Prova dos 9: Exportações de 2017 são as melhores de sempre?

  • Marta Santos Silva e Margarida Peixoto
  • 13 Janeiro 2018

Caldeira Cabral afirma que os números do Instituto Nacional de Estatística relativos a novembro de 2017 já permitem saber que este vai ser o melhor ano de sempre. O ECO fez as contas.

Caldeira Cabral, o ministro da Economia, estava na maior feira têxtil do mundo, a Heimtextil, em Frankfurt na Alemanha, quando elogiou o ano de 2017, antecipando que será “um ano muito positivo para a economia portuguesa e para os portugueses”. Esta terça-feira, o ministro falava na sequência de dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre as exportações portuguesas, e não se esqueceu de referir esses números.

Citado pelo Jornal de Negócios, Manuel Caldeira Cabral disse que os valores divulgados já permitiam saber que 2017 seria o melhor ano de sempre para as exportações. “As empresas estão a conseguir aumentar as exportações e conquistar mercados externos”, afirmou.

Mas será esse aumento assim tão significativo especialmente, como referiu o ministro, em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB), numa altura em que a produção de riqueza portuguesa deverá surpreender pela positiva? O ECO foi fazer as contas aos anos que passaram e comparar os resultados já conhecidos de 2017 para tentar perceber se Caldeira Cabral está correto ou a ser excessivamente otimista.

A afirmação

“Os dados do INE que saíram hoje sobre as exportações de mercadorias garantem já que 2017 vai ser o ano com maiores exportações de sempre em Portugal. Não só com maior volume, mas também com o maior peso das exportações no PIB.”

Os factos

Na sua declaração, o ministro refere que 2017 vai ser o melhor ano em dois aspetos: tanto no volume de bens exportados como no peso das exportações no PIB. Como os dados de exportações do INE não são expressos em volume, mas sim em valor, o ECO não vai analisar este fator. No entanto, o valor das exportações relativamente ao PIB está ao dispor para ser analisado e permite tirar conclusões.

Desde logo, em valor apenas, é possível ver que as exportações de 2017 até novembro já são superiores às totais de 2016. No ano de 2016, as exportações na sua totalidade valeram cerca de 50 mil milhões de euros. Até novembro, em 2017, Portugal exportou mais de 51 mil milhões de euros. No entanto, o ministro não fala de valores, mas sim do seu peso no PIB, e aí novembro ainda não chega para ultrapassar o ano anterior.

No ano de 2016, as exportações valeram 27% da produção de riqueza portuguesa. Mas 2016 não foi o melhor ano de sempre. Esse título, pelo menos desde que o INE começou a contar, cabe a 2013, quando as exportações representaram 27,78% do PIB. O gráfico abaixo mostra a progressão do peso das exportações no PIB. A grande quebra entre 2008 e 2009 é causada pela crise internacional do subprime que atingiu os principais parceiros de Portugal e o próprio país. As exportações caíram de 38 mil milhões de euros em 2008 para 31 mil milhões no ano a seguir.

Exportações por percentagem do PIB

Dados do INE/Pordata.

Depois da quebra, o peso das exportações no PIB sobe drasticamente nos anos seguintes. Há vários fatores que devem ter influenciado este aumento, desde a redução do PIB à queda do consumo interno devido à diminuição do poder de compra que adveio da austeridade, e assim o peso das exportações foi aumentando, chegando a um pico em 2013. Desde então, a recuperação económica tem levado a uma estabilização do peso das exportações relativamente ao PIB.

O que o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, afirmou na feira têxtil na Alemanha foi que 2017 vai ser um ano que superará o pico atingido em 2013, mesmo agora que esta dinâmica parecia já ter estabilizado e num ano em que o PIB terá crescido acima do esperado. Será verdade?

O ECO foi olhar para os números. Falta saber quanto foi exportado no mês de dezembro, pelo que ainda é impossível afirmar com toda a certeza se 2017 vai ultrapassar 2013 no que toca ao peso das exportações no PIB. Mas fazendo as contas com a estimativa de PIB que o Governo apresentou na Proposta do Orçamento do Estado para 2018, de 192,5 mil milhões de euros, Portugal precisaria de ter tido o pior mês exportador desde pelo menos janeiro de 2011, o mês mais recuado que é possível consultar os valores mensais das exportações no site do Instituto Nacional de Estatística, para que esse recorde não se concretizasse.

Desde essa altura que Portugal nunca teve um mês em que exportasse menos de três mil milhões de euros, mas bastaria, em dezembro de 2017, ter exportado 2,5 mil milhões para ter o melhor ano de exportações em percentagem do PIB pelo menos desde 2000. Se tiver exportado tanto como em dezembro de 2016, então as exportações de 2017 representarão 28,6% do PIB — o tal valor recorde que Caldeira Cabral anuncia.

Prova dos 9

Os números do INE que divulgam os valores das exportações até novembro mostram que as exportações de Portugal são mais altas em valor, até novembro de 2017, do que as de 2016 no ano inteiro. Em percentagem do PIB, o país ainda precisa de dezembro para bater o recorde de 2013. No entanto, é quase certo que o vai quebrar: poderia ser o pior dezembro desde 2011 e ainda assim as exportações teriam o maior peso relativamente ao PIB de que há registo. Assim, Caldeira Cabral não estará certamente longe da realidade ao dizer que as exportações de Portugal vão ser as melhores de sempre.

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