Greve vai cancelar voos no fim de semana, prevê CEO da ex-Groundforce
A Menzies Aviation, dona da antiga Groudforce, previa processar 450 voos nos dois dias. O CEO não tem dúvidas de que haverá cancelamentos e está "profundamente desapontado" com serviços mínimos.
A greve na Menzies Portugal, antiga Groundforce, deverá levar ao cancelamento de vários voos no fim de semana de 31 de agosto e 1 de setembro, afirma ao ECO o responsável em Portugal da empresa de assistência em escala. Rui Gomes diz ainda que “uma grande fatia dos trabalhadores” está contra a paralisação.
A greve foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes de Portugal (Sttamp) e pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), que contestam o nível de salários e questões relacionadas aos horários.
Apesar de os dois sindicatos representarem à volta de 300 trabalhadores, num universo de cerca de 4.000 na Menzies, a greve poderá provocar fortes perturbações nos aeroportos nacionais. O Sindicato dos Transportes e o Sindicato dos Trabalhadores dos Aeroportos Manutenção e Aviação (STAMA) manifestaram intenção em aderir, mas já fora do período legal para o pré-aviso.
“É inevitável que haja cancelamentos, não tenho dúvidas”, afirma ao ECO o vice-presidente da britânica Menzies Aviation em Portugal, que faz a assistência em escala de um elevado número de companhias aéreas nos aeroportos portugueses, incluindo a TAP.
“No próximo fim de semana temos cerca de 450 voos. Os voos cancelados dependem muito dos serviços mínimos”, refere Rui Gomes. “Posso-lhe dizer que se forem serviços mínimos de 50%, 200 e tal voos vão ser assistidos e outros 200 e tal não são assistidos. Nós pedimos 70% de serviços mínimos”, afirmou, antes ainda de estes serem fixados.
A decisão do Tribunal Arbitral, conhecida na terça-feira, ficou muito aquém do pretendido pela empresa. Os sindicatos ficaram obrigados apenas a garantir a assistência em voos que no momento do início da greve já se encontravam em curso, a primeira aterragem e descolagem nas rotas para os Açores e Madeira e entre ilhas, voos “impostos por situações críticas relativas à segurança de pessoas e bens” e ainda voos militares e de Estado.
Estamos profundamente desapontados com a decisão do Tribunal Arbitral sobre os serviços mínimos, uma vez que prejudica a nossa capacidade de servir eficazmente os nossos clientes e os seus passageiros.
“Estamos profundamente desapontados com a decisão do Tribunal Arbitral sobre os serviços mínimos, uma vez que prejudica a nossa capacidade de servir eficazmente os nossos clientes e os seus passageiros”, reagiu o CEO em comunicado, na quarta-feira. “Implementámos um conjunto abrangente de planos de contingência para minimizar as perturbações nos nossos serviços e continuaremos a fazer todo o possível para manter os padrões de serviço, apesar dos desafios colocados por esta decisão.
Rui Gomes salienta que “há muitos efeitos para além do sindicato que convocou a greve”, referindo que o facto de a paralisação ser num fim de semana poderá levar a que mais trabalhadores não se apresentem ao trabalho”, mesmo os não filiados nos sindicatos. Segundo apurou o ECO, a TAP espera um impacto sobretudo no Porto.
O Sttamp justifica a convocação da greve com “a existência de vencimentos base inferiores ao salário mínimo nacional”, “o recurso sistemático a trabalhadores de empresas de trabalho temporário”, o “trabalho suplementar em incumprimento com os limites legais em vigor” ou “alterações sucessivas de horários à margem das disposições do Acordo de Empresa”.
O vice-presidente da Menzies Aviation para Portugal rejeita que existam vencimentos abaixo da retribuição mínima mensal garantida, o conceito previsto na lei, que contabiliza, além do vencimento base, outros valores pagos em 14 meses. “Há sempre o pagamento adicional, fora da tabela, de várias componentes que são pagas em 14 meses”, afirma, dando como exemplo o subsídio de turno — “250 euros em números redondos” — ou o subsídio de condições climatéricas para quem trabalha na placa do aeroporto. “Não há nenhum caso na SPdH que receba abaixo de 820 euros“, garante.
O Sttamp alega ainda, num comunicado divulgado esta semana, que “em dezembro de 2023 foi agendada data para assinatura do Acordo de Empresa, sendo que, nesta altura, apenas foi assinado o texto do clausulado, não constando no documento qualquer tabela salarial, que deveria constar, como anexo ao acordo de empresa”. Rui Gomes diz ser “falso”, e que as tabelas constavam quer na versão assinada em dezembro quer na assinada já em junho deste ano.
CEO afirma que há trabalhadores descontentes com a greve
O ECO sabe que a paralisação criou desconforto noutros sindicatos. O responsável da Menzies Aviation também afirma que há trabalhadores descontentes. “Estive com trabalhadores no Porto, que é onde o Sttamp está mais forte, e a sensação é que há uma grande fatia de trabalhadores que está completamente contra isto, pelo timing em que acontece. O que se ouve no terreno é que a greve não vai ter grande adesão”, afirma.
“Se eu não estou de acordo com alguma coisa — e o acordo de empresa foi assinado há dois meses — o que eu faço é assinalar com uma greve a meio da semana. Não é no mês mais disruptivo do ano, no último fim de semana, que é o regresso das pessoas de férias e de regresso às aulas”, considera Rui Gomes. O vice-presidente da Menzies Aviation para Portugal considera a paralisação “completamente desadequada, extemporânea, inqualificável e sem qualquer respeito pelos objetivos da empresa”.
Estive com trabalhadores no Porto, que é onde o Sttamp está mais forte, e a sensação é que há uma grande fatia de trabalhadores que está completamente contra isto.
Na reação ao anúncio dos serviços mínimos, o Sttamp lamentou, em comunicado, “que tenha sido necessário chegar a este ponto, não obstante de, por todas as formas, ter tentado junto da empresa encontrar soluções que evitassem este desfecho”. “Caberá à administração da Menzies assumir a total responsabilidade por esta paralisação porque, em nenhum momento apresentou qualquer alternativa ou proposta que pudesse evitar a greve”, acrescenta.
Rui Gomes confirma contactos com a direção do Sttamp nos últimos dias, mas rejeita reabrir agora negociações só com alguns sindicatos, dois meses depois de assinado o novo acordo de empresa. “Este acordo de empresa tem agora uma validade de dois anos. Portanto, o que nós vamos cumprir é com esse acordo durante dois anos à vírgula e ao ponto“, afirma o vice-presidente da Menzies Aviation para Portugal.
O responsável alerta que a greve poderá ter consequências negativas nas atualizações salariais do próximo ano. “Há um impacto diretamente ligado à faturação pelos aviões não assistidos, que é bastante. Isso até é contraproducente, porque a forma de revisão salarial está ligada à faturação. Quanto menor a faturação, menor o aumento de salário”, explica.
Para Rui Gomes, a paralisação poderá ainda penalizar a Menzies no concurso para a atribuição de licenças de assistência em escala nos aeroportos portugueses, que a Autoridade Nacional de Aviação Civil já colocou em marcha. “Uma empresa que não consegue controlar todo o ecossistema dos stakeholders, nomeadamente os sindicatos, poder ser vista de forma menos credível pelo júri do concurso”, diz.
A antiga Groundforce foi adquirida pela britânica Menzies Aviation a 4 de junho, no âmbito do plano de recuperação da empresa, ficando com uma participação de 50,1%. Os restantes 49,9% pertencem à TAP.
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