Centeno: “É evidente que vou ficar no Banco de Portugal”
Mário Centeno revelou que vai continuar no Banco de Portugal após deixar o cargo de governador. "É evidente que vou ficar. Sabe o que são 35 anos de carreira?".
Mário Centeno adiantou esta quinta-feira que vai continuar no Banco de Portugal após abandonar o cargo de governador do Banco de Portugal, onde passará a exercer as funções de consultor. “É evidente que vou ficar. Sabe o que são 35 anos de uma carreira?”, afirmou aos deputados.
“Sou funcionário do banco há 35 anos. Tenho uma carreira no banco, que tem regras muito claras sobre o que trabalhadores ocupam e fazem depois de saírem do conselho de administração”, começou por responder Centeno esta quinta-feira numa audição na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP).
“Há inúmeros casos [de consultores]: Hélder Rosalino, José Matos, Pedro Duarte Neves… o meu caso não é em nada diferente”, afirmou o governador, dando exemplos de ex-membros do conselho de administração que passaram a consultores do Banco de Portugal.
Mais tarde, depois da insistência dos deputados, respondeu de forma mais clara: “É evidente que vou ficar no Banco de Portugal”. Mesmo depois de ter sido confrontado com as declarações do seu sucessor, Álvaro Santos Pereira, na sua audição na semana passada, afirmou que deixaria o Banco de Portugal após terminar funções de governador. “Vai ficar no Banco de Portugal mesmo contra a vontade do futuro governador?”, questionou o deputado do CDS Paulo Núncio.
“Não deixei nenhum chefe de gabinete ao meu sucessor”
Centeno assegurou ainda aos deputados que “não deixou nenhum chefe de gabinete ao seu sucessor“, isto depois de questionado sobre a renovação do mandato de Álvaro Novo pouco antes de sair. “A comissão de serviço termina no último dia em que Centeno deixar de ser governador”, disse.
“A renovação que foi feita foi para completar o tempo do meu mandato”, explicou depois. “Essa renovação faz-se com uma comissão de serviço. Foi feita essa nomeação de acordo com as regras que existem desde 2016. (…) nem eu nem o meu chefe de gabinete tivemos a ideia — nunca foi nossa intenção prolongar o cargo para além do tempo que o cargo tinha”, explicou.
Adiantou ainda que Álvaro Novo vai ter novas funções quando deixar de ser chefe de gabinete. “Tem um currículo que o coloca em qualquer lugar no Banco de Portugal. Não vai ser despedido do Banco de Portugal. Se vai deixar de ser chefe de gabinete, vai exercer outras funções. Se considera isso uma nomeação, então foi”.
E irritou-se quando lhe perguntaram sobre a promoção de Rita Poiares, esposa de Ricardo Mourinho Félix — o seu ex-secretário de Estado quando Centeno era ministro das Finanças — a diretora-adjunta do Departamento de Estatísticas. “Rita Poiares não é esposa de ninguém. Tem uma carreira extraordinária, é uma técnica altamente qualificada e foi promovida pelos últimos governadores do Banco de Portugal”, ripostou Mário Centeno.
Segundo explicou, Rita Poiares ganhou um concurso e foi colocada depois de a pessoa que estava no cargo ter anunciado a vontade de aposentar.
Sobre o facto de ter tomado decisões já na reta final do seu mandato, Centeno respondeu que foram tomadas pelo conselho de administração e em relação ao qual “não há nenhum fim de mandato” e lembrou que, apesar de estar de saída, continua a ter reuniões — incluindo ao nível do Banco Central Europeu (BCE), onde tem assento no conselho de governadores.
O governador assumiu que as recentes investigações judiciais em torno do departamento de informática causam desconforto à instituição, mas garante que o banco está “consciente” das suas responsabilidades e a cooperar com as autoridades.
Centeno despede-se: “Foi um enorme prazer…”
Centeno, que já tem “muita rodagem” nas lides parlamentares (mais de 300 horas, segundo contas do próprio), iniciou a sua audição em tom de despedida. “Começo pelo óbvio: foi um enorme privilégio e honra e prazer liderar o Banco de Portugal nos últimos anos”, afirmou, fazendo depois um balanço do seu mandato dos últimos cinco anos. Destacou a venda do Eurobic e do Novobanco, o alargamento da análise económica do banco e não esqueceu a nova sede — polémica e uma das razões pelas quais Centeno também foi chamado à COFAP.
No tema do novo edifício, cuja discussão estava prevista para a segunda parte da audição, Centeno lamentou que reuniões do conselho de administração do Banco de Portugal tenham sido “transmitidas de forma truncada”.
(Notícia atualizada às 20h06)
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