Indústria vai à COP. Leva soluções a precisar do ‘salto’ sem esquecer a competitividade

Susana Carvalho e Jorge Mendonça e Costa falam sobre a transição da indústria no podcast Clima 3.0, no qual poderá acompanhar os temas que irão marcar a agenda da COP30.

  • Este texto é escrito com base no podcast Clima 3.0, que trará aos leitores, diariamente e ao longo das duas semanas da COP, uma visão sobre os principais temas discutidos na COP30, numa série de dez entrevistas a especialistas das diversas áreas em discussão.

A transição energética na indústria requer investimentos avultados, escalar soluções para que estas passem a ser economicamente viáveis, inovação e uma preocupação constante com a competitividade, explicam Susana Carvalho, diretora de Sustentabilidade e Transição na Bondalti e Jorge Mendonça e Costa, diretor executivo da APIGCEE — Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Elétrica, em conversa com o ECO/Capital Verde no podcast Clima 3.0.

Finalmente temos a indústria no centro das decisões de uma COP. E isso são boas notícias, por um lado”, considera Susana Carvalho, assumindo que este “é um sinal de que algo tem de acontecer na indústria para contribuir para esta transformação mundial”, já que “indústria tem um papel crucial na descarbonização de todas as economias”. A indústria, relembra Jorge Mendonça e Costa, é responsável por um terço das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial.

Os desafios começam na eletrificação dos processos industriais: embora processos que não precisam de temperaturas muito elevadas possam ser eletrificados “com alguma facilidade”, a eletrificação acaba por estar restringida à capacidade da rede elétrica, afirma Mendonça e Costa. Por outro lado, nos casos em que não é possível eletrificar, “as alternativas ainda são muito caras”, explica o diretor executivo da APIGCEE.

“Um dos desafios é fazer um scale-up dessas tecnologias, para uma dimensão industrial relevante“, defende Mendonça e Costa. “E aí seria importante algum apoio também, as indústrias têm de ser competitivas”, sublinha, já que a transição implica alterações a nível processual e a aquisição de “equipamentos muitos muito caros”. Susana Carvalho reforça: “Enquanto não houver viabilidade financeira — neste momento já nem é viabilidade técnica, porque a capacidade existe, mas viabilidade financeira — de facto, é difícil fazer esta transição“.

Seria importante algum apoio também, as indústrias têm que ser competitivas.

Jorge Mendonça e Costa

Diretor executivo da APIGCEE

Sobre financiamento, Susana Carvalho defende que “tem de haver uma intervenção eventualmente dos Estados-membros ou da própria União Europeia”, à semelhança do que acontece noutros mercados. “Vale a pena, se calhar, a Europa pensar nestes investimentos e fazer essa injeção direta, um tratamento de choque, para depois termos o retorno a seguir“, remata, preocupada com a desindustrialização da Europa.

Susana Carvalho, diretora de Sustentabilidade e Transição na Bondalti, em entrevista ao Capital VerdeHugo Amaral/ECO

Em relação às soluções disponíveis, a diretora de Sustentabilidade da Bondalti acredita que “tem de se olhar para um portefólio de diferentes tecnologias para estudar qual é a melhor opção, mas não vai ser certamente só uma“. Uma diversidade de opções disponíveis no mercado que têm de ser exploradas e escaladas, consoante também a diversidade das indústrias que há e dos produtos que há.

Circularidade, inovação e metas por setor

Olhando a possíveis avanços na COP, Susana Carvalho deixa três ideias. Uma, seria a criação de uma plataforma, a nível global, para perceber que produtos ou subprodutos ou resíduos existem disponíveis no mercado, numa lógica de promover a economia circular e portanto a descarbonização das empresas por esta via.

Tem de se olhar para um portefólio de diferentes tecnologias para estudar qual é a melhor opção, mas não vai ser certamente só uma.

Susana Carvalho

Diretora de Sustentabilidade da Bondalti

Em segundo lugar, sugere um alinhamento em termos do que devia ser o investimento, em percentagem do Produto Interno Bruto, de cada nação. “A Europa já foi um farol nestes domínios e está claramente a perder a competitividade neste tema de investimento em investigação e desenvolvimento“, lamenta.

Jorge Mendonça e Costa, diretor executivo da APIGCEE, em entrevista ao Capital VerdeHugo Amaral/ECO

Por fim, ambos gostariam que fossem acordadas metas de descarbonização setoriais, para que as exigências fossem equiparadas em todo o mundo, e tendo em atenção as particularidades de cada atividade. Em paralelo, “seria importante alguma concretização a nível de modelos de financiamento”, conclui Jorge Mendonça e Costa.

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