Finanças não esclarecem se sabiam de bónus no Novobanco que exclui trabalhadores
Comissão de trabalhadores do banco vai pedir audição ao Governo. Abaixo-assinado conta com cerca de mil assinaturas no primeiro dia e no final da semana será entregue ao CEO.
Cerca de mil trabalhadores do Novobanco mostraram-se formalmente contra o facto de serem excluídos dos bónus da venda da empresa ao grupo francês BPCE pela Lone Star. O abaixo-assinado interno, que arrancou esta segunda-feira, recolheu assinaturas de 25% da força de trabalho do banco no primeiro dia, disse ao ECO a coordenadora da comissão de trabalhadores, Liliana de Matos Felício.
A comissão de trabalhadores do Novobanco vai pedir uma audição ao Ministério das Finanças, que continua sem prestar esclarecimentos sobre o motivo pelo qual os prémios abrangem tanto a liderança da Lone Star como a do banco, embora não incluam os trabalhadores. “Não aceitamos esta recusa. É imoral e injusto sermos esquecidos”, diz Liliana de Matos Felício. O abaixo-assinado, que teve início às 11h00 de segunda-feira e termina na sexta-feira, vai ser entregue a Mark Bourke no final da semana.
Além da Lone Star, são também acionistas do Novobanco o Estado português (11,46%) e o Fundo de Resolução (13,54%), que em conjunto vão receber cerca de 1,6 mil milhões na operação, sem contar com dividendos. Contactado pelo ECO na sexta-feira sobre se tinha conhecimento do bónus que iria ser pago no âmbito da venda do banco, o Ministério das Finanças preferiu não comentar. O ECO contactou também o Fundo de Resolução, o Novobanco e a Lone Star, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.
Os trabalhadores do Novobanco consideram que deveriam ser recompensados com um prémio de dois salários, o que representa cerca de 25 milhões de euros. No entanto, foram informados de que ficariam de fora dos bónus.
“Fomos informados pelo CEO e pelo presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) que os trabalhadores não serão contemplados com qualquer prémio extraordinário pela venda do Novobanco“, revelou, na sexta-feira, a Comissão Nacional de Trabalhadores (CNT) do Novobanco após um pedido de esclarecimento.
Num comunicado intitulado “Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixa nada”, uma citação da canção Os Vampiros de Zeca Afonso, a CNT considera uma “tremenda injustiça” os trabalhadores não receberem prémios após a venda do banco. “Foi graças ao empenho, profissionalismo, resiliência e dedicação dos trabalhadores que o Novobanco superou os desafios de um exigente processo de reestruturação, mantendo a sua missão, reputação e estabilidade. São os trabalhadores os verdadeiros protagonistas desta recuperação”, defende a CNT.
Os dirigentes do Lone Star e gestores do Novobanco, que estiveram envolvidos quer na sua anterior aquisição quer na recente venda, terão direito a receber um bónus calculado a partir da mais-valia de 1,1 mil milhões de euros obtida pelo fundo norte-americano, assim que se concretizar a oferta de 6,4 mil milhões de euros dos franceses do BPCE. Segundo o Público (acesso pago), no cálculo do valor dos bónus conta a relevância de cada um na cadeia de valor do Lone Star e a sua participação no sucesso do negócio.
O fundador e presidente do fundo norte-americano, John Grayken, vai receber a maior fatia, seguido de perto pelo atual presidente executivo (CEO), Donald Quintin, num grupo que inclui Kambiz Nourbakhsh, Benjamin Dickgieser (administrador financeiro do Novobanco) ou Evgeniy Kazarez.
A atribuição dos bónus tem em linha de conta a cadeia de valor do Lone Star, o que justifica que a remuneração dos seus dirigentes respeite critérios diferentes dos usados para os executivos do Novobanco e para os membros independentes do CGS. É também o que justifica que quer o presidente da administração, quer o CEO do Novobanco recebam prémios de alguns milhões de euros, ao contrário dos quadros do fundo norte-americano sentados no CGS, que terão prémios muito mais avultados.
(Notícia atualizada às 21h25 com indicação de que o valor do bónus será calculado com base no ganho de 1,1 mil milhões conseguido pelo fundo da Lone Star na operação)
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