Bolo-rei vai sair mais caro este Natal. Matérias-primas inflacionam preço dos doces
Com o preço do cacau, manteiga e açúcar a disparar, os doces de Natal vão ficar mais caros. Pasteleiros asseguram que ajuste "não é suficiente" para cobrir o preço que pagam pelas matérias-primas.
O aumento dos preços do cacau, da manteiga e do açúcar está a ter um impacto significativo nos preços da pastelaria em Portugal. Com o Natal quase à porta, os pasteleiros vão ter que ajustar os preços, o que vai acabar por pesar na carteira dos consumidores.
“Estes aumentos nos preços das matérias-primas estão a pressionar os produtores a repassar os custos adicionais para os consumidores. Como resultado, os preços dos doces de Natal aumentaram quase 20%. Por exemplo, o preço do bolo-rei aumentou cerca de um euro em comparação com o ano passado”, diz ao ECO a Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP).
A Confeitaria Petúlia, localizada na zona da Boavista (Porto), famosa pelo bolo-rei, não aumentou o preço o ano passado fixado em 20 euros por quilo. No entanto, este Natal o produto pode ficar ligeiramente mais caro, embora não esteja definido o preço final. “Estamos a conversar para fazer algum reajuste no preço final para o consumidor (principalmente no Bolo-rei), nada que vá refletir o aumento que temos sentido“, afirma Filipe Moreira, pasteleiro da Confeitaria fundada em 1972 por Ilídio e Maria Amélia Pinto.
Passado mais de meio século, a Confeitaria Petúlia, que tem à frente do negócio Jorge e Eurico Pinto, dois dos quatro filhos dos fundadores, emprega 25 pessoas e fatura 1,1 milhões de euros.
Estamos a conversar para fazer algum reajuste no preço final para o consumidor, nada que vá refletir o aumento que temos sentido.
Filipe Moreira detalha que as sultanas (do género de uvas passas usadas no bolo-rei), que normalmente vêm da Turquia, estão a um preço “absurdo”. “O ano passado comprávamos sultanas a dois euros o quilo e a agora estamos a compra-las a cinco euros”, contabiliza. Durante dezembro, a Confeitaria Petúlia, vende mais de dez mil unidades de bolo-rei, embora também comercialize o produto o ano todo, já que é o produto estrela.
Fundada em 1995, por Milu Borralho e Pedro Ferrão, o bolo-rei da Padaria e Pastelaria Flor de Aveiro, localizada em Aveiro, tem vindo a ganhar vários prémios desde 2013. O ano passado, foi distinguido como o “Melhor dos Melhores” no Concurso Nacional organizado pelo Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA). O medalhado bolo-rei aveirense custa 25 euros por quilo e “para já mantém o mesmo preço”, diz Corina Cotafe, filha de Milu Borralho. A responsável admite que “vão ajustar alguns valores, mas não consegue adiantar se o ajuste vai aplicar-se ao bolo-rei”, receita original da Milu, com fabrico artesanal.
Nas palavras da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, o “cacau enfrenta uma das piores crises nos últimos 40 anos” e é caso para dizer que o aumento do preço está a amargar o negócio. A associação que representa o setor contabiliza ao ECO que o preço do cacau subiu “136% entre julho de 2022 e fevereiro de 2024, impulsionados por problemas climáticos e doenças nas plantações”. Este aumento tem um impacto direto no custo de produção de chocolates e outros doces que utilizam cacau”.
O pasteleiro da confeitaria Petúlia assegura que “têm sentido esse aumento” no cacau e tudo o que sejam derivados. Filipe Moreira realça que “o preço da manteiga de cacau triplicou nos últimos seis meses”. “É a matéria-prima mais nobre do chocolate e acaba por influenciar o preço final”, destaca.
O cacau enfrenta uma das piores crises nos últimos 40 anos, com os preços a subir 136% entre julho de 2022 e fevereiro de 2024, devido a problemas climáticos e doenças nas plantações.
Fundada há 60 anos, por Afonso Cavaleiro, a Pastelaria O Afonso, com duas lojas (uma Coimbra e outra em Tentúgal), está a sentir o peso do aumento do preço das matérias-primas. “Nos últimos tempos, o preço da manteiga, ovos, açúcar e farinha subiu muito”, comenta Margarida Cavaleiro, filha do fundador que está à frente do negócio juntamente com a irmã Olga. Apesar de ainda não terem definido se vão aumentar o preço da doçaria, a responsável garante que os pequenos ajustes, que possam vir a ser feitos, “não são suficientes” para colmatar o preço que pagam pelas matérias-primas.
A manteiga na Europa foi negociada nos mercados mundiais a um recorde de 8.706 dólares por tonelada a 29 de setembro, um aumento de 78% em relação ao ano anterior, segundo os últimos dados oficiais da Comissão Europeia.
Em Portugal, dados da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação mostram que a “manteiga subiu aproximadamente 30% no último ano, impulsionado pela crescente procura e pela redução na oferta de leite em algumas regiões, afetando especialmente produtos de pastelaria que utilizem grandes quantidades de manteiga”.
No entanto, nem tudo são más notícias com a Confeitaria Petúlia a notar um decréscimo no preço do açúcar, ao contrário da manteiga e do cacau. O pasteleiro da confeitaria portuense diz que “o passado, um quilo de açúcar custava cerca de 1,20 euros o quilo e que neste momento está a pouco mais que 70 cêntimos”. Filipe Moreira nota que esta tendência é transversal à farinha, que viu os preços aumentar devido à Guerra na Ucrânia, que encareceu brutalmente o preço dos cereais, mas já está a estabilizar.
A Associação do Comércio e da Indústria de Panificação (ACIP) tem uma opinião diferente e refere que o “preço do açúcar tem aumentado cerca de 20% nos últimos meses devido a problemas climáticos que afetaram a produção em grandes países exportadores”, acrescentando que “este aumento reflete-se diretamente no custo de produção de doces”.
A somar ao aumento do cacau, manteiga e açúcar, Corina Cotafe, da Flor de Aveiro, recorda ainda que o “preço da fruta também aumentou”.
Face ao aumento dos custos das matérias-primas essenciais como o açúcar, a manteiga e o cacau, a Associação do Comércio e da Indústria de Panificação adverte que ue “os consumidores podem esperar pagar mais pelos doces de Natal”.
O pasteleiro da Confeitaria Petúlia corrobora a ideia e considera que “a inflação no preço das matérias-primas acaba por “ter algum impacto” na carteira dos consumidores, embora considere que nesta altura natalícia as famílias “dão-se ao luxo” de ter produtos com mais qualidade na mesa de Natal.
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