Quem é o grupo francês BPCE, com 200 anos de uma história atribulada

Desde as origens no século XIX a um resgate estatal na sequência do escândalo Madoff, o caminho foi longo para o provável comprador do Novobanco.

O Groupe BPCE, que está em negociações avançadas para comprar o Novobanco, nasceu em 2019, mas as suas origens têm mais de 200 anos.

O BPCE resultou da fusão de duas instituições, o Banque Populaire e a Caisse d’Epargne, mas a história destas duas redes vem bem de trás. Em 1818 nasce a primeira Caisse D’Epargne, em português literalmente “Caixa de Poupança”, enquanto o primeiro Banque Populaire surge 60 anos depois, em 1878. A raiz destes bancos esteve em modelos coletivos, cooperativos ou de pequenos profissionais, algo que, apesar das mudanças ao longo dos anos, continuou a marcar o espírito destas entidades.

Depois dessas instituições fundadoras, foram nascendo outras organizações associadas, distribuídas geograficamente, debaixo do mesmo chapéu mas com autonomia de gestão (um pouco à semelhança do modelo do Crédito Agrícola, em Portugal). Hoje em dia, debaixo do Banque Populaire existem 14 instituições, enquanto a Caisse D’Epargne conta com 15, com milhares de balcões cada. Estes dois bancos estão reunidos no Groupe BPCE mas continuam a operar autonomamente, e até concorrencialmente, em França e com marcas separadas.

Também foram resgatados

A fusão debaixo do nome Groupe BPCE aconteceu em 2009 e não pelos melhores motivos. Tal como o Novobanco, também os bancos na origem do BPCE tiveram de ser resgatados com dinheiros públicos.

O problema principal veio do Natixis, braço de banca de investimento e de gestão de fortunas na altura detido em conjunto pelas duas instituições, que ainda eram formalmente autónomas. Na sequência da crise financeira, e de investimentos feitos no que se veio a descobrir ser um esquema piramidal de Bernard Madoff, os problemas do Natixis contaminaram tanto o Banque Populaire como o Caisse D’Epargne, levando o Estado francês a injetar nas instituições cerca de 7 mil milhões de euros, entre o final de 2008 e o início de 2009. A ajuda estatal estava paga no final de 2011.

Neste último ano dá-se a fusão entre as duas instituições, em julho, por forte iniciativa pública, sob a liderança do Presidente Sarkozy. Esse processo, no entanto, não foi isento de problemas. O primeiro presidente do recém-criado Groupe BPCE foi François Perol que, na qualidade de membro do staff de Nicolas Sarkozy, desenhou boa parte da política económica desse Presidente e, sobretudo, teve papel fundamental na definição da fusão dos bancos que deram originam ao BPCE. Em 2015, Perol foi levado a tribunal devido à violação da lei das incompatibilidades e conflito de interesses, uma vez que alegadamente não podia passar de um papel para o outro. Em 2017 foi absolvido, num processo em que as autoridades pediam uma pena de dois anos de pena de prisão, suspensa.

Após 2009, seguiu-se uma reestruturação e o fortalecimento do modelo cooperativo. O BPCE tem como acionistas (9,8 milhões) os membros das cooperativas do Populaire e da Caisse D’Epargne, que são normalmente os clientes, de forma que se pode equiparar, genericamente, à do Montepio, por cá. Fruto deste modelo, dois dos membros do Conselho de Administração são representantes dos trabalhadores.

Nos últimos anos, o negócio tem corrido bem para o BPCE, cujo logotipo roxo resulta da combinação das cores azul e vermelho dos bancos que lhe deram origem.

Atualmente, de acordo com os números da própria instituição, o BPCE é o segundo maior grupo bancário em França, tem 100 mil funcionários e 35 milhões de clientes em todo o mundo. Em termos de banca comercial, está apenas em França, com a presença mundial em mais de 50 países a ser assegurada através da banca de investimento para empresas e da gestão de fortunas feitas pela Natixis. É o Natixis, liás, o responsável pela relação com o Group BPCE com Portugal, uma vez que tem mais de 2 mil trabalhadores no nosso País.

No primeiro trimestre deste ano, o Groupe BPCE atingiu um resultado líquido de perto de 900 milhões de euros, uma subida de 4% face ao período homólogo.

Segundo uma apresentação do próprio banco, o grupo é líder no financiamento a PME em França, tem a segunda maior quota de mercado nos particulares e está na quarta posição na bancassurance. Tem também, habitualmente, uma exposição relevante em termos de crédito ao setor público, nomeadamente a nível local.

Nicolas Damias, CEO do grupo, apresentou recentemente a estratégia Vision 2030, que tem como primeiro pilar assumido o crescimento, inclusivamente fora de França. Se a compra do Novobanco for bem sucedida, está aí um passo assertivo nesse caminho.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Quem é o grupo francês BPCE, com 200 anos de uma história atribulada

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião