Associação têxtil acaba com feira que era organizada por Manuel Serrão

Quase um ano depois de rebentar o escândalo relacionado com um alegado esquema de fraude de 40 milhões na obtenção de fundos europeus, que tem o “feirante” têxtil Manuel Serrão como o “principal mentor”, segundo o Ministério Público, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) decidiu acabar com a feira Modtissimo, que era promovida pela Associação Selectiva Moda (ASM) liderada pelo empresário do Porto.

Ao fim de 64 edições – incluindo a última, em setembro, que já não foi organizada pela ASM –, aquele que era o mais antigo salão têxtil da Península Ibérica vai dar lugar à MOD’única. A associação liderada por Mário Jorge Machado confirmou esta segunda-feira que a primeira edição está agendada para 26 e 27 de fevereiro na Exponor, em Matosinhos, confiando que o evento irá “afirmar-se no panorama internacional como a única feira dedicada à promoção da indústria têxtil e vestuário portuguesa”.

“Porquê MOD’Unica? Porque o made in Portugal está na moda; porque não esquecemos as nossas origens, porque somos um modelo e um exemplo de excelência e inovação, porque a indústria têxtil e de vestuário portuguesa tem um modo único de criar e desenvolver propostas de valor e queremos que a feira demonstre exatamente essa unicidade, e porque queremos continuar a ser a única feira dedicada à indústria”, refere um comunicado da ATP, que já tinha assumido o jornal que era dirigido por Manuel Serrão.

Criada para “refletir a força e a abrangência do cluster têxtil e vestuário nacional”, composto por empresas de fiação, tecelagens, tricotagens, acabamentos, têxteis técnicos, vestuário, têxteis-lar e serviços diferenciados, o sucessor do Modtíssimo vai continuar a ter duas edições anuais. Passa a ser organizado com o apoio da Spormex e pretende “afirmar Portugal como um hub de excelência no cenário global, capaz de dar resposta aos desafios globais, com foco na inovação, na sustentabilidade e na responsabilidade social”.

Manuel Serrão foi constituído arguido na Operação Maestro, que tem uma rede de “implicados” que vai da moda aos fundos europeus, e que a Polícia Judiciária disse envolver “fortes suspeitas da prática dos crimes de fraude na obtenção de subsídio, fraude fiscal qualificada, branqueamento e abuso de poder”. Paralisou a atividade da ASM e, por outro lado, deixou as empresas do setor têxtil português sem apoios para a participação em feiras e campanhas de promoção internacional, trazendo prejuízos financeiros “gravíssimos”.

No entanto, as empresas que integraram as missões promovidas pela ASM, que estão a ser alvo de investigação, não terão de devolver os apoios recebidos, mesmo que se venha a ser confirmada fraude na sua utilização. “As despesas apresentadas nos projetos constituem despesas indivisíveis (da própria ASM) e distribuíveis (suportadas pela própria associação, cujos custos são repartidos pelas empresas). Neste contexto, a recuperação das verbas será efetuada junto da entidade promotora, não das PME, por via das propostas de rescisão em curso”, explicou ao ECO fonte oficial do Compete.

O Ministério Público tinha pedido quatro novas medidas de coação para o empresário Manuel Serrão – proibição de contactos com órgãos decisores, proibição de exercício de funções, proibição de acesso a fundos comunitários e caução de 500 mil euros. No entanto, em novembro, a juíza apenas manteve o Termo de Identidade e Residência.

Entretanto, a ATP promove esta semana uma sessão de esclarecimento juntos dos associados sobre o Regime Geral de Prevenção da Corrupção (RGPC). Tem a orientação dos advogados da NOVA Legal, Ana Rocha Alves e Rui Neves Ferreira, e destina-se a “esclarecer as obrigações impostas pelo RGPC, o impacto do incumprimento e os passos necessários para garantir o registo na Plataforma do MENAC dentro do prazo limite de 14 de fevereiro de 2025”.