Portugal na rota do novo plano de investimento do fundo soberano norueguês
Inteligência artificial, energias renováveis e diversificação do imobiliário marcam a nova rota do fundo soberano da Noruega que gere 2 biliões de euros e conta com vários investimentos em Portugal.
- O Norges Bank Investment Management apresentou a "Strategy 28", uma nova abordagem de investimento que prioriza a inteligência artificial.
- A estratégia anterior focava em energia eólica e solar, enquanto a nova expande investimentos em energias renováveis, incluindo armazenamento e distribuição, beneficiando potencialmente Portugal.
- A aposta em inteligência artificial resulta no congelamento de contratações, refletindo uma mudança na cultura organizacional e na busca por eficiência e melhores decisões de investimento.
O maior fundo soberano do mundo, com mais de 2 biliões de euros de ativos sob gestão e participações em mais de 9 mil empresas cotadas (algumas portuguesas), acaba de apresentar a sua nova estratégia de investimento para o período 2026-2028, que pode beneficiar a economia nacional.
O plano, apelidado de “Strategy 28“, traz mudanças significativas face à abordagem seguida nos últimos três anos, colocando a inteligência artificial como o motor da transformação do fundo norueguês. “A estratégia define como trabalharemos para nos tornarmos o melhor e mais respeitado grande fundo de investimento do mundo”, refere Nicolai Tangen, CEO do fundo, em comunicado.
Uma das alterações mais marcantes da nova estratégia passa pela reformulação completa da abordagem ao imobiliário. O Norges Bank Investment Management (NBIM), operador do fundo, abandona a concentração geográfica que privilegiava dez cidades globais (Tóquio, Singapura, Nova Iorque, Boston, São Francisco, Washington, Londres, Paris, Berlim e Munique) para adotar uma estratégia focada na diversificação setorial.
“Agora é uma estratégia para a Europa Ocidental e para os EUA e Canadá”, explicou Alexander Knapp, novo responsável pelo imobiliário do fundo, em entrevista à Reuters. “Mais ampla geograficamente, sem cidades nomeadas, procuramos apenas boas localizações”.
A grande aposta do fundo norueguês para os próximos três anos é a inteligência artificial. A nova estratégia declara que o fundo está “all-in on AI”.
Esta mudança reflete a insatisfação com os resultados do imobiliário, que registou um retorno de apenas 1,8% no primeiro semestre deste ano, muito abaixo dos 6,7% das ações e dos 3,3% das obrigações. Se o imobiliário tradicional perde terreno para novos setores, as energias renováveis ganham músculo. A nova estratégia eleva o “nível de ambição” para esta classe de ativos e promete expandir o portefólio para incluir “um conjunto mais amplo de tecnologias e geografias”.
Enquanto a “Strategy 25” (2023-2025) se concentrava essencialmente na construção de um portefólio de energia eólica e solar, a nova estratégia alarga o leque de investimentos para incluir distribuição e armazenamento de energia. E aqui Portugal pode sair a ganhar.
Vamos estabelecer colegas digitais para tarefas rotineiras e avançar para soluções de IA que executam tarefas analíticas complexas e fornecem insights para melhorar a tomada de decisões.
O NBIM é acionista de nove empresas portuguesas cotadas num investimento global de cerca de 870 milhões de euros, a que se junta um investimento superior a mil milhões de euros através de obrigações de oito entidades nacionais, incluindo o Estado, e é parceiro da Iberdrola em projetos renováveis na Península Ibérica.
Em janeiro do ano passado, chegou inclusive a anunciar um acordo para duplicar a sua aliança de energia limpa com a elétrica espanhola, alcançando mais de 2 mil milhões de euros de investimento conjunto ao longo de três anos, incluindo projetos em Portugal. “A transição energética cria oportunidades de investimento substanciais tanto na geração renovável como na infraestrutura de suporte“, afirma o documento estratégico.
Inteligência artificial no centro da transformação
A grande aposta da “Strategy 28” é a inteligência artificial. Enquanto a estratégia anterior mencionava o uso de machine learning e a ambição de se tornar líder em tecnologia na gestão de ativos, a nova estratégia declara que o fundo está “all-in on AI”. O objetivo é reduzir os processos manuais em 50% para que os colaboradores possam concentrar-se no que mais importa, gerar retornos.
“Vamos estabelecer colegas digitais para tarefas rotineiras e avançar para soluções de IA que executam tarefas analíticas complexas e fornecem insights para melhorar a tomada de decisões”, aponta o documento. A tecnologia será utilizada para democratizar o acesso aos vastos volumes de dados do fundo, permitindo que todos os colaboradores beneficiem desta informação para aumentar a eficiência e melhorar as decisões de investimento, lê-se no documento.
Esta aposta na IA teve, para já, uma consequência direta: o congelamento das contratações. “Não prevemos que o número de funcionários aumente mais”, anunciou Nicolai Tangen numa reunião com parlamentares em Oslo, em maio. O fundo emprega atualmente 676 pessoas em escritórios em Oslo, Londres, Nova Iorque e Singapura.
O fundo refere que quer ainda criar mecanismos para desafiar o pensamento de consenso e promover a segurança psicológica para que os gestores de carteira ousem ser contrarians.
A nova estratégia do fundo soberano norueguês reforça ainda a construção de uma cultura de desempenho caracterizada por trabalho em equipa, feedback, honestidade intelectual e pensamento de longo prazo. “Acreditamos que a velocidade é uma mentalidade e a base para uma organização eficiente”, sublinha o documento, defendendo que ter diversão no trabalho é essencial para a excelência.
O fundo refere que quer ainda criar mecanismos para desafiar o pensamento de consenso e promover a segurança psicológica para que os gestores de carteira ousem ser contrarians e evitem o comportamento de manada. O Investment Simulator será desenvolvido nesse sentido, para analisar decisões de investimento, aprender sistematicamente com erros e fornecer feedback aos gestores para que tomem melhores decisões no futuro.
De fora da estratégia do fundo norueguês ficam os “data centres”, que tanta atenção têm atraído nos últimos tempos em Portugal e em muitos países. “Não temos planos ativos para fazer investimentos” nesta área, afirmou Alexander Knapp, justificando a decisão com a volatilidade do setor. “Estamos a tentar ser comedidos na nossa abordagem, por isso, em setores que são voláteis, somos muito cuidadosos”, acrescentou, sublinhando que o objetivo é “fazer investimentos que melhorem os retornos do fundo no geral e não assumir riscos indevidos”.
O documento “Strategy28” sublinha que o investimento responsável continuará a ser um pilar central da estratégia do fundo para os próximos três anos. O documento revela que o NBIM manterá a pressão sobre as empresas onde investe para fazerem a transição dos seus modelos de negócio para zero emissões líquidas até 2050, com base nos planos de ação climática 2030. “O retorno de longo prazo do fundo depende do desenvolvimento económico sustentável e de mercados bem funcionantes”, justifica o documento.
Com participações em cerca de 9 mil empresas em todo o mundo, o fundo soberano da Noruega apresenta-se agora com uma estratégia mais focada, mais dependente da tecnologia e mais seletiva nas suas escolhas de investimento, deixando de fora apostas como os data centers, mas mantendo o compromisso com a sustentabilidade e o pensamento de longo prazo que o tornaram num dos investidores institucionais mais respeitados do planeta.
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