Famílias continuam a não sentir no bolso o alívio da inflação anunciado pelo BCE

A inflação está a estabilizar próxima da meta do BCE, mas não é essa a percepção das famílias, refletindo o desfasamento entre estatísticas e a carteira das famílias na Zona Euro.

A inflação na Europa continua a dar sinais de estar ancorada próxima da meta dos 2% do Banco Central Europeu (BCE), mas os consumidores da Zona Euro ainda não celebram. Enquanto esperam preços mais contidos em 2026, antecipam casas mais caras e juros do crédito à habitação em alta, revelam os resultados do mais recente inquérito mensal do Banco Central Europeu, publicado esta segunda-feira.

Os números de setembro, que tiveram por base as respostas de mais de 19 mil famílias europeias, apontam para que as expectativas inflacionistas dos consumidores estão a arrefecer. “As expectativas medianas de inflação para os próximos 12 meses diminuíram para 2,7%, face aos 2,8% registados em agosto”, aproximando-se gradualmente da meta de 2% do BCE, refere o banco central em comunicado.

Os números apontam também para uma estabilidade das perspetivas de longo prazo. “As expectativas para a inflação daqui a três anos permaneceram inalteradas em 2,5%, tal como as de cinco anos, que se mantiveram inalteradas em 2,2%”, revela o inquérito do BCE, sugerindo que os europeus não esperam choques de preços.

Os consumidores europeus estão dispostos a gastar mais nos próximos 12 meses, apesar de não anteciparem um aumento dos seus rendimentos, possivelmente antecipando necessidades inadiáveis.

Contudo, a realidade sentida permanece mais pesada: “A taxa mediana de inflação percebida nos 12 meses anteriores manteve-se inalterada em 3,1% pelo oitavo mês consecutivo”, revelando que as famílias continuam a sentir pressões superiores aos dados oficiais na gestão dos seus orçamentos familiares.

Esse sentimento é particularmente sentido na Grécia, com os consumidores a apresentarem uma taxa de inflação percebida nos últimos 12 meses de 10,1%. Mas também em Portugal, com os consumidores a apontarem para uma taxa de inflação mediana no último ano de 5,1% em setembro, que compara com uma inflação de 1,9% no mesmo mês, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC).

Os dados do inquérito do banco central revelam ainda que o puzzle dos rendimentos familiares mostra sinais contraditórios. “As expectativas de crescimento do rendimento nominal dos consumidores para os próximos 12 meses permaneceram em 1,1% em setembro”, indicando que os europeus não antecipam melhorias salariais significativas.

Simultaneamente, “as expectativas de crescimento das despesas para os próximos 12 meses aumentaram para 3,5% em setembro, face aos 3,3% em agosto”. Esta divergência sugere que os consumidores estão dispostos a gastar mais apesar de esperarem a ganhar igual, possivelmente antecipando necessidades inadiáveis.

No centro das principais preocupações dos consumidores continua a figurar o mercado imobiliário, refere o inquérito do BCE, com os europeus a esperarem agora um aumento de 3,5% do preço das casas nos próximos 12 meses, que compara com uma subida de 3,4% registados em agosto.

Em terreno negativo mantêm-se as perspetivas para a economia europeia, com os consumidores a continuarem a antever uma contração de 1,2% do PIB para os próximos 12 meses – a mesma taxa que perspetivavam em agosto. No mercado laboral, as perspetivas em setembro para os próximos 12 meses também não sofreram grandes alterações face aos números de agosto, com os consumidores a anteverem uma taxa de desemprego de 10,7%, apenas ligeiramente acima da taxa atual percebida de 10,2%.

No centro das principais preocupações dos consumidores continua a figurar o mercado imobiliário, refere o inquérito do BCE, com os europeus a esperarem agora um aumento de 3,5% do preço das casas nos próximos 12 meses, que compara com uma subida de 3,4% registados em agosto. Em comparação com os meses anteriores, as expectativas de crescimento dos preços das casas estavam mais alinhadas entre as diferentes categorias de rendimento, situando-se em 3,5% e 3,4% para os quintis de rendimento mais baixo e mais alto, respetivamente.

Mais preocupante é a evolução dos juros para os próximos meses. “As expectativas para as taxas de juro hipotecárias nos próximos 12 meses aumentaram para 4,6%, face aos 4,5% em agosto”, revela o inquérito do BCE, contrariando a trajetória descendente das taxas do BCE e sugerindo menor alívio no financiamento habitacional.

Estes resultados chegam numa altura em que o BCE, que se reunirá na quarta e quinta-feira em mais uma reunião de política monetária, navega entre a necessidade de apoiar o crescimento e controlar a inflação. A estabilização das expectativas inflacionistas em níveis próximos da meta de 2% reforça o argumento para uma abordagem cautelosa na política monetária

Contudo, o ligeiro aumento das expectativas para os preços da habitação e taxas hipotecárias pode, contudo, complicar as decisões futuras do banco central, especialmente se se traduzirem em pressões inflacionistas mais amplas nos próximos meses.

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