ECO da Campanha: à conquista das mulheres e um chega para lá a Ventura

O último dia ficou marcado pelo apelo ao voto do eleitorado feminino e pela linha vermelha que o Presidente da República traçou sobre alianças de um Governo de direita com o partido de Ventura.

No derradeiro dia de campanha para as legislativas de 10 de março, os partidos queimaram os últimos cartuchos, elevando o tom do apelo ao voto, nomeadamente dos indecisos e do eleitorado feminino, assinalando assim o Dia Mundial da Mulher. E levaram reforços para as caravanas.

Aníbal Cavaco Silva, antigo presidente da República e líder do PSD, quebrou o silêncio de 21 anos e voltou a participar numa campanha eleitoral para defender Luís Montenegro e a estabilidade à direita. Mas sem Chega, como também quer a Iniciativa Liberal (IL), que rejeita o voto de protesto no extremismo. As declarações foram proferidas ao sabor da mensagem de Belém. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deu esta sexta-feira um chega para lá a André Ventura ao traçar uma linha vermelha: não viabiliza um Governo maioritário de direita sem Montenegro e com o Chega.

Pedro Nuno Santos foi quase levado em ombros pelo legado do Costismo, ladeado por António Costa, Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva, na descida do Chiado, em Lisboa. Voltaram a acenar com o papão da direita, que vai privatizar o SNS, atrasar o novo aeroporto de Lisboa e prejudicar a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), do qual sempre disseram mal.

 

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, ladeado pelo primeiro-ministro, António Costa, durante uma arruada no Chiado, no último dia da campanha para as eleições legislativas de 10 de março, Lisboa, 8 de março de 2024.ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

 

O antigo líder do PSD, Aníbal Cavaco Silva, expressa o seu apoio a Luís Montenegro da Aliança Democrática (AD) no início do almoço do Dia da Mulher no âmbito da campanha para as eleições legislativas de 10 de março, Lisboa, 8 de março de 2024.TIAGO PETINGA/LUSA

Tema quente

À conquista do voto das mulheres e um chega para lá a Ventura

Depois das declarações de Paulo Núncio sobre o aborto, os direitos das mulheres assumiram um lugar central nesta campanha eleitoral, culminando neste final de campanha, que coincide com o Dia da Mulher. Os partidos de esquerda marcaram presença em várias marchas e eventos que assinalam este dia, enquanto PS e AD trouxeram o tema para as habituais arruadas do último dia.

Pedro Nuno Santos marcou o dia com uma mensagem nas redes sociais onde defende que “as maiores conquistas e avanços foram conseguidos com o PS – e assim continuará a ser no futuro”. “Nós queremos estar ao lado das mulheres do nosso país, das mulheres que construíram este país com muita luta, que permitem que o país avance, porque fazem aquilo que ninguém faz”, disse.

Já a AD contou com algumas das mulheres do partido que mais se destacaram, como Manuela Ferreira Leite e Leonor Beleza, na campanha e continuou a defender-se das críticas. Montenegro respondeu às acusações de Pedro Nuno Santos apontando: “Temos no mínimo a mesma intenção e, se formos realistas, temos muitos melhores resultados para a vida das mulheres do que o PS.” O líder da AD destacou ainda propostas para lidar com o tema da violência doméstica, depois de ter dito uma frase muito criticada nas redes sociais. “Hoje, dia 8 de março, dia Internacional da Mulher, que é uma evocação à família, à maternidade”, disse.

Nem André Ventura ficou indiferente ao tema, mesmo num dia em que notícias davam conta de que o Presidente da República não permitirá uma substituição de Luís Montenegro para um eventual Governo com o Chega. Ventura criticou o “legado PS e PSD” que, diz, “quando chega ao que importa, salários, progressão na carreira, cargos de topo e políticos já não lhes interessa tanto e deixam um legado que deve ser dos piores da Europa”.

Rui Rocha também não deixou o dia passar em branco e reiterou a defesa pelos direitos das mulheres, nomeadamente em situações como se vivem com as grávidas “a terem de se deslocar de urgência em urgência no fim da gravidez”. Prometeu ainda que o partido “vai respeitar e desenvolver os direitos fundamentais das mulheres”.

À esquerda, o discurso tem sido marcado pelo ataque à direita, que vai comprometer os direitos das mulheres se chegarem ao poder, acusam os partidos. A maior parte dos líderes marcaram presença em marchas ou eventos de comemoração do Dia da Mulher, tanto em Lisboa como no Porto.

A figura

Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República rejeitará um substituto de Luís Montenegro para um eventual Governo com Chega, noticia esta manhã o Expresso. A forma como o líder do Chega e alguns partidos da esquerda insistem em especular sobre um suposto acordo entre figuras do PSD e André Ventura, para montarem uma solução de Governo que ultrapasse Luís Montenegro se este perder as eleições havendo uma maioria de direita, é vista em Belém como um delírio.

“Isso não existe”, confirmam fontes da Presidência da República, garantindo que nunca Marcelo aceitaria um primeiro-ministro de substituição do líder do PSD, da mesma forma que não aceitou Mário Centeno quando António Costa lho propôs para o substi­tuir em S. Bento.

Presidente da República, Marcelo Rebelo de SousaLusa

A frase

"A covid para este Governo foi uma benesse, foi uma desculpa para nada fazer, foi a possibilidade de poder ajudar quem efetivamente nessas alturas teve necessidade de apoios – e que qualquer Governo com certeza que o faria, um Governo do PSD também o faria.”

Manuela Ferreira Leite, antiga presidente do PSD

A surpresa

Jovens da Greve Climática Estudantil pintam frases de protesto em sedes de partidos

Apesar de já não ser uma novidade, continua a surpreender a forma de luta escolhida pelos ativistas climáticos. Desta vez, estudantes da Greve Climática Estudantil pintaram frases de protesto nas entradas de sedes de partidos para exigir o fim aos combustíveis fósseis. PS, PSD e Bloco confirmaram à Lusa que foram pintadas frases nas suas sedes, em Lisboa.

Em comunicado, os estudantes da Greve Climática informaram ainda que interromperam um evento da campanha do PS para um novo protesto pelo fim aos combustíveis fósseis. Reiteram que “nem o PS, nem nenhum outro partido tem um plano compatível com a ciência”.

Prova dos 9

“Assinamos um acordo com os parceiros sociais nos termos em que em 2027 o salário médio atinge o valor de 1.750 euros. O que a direita vem dizer é que quer adiar por três anos essa subida para 2030. O que se propõe fazer é adiar para 2030 o salário médio que já acordamos com os parceiros sociais?”

Pedro Nuno Santos, PS

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, afirmou: “Assinamos um acordo com os parceiros sociais nos termos em que em 2027 o salário médio atinge o valor de 1.750 euros. O que a direita vem dizer é que quer adiar por três anos essa subida para 2030. O que se propõe fazer é adiar para 2030 o salário médio que já acordamos com os parceiros sociais?” A declaração está certa ou errada?

No programa do PS, em parte alguma, está definida a meta para o salário médio, apenas uma referência ao acordo de rendimentos que o Governo de António Costa assinou com os parceiros sociais e que prevê que o ordenado médio suba 20% de 2022 a 2026. Pelo contrário, o plano da AD estabelece, de forma clara, que aquele referencial deve atingir os 1.750 euros em 2030.

Ora num esclarecimento enviado ao Polígrafo, a 19 de fevereiro, o gabinete do secretário-geral do PS explicou as contas: “O ponto de partida é a remuneração média bruta por trabalhador declarada à Segurança Social em novembro de 2023 (média 12 meses, últimos dados conhecidos). Assumimos os referenciais do acordo de médio prazo para os anos de 2024 (5%), 2025 (4,7%) e 2026 (4,6%) e equivalente nos dois anos seguintes (4,5% e 4,4% em 2027 e 2028, respetivamente). Com base nestes pressupostos, chegamos aos cerca de 1.750 em 2027.”

Contudo, numa entrevista ao Correio de Azeméis, publicada a 4 de março, o líder do PS disse: “Criar todas as condições económicas para que o acordo de rendimentos possa ocorrer como o previsto e o salário médio possa atingir os 1.725 euros já em 2026“. Ou seja, um valor abaixo dos 1.750 euros.

Ou seja, não é claro que o PS queira efetivamente antecipar o vencimento médio em quatro anos face à proposta da AD, ainda que o valor de 1.725 esteja muito próximo do referencial defendido, de 1.750 euros mensais brutos.

Conclusão: Mais ou menos.

Norte-Sul

No último dia de campanha, os partidos concentram-se em Lisboa, maior círculo eleitoral. A AD começou com uma arruada em Alvalade, seguindo depois para um almoço na Estufa-fria, onde marcaram presença Maria e Aníbal Cavaco Silva. O partido trocou a habitual descida do Chiado por um comício no Campo Pequeno, devido ao mau tempo.

O PS teve o almoço na Trindade e manteve a descida do Chiado, apesar da chuva, terminando o dia com um comício em Almada e uma festa no Village Underground. O Chega, por sua vez, começou o dia em Setúbal, tendo depois uma arruada em Lisboa e, ao fim do dia, um concerto com Quim Barreiros na Praça do Município.

A Iniciativa Liberal arrancou o último dia da campanha em Leiria, fazendo depois uma arruada na Avenida da Liberdade, em Lisboa, terminando o dia na LX Factory. Já a CDU esteve em Vila Nova de Gaia, fazendo depois o desfile na Praça da Batalha, no Porto e terminando o dia num comício em Braga.

A líder do Bloco participou numa manifestação do Dia Internacional das Mulheres, na Alameda e terá o jantar de encerramento da campanha eleitoral em Lisboa. O PAN, depois de estar numa manifestação de enfermeiras, junta-se a uma marcha do Dia da Mulher. O líder do Livre participou também numa Marcha Feminista do dia Internacional das Mulheres, fechando o dia num comício no Porto.

Onde vão estar os líderes na noite eleitoral?

O sábado que se segue é o dia da reflexão, sendo domingo o dia derradeiro das eleições. Os partidos já têm marcadas as noites eleitorais, a maioria em hotéis. O PS, como habitual, estará no Hotel Altis, em Lisboa, enquanto a AD vai acompanhar os resultados eleitorais no Epic Sana Marquês Hotel.

O Chega estará no Lisbon Marriott Hotel, enquanto a Iniciativa Liberal segue a contagem dos votos no Monsanto Secret Spot.

À esquerda, o Bloco estará no Fórum Lisboa, enquanto a CDU passará a noite eleitoral no Hotel Sana Metropolitan e o Livre estará no Teatro Thalia, ambos em Lisboa. O PAN deverá permanecer na sua sede, também na capital, devendo depois deslocar-se para a estação do Rossio.

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