Investimento da Nvidia traz “combinação perfeita” para desenvolver 6G, diz Nokia

John Harrington, vice-presidente executivo da Nokia responsável pela infraestrutura de redes na Europa, conta ao ECO o que levou a mais valiosa cotada da história a investir mil milhões.

A Nvidia tornou-se esta semana o segundo maior acionista da Nokia, ao pagar mil milhões de dólares (cerca de 858 milhões de euros) para entrar no capital da empresa de telecomunicações, o que catapultou as ações da finlandesa para máximos de uma década. Um dia após o anúncio do investimento, John Harrington, vice-presidente executivo da Nokia, esteve em Lisboa e falou com o ECO sobre os objetivos da parceria com a tecnológica norte-americana, que envolve uma participação de 2,9% por parte da única five-trillion dollar baby de sempre.

Antes sequer da primeira pergunta, ou de partilhar as principais ideias no palco do Pátio da Galé, John Harrington deixou um lembrete: “Já não fazemos smartphones”. É que, no início deste ano, a marca que estava a produzir os telemóveis Nokia pôs fim à venda dos equipamentos, num derradeiro virar de página para outro género de tecnologia. Esta refrescada versão da Nokia, focada apenas nas infraestruturas digitais e software, ecoou do outro lado do Atlântico e atraiu a Nvidia.

Então, o que pretende, a Nvidia? O acordo centra-se nos centros de dados (data centers) e na inteligência artificial (IA). Aquilo que arregalou os olhos dos investidores foram especificidades da tecnologia europeia, que promete reduzir a latência e o consumo de energia destes armazéns de servidores. “A Nokia é líder em telecomunicações e a Nvidia é líder em IA. É uma combinação perfeita e uma oportunidade também para os Estados Unidos liderarem no 6G. Somos europeus e temos tecnologia de ponta”, disse ao ECO o vice-presidente executivo responsável por Infraestrutura de Rede na Europa, Médio Oriente, África (EMEA) e Ásia-Pacífico, John Harrington.

Para o gestor, este anúncio de Jensen Huang em Silicon Valley, “reflete a nova direção que a Nokia está a tomar” sob a alçada do CEO empossado em abril. Justin Hotard tem uma carreira marcada por passagens pela Intel e HPE, onde trabalhou em computação de alto desempenho.

“Acredito que ele vê aqui uma excelente oportunidade para a Nokia e para o superciclo da IA. Temos um portefólio incrível de redes óticas, rastreio de IP e outras soluções que permitem a comunicação entre (e dentro dos) data centers. Ele acredita que o superciclo das telecomunicações com o 5G já está maduro e agora estamos a entrar na fase de como ligar aí a IA”, explicou John Harrington ao ECO, em declarações à margem da conferência Atlantic Convergence.

"Quando as pessoas ouvem falar em IA associam à Nvidia, que tem as placas gráficas que estão dentro dos data centers. A Nokia tem a tecnologia para se ligar a elas.”

 

John Harrington, vice-presidente da Nokia com a pasta da Infraestrutura de Redes na EMEA e Ásia-Pacífico, esteve na segunda edição da conferência sobre conectividade digital em Lisboa.

A prova do “superciclo” que são os centros de dados – pois envolvem promotoras imobiliárias, energéticas, operadoras de telecomunicações, fornecedores de infraestruturas digitais, tecnológicas e empresa de ligação de redes (Internet Exchange) – é que a Nokia já trabalhava com a Nvidia através da Nscale (a mesma empresa que vai trazer os chips para Sines) e a Nvidia investe tanto numa como noutra. Ou seja, tudo funciona como um ecossistema de parcerias, onde também há espaço para a concorrente AMD. Ainda assim, o investimento divulgado esta terça-feira é toda uma outra fase da parceria estratégica, que em pouco se compara com as colaborações esporádicas até então.

“A primeira parte da parceria vai ser trabalharmos em conjunto na RAN (Radio Access Network) de IA. Qual será o papel da IA no 6G? Como será a arquitetura e as GPU? Isto ainda está tudo numa fase muito inicial, mas vamos colaborar em conjunto transição das TI, dos sistemas e no futuro das telecomunicações e das redes sem fios (wireless)”, começa por contar o executivo da Nokia.

“A segunda parte, na qual vamos trabalhar com eles agora mais no curto prazo, é na integração de parte da nossa tecnologia de infraestrutura de rede (componentes óticos, infraestrutura IP e software) para que possamos ajudar a Nvidia nos data centers”, revela.

A Nokia tem uma quota de mercado de 26% na rede ótica na sequência da aquisição da norte-americana Infinera por 2,3 mil milhões de dólares (2 mil milhões de euros) em 2024

Há, porém, uma parte da indústria dos data centers da qual a Nokia se afasta: construi-los. O vice-presidente executivo com a pasta da infraestrutura de rede na EMEA recusa planos futuros da empresa para se tornar em construtora destes espaços repletos de servidores. “É a construção, o aquecimento, a refrigeração, os racks, as instalações… Isso não é o que fazemos. Tudo o que fazemos está dentro do data center, a conectividade ótica e a automação. Não somos uma empresa de construção ou de serviços como esses”, declara John Harrington.

O maior acionista da Nokia mantém-se a Solidium Oy, uma empresa do Estado finlandês que detém 5,96% dos títulos da eterna fabricante do ‘3310’.

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