Desmontar a regulação do sistema financeiro é o futuro? “Só para alguns”, diz Centeno
Governador do Banco de Portugal critica "ideia de que temos de desmontar todo o sistema de regulação do sistema financeiro”, pois só serve os interesses de "uma parte muito reduzida da sociedade”.
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse esta sexta-feira que fica muito preocupado com a ideia em voga atualmente de que é preciso reduzir a regulação, considerando que isso só beneficiaria uma elite.
“Não podemos embarcar nesta ideia de que, de repente, temos de desmontar todo o sistema de regulação do sistema financeiro, que é esse o nosso caminho para o futuro. Não é, é só para alguns“, afirmou Mário Centeno, numa aula aberta na Escola Secundária António Damásio, em Lisboa.
O governador do banco central contou que fica muito preocupado quando qualquer debate atual sobre economia começa a falar de desregulamentação por considerar que essa é uma ideia que serve os interesses de “uma parte muito reduzida da sociedade”, mas que tem o enorme poder de influenciar as restantes e de convencer que o “caminho que foi feito é todo errado”.
“Não estava e não está” errado esse caminho, disse.
Anteriormente, Centeno tinha falado do trabalho feito sobre o setor bancário, nomeadamente na regulação, para o deixar mais sólido e poder melhor resistir a crises.
O ex-ministro das Finanças (Governos PS, de António Costa) recordou quando, durante a última crise, “vendiam a ideia de que Portugal vivia acima das suas possibilidades”, para considerar que também então, tal como agora, isso era verdade “só para alguns”.
“Revolução silenciosa” nas qualificações
Nesta aula aberta, o governador do Banco de Portugal destacou ainda a evolução da escolaridade e das qualificações dos cidadãos em Portugal como a “revolução silenciosa” que o país tem feito e afirmou que apenas há 20 anos Portugal tinha o nível de escolaridade mais baixo da União Europeia.
“Há apenas 20 anos, apenas metade de vocês estava aqui, a outra metade estaria a trabalhar”, declarou aos mais de 100 estudantes reunidos no auditório da Escola Secundária António Damásio.
Centeno, que é especialista na área de economia do trabalho, explicou aos estudantes que melhores qualificações trazem melhores empregos, melhores salários e também mais possibilidade de encontrar novo emprego em caso de desemprego, vincando que isso é, sobretudo, muito importante quando tiverem 40 ou 50 anos.
Questionado sobre os salários, disse que em Portugal são estruturalmente baixos porque as qualificações são estruturalmente baixas e recordou que Portugal impôs os 12 anos de escolaridade obrigatória “mais de 100 anos depois do [Estado norte-americano] do Massachusetts”.
Centeno foi também questionado sobre as finanças públicas, tendo repetido uma ideia que vem defendendo de que é preciso “ter políticas económicas contracíclicas” pois – afirmou – “se o Estado não criar ‘almofadas’ suficientes quando a economia sobe, não as vai ter quando a economia descer”, para apoiar famílias e empresas numa situação de crise.
Sobre a União Europeia, Centeno (que, enquanto ministro das Finanças, foi presidente do Eurogrupo) defendeu “maior integração” face aos desafios globais que se colocam. “Que a Europa se possa apresentar mais unida e com resposta mais eficaz no momento em que muito daquilo em que acreditávamos está a ser posto em causa”, disse.
Mário Centeno foi um dos nomes apontados como possível candidato a Presidente da República pela área do Partido Socialista, mas em meados de janeiro anunciou, em entrevista à RTP3, que não seria candidato nas próximas eleições e que essa foi uma “decisão pessoal e muito amadurecida“.
Na mesma entrevista, Centeno voltou a dizer que trabalha para vir a fazer um segundo mandato como governador.
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