Exclusivo Arranca a corrida de Mário Centeno à vice-presidência do BCE

Pontapé de saída para a sucessão de Luis de Guindos é dado hoje na reunião do Eurogrupo. Governo português já tomou a decisão e vai apoiar a candidatura de Mário Centeno, mas há concorrência.

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  • Arranca hoje, na reunião do Eurogrupo, o processo para escolher o vice-presidente do BCE a partir de julho de 2026. O Governo português decidiu apoiar Mário Centeno e deverá formalizar esse apoio nas próximas semanas, após contactos europeus intensos.
  • A disputa é competitiva: Olli Rehn já tem apoio formal da Finlândia, enquanto Boris Vujčić e Christina Papaconstantinou são falados. Centeno soma currículo e apoios (Lagarde e António Costa), mas pesa a busca de representatividade e o recente histórico de portugueses no cargo.
  • O processo será negociado entre governos, sem votação formal: em dezembro os países clarificam propostas no Eurogrupo/Ecofin, seguindo-se audição no Parlamento Europeu e parecer do BCE, antes da nomeação final pelo Conselho Europeu por maioria reforçada.
Pontos-chave gerados por IA, com edição jornalística.

A corrida de Mário Centeno ao lugar de vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) começa formalmente hoje, com a abertura do processo na reunião do Eurogrupo. Mário Centeno, que tem estado nas últimas semanas em contactos intensos com vários responsáveis europeus, quer o lugar e vai contar com o essencial apoio do Governo português. Os ministros das Finanças do euro reúnem-se esta tarde e o ‘concurso’ para ‘vice’ do BCE nem está identificado, mas surge nos chamados pontos “diversos” agendados para o fim do encontro.

Oficialmente, nem o Governo nem Centeno comentam um processo que ainda vai demorar semanas. Esta quarta-feira decorre a reunião do Eurogrupo, que antecede o encontro do Ecofin, nos dias seguintes. E é na reunião de hoje que será comunicado aos Estados-membros o calendário e o processo para a escolha do próximo vice-presidente do BCE, a partir de julho de 2026. Este é o início de um processo, mas hoje não constarão já nomes que estão em cima da mesa e circulam nos corredores de Bruxelas. Esse momento ficará para daqui a cerca de um mês: A 11 de dezembro haverá nova reunião do Eurogrupo, com Ecofin a 12 e 13 do mesmo mês, e será nessa altura que os países terão de clarificar quem propõem.

O Governo português não se pronunciou ainda formalmente sobre o tema, mas deverá mesmo apoiar Mário Centeno. O ex-governador tem um currículo forte a nível europeu, tem a ambição de conquistar o lugar e tem reforçado nas últimas largas semanas uma ampla rede de contactos e apoios a nível europeu, para o caso de avançar mesmo. Só falta mesmo o apoio público de Portugal, algo que poderá acontecer formalmente de acordo com o calendário, ou seja, no prazo máximo de um mês. Mas a decisão está tomada.

A corrida está em aberto e há vários candidatos forte ao lugar disputado por Mário Centeno, à cabeça deles o finlandês Olli Rehn. Mas também o croata Boris Vujčić e Christina Papaconstantinou, a vice-governadora do banco central da Grécia, entre outros nomes, têm sido falados nos corredores. Também a Letónia terá demonstrado interesse em propor um nome, ainda não concretizado.

Destes, Olli Rehn, antigo comissário europeu, foi o primeiro a posicionar-se formalmente com apoio do seu país. “O governo apoia fortemente Olli Rehn para o cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu. Tem sido uma mão firme no banco central e um líder decisor político em Bruxelas” afirmou ao Politico o ministro das Finanças finlandês, Riikka Purra, acrescentando que Rehn “é qualificado, de forma única, para esse cargo”. Ainda assim, este apoio público formal não é visto como decisivo, com algumas das fontes contactadas a defenderem até que pode ser contraproducente. A decisão final será tomada por negociação e consenso, e não por um sistema de “votação”, pelo que mais importante que patrocínios políticos públicos será o trabalho de bastidores.

Há vários pontos a favor de Centeno: o seu currículo, desde a formação académica à liderança do Banco de Portugal, passando pelo trabalho positivo na sua passagem pelo ministério das Finanças – alcançando um excedente orçamental – e ainda o facto de ter sido presidente do Eurogrupo. Por outro lado, conta entre os seus aliados com dois nomes de peso: Christine Lagarde, presidente do BCE com quem Centeno tem uma excelente relação; e António Costa, presidente do Conselho Europeu, e que tem estado ativamente envolvido na promoção da candidatura do ex-governador do Banco de Portugal e que foi seu ministro das Finanças.

Por outro lado, enfrenta em Olli Rehn um candidato também com um forte currículo a nível europeu, ao passo que uma candidata mulher ou de um país de leste podem trazer vantagens ao nível de representatividade, o que também é tido em linha de conta na negociação política. Outra desvantagem é o facto de o espanhol Luis de Guindos ter vindo substituir o português Vítor Constâncio, o que pode para alguns países dificultar a sua designação, uma vez que seria o segundo português nos últimos três vice-presidentes do BCE.

Este é um dos pontos que leva o Governo português a ser cauteloso quanto ao sucesso da candidatura de Centeno. O processo será duro e competitivo e depende também de muitas variáveis políticas, nem todas visíveis desde já.

Para contrariar este argumento, a candidatura de Centeno poderá ainda esgrimir um outro trunfo, o facto de Portugal estar atualmente com um claro e praticamente inédito défice de representação nas diversas cúpulas da supervisão financeira da União Europeia. Numa análise aos 32 cargos executivos dos seis principais reguladores financeiros da Zona Euro, há apenas seis países do espaço que não têm qualquer representação, e Portugal é um deles.

O processo ainda é longo. mas a fase mais decisiva dá-se nos próximos dois meses: primeiro no posicionamento oficial dos países e depois nas negociações para se chegar a um nome consensual. Após a reunião de hoje, os estados-membros da Zona Euro propõem nomes, que são depois debatidos pelos ministros das Finanças no âmbito do Ecofin. Quando houver um nome escolhido, este é proposto ao Conselho Europeu, órgão atualmente presidido pelo ex-primeiro-ministro português, António Costa.

De seguida o candidato(a) é ouvido formalmente pelo Parlamento Europeu, no comité de assuntos económicos e monetários. No final, é emitida uma opinião tanto pelo Parlamento Europeu como pelo Conselho do BCE, constituído pelos seis membros da Comissão Executiva e pelos governadores dos bancos centrais dos 19 países da área do euro. Só depois termina o processo, correndo tudo bem, com a nomeação por parte do Conselho Europeu, através de aprovação por maioria reforçada.

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