Desafio é dar voz aos trabalhadores de forma organizada, diz Arménio Carlos
Quanto às propostas de atualização do salário mínimo apresentadas pelos partidos, o antigo dirigente sindical considerou que "são irrisórias" e uma "regressão" face à evolução dos últimos anos.
O ex-líder da CGTP, Arménio Carlos, defende que um dos desafios do movimento sindical é dar voz aos trabalhadores dentro dos locais de trabalho, de forma organizada, numa altura em que surgem movimentos de contestação inorgânicos.
“Um trabalhador revoltado, se não estiver organizado, pode tornar-se amanhã num trabalhador conformado“, afirmou em entrevista à agência Lusa.
Arménio Carlos lembrou que a lei prevê o direito à atividade sindical em empresas e locais de trabalho onde não existem trabalhadores sindicalizados, que considerou ser uma “conquista da CGTP” introduzida depois pelo Governo na Agenda do Trabalho Digno.
“Neste momento, o grande desafio do movimento sindical unitário é claramente, nos próximos anos, trabalhar no sentido de rentabilizar ao máximo esta conquista”, defendeu.
Segundo disse, “não está em causa o aparecimento” desses movimentos inorgânicos. “Agora, o que está neste momento a ser necessário é que esse descontentamento, essa por vezes revolta e essas exigências se façam sentir de forma objetiva dentro dos locais de trabalho e de maneira organizada“, sublinhou à Lusa o antigo líder sindical, atualmente aposentado.
O ex-secretário-geral da CGTP realçou que os sindicatos e os movimentos inorgânicos não são contraditórios, mas defendeu que “se o movimento sindical não conseguir entrar nos locais de trabalho, nas empresas, os trabalhadores não terão voz para assumir as suas reivindicações no confronto direto com as entidades patronais“.
Outro dos desafios é, segundo disse, resolver o problema dos baixos salários e da precariedade no país, uma situação identificada pelos partidos que concorrem às eleições legislativas de 10 março, mas sobre a qual, no seu entender, nem todos apresentam soluções.
“Esta é uma das questões mais complicadas que exigem, da parte dos partidos, esclarecimento e clarificação concreta, para que depois os trabalhadores, no momento do voto, não tenham dúvidas sobre quem está com eles e quem está contra eles”, afirmou.
Segundo Arménio Carlos, só é possível fixar os jovens em Portugal se as remunerações corresponderem àquilo que são as suas habilitações e qualificações e, se isto não for feito, o país ficará a perder com a emigração destes trabalhadores.
Quanto às propostas de atualização do salário mínimo nacional apresentadas pelos partidos políticos, o antigo dirigente sindical considerou que “são irrisórias”.
“Se olharmos para as propostas do PS e da [coligação] AD, o que eles propõem é uma regressão relativamente à evolução do salário mínimo nos últimos anos“, disse Arménio Carlos.
Tanto o PS como a coligação AD propõem que o salário mínimo, que atualmente é de 820 euros, atinja os 1.000 euros até ao final da legislatura, em 2028, resultando numa média de 45 euros de aumento por ano, o que “é inferior às atualizações dos últimos dois anos”, salientou.
Arménio Carlos, 68 anos, foi secretário-geral da CGTP entre 27 de janeiro de 2012 e 15 de fevereiro de 2020.
No final dos dois mandatos como líder da CGTP, voltou ao seu posto de trabalho como eletricista na Carris, onde esteve durante cerca de um ano e meio e acabou por aposentar-se quando atingiu a idade para a reforma, aos 66 anos e meio.
Sucedeu-lhe no cargo a atual secretária-geral, Isabel Camarinha, cujo mandato de quatro anos termina no sábado, no XV congresso da central sindical, que se realiza no Seixal (distrito de Setúbal) na sexta-feira e no sábado.
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