Exclusivo Unicre vende Unibanco e quer ‘limpar’ 160 milhões em crédito malparado
Com o Unibanco prestes a ser vendido ao Novobanco, a Unicre colocou no mercado uma carteira de crédito malparado no valor de 160 milhões de euros com o objetivo de 'limpar' balanço.
- A Unicre, que está a finalizar a venda da sua unidade de crédito ao consumo e cartões de crédito ao Novobanco, colocou no mercado uma carteira de crédito malparado de 160 milhões de euros.
- O portefólio inclui quase 20 mil empréstimos problemáticos, a maioria sem garantias, e um tempo médio de incumprimento de sete anos.
- Estes empréstimos foram concedidos sobretudo através de cartões de crédito, mas também há empréstimos pessoais, sendo que a maioria já se encontra em tribunal.
A Unicre, que está a finalizar a venda da sua unidade de crédito ao consumo e cartões de crédito ao Novobanco, colocou no mercado uma carteira de crédito malparado com o valor aproximado de 160 milhões de euros, de acordo com uma apresentação do processo que foi enviada a potenciais interessados e a que o ECO teve acesso.
No chamado “Project Summit”, a instituição financeira — detida pelos maiores bancos nacionais — está a vender um conjunto de quase 20 mil empréstimos problemáticos, na sua grande maioria celebrados junto de particulares e sem garantias (unsecured), com uma média de 8 mil euros por contrato e um tempo de incumprimento de cerca de sete anos.
Segundo a descrição deste portefólio, estes empréstimos foram concedidos sobretudo através de cartões de crédito (108,6 milhões de euros), mas também há empréstimos pessoais (48,8 milhões), sendo que a maioria destes processos (84%) encontra-se já em tribunal.
A transação está a ser conduzida pela Alantra e deverá estar concluída até final do ano. Pelo menos é o que pretende a Unicre, que procura fazer uma ‘limpeza’ total do seu balanço com a venda desta carteira. Com a fase de apresentação de ofertas não vinculativas já fechada, os interessados terão agora de apresentar as propostas firmes até dia 5 de outubro, segundo o calendário do projeto. Não foi possível apurar quais os fundos que estão na corrida.
A Unicre, liderada por João Baptista Leite, é controlada pelos principais bancos nacionais, incluindo o BCP (31,16%), Santander Totta (21,86%), BPI (21,01%) e Novobanco (17,5%).
Venda do Unibanco é para fechar no arranque de 2026
A operação surge numa altura em que a Unicre também está a vender o seu negócio de crédito ao consumo e cartões de crédito e que opera com a marca Unibanco, lançada em 2011, ao Novobanco. Anunciada no verão passado, a operação aguarda pela luz verde da Autoridade da Concorrência e é expectável que fique concluída no primeiro trimestre do próximo ano.
No âmbito desta transação, o Novobanco irá adquirir a carteira de crédito ao consumo da Unicre (cartões de crédito, consolidação de crédito e crédito pessoal), com um valor líquido de 262 milhões de euros, a marca Unibanco e outros ativos e passivos associados à unidade de negócio de crédito ao consumo Unibanco.
Segundo os sindicatos, a venda irá afetar cerca de 100 trabalhadores, dos quais 50% irão ser transferidos para o banco liderado por Mark Bourke, enquanto aos restantes será apresentada uma proposta para saída por reforma antecipada ou rescisão por mútuo acordo.
Regras do malparado entram em vigor em dezembro
A Unicre não está sozinha no mercado. Neste momento, bancos como Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP e BBVA também têm processos em andamento. No caso do banco público, como referiu o ECO, está a alienar uma carteira de créditos unsecured com o valor contabilístico de cerca de 100 milhões de euros. O BBVA está a vender um conjunto de imóveis no valor de 20 milhões.
Estas vendas dão-se num momento em que o mercado se prepara para ter novas regras em resultado da transposição (tardia) de uma diretiva europeia relativa à cessão e gestão de créditos bancários. O que trazem as novas regras? Haverá um reforço da proteção dos consumidores, a quem é dado o “direito de retoma” do crédito e que não pode ser colocado numa posição jurídica menos favorável após a venda do crédito. Mas não só
Os compradores dos créditos em incumprimento e os servicers (estes têm de estar devidamente autorizados pelo Banco de Portugal) ficam obrigados a vários deveres, incluindo de boa-fé, não-assédio ou coação, com o objetivo de salvaguardar os interesses dos devedores, em especial as famílias. Os bancos, por seu turno, ficam obrigados a deveres de informação sobre as operações de cessão.
O novo regulamento já foi publicado em Diário da República com um atraso de 600 dias e entrará em vigor a 10 de dezembro.
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