Montenegro avisa que é preciso “gastar menos” na saúde. Privados estão “bloqueados” como o SNS
Primeiro-ministro insiste que sistema de saúde precisa de “otimizar recursos” para “melhorar resultado financeiro”. Defende uso da IA também nos privados que “estão a ficar tão bloqueados como o SNS".
Pouco dias depois de a direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS) ter instruído os hospitais públicos a cortarem na despesa no próximo ano, mesmo que isso implique abrandar o ritmo crescente de cirurgias, consultas e outros cuidados, o primeiro-ministro criticou esta segunda-feira que se tenha “instalado uma grande querela comunicacional em Portugal porque se disse algo simples e óbvio”.
Calculando que o sistema de saúde passou numa década de uma despesa de cerca de 8 mil milhões para 18 mil milhões, sem ter havido uma “correlação entre esta evolução e os serviços prestados e percecionados pelas pessoas”, Luís Montenegro lamentou que “por alguém ter dito que é preciso otimizar os recursos e gerir melhor o investimento financeiro para se produzir melhores resultados e prestar melhores serviços, gastando menos, ‘aqui-d’el-rei que o país ia parar’”.
“Temos de enfrentar isto sem complexos, sem barreiras, com espírito inovador e empreendedor. Não queremos o Portugal dos ‘Velhos do Restelo’, que se ficam sempre a queixar, mesmo quando a realidade mostra que estão errados, que os objetivos enunciados não foram alcançados. Não julgo as intenções – terão sido boas –, mas não produziram bons resultados. E precisamos em Portugal de ter uma cultura mais comprometida com os resultados”, referiu o chefe do Executivo.
Durante uma intervenção nos escritórios da Sword Health no Porto, depois de o ‘unicórnio’ liderado por Virgílio Bento anunciar que vai investir 250 milhões de euros em Portugal até 2028, Montenegro frisou que o país precisa de “mais cuidados de saúde, mais eficácia e eficiência, e, ao mesmo tempo, também um melhor resultado financeiro ou poupança”. Ao mesmo tempo, acrescentou, que se dá “a resolução do problema que motivou a procura do serviço por parte da pessoa”.

O primeiro-ministro aproveitou também para fazer uma referência às “grandes resistências” que surgiram após o anúncio de fusão da Agência para a Inovação e da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Admitiu que “não será uma solução perfeita de um dia para o outro”, mas resolveu “arriscar uma transformação” para que “amanhã haja uma melhor relação entre quem leva a investigação e o conhecimento científico mais longe (…) e a realidade concreta e a capacidade produtiva e de elaborar os serviços que depois estão ao serviço dos cidadãos”.
Perante a equipa de gestão e os colaboradores da Sword Health, a quem prometeu tornar a sua vida “mais simples e menos burocrática” – “por isso criámos no Governo um Ministério só para acabar com excesso de burocracia e de regulamentação”, explicou-lhes –, apontou a área da saúde digital e da tecnologia aplicada aos tratamentos de saúde como “fundamental” para travar o “esgotamento completo da capacidade física instalada no SNS e nos operadores do setor privado e social” da saúde.
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"A solução do SNS não é o sistema privado de saúde. Quem tem essa ilusão não sabe o que diz. Não é o sistema privado de saúde que vai salvar o SNS; o SNS é que pode salvar o sistema privado de saúde se não mandar tantos utentes para lá.”
“Neste momento estão todos esgotados. Há quem em Portugal tente diabolizar o setor privado da saúde, dizendo que o mau deste Governo quer privatizar a saúde. É difícil de compreender [estas declarações], como se desejássemos às pessoas que não tivessem solução. A solução do SNS não é o sistema privado de saúde. Quem tem essa ilusão não sabe o que diz. Não é o sistema privado de saúde que vai salvar o SNS; o SNS é que pode salvar o sistema privado de saúde se não mandar tantos utentes para lá”, diagnosticou.
Na ótica do primeiro-ministro, “o setor privado da saúde em Portugal está a ficar tão bloqueado como o setor público, por falta de soluções”, vaticinando que “só vamos conseguir [desbloqueá-lo] com inovação, com o aproveitamento de todo o potencial tecnológico, sem termos problemas de aplicar a IA ao processo de saúde, naturalmente com sentido de responsabilidade e com certeza científica”.

Sword Health “poupou muito dinheiro aos sistemas de saúde” numa década
Em dia de festa para a Sword Health, que pretende impulsionar em Portugal a criação de um hub mundial de inovação para o uso de IA na área da saúde, Virgílio Bento atestou que a empresa já tratou quase 700 mil pessoas e realizou 10 milhões de sessões com IA desde que começou há dez anos numa cave da Universidade de Aveiro. E reclama que neste período já “poupou muito dinheiro aos sistemas de saúde” nos países em que opera.
Apontando a “crença no talento português” como o motivo para avançar nos próximos três anos com um investimento que “até será superior” aos 250 milhões de euros agora anunciados, o empreendedor nascido na Guarda prometeu “investir no ecossistema português todo o valor que [este negócio] gera a nível mundial”. Fá-lo “de forma egoísta”, frisou, porque isso acaba por gerar também maior valor para a própria empresa.

Na presença do primeiro-ministro, o líder da empresa que atingiu uma valorização de 4 mil milhões de dólares nas últimas rondas de investimento, e que diz pagar, em média, 3.400 euros de salário médio em Portugal, fez ainda questão de elogiar “um Governo que dá a estabilidade necessária para os próximos quatro anos e que é pela inovação, o que é essencial para [as empresas] operarem de forma independente”.
Poucos minutos depois, no mesmo palco improvisado no meio dos escritórios portuenses da Sword Health, o primeiro-ministro devolveu os elogios a uma empresa que “ao mesmo tempo que trata pessoas – estamos a falar de tratamentos de saúde, de formas de as pessoas terem mais qualidade de vida -, concretiza-o poupando recursos, nomeadamente financeiros, mas também recursos físicos e até recursos humanos”. “E isso não pode ser mais atual”, completou.

Luís Montenegro assinalou ainda que regressa a São Bento “com mais vontade e força” para governar, alegando que os políticos precisam de “sentir a força que vem da realidade concreta e que conforta nas múltiplas e muito especificas tarefas que [tem] pela frente”.
“Vou sair daqui ainda mais convicto de que vale a pena lutar pelo futuro de Portugal e de que se constrói muito mais no sistema empreendedor do que nos gabinetes do Governo”. “A nós compete-nos muitas vezes é não estragar. Não queremos prejudicar um esforço tão meritório e profundo como este”, rematou o chefe do Executivo.
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