Conselho das Finanças Públicas espera que crescimento da despesa pública “não se torne um padrão”
Presidente do Conselho das Finanças Pública espera que crescimento da despesa do Estado este ano seja "excecional" e "anómalo", e alerta para riscos sobre o Plano de Médio Prazo.
A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP) manifestou preocupação sobre o comportamento da despesa pública este ano e alertou que a margem do país para não entrar em incumprimento com os compromissos em Bruxelas é mínima. Numa audição parlamentar esta quarta-feira, Nazaré da Costa Cabral considerou ainda que o perfil das cativações no próximo ano se advinha diferente face aos anos anteriores.
Em resposta aos deputados da Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAF), no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), Nazaré da Costa Cabral deixou avisos à navegação. “Não só para o Governo, mas para o país” como um todo, assinalou.
“Espero que este comportamento da despesa este ano seja excecional, anómalo e não se torne um padrão de crescimento. O país não suportaria termos uma taxa de crescimento na casa de dois dígitos“, afirmou.
Espero que este comportamento da despesa este ano seja excecional, anómalo e não se torne um padrão de crescimento.
A responsável pelo CFP recordou que este ano a taxa de crescimento homóloga da despesa deverá ser próxima de 10%, ao contrário do que foi a média dos últimos anos. “Estou, de facto, preocupada com o comportamento da despesa“, vincou mais do que uma vez. Nazaré da Costa Cabral assinalou que para 2025 a previsão aponta para um crescimento de 6,6%, considerando ser “uma desaceleração importante [face a 2024], todavia ainda acima da média da despesa pública nos últimos anos”.
Neste sentido, deixou “avisos à navegação”. Entre eles, que “a margem de manobra” é “pequena” e “há o risco de a qualquer momento” o limite do compromisso assumido no Plano Orçamental Estrutural de Médio Prazo “poder ser ultrapassado”.
A presidente do CFP assinalou que em 2025 o país poderá já ultrapassar o desvio aceitável de 0,3 ao ano admitido na conta de controlo.. “Apontamos para um desvio superior a esse, é um aspeto que nos deve preocupar. O mesmo acontece em 2027”, disse.
Contudo, como se projetam excedentes orçamentais para ambos os anos, o incumprimento deste limiar em termos anuais não significa a abertura de um procedimento relativo aos défices excessivos (PDE) com base na dívida.
Ainda assim, Nazaré da Costa Cabral sublinhou que tal significa atenção redobrada a posição orçamental. “A única forma de nos precavermos é a salvaguarda de termos esses anos um excedente orçamental ou uma situação próxima de equilíbrio orçamental“, vincou, acrescentando que para 2027 o país está “na corda bamba”, uma vez que “são excedentes muito frágeis”.
“Qualquer medida que se adote que possa ter impacto a nível de despesa do Estado é algo que nos deve alertar. Neste momento é importante alertar para o impacto que qualquer medida discricionária seja do lado da despesa, seja da receita possa vir a ter desse ponto de vista”, disse.
Perfil das cativações deverá alterar-se
A presidente do CFP considerou também que o “perfil de cativações” será “bastante diferente dos anos anteriores”. “O controlo está hoje muito mais dependente de uma gestão descentralizada. O instrumento tem hoje uma vocação provavelmente diferente”, assinalou relativamente aos valores das cativações.
Nazaré da Costa Cabral recordou também que foi eliminada a norma que limitava a aplicação de cativações iniciais a um máximo equivalente a 90% dos cativos iniciais aprovados em 2017, o que considera “explica grande parte” do aumento previsto na proposta orçamental.
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