Dólar afunda para mínimos de três anos com novo ataque de Trump à Fed
O dólar está novamente em queda, refletindo a erosão da confiança dos investidores face à instabilidade criada pelas investidas de Donald Trump contra a independência da Fed e de Jerome Powell.
O dólar negoceia novamente em terreno negativo, caminhando para o quinto dia consecutivo de perdas contra seis das principais moedas (incluindo o euro). Atualmente, o índice do dólar está a desvalorizar 0,4% (depois de já ter estado a cair 0,7%), colocando o dólar a negociar em mínimos de três anos.
A desvalorização do dólar surge na sequência de notícias desta quinta-feira do The Wall Street Journal (WSJ) de que Donald Trump está a considerar anunciar antecipadamente a sua escolha para suceder a Jerome Powell na presidência da Reserva Federal dos EUA (Fed), já em setembro ou outubro, muito antes do período tradicional de transição de três a quatro meses.
Segundo fontes relacionadas com este processo citadas pelo WSJ, o novo presidente da Fed não tomaria posse até maio de 2026 (quando terminará o mandato de Powell), mas o anúncio antecipado poderia permitir ao escolhido influenciar as expectativas dos investidores sobre a trajetória provável das taxas de juro, na tentativa de orientar a política monetária antes do fim do mandato do atual presidente da Fed.
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Entre os nomes em consideração encontra-se o antigo governador da Fed, Kevin Warsh, o diretor do Conselho Económico Nacional, Kevin Hassett, o atual membro do conselho de governadores da Fed, Christopher Waller, e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, avança o WSJ. Recorde-se que esta quarta-feira Trump revelou ter “três ou quatro pessoas” em mente para o cargo, classificando Powell como “terrível”.
“Um cenário deste tipo comprometeria a credibilidade do banco central, levantando dúvidas sobre a sua independência — uma dinâmica que poderá provocar nova desvalorização do dólar, à medida que os mercados ajustam expectativas a uma Fed mais ‘submissa’ e dovish, e a um enfraquecimento da confiança institucional”, refere Ricardo Evangelista, CEO da ActivTrades Europe.
Esta divisão dentro da Fed surge num momento em que Powell tem resistido às pressões de Trump para cortar as taxas de juro, mantendo-as no intervalo entre 4,25% e 4,50%, alertando ainda de que o aumento das taxas aduaneiras podem alimentar a inflação, justificando uma abordagem mais cautelosa da política monetária.
Mas o enfraquecimento do dólar não se limita aos desenvolvimentos internos da política monetária americana. Desde o arranque do ano que a moeda americana recua quase 11%, marcando o pior desempenho da moeda neste século, colocando-a a caminho da maior queda desde o famoso “Plaza Accord” de 1985, quando as principais economias mundiais se coordenaram deliberadamente para enfraquecer o dólar sobrevalorizado.
A situação atual representa mais do que uma simples correção técnica nos mercados cambiais. Reflete as tensões crescentes sobre a independência da Fed e as implicações de longo prazo de uma possível politização da política monetária americana.
O posicionamento dos investidores institucionais reflete também esta mudança estrutural. Dados do Bank of America mostram que a posição líquida “underweight” (sub-alocação) no dólar é a mais significativa em 20 anos, com cerca de 31% dos investidores institucionais a mostrarem-se “underweight” ou a manterem uma visão negativa sobre o dólar — o maior nível registado nas últimas duas décadas. Estes números mostram contraste significativo com períodos anteriores onde o dólar beneficiava de fluxos de refúgio.
Com Trump a intensificar a pressão sobre Powell e membros da Fed a mostrarem divisões sobre a direção futura das taxas de juro, os mercados preparam-se para um período de maior volatilidade cambial, com o dólar potencialmente a enfrentar pressões adicionais à medida que as incertezas políticas e monetárias intensificam-se.
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