Importações minam saldo externo apesar da ajuda do turismo
O saldo externo da economia nacional encolheu face a 2024, com mais compras de bens lá fora e menos exportações. Mas o turismo segurou as contas e travou um rombo maior no equilíbrio da economia.
A economia nacional apresentou um excedente externo de 4,1 mil milhões de euros até julho de 2025, mas este resultado, embora positivo, marca uma redução significativa de 1,4 mil milhões de euros comparativamente ao período homólogo. Esta evolução desenha um panorama complexo das contas externas nacionais, onde crescimento económico e pressões importadoras colidem com a capacidade exportadora do país.
Os dados divulgados esta quinta-feira pelo Banco de Portugal revelam que, apesar da contração face a 2024, “o valor observado até julho corresponde, em termos nominais, ao segundo excedente mais elevado de toda a série”. Um resultado que, contextualizado historicamente, mantém Portugal numa trajetória de equilíbrio externo sólido, ainda que com sinais de abrandamento.
A principal explicação para esta deterioração encontra-se no desequilíbrio da balança comercial de bens. O défice nesta rubrica “aumentou 2,8 mil milhões de euros”, com as importações a dispararem mais 2,5 mil milhões de euros, enquanto as exportações de bens contraíram 268 milhões de euros.
Esta evolução espelha as tensões estruturais da economia portuguesa. O crescimento da procura interna, alimentado pela recuperação do consumo e do investimento, está a traduzir-se numa maior dependência de bens importados, enquanto as exportações nacionais enfrentam ventos contrários dos mercados internacionais.
Turismo continua a ser motor da recuperação
Se a balança de bens trouxe más notícias, o setor dos serviços ofereceu algum alívio às contas externas. “O acréscimo, de 1,1 mil milhões de euros, do excedente da balança de serviços” foi “justificado maioritariamente pela evolução do saldo das viagens e turismo (mais 704 milhões de euros)”.
Este desempenho do turismo confirma a solidez do setor após os anos difíceis da pandemia, mostrando que Portugal mantém a sua atratividade como destino turístico internacional. O contributo das viagens e turismo surge como um amortecedor fundamental para compensar as pressões negativas vindas do comércio de bens, ao longo dos primeiros sete meses do ano.
Apesar das pressões sobre as contas correntes, os dados do Banco de Portugal revelam que a “capacidade de financiamento da economia portuguesa, até julho de 2025, traduziu-se num saldo da balança financeira de 4,4 mil milhões de euros.
Analisando especificamente o mês de julho, os dados do Banco de Portugal revelam um panorama mais animador.“Em julho de 2025, a economia portuguesa apresentou um excedente externo de 1,8 mil milhões de euros, após ter apresentado um excedente de 1,2 mil milhões de euros no mesmo mês de 2024”, lê-se no comunicado. Este crescimento de 600 milhões de euros no excedente mensal resultou de uma combinação de fatores positivos:
- Aumento de 374 milhões de euros, do excedente da balança de serviços, sobretudo devido ao acréscimo das exportações de viagens e turismo (mais 206 milhões de euros)”
- Aumento de 154 milhões de euro do excedente da balança de capital, como consequência do crescimento dos recebimentos relativos a passes de jogadores de futebol
- Aumento de 154 milhões de euros do excedente da balança de rendimento primário, decorrente do aumento dos subsídios recebidos e de uma diminuição dos juros pagos.
União Europeia pesa nas transferências
Um elemento menos visível, mas relevante para explicar a deterioração das contas externas, encontra-se na balança de rendimento secundário. “A diminuição de 353 milhões de euros do excedente da balança de rendimento secundário” deveu-se “sobretudo à maior contribuição financeira de Portugal para a União Europeia”, refere o Banco de Portugal.
Esta evolução reflete o estatuto de Portugal como contribuinte líquido para determinados mecanismos europeus, numa altura em que a União Europeia intensifica os seus programas de investimento e apoio aos países mais afetados por crises diversas.
Apesar das pressões sobre as contas correntes, os dados do Banco de Portugal revelam que a “capacidade de financiamento da economia portuguesa, até julho de 2025, traduziu-se num saldo da balança financeira de 4,4 mil milhões de euros”. Este valor demonstra que Portugal continua a gerar poupança suficiente para financiar o exterior, mantendo uma posição credora líquida nas suas relações financeiras internacionais.
O excedente de 4,1 mil milhões até julho, mesmo reduzido face a 2024, mantém Portugal como uma das economias europeias com maior equilíbrio externo.
As “instituições financeiras não monetárias exceto sociedades de seguros e fundos de pensões, foram o setor que mais contribuiu positivamente para este saldo, nomeadamente através da redução de passivos em capital e em títulos de dívida detidos por não residentes”, lê-se no comunicado. Paralelamente, “as administrações públicas também apresentaram um aumento significativo de ativos líquidos, por meio do acréscimo de ativos em depósitos”.
Quando comparados com períodos anteriores de crise, os números atuais mantêm Portugal numa situação confortável. Entre 2014 e 2025, a posição de investimento internacional “melhorou 65,8 pontos percentuais”, destaca o Banco de Portugal, notando que essa melhoria decorreu “sobretudo da acumulação de excedentes externos no conjunto do período (17,3 pontos percentuais)”.
Esta trajetória de melhoria estrutural das contas externas portuguesas, iniciada após o programa de ajustamento, continua a constituir um dos pilares da estabilidade macroeconómica nacional. O excedente de 4,1 mil milhões até julho, mesmo reduzido face a 2024, mantém Portugal como uma das economias europeias com maior equilíbrio externo.
Os dados sugerem que a economia nacional atravessa uma fase de normalização, onde o crescimento económico gera pressões naturais sobre as importações, mas onde os setores exportadores — particularmente os serviços — demonstram capacidade de resposta.
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