas, e não necessariamente para receber muito mais gente”.

Vão construir unidades de alojamento no Douro? “Talvez. Vamos provavelmente passar a ter alguma possibilidade de as pessoas ficarem a dormir na quinta, que não existe atualmente. Estamos muito seguros daquilo que queremos fazer para o futuro porque a procura excede largamente a capacidade que temos para receber as pessoas”, adianta o administrador da Quinta do Crasto, que na semana passada apresentou aos jornalistas a nova edição do Vinha Maria Teresa 2019 (PVP a rondar os 250 euros) e o projeto PatGen Vineyards, o mapeamento genético de castas que está a desenvolver nesta vinha centenária do Crasto.

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Banco de Fomento reorganiza estrutura e cria novas direções

Dada a dimensão das mudanças em curso, o BPF vai criar um departamento para gerir a transformação, que vai reportar à presidente executiva, Ana Carvalho. Responsável da nova área já foi contratada.

O Banco de Fomento vai reorganizar a sua estrutura, criando novas direções e segregando funções, à semelhança do que acontece na banca comercial. As mudanças foram comunicadas à equipa, com um tom de urgência e exigência. A refundação da instituição tem de estar concluída até 31 de dezembro, data em que termina a autorização de despesa em vigor.

O Banco de Fomento vai passar a contar com uma direção de operações, para a qual serão destacadas várias áreas. “Estamos em transição. Temos muitas alterações em curso. Mas, basicamente, a primeira grande mudança é a criação de uma direção de operações, para onde será destacado tudo aquilo que está a ser feito nas várias áreas”, explicou ao ECO a presidente executiva do Banco de Fomento. “O banco não tinha uma direção de operações e todos os bancos têm uma”, justificou Ana Carvalho, acrescentando que esta mudança “afeta toda a estrutura”.

A segunda alteração surge na área comercial, que fica livre das operações”, prossegue a CEO do Banco de Fomento, com “a segregação do marketing” e o desenvolvimento de produto. “Hoje as áreas de negócio estão a fazer as três coisas: operativas, criação e desenvolvimento de produto e manutenção do mesmo e relação comercial” e o objetivo é “ter uma clara segmentação das funções e especialização das mesmas” acrescenta a responsável.

Além disso, dentro da atividade comercial, o plano da administração, aprovado a 28 de julho, passa por, “de alguma forma, separar o que é novo negócio do que é acompanhamento de portfólio”. “Estamos a falar do mercado de capital de risco, e quando estamos a lançar novos instrumentos e interagir com novos concursos temos de ter um foco especial, que é diferente do acompanhamento”, justifica Ana Carvalho.

Ao nível da função financeira também vão ser feitas alterações. “A área financeira tem hoje uma direção de fundos sob gestão, que também é uma parte da direção de operações”, explica a CEO. “Parte dessa área financeira tem de passar para a direção de operações. E depois é colocá-la no state of the art daquilo que é uma direção financeira”, sublinha.

Ana Carvalho dá um exemplo: “Hoje não temos ainda uma área que faça a gestão das aplicações, aquilo a que se chama asset liability management nos bancos, gestão de aplicações, tesouraria. Temos muita tesouraria e temos de ter uma equipa ativamente a geri-la”. “No fundo, a direção financeira vai ter uma transformação de 360 graus, que tem várias componentes”, concluiu.

Em termos de risco, o banco “não tinha ainda uma área que valorasse modelos de rating”. “A equipa de risco faz o modelo de rating que é utilizado pelo banco e pelas sociedades de garantia mútua, que depois cada um tem de adotar e decidir, obviamente”, sublinha. Mas, “é importante haver uma equipa segregada, que audita o modelo de rating. Ou seja, quem pensa o modelo de rating não pode ser o mesmo que implementa. Uma segregação de funções óbvia na banca toda”, diz a CEO.

Tendo em conta a dimensão das mudanças em curso, o Banco de Fomento vai criar um departamento para gerir esta transformação. “É um gabinete de transformação que vai reportar” à presidente executiva e que irá acompanhar todo o processo. Vai “ser o project manager disto tudo”, diz Ana Carvalho, acrescentando que é uma função que será assegurada “internamente”. “Já contratámos a responsável que entra no dia 1 de dezembro”, avançou, se querer avançar para já nomes. “É uma pessoa que vem da banca e tem experiência nisto”, disse.

Mas esta não é a única contratação. Estão abertos concursos para contratar cerca de 45 pessoas, “números redondos”, “que vão dotar as estruturas das valências e da dimensão necessária para este crescimento de negócio que temos”. Ana Carvalho justifica também a necessidade destas contratações com a especificidade de algumas funções, como a validação de modelos – “uma coisa muito técnica que não temos lá dentro”. “Muitas destas coisas são eficiência e outras são cumprimento de regras base de segregação de funções que a banca tem”, explica a responsável.

Equipa desconfortável com a mensagem

Estas alterações foram definidas no Plano de Atividades e Orçamento 2023-25, aprovado na assembleia geral de final de julho, e já eram do conhecimento da maior parte dos diretores, mas agora foram apresentadas à equipa técnica. A ação começou com um passeio no Douro e uma passagem pela Quinta da Pacheca mas, por falta de sigilo, a opção foi apresentar o plano estratégico depois. Ainda assim, os discursos da administração não foram bem recebidos pela equipa, apurou o ECO junto de várias fontes, porque entenderam a mensagem como uma ameaça velada: quem não está com a direção pode sair porque é possível encontrar soluções iguais ou melhor. A apresentação de um slide com a frase #aceitaquedoimenos, título de uma canção de Rute Marlene, seguida de frases motivacionais de John F. Kennedy e Peter Drucker, caiu particularmente mal junto da equipa.

O ECO questionou Ana Carvalho se não foi demasiado dura na apresentação. A CEO retorquiu que foram “pragmáticos”. “Explicámos esta reestruturação e que temos de nos focar na mudança. Até ao final do ano, temos um desafio muito grande”. A preocupação de Ana Carvalho é ter tudo pronto até 31 de dezembro, porque, a partir de 1 de janeiro de 2024 já não tem um orçamento aprovado e não sabe quando vai ter.

“A única certeza que temos enquanto organização é até ao dia 31 de dezembro. Daí em diante não sei. Agora posso contratar pessoas e iniciar os processos de contratação pública para apoiar esta alteração”, explica a CEO. “Precisamos de ferramentas de IT para fazer isto tudo e libertar as pessoas de trabalhos que não faz sentido serem feitos”, acrescenta.

“Claro que é muito exigente”, reconhece. “Temos de 1 de agosto até 31 de dezembro para fazer isso tudo, em simultâneo, porque o mercado não vai ficar à espera que nos organizemos. Não pode ficar à espera, é completamente exigente”, diz, acrescentando que vão entregar “agora um plano de atividade para 2024”. “Mas não controlo os timings de aprovação, essa é parte dura”, desabafa.

“O que tentámos explicar é que a mudança é esta. O plano é este. É muito claro nas nossas cabeças”, frisou. “Não fomos duros, acho eu. O que tentei explicar às pessoas, é que temos este tempo, e isto é certo. Daí em diante é uma incerteza. Agora tenho esta janela de oportunidade para fazer acontecer. Depois temos acionistas mais uma vez. Agora é para aprovar! Temos os meios aprovados para recursos humanos e financeiros. Temos de mudar já e sem conflito”, concluiu.

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