Autoeuropa: “Não se consegue um investimento destes sem apoio do governo”, diz Mira Amaral

O CEO da multinacional alemã agradeceu "o apoio do governo de Portugal, que nos proporcionou as melhores condições para atrair este novo projeto para o País".

O ID. EVERY1, o novo elétrico da Volkswagen, que vai ser comercializado com um preço de venda de 20 mil euros, vai ser produzido da fábrica da multinacional alemã em Portugal.Volkswagen Group

A Autoeuropa foi a unidade escolhida pela Volkswagen para produzir o seu novo elétrico ID. EVERY1, cujo lançamento está previsto para 2027 e que vai ser comercializado com um preço de venda na casa dos 20 mil euros. A fábrica de Palmela venceu a concorrência a Leste e garantiu o futuro da fábrica portuguesa por “muitos anos”, uma vitória para a qual foi determinante o incentivo do governo. “Não se consegue um investimento destes sem o apoio do governo“, reconhece o ex-ministro Mira Amaral.

A confirmação oficial de Portugal como a localização do novo elétrico low cost foi feita esta segunda-feira, 10 de março, ao final do dia, gerando reações do governo e da empresa situada no distrito de Setúbal. “Conseguimos trazer para Portugal e para a Autoeuropa a produção de um novo carro elétrico da Volkswagen“, disse o primeiro-ministro Luís Montenegro, no dia da votação da moção de confiança.

Gostaríamos de agradecer o apoio do governo de Portugal, que nos proporcionou as melhores condições para atrair este novo projeto para o País.

Thomas Hegel Gunther

CEO da Volkswagen Europa

Gostaríamos de agradecer o apoio do governo de Portugal, que nos proporcionou as melhores condições para atrair este novo projeto para o País“, disse Thomas Hegel Gunther, CEO da Volkswagen, na conferência de apresentação de resultados anuais, que decorreu no mesmo dia, 11 de março.

As declarações destes responsáveis deixam pouco espaço para dúvidas em relação à atribuição de incentivos à Volkswagen para trazer para o país o novo modelo, um apoio que, aliado ao bom desempenho e aos níveis de produtividade da fábrica, foi determinante para a escolha da unidade de Palmela, onde no ano passado foram produzidas 236.100 unidades, que representam 4% das exportações nacionais e 1,3% do PIB de 2023.

O apoio do Governo foi importante. Não se consegue um investimento destes sem o apoio do governo, porque todos os governos de outros países fazem o mesmo. Normalmente são incentivos financeiros e fiscais e depois apoios na formação profissional.

Mira Amaral

Antigo ministro da Indústria

“A Autoeuropa está sempre a competir com as outras fábricas do grupo. A Autoeuropa tem apresentado uma excelente performance e está a produzir o T-Roc que tem uma excelente performance”, apontou Mira Amaral, antigo ministro da Indústria e um dos responsáveis pela entrada da Autoeuropa no país, em declarações ao ECO.

Para o antigo ministro, “os níveis de produtividade e competitividade muito elevados”, aliados à qualidade da mão-de-obra “são tudo atributos para que pudesse atrair o novo modelo”.

O antigo governante reconhece que “também teve o apoio do governo — e bem — , a dar incentivos para a construção deste modelo. O governo, através da AICEP, deu um conjunto de incentivos para o investimento na Autoeuropa“, reforçou.

“O apoio do Governo foi importante. Não se consegue um investimento destes sem o apoio do governo, porque todos os governos de outros países fazem o mesmo“, explica, acrescentando que, “normalmente são incentivos financeiros e fiscais e depois apoios na formação profissional“.

Fábrica reforça aposta na eletrificação

Com a construção do novo elétrico do grupo, a fábrica portuguesa da multinacional alemã “assegura o futuro da unidade de Setúbal de uma fábrica de nova geração da Volkswagen, e de uma enorme cadeia de valor de fornecedores nacionais, por muitos anos”, conforme realçou o ministério da Economia. Além de garantir a continuidade da empresa, o novo modelo vai ainda permitir à Autoeuropa reforçar a aposta na eletrificação.

“A Autoeuropa também já tinha comunicado que vai produzir o novo modelo híbrido do T-Roc, o que para mim era um sinal que ia eletrificar na produção“, destacou Mira Amaral.

A fábrica de Palmela, que fechou o último ano com um volume de negócios de cerca de 3,8 mil milhões de euros e 4.842 colaboradores, vai ter de apostar na transição energética do setor, afirmando-se como uma fábrica de futuro.

De acordo com o ministério da Economia, este novo investimento vai permitir à unidade converter-se numa “fábrica eletrificada de nova geração e a adoção de processos de produção e logísticos, bem como a assemblagem robotizada de sistemas de baterias”.

A fábrica de Palmela vai tornar-se mais eficiente e capaz de competir com fabricantes mundiais, alinhando a empresa, e Portugal, com os objetivos climáticos europeus de neutralidade carbónica, num cenário em que a União Europeia está a limitar a produção de carros a combustão e híbridos”, aponta também o gabinete de Pedro Reis, que fala num investimento “da ordem de várias centenas de milhões” de euros, sem revelar um valor exato.

Palmela ganhou às fábricas a Leste

A Autoeuropa disputou o novo modelo com outras fábricas da Volkswagen localizadas no Leste da Europa, tendo ficado a decisão final entre a fábrica portuguesa e a eslovaca, localizada em Bratislava, que, em 2023, produziu quase 329 mil carros e que é a única unidade do grupo que produz quatro marcas.

Se a Autoeuropa é a casa do T-Roc, um dos modelos mais populares do grupo germânico, a fábrica de Bratislava, que foi criada no mesmo ano da Autoeuropa — 1991 — , produz o Volkswagen Touareg; Volkswagen Passat; Audi Q7; Audi Q8; Porsche Cayenne; Porsche Cayenne Coupé; Škoda Superb. Cerca de 99% da produção [a mesma percentagem da Autoeuropa] destina-se à exportação.

Tal como a fábrica portuguesa, também a eslovaca vai produzir um modelo elétrico: o futuro SUV Porsche Cayenne. Contabilizando a unidade de Martin, onde são produzidos componentes, a Volkswagen emprega mais de 11 mil pessoas na Eslováquia.

Enquanto algumas fábricas da construtora alemã enfrentam dificuldades na Alemanha, com a empresa a preparar-se para fechar unidades de produção no país pela primeira vez na sua história, a fábrica da Volkswagen de Bratislava tem conseguido manter uma evolução positiva. Fechou 2023 (os últimos resultados apresentados pela empresa no seu site) com uma faturação recorde de 11,76 mil milhões de euros, três vezes mais que as receitas geradas em Portugal.

Além do ano de criação, as duas unidades partilham o bom desempenho — com receitas e produção crescente — e a aposta na eletrificação. Apesar da maior dimensão da fábrica eslovaca, Portugal levou a melhor do braço-de-ferro para a construção do novo carro da Volkswagen.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Autoeuropa: “Não se consegue um investimento destes sem apoio do governo”, diz Mira Amaral

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião