Mais lucros, menos dívida e crescimento consolidado. O que é esta Martifer renovada que ‘atraiu’ a Visabeira
Empresa de estruturas metálicas, que tem a subconcessão dos estaleiros de Viana, onde garante as maiores receitas e tem Mário Ferreira como cliente, tem conseguido recuperar os seus resultados.
A Martifer está prestes a acolher um novo acionista de referência no seu núcleo, que vai abalar as relações de poder no grupo de Oliveira de Frades. A entrada da Visabeira, que comunicou um acordo tripartido com a I’M, dos irmãos Martins, e a Mota-Engil e teve que avançar com o lançamento de uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre o capital que os três não controlam, marca um novo ciclo na empresa, com mais um acionista de peso na indústria.
Mas quem é esta Martifer onde o grupo industrial de Viseu quer investir, que conseguiu dar a volta ao negócio após estar à beira da falência?
Ao contrário da Mota-Engil, que apoiou a empresa quando esta atravessou um período conturbado e que ajudou a “limpar” prejuízos, através da injeção de vários milhões para cobrir prejuízos acumulados, a Visabeira entra numa empresa com um balanço mais “leve” e com resultados a crescer há vários anos e uma carteira de encomendas próxima dos 700 milhões de euros.
Dívida chegou aos 600 milhões
A Martifer chegou à bolsa em meados de 2007, embalada pela euforia que antecedeu ao “crash” de 2008. Uma estratégia de internacionalização demasiado rápida e mal avaliada, impactada pelas várias crises financeiras, aceleraram a dívida da empresa, que chegou aos 600 milhões de euros, e determinaram uma série de sete anos de resultados líquidos negativos, um período no qual acumulou 370 milhões de euros de prejuízos e atingiu capitais próprios negativos.
A recuperação dos resultados demorou vários anos e envolveu um acordo com os bancos para a reestruturação da dívida, focado no desinvestimento de negócios não core e a venda de ativos imobiliários, permitindo à empresa focar-se na sua atividade principal, a construção de estruturas metálicas.

Mário Ferreira como cliente
Com o grupo focado em reduzir a dívida, a construção naval foi ganhando maior relevância na geração de receitas do grupo, através da West Sea, que gere os estaleiros de Viana do Castelo, tendo em Mário Ferreira como um dos principais clientes. A Mystic Invest, a “holding” do dono da Douro Azul, constrói os seus navios em Viana, tendo-se tornado, nas palavras de Carlos Martins, citado pelo Negócios, “a ‘trave-mestra’ na transformação destes estaleiros numa referência mundial ao nível da construção de navios de turismo de média dimensão”.
Este processo de recuperação da empresa permitiu um regresso aos lucros em 2017. Um ano mais tarde, a companhia mudou a gestão. Pedro Duarte substitui Carlos Martins como CEO da empresa, com este a passar a chairman, uma escolha feita pelos irmãos Martins e pelo grupo Mota-Engil, detentores do capital do grupo.
Ao longo dos últimos anos, a empresa focou-se nas suas três áreas de atividade – construções metálicas, indústria naval e renováveis – , tendo conseguido fechar importantes contratos, sobretudo na construção de navios a partir dos estaleiros de Viana do Castelo, um segmento onde tem vindo a investir e onde tem conquistado novos contratos de montantes elevados.
No final de dezembro de 2024, a Martifer assinou um contrato com o Estado para construir seis Navios Patrulha Oceânicos, pelo valor de cerca de 300 milhões de euros. Rubricou ainda o maior contrato individual para a construção de um navio cruzeiro de luxo para o armador japonês Ryobi Holdings (103 milhões) e outro para um navio-hotel a operar pela Australian Pacific Touring (APT) com navegação no rio Douro, com capacidade para 122 passageiros e 38 tripulantes.
Depois de ter regressado aos lucros em 2017, a companhia tem vindo a melhorar resultados e prossegue a estratégia de desalavancagem. No ano passado, a Martifer fechou com um resultado líquido de 23 milhões de euros, um aumento de 16,8% face aos 19,7 milhões de euros reportados em 2023. Trata-se do melhor resultado desde 2009, quando os lucros superaram os 107 milhões.
A carteira de encomendas na construção metálica e indústria naval situou-se nos 695 milhões de euros, em 2024, um valor que ficou abaixo dos 753 milhões reportados um ano antes.
Rácio da dívida não pode ultrapassar 25%
A dívida líquida do grupo manteve a tendência descendente, registando uma redução de cerca de 30 milhões de euros, face a dezembro de 2023, passando de oito milhões de euros, em 2023, para 22 milhões negativos. Já a dívida bruta baixou de 91 para 86 milhões de euros, com a empresa a prever continuar a diminuir o endividamento nos próximos anos.
De acordo com as projeções da empresa, a dívida bruta deverá recuar até pouco mais de 70 milhões de euros em 2028.
Uma evolução que a Visabeira Indústria quer garantir que prossegue sem percalços, sob pena de deitar por terra o acordo para investir no capital da Martifer. “A Oferente declara expressamente que a decisão de lançamento da Oferta se baseou e teve como pressuposto que, entre a data do presente Anúncio Preliminar e a data de encerramento da Oferta, não ocorreu ou ocorrerá, designadamente e sem limitar, nenhuma das seguintes circunstâncias, com impacto significativo na situação patrimonial, económica e financeira da Sociedade Visada, a nível consolidado”, refere o comunicado.
Na lista de condições elencada pela Visabeira que podem pôr em causa o acordo surgem, por exemplo, a “celebração, vinculação ou aumento de qualquer endividamento que possa elevar o rácio de dívida líquida sobre EBITDA acima de 25% (vinte e cinco por cento) face ao rácio de dívida líquida sobre EBITDA que conste da divulgação de resultados ou informação financeira da Sociedade Visada referente ao primeiro semestre de 2025″, “o aumento da remuneração global dos titulares de cada um dos órgãos da Sociedade Visada, ou de sociedades que com ela se encontrem em relação de domínio ou de grupo, sedeadas em Portugal ou no estrangeiro, para os anos de 2025 e subsequentes, para um valor superior ao da remuneração global dos titulares dos mesmos órgãos no exercício de 2024, salvo um aumento anual não superior a 5%“, ou operações de emissão e venda de ações.
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