TAP foi a única a aumentar lucros entre grandes companhias no verão
Contas da companhia aérea no terceiro trimestre fazem boa figura face às concorrentes que a querem comprar. Deterioração do resultado operacional é o ponto fraco.
Os meses de julho a setembro valem ouro para a TAP e o terceiro trimestre deste ano voltou a comprová-lo, com os números da companhia a destacarem-se da concorrência em alguns indicadores, depois de terem ficado muito abaixo no primeiro semestre do ano.
Aquele que é tradicionalmente o melhor trimestre para as companhias aéreas trouxe alguns dissabores, nomeadamente no lucrativo tráfego entre a Europa e os EUA, com a política económica de Trump e as restrições à imigração a pesarem no tráfego transatlântico. Num contexto de forte concorrência, com crescimento da capacidade, a tendência para a descida do preço médio das passagens manteve-se na maioria dos mercados.
O resultado foi um crescimento modesto das receitas, que no caso do Grupo IAG (dono da British Airways e Iberia) significou mesmo uma estagnação. A Lufthansa teve o melhor desempenho (4,3%), seguida da TAP (2,7%) e da Air France-KLM (2,6%), a primeira a entregar a manifestação de interesse na privatização da companhia portuguesa.
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Nuno Esteves, analista financeiro especializado no setor da aviação, assinala que “as limitações da frota e os constrangimentos operacionais no aeroporto Humberto Delgado continuaram a condicionar o crescimento dos resultados da TAP”, mas destaca a melhoria em vários indicadores operacionais, como aumento da oferta de lugares (+4%), mais passageiros transportados (+4,2%) e mais voos operados (+1,6%). Fatores que “ajudaram a atenuar a pressão sobre as receitas unitárias, sobretudo nos mercados norte-americano e brasileiro, onde a concorrência tem vindo a intensificar-se”.
O trimestre foi também de contenção de custos nos grupos europeus de aviação, facilitada pela descida do preço do jetfuel. Neste indicador, a TAP destacou-se pela negativa, com os custos operacionais a crescerem 4,8%. Uma evolução explicada pelo aumento dos encargos com pessoal e dos custos operacionais de tráfego, estes últimos “devido a uma maior utilização de ACMI [Aluguer de aeronaves com tripulação] para mitigar problemas na cadeia de abastecimento que afetaram a disponibilidade da frota”.
Os custos com pessoal mantêm a trajetória ascendente, tendo crescido em 13 dos últimos 15 trimestres após a intervenção estatal, num ritmo claramente desalinhado da tendência de estagnação das receitas.
Nuno Esteves observa que “os custos com pessoal mantêm a trajetória ascendente, tendo crescido em 13 dos últimos 15 trimestres após a intervenção estatal, num ritmo claramente desalinhado da tendência de estagnação das receitas”.
O desempenho ao nível dos resultados operacionais da transportadora aérea portuguesa piorou face ao verão de 2024, com o EBIT a cair 7,6% para 198,5 milhões, contrastando com as melhorias de 2% na IAG e de 1,9% na Air France-KLM. Pior só a Lufthansa, que tem em curso um processo de restruturação, com uma quebra de 8,1%.
Apesar da deterioração do resultado operacional, a TAP foi a única a conseguir um aumento dos lucros no terceiro trimestre, com um crescimento expressivo de 15%. A Lufthansa registou uma queda de dois dígitos (11,8%).
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A companhia portuguesa destaca-se também por ter conseguido a segunda melhor margem operacional nos meses de verão, de 15%. O campeão continua a ser o Grupo IAG, com uma margem de 21,6%.
A análise às contas do terceiro trimestre mostra ainda que a TAP continua a ter a operação mais barata, mas é também a que menos receita gera por passageiro. A transportadora tem uma receita por lugar-quilómetro de 7,78 cêntimos, bem abaixo dos 9,4 cêntimos do Grupo Lufthansa. E a evolução dos indicadores não foi positiva para a transportadora portuguesa, com o custo por lugar-quilómetro (CASK) a aumentar 5,2% e a receita de passageiros por lugar-quilómetro (PRASK) a baixar 3,6%. Embora menor, a evolução também foi negativa nas restantes companhias.
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Depois de um prejuízo de 70 milhões nos primeiros seis meses, o terceiro trimestre permitiu à TAP elevar para 55 milhões os resultados desde o início do ano, o suficiente para granjear interessados na aquisição de uma participação minoritária, grupo onde figuram a Air France-KLM, IAG e Lufthansa.
Quanto ao processo de privatização, apesar destes resultados não serem particularmente fortes — ainda que positivos — os fundamentais da TAP mantêm-se intactos.
“Quanto ao processo de privatização, apesar destes resultados não serem particularmente fortes — ainda que positivos — os fundamentais da TAP mantêm-se intactos”, considera Nuno Esteves.
O analista financeiro destaca que a TAP caminha para o quarto ano de lucros apoiada numa frota moderna de 99 aeronaves e mantém “uma posição de liderança no mercado brasileiro, onde opera 15 rotas diretas e detém cerca de 31% de quota”. Além de beneficiar “de custos de leasing estáveis, um perfil de dívida moderado e um crescimento sustentado nos principais indicadores operacionais, num ambiente de relativa estabilidade laboral”.
Nuno Esteves considera que, “ainda assim, a TAP necessita de um final de ano favorável para consolidar a sua trajetória de lucros”, recordando que nos últimos trimestres de 2023 e 2024 apresentou prejuízos de 26 milhões e 65 milhões de euros, respetivamente, sobretudo devido ao aumento dos seus custos fixos.
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