BCE alerta para “efeito bola de neve” na dívida portuguesa
Aumentaram os riscos para a sustentabilidade da dívida por causa do aumento das taxas de juros e da incerteza política em muitos países. Para o BCE, Portugal está à mercê de "efeito bola de neve".
O Banco Central Europeu (BCE) alertou para o risco de um “efeito bola de neve” na dívida pública portuguesa. Isto porque Portugal não vai conseguir crescer de forma suficientemente robusta nos próximos três anos para absorver os elevados custos de financiamento. Sem esta robustez, o país não cria saldos orçamentais suficientes para conseguir baixar a dívida. Pelo contrário. Ela sobe, sobe… até criar um cenário insustentável que pode provocar uma nova crise.
Com a maior parte dos membros da Zona Euro em posição para baixar a dívida pública até 2018, apenas dois países quebram esta aparente harmonia: Itália e Portugal.
No Relatório de Estabilidade Financeira, o BCE explica que este “efeito bola de neve” se deve ao facto de as taxas de juro da dívida serem superiores às taxas de crescimento da economia nestes dois países no período entre 2016-2018. E é esse diferencial (ilustrado a verde no gráfico) que se traduz em nova dívida pública que vai pesar ainda mais sobre os ombros as duas economias mais endividadas da região da moeda única — a tal “bola de neve”.
No caso de Portugal, as contas são simples. Em 2017, a economia deverá crescer 1,8%. A par disso, deverá contar com um saldo primário nas contas públicas positivo, o que ajuda a baixar a dívida em 2,7 pontos percentuais do PIB. Ainda assim, o rácio português sai prejudicado devido aos elevados encargos com o montante de dívida acumulada, que apresenta um custo médio estimado de 3,3%. Contas feitas, o rácio não baixa tanto quanto poderia baixar. O IGCP estima que o cenário mude a partir de 2018, registando-se a partir daí uma inversão na “bola de neve”.
Por isso, a conclusão do BCE: “Os esforços para manter a dinâmica da dívida num caminho sustentável enfrentam alguns obstáculos em alguns países (isto é, Itália e Portugal), onde as taxas de juro deverão superar o crescimento económico, provocando um ‘efeito de bola de neve'”.
Riscos aumentaram na Zona Euro
O aviso a Portugal surge num momento particularmente conturbado para a Zona Euro. Para autoridade monetária, os receios em torno da sustentabilidade da dívida aumentaram nos últimos seis meses, por causa da subida das taxas de juro e do ambiente político incerto em alguns países.
Apesar da descida do risco nos mercados secundários, o cenário retratado pelo BCE não é o mais animador. “Os riscos para a estabilidade financeira decorrentes dos mercados financeiros continuam a ser significativos, sobretudo devido à possibilidade de uma nova reavaliação rápida nos mercados globais das obrigações”, frisa a instituição liderada por Mario Draghi.
“Uma reavaliação abrupta poderá materializar-se através de repercussões dos juros mais elevados nas economias avançadas, em particular nos EUA”, explicou de seguida.
"Os esforços para manter a dinâmica da dívida num caminho sustentável enfrentam alguns obstáculos em alguns países (isto é, Itália e Portugal), onde as taxas de juro deverão superar o crescimento económico, provocando um ‘efeito de bola de neve’.”
A Reserva Federal norte-americana aumentou as taxas de juro diretoras por duas vezes desde o final do ano passado, prevendo mais duas subidas em 2017. Ao mesmo tempo, na Zona Euro, está cada vez mais próximo do fim o programa de estímulos menos convencionais, apesar da postura mais cautelosa dos responsáveis do BCE, que pretendem uma transição gradual do fim do plano de compra de dívida previsto para o final deste ano.
Entre outras razões que desafiam a sustentabilidade da dívida está a “renovada incerteza política”. Em concreto, prossegue o BCE, o ciclo eleitoral em alguns países pode adiar as necessárias reformas orçamentais e estruturais, enquanto o aumento da fragmentação política poderá levar a agendas políticas menos reformistas e mais focadas no plano doméstico, minando a cooperação entre países ao nível da União Europeia.
“Maior incerteza política e maior fragmentação europeia poderá, assim, renovar os receios do mercado acerca da sustentabilidade da dívida pública em alguns países”, salienta.
(Notícia atualizada às 12h10 com mais informação)
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