Carlos Costa tem “muito receio de fugas de informação” com uso de IA pela banca
É "altamente desejável" introduzir IA nos processos dos bancos, defendeu o antigo governador do Banco de Portugal. Mas um sistema de governance da IA ao nível do board "é crítico", alertou.
Para Carlos Costa, antigo governador do Banco de Portugal, é “altamente desejável” e até “libertadora” a introdução de inteligência artificial (IA) nos processos dos bancos.
Num discurso inserido na 2.ª Talk .IA, uma iniciativa do ECO realizada esta sexta-feira e dedicada ao impacto transformador da IA no setor financeiro, o economista sublinhou não ver “nenhuma dificuldade” na aplicação de soluções de IA ao nível das operações. Mas também mostrou preocupação com certos aspetos, como o risco de “fugas de informação” para “fora do sistema”, “sobretudo num contexto em que a fraude tende a aumentar”.
Com a ressalva de que é preciso “adaptar as ferramentas aos processos e não os processos às ferramentas”, Carlos Costa apontou igualmente que a governance da IA “é crítica”, principalmente para lidar com a possibilidade real de a IA falhar, gerando uma quebra de confiança com potenciais impactos na estabilidade financeira.
“Se um conselho de administração não percebeu isso, há um grande risco. Eu não gosto da palavra CIO [Chief Information Officer], porque é redutor. É mais do que isso. É alguém que esteja em contacto com todos os que são determinantes do processo, incluindo a comunicação externa da instituição”, apontou Carlos Costa.
De resto, a má implementação de IA no setor financeiro também acarreta riscos na ótica dos consumidores, disse o antigo governador: “O primeiro é a IA conduzir à recusa do crédito e à exclusão do crédito, como aliás acontece noutras áreas nos EUA, nomeadamente em função da questão da identidade.”
É a inteligência humana que complementará a inteligência artificial para lhe permitir dizer ‘alto, tu não estás a sentir a sociedade’.
IA terá “consequências muito mais vastas do que estamos a imaginar”
Na mesma ocasião, o antigo governador do Banco de Portugal defendeu também que “a IA é o início de um processo de transformação social que vai ter consequências muito mais vastas do que aquelas que nós estamos normalmente a imaginar”. E sinalizou que “vai haver, necessariamente, libertação humana de tarefas repetitivas”.
Neste contexto, “deve-se pensar maduramente nisto”, alertou Carlos Costa, sendo “uma grande oportunidade para repensar o modelo social”.
“É uma grande oportunidade para produzirmos tudo o que produzimos em menos tempo. É uma grande oportunidade para darmos acesso a todos à oportunidade de produzir a partir do momento em que o conhecimento está distribuído”, ressalvou.
Carlos Costa, governador do Banco de Portugal entre 2010 e 2020, foi o orador principal da 2.ª Talk .IA, uma iniciativa inserida na Comunidade .IA que o ECO lançou em setembro. Esta edição contou também com a participação, num painel de discussão, de Hugo Preto, chief data & artificial intelligence officer, processes & operations do Santander Portugal, e Rui Teles, data & AI Lead da Accenture Portugal.
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