Campeão das exportações tropeça pelo quinto mês seguido. “Alguma apreensão” no arranque de 2024

Dados oficiais confirmam novo máximo para a indústria portuguesa de metalurgia e metalomecânica nas vendas ao exterior, mas também um novo recuo homólogo mensal em dezembro que “inquieta” o setor.

Está confirmado o “feito notável”. Ao somar 1.653 milhões de euros de exportações em dezembro, a indústria portuguesa de metalurgia e metalomecânica oficializou um novo recorde nas exportações. Totalizou 24.017 mil milhões de euros de vendas ao exterior e acumulou seis dos dez melhores resultados mensais de sempre. No entanto, isso aconteceu na primeira fase do ano, já que nos últimos cinco meses registou quebras homólogas neste indicador.

Esta tendência, confirmada por um novo recuo em dezembro (-3,1%), “gera obviamente alguma apreensão quanto ao primeiro semestre de 2024, até porque o país atravessa uma situação de instabilidade política que veio somar-se à conjuntura económica menos positiva dos principais parceiros de Portugal”, reconhece a associação que representa os industriais deste que é o setor mais exportador da economia nacional.

No dia em que o INE reportou que as exportações portuguesas de bens interromperam em dezembro uma série de oito meses negativos, com um ligeiro crescimento homólogo em dezembro insuficiente para evitar a descida de 1% no total do ano, em comunicado, a AIMMAP estima para 2024 um maior arrefecimento da economia e um “pequeno crescimento do desemprego”, esperando que o consumo permaneça “muito moderado” e provoque uma nova retração da procura.

“Na verdade, a economia nacional continua a apresentar um crescimento muito anémico, apenas alavancado pelas exportações e pelo investimento que as empresas fazem para alimentar essas exportações. Ora, perante o abrandamento das exportações e arrefecimento da procura externa, e numa altura em que o financiamento às empresas está em queda e as taxas de juro apresentam uma subida gradual, temos de nos inquietar e preocupar com o futuro”, sustenta Rafael Campos Pereira.

Perante o abrandamento das exportações e arrefecimento da procura externa, e numa altura em que o financiamento às empresas está em queda e as taxas de juro apresentam uma subida gradual, temos de nos inquietar e preocupar com o futuro.

Rafael Campos Pereira

Vice-presidente executivo da AIMMAP

Para o vice-presidente executivo da AIMMAP, “se em 2023 a inflação esteve mais controlada, não há certezas se essa situação vai manter-se ao longo deste ano”. “Os dois cenários de guerra, na Ucrânia e em Gaza, e a atual crise no Mar Vermelho, deixam grande incerteza a esse respeito e permitem antecipar um cenário de novos constrangimentos nas cadeias de abastecimento, bem como subida dos custos de transporte”, completa.

Composto por cerca de 23 mil empresas e por uma força de trabalho de quase 246 mil pessoas – 74% da mão-de-obra é masculina e mais de metade (52%) tem qualificações equivalentes ao 2º ou 3º ciclo –, concentrado sobretudo nas zonas mais industrializadas do Norte e Centro do país, o setor metalúrgico e metalomecânico sublinha que a evolução homóloga foi “muito melhor” que a verificada no total nacional. Quase 70% das exportações são feitas para a União Europeia, figurando Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Itália e EUA no topo dos destinos.

Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP

Com eleições à porta em Portugal, o porta-voz do setor, que é também vice-presidente da CIP, diz ser “urgente que haja um governo estável em Portugal [e] que não intervenha excessivamente na economia”. Ao Executivo que vier a resultar da ida às urnas exige a criação de “um ambiente de algum consenso, sem dogmas, sem preconceitos e sem egocentrismos partidários”, que concretiza reduções no IRS e no IRC.

“A estabilidade política em Portugal é fundamental para melhorar os índices de confiança dos agentes económicos e para que o mercado financeiro funcione de forma equilibrada, não submetendo as empresas a enfrentar condições de financiamento espartilhantes. Por outro lado, uma política de IRC justa, liberta recursos para que as empresas apostem na produtividade e no valor acrescentado”, argumenta Rafael Campos Pereira.

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