Portugal arrisca segundo ano de quebra na produção industrial

Economistas admitem nova quebra na produção industrial na reta final do ano passado. Cenário não é exclusivo de Portugal e verifica-se também na Zona Euro.

Portugal poderá ter sofrido uma quebra na produção industrial no final de 2024, mantendo a tendência registada em 2023, de acordo com os economistas consultados pelo ECO. Depois de um primeiro semestre com um desempenho mais favorável, começou a perder gás devido à volatilidade energética e à procura de bens de consumo duradouros dos principais parceiros comerciais do país.

O Índice de Produção Industrial caiu 2,2% em novembro, em termos homólogos, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Contudo, esta evolução é influenciada pela energia, já que descontando esta área a queda foi de 0,8%.

A produção industrial em 2024 teve um bom primeiro semestre, mas sofreu uma desaceleração significativa na segunda metade do ano. Novembro de 2024 foi mais fraco do que o mesmo período de 2023, indicando uma possível contração da indústria“, assinala Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.

Fonte: Instituto Nacional de Estatística

O economista destaca que o custo da energia mais elevado penalizou a produção industrial, muito dependente de eletricidade e combustíveis. “O preço da eletricidade no mercado Ibérico (OMIE Espanha e OMIP Portugal) subiu acentuadamente no último trimestre do ano passado. Houve uma menor procura por bens de consumo, afetando sobretudo os bens de consumo duradouros. Alguma incerteza económica no final do ano impactou o investimento e o consumo“, aponta.

No entanto, considera que fatores como a política monetária mais acomodatícia do BCE, que já reduziu as taxas de juro em 100 pontos base, podem ajudar. “Ainda assim, a recuperação do consumo interno e as condições do comércio externo serão decisivas para determinar se a queda se confirmará ou se haverá uma recuperação no início de 2025”, aponta.

Os dados do INE revelam que o agrupamento dos bens de consumo duradouros caiu 6,4% em novembro em termos homólogos, o dos bens de consumo não duradouros 2,3% e o da energia 10,2%.

De acordo com dados do Eurostat, a queda da produção industrial não é exclusiva de Portugal. Na Zona Euro recuou 1,9% face ao mesmo mês de 2023. A liderar as quebras estiveram a Croácia (-6,6%), Irlanda (-5,6%) e Áustria (-5,0%), enquanto as maiores subidas se registaram em Malta (13,5%), Bélgica (8,7%) e Grécia (4,8%).

Fonte: Eurostat

O bastonário da Ordem dos Economistas, António Mendonça, assinala que poderá voltar a verificar-se uma quebra que resulta da dinâmica económica dos países do euro. “Podemos ver com apreensão o que se esta a passar na economia, muito resultado do que se passa na Europa, sobretudo na Alemanha“, refere, salientando que “face à indefinição que se regista é natural que o investimento se retraia”.

Neste sentido, o diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Texeira, considera que “a indústria portuguesa está fraca, como o está também na generalidade da Zona Euro“.

“A atividade industrial está, de algum modo, associado às exportações, que estão débeis e também voláteis. Esta parte da economia tem estado pouco dinâmica, mas o restante, sobretudo serviços e procura interna, têm compensado, pelo que a economia portuguesa está com um crescimento próximo do potencial. O problema não é tanto conjuntural, mas sobretudo estrutural“, argumenta.

Para o economista é mesmo possível que para o conjunto do ano não se registe uma quebra ou que esta seja diminuta. “Em relação ao valor de dezembro de 2024, o facto de ter havido uma queda mensal em dezembro de 2023 até ajuda a que não haja diminuição homóloga naquele mês”, disse.

Contudo, Paulo Rosa recorda que, em 2023, o índice da produção industrial portuguesa esteve mais estável, mas geralmente abaixo de 100 na maior parte do ano, com uma recuperação no final. Já em 2024, observou-se um crescimento inicial mais robusto, com um máximo de 103,6 em março, mas a recuperação não foi sustentada, levando a uma queda no final do ano, para 96,8.

O economista do Banco Carregosa explica que “a variação no setor de bens de investimento sugere alterações nas expectativas de longo prazo das indústrias” e “o impacto de políticas monetárias e condições económicas globais pode ter sido mais acentuado em 2024“.

“A indústria portuguesa enfrenta alguns desafios significativos, com custos elevados, menor procura e encerramento de fábricas, refletindo uma economia em desaceleração. Esta fragilidade torna a economia mais vulnerável a fatores internos e externos, colocando em risco a sustentabilidade do setor e dificultando o crescimento económico em 2025, caso as condições não melhorem”, refere.

Por seu lado, Pedro Braz Teixeira destaca que as perspetivas para os principais mercados de exportação portuguesa “não são famosas, para além dos riscos protecionistas, pelo que é difícil estar muito otimista”, mas “em termos estruturais, a União Europeia (UE) deverá reforçar a tendência de reindustrialização, pelo que Portugal poderá aproveitar este movimento, se fizer o trabalho de casa, em especial na atração de Investimento Direto Estrangeiro (IDE)”.

“Os encerramentos são, geralmente, uma má notícia, embora também existam casos em que o fecho de fábricas com baixa produtividade liberta recursos para utilizações mais produtivas, sobretudo no caso dos trabalhadores qualificados, hoje especialmente escassos”, indica o economista.

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