Gestavia interessada na privatização do ‘handling’ nos aeroportos dos Açores
Empresa enviou uma carta ao Governo Regional dos Açores a dar conta do seu interesse na futura venda do negócio de assistência em escala do grupo SATA.
O Governo Regional dos Açores aprovou, no início de setembro, a autonomização da área de handling da SATA com o objetivo de ser privatizada, conforme foi acordado com a Comissão Europeia no âmbito do auxílio financeiro à companhia. E já há uma empresa do arquipélago interessada em concorrer.
A Gestavia nasceu e cresceu a prestar assistência em escala às aeronaves da Força Aérea dos Estados Unidos, na Base das Lajes, hoje ainda o maior cliente da empresa. Especializou-se entretanto no handling de jatos executivos, tendo já licença para operar em 18 aeroportos e aeródromos em Portugal.
Agora quer avançar para a assistência em escala de aviões comerciais, tendo já manifestado ao Governo Regional dos Açores a intenção de participar na futura privatização desta atividade no arquipélago, através de uma carta enviada o mês passado.

A SATA e a Azores Airlines (a empresa do grupo para os voos internacionais e para o continente) ainda fazem o seu próprio handling, mas no início de setembro o Governo Regional aprovou uma resolução que determina “a prática dos atos necessários à separação da unidade económica responsável pelos serviços de assistência em escala (handling) e a sua afetação à SATA Holding, S.A. “Esta medida enquadra-se no Plano de Reestruturação da SATA aprovado pela Decisão da Comissão Europeia, de 7 de junho de 2022, que determina a necessidade de separação da referida unidade económica de modo a torná-la passível de alienação“, acrescenta.
“Escrevemos uma carta ao Governo Regional dos Açores a manifestar o interesse na privatização da área económica de handling da SATA e a mostrar que temos um compromisso com a região inigualável“, afirmou ao ECO João Noronha Leal, administrador da Gestavia. “Sendo separada da esfera do Grupo SATA, pretendemos ser acionistas, sozinhos ou em parceria, dessa entidade que venha a ser criada“, acrescentou o antigo administrador da AICEP. A empresa também já informou a Secretaria de Estado das Infraestruturas desta intenção.
Pretendemos introduzir uma racionalidade económica e uma capacidade de gestão que hoje não existe.
A Gestavia foi criada em 2018 pelo piloto e empresário Ricardo Cabral, tendo atingido o ano passado uma faturação de 12 milhões de euros. Emprega 218 pessoas, das quais 105 em Lisboa, onde a empresa assegura, através de um contrato com a Menzies, cerca de 80% do transporte de passageiros entre as aeronaves e o terminal no Aeroporto Humberto Delgado. Ainda que a sede seja nos Açores, a empresa tem escritórios no Aeródromo Municipal de Cascais, onde lidera no handling de jatos privados, segundo o administrador.

Entre os investimentos previstos está a construção de um hangar de quatro mil metros no Aeródromo Municipal de Ponte de Sor. Mas o passo mais significativo para a empresa será mesmo vencer a privatização do handling da SATA e passar a trabalhar de forma regular para a aviação comercial, atividade que em Portugal é dominada pela Menzies e pela Portway (detida pela ANA), as únicas autorizadas a prestar assistência a aeronaves acima de dez toneladas no continente.
“Não deixaríamos de aproveitar uma oportunidade na terra onde nascemos. Há uma componente emocional, mas também de racional de negócio”, diz João Noronha Leal. “Pretendemos introduzir uma racionalidade económica e uma capacidade de gestão que hoje não existe”, afirma o gestor, garantindo uma reorganização da operação para que não seja necessário deslocalizar pessoas.
O que dificilmente entenderemos é que determinados negócios estejam reservados para operadores que não deem as garantias de operacionalidade que nós damos.
“Fazer assistência em escala para companhias aéreas implica ter licenças que não são abundantes. Nós temos licenças para as nove ilhas dos Açores. Do ponto de vista operacional ninguém duvida da nossa capacidade“, assegura João Noronha Leal, apontando igualmente como vantagem o facto de a Gestavia ter capacidade para fazer a manutenção dos equipamentos usados no handling.
Antecipando concorrência na privatização, o gestor deixa alguns recados. “O que dificilmente entenderemos é que determinados negócios estejam reservados para operadores que não deem as garantias de operacionalidade que nós damos”, diz, pedindo ainda que não haja ingenuidade e se “protejam os negócios das empresas nacionais”.
A privatização da Azores Airlines, já em curso, pode conhecer novos desenvolvimentos na próxima segunda-feira, quando está agendada uma reunião entre o júri, a administração da SATA e o consórcio Newtour/MS Aviation para tentar chegar a um entendimento.

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