Hovione vai investir 80 milhões nos EUA e não é por causa das tarifas de Trump
A empresa portuguesa, que produz componentes para produtos farmacêuticos, está a investir no reforço da capacidade de produção das suas unidades nos Estados Unidos e Irlanda. Seixal abre em 2027.
A portuguesa Hovione, que produz componentes para produtos farmacêuticos, está a investir 80 milhões de dólares (cerca de 68 milhões de euros) no reforço da capacidade de produção sua unidade em Nova Jersey, nos Estados Unidos, mas a decisão nada tem a ver com as ameaças de tarifas de Donald Trump.
Os medicamentos genéricos estão fora das taxas de 15% negociadas com a União Europeia — “não é completamente certo”, ressalva Jean-Luc Herbeaux, CEO da Hovione —, mas a Hovione produz produtos e moléculas que vão ser usadas pelas farmacêuticas para a produção dos medicamentos vendidos ao consumidor. Com os Estados Unidos a representar 60% das vendas da empresa, a guerra comercial impactou operação?
“Na verdade não”, garante Jean-Luc Herbeaux. “As cadeias de distribuição no setor farmacêutico são muito complicadas, dependem de equipamento, tecnologias especializadas, é uma parceria, têm de confiar em ti. Por isso, para eles não é assim tão fácil relocalizarem. Não é algo que façam de bom grado, custa-lhes muito dinheiro e não há assim tantos parceiros em quem possam confiar”, justifica o CEO da empresa ao ECO, à margem de um encontro que assinala a atribuição do prémio Léonard de Vinci, pela primeira vez atribuído a uma empresa familiar portuguuesa pela associação francesa Les Hénokiens e pelo Château du Clos Lucé.
Reforço da capacidade de produção nos EUA e Irlanda
A unidade da Hovione, em Sete Casas, no concelho de Loures, é a primeira e a maior das unidades de produção da empresa com 66 anos, com presença em Macau, Irlanda (Cork) e nos Estados Unidos (Nova Jersey) e, que, em 2027, vai adicionar uma nova fábrica no Seixal.
É na unidade americana que a companhia vai investir no aumento da capacidade de produção. “Recentemente, adicionamos capacidade [de produção] nos Estados Unidos. E encomendamos dois novos secadores [spray dryers] para os Estados Unidos no próximo ano. Estamo-nos a preparar para uma pegada internacional que nos permita estar mais perto dos nossos clientes e pacientes”, adianta o CEO.
A empresa trabalha, diz, com 19 das 20 farmacêuticas globais, sendo que entre 5 a 10% das novas drogas aprovadas anualmente nos Estados Unidos e FDA, têm componentes produzidas pela Hovione. As componentes fazem parte de medicamentos que chegam a cerca de 80 milhões de pacientes.
“Estamos a investir em Portugal, na Irlanda e estamos a investir nos EUA. É importante para os sites estarem atualizados e fornecermos a mesma experiência [aos clientes]”, independentemente da localização escolhida para a produção das componentes de produtos mais tarde usados nos medicamentos, justifica o CEO.

Mas a aposta na unidade em terras do Tio Sam é um plano B, caso Trump mude de ideias sobre as tarifas?
“Muito do nosso investimento é impulsionado pelas decisões dos clientes. Nós não escolhemos onde a droga é produzida. Oferecemos opções e o cliente escolhe. Por isso, haverá um ou outro projeto que irá levar a novo investimento no Seixal e outro nos EUA. Estamos a começar a desenvolver novos modelos de parceria de colaboração em que fazemos negócios de modo a nos permitir investir de forma mais rápida na localização escolhida pelos nossos clientes“, justifica o responsável.
“Os dois novos secadores que vamos encomendar em 2026 [nos EUA] são cerca de 80 milhões de dólares de investimento”, revela quando questionado pelo ECO.
O mesmo valor que será investido na operação em Cork, na Irlanda. “Já adicionamos capacidade nos últimos seis meses e vai haver uma nova vaga, com a construção de dois novos secadores”, diz. Uma aposta de “cerca de 80 milhões” de dólares.
Seixal abre em 2027
Em Portugal, a nova unidade da Hovione no país tem abertura prevista para 2027. Mantém-se a data? “Não podemos investir sem o pipeline para sustentar o investimento. Tivemos que esperar que esse pipeline ficasse suficientemente forte e chegamos a esse ponto. Estamos a acelerar o investimento e é por isso que a nova data [de abertura] foi tornada pública, 2027. Temos dois edifícios, um para spray drying e um outro para produtos farmacêuticos, e a maioria da capacidade instalada já está assegurada”, diz.
O investimento mantém-se nos 200 milhões, anunciado em 2019? “Sim, ainda é o mesmo”.
As operações terão início, em 2026, com uma equipa de 40 elementos, aumentando para 100 assim que a produção iniciar. Irão engrossar os atuais 2.500 pessoas nos diversos sites da companhia. “Em média, nos últimos cinco anos, trouxemos 200 a 300 pessoas por ano”, adianta o CEO.
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