Os dez sucessos e as polémicas de Paulo Macedo no primeiro ano à frente da Caixa
Já passaram 365 dias desde que Paulo Macedo assumiu a liderança da CGD e encontrou os piores resultados de sempre. Agora, depois de polémicas e desafios, o banco está a caminho dos lucros.
12 meses, 365 dias, 8.766 horas. Foi este o tempo que passou desde que Paulo Macedo e a restante administração assumiram funções na Caixa Geral de Depósitos (CGD), substituindo António Domingues e a sua equipa. Os gestores encontraram prejuízos de 1.859,5 milhões de euros, que resultaram de um montante elevado de imparidades reconhecidas. A fatura ascendeu a três mil milhões. Agora, um ano depois, o cenário é diferente. Depois de várias polémicas e desafios, como o encerramento dos balcões um pouco por todo o país, o banco está a caminho dos lucros.
Paulo Macedo assume liderança da CGD
“O que se vê é que os clientes estão na Caixa, a Caixa mantém a sua liderança e, com certeza, quererá consolidá-la no futuro”, disse o novo presidente do banco público, quando visitou um balcão da CGD, apenas três dias depois de ter assumido funções. Após a passagem curta, mas turbulenta, de António Domingues pela CGD, o ex-ministro da Saúde arregaçou as mangas e pôs em prática o plano de reestruturação que tinha sido definido com Bruxelas ainda pela equipa anterior. Prioridade? A forte recapitalização do banco estatal.
Macedo deixou cinco promessas: manter a “confiança” dos clientes, o seu “papel decisivo” junto das empresas, continuar a “ser os melhores na área do crédito à habitação”, reforçar a presença junto de “segmentos de clientes muito importantes para a Caixa, como sejam os universitários mas, também, os seniores” e, por fim, assegurar “a sua solidez e uma reestruturação em termos das políticas de risco e de crédito, que permita à Caixa avançar de forma sólida e rentável”.
Primeira polémica: o salário de Macedo
“Os vencimentos estão fixados, a legislação está em vigor e não a vamos mudar”, afirmou o primeiro-ministro, António Costa, garantindo que Paulo Macedo ia receber o mesmo salário de António Domingues. Ou seja, 423 mil euros por mês. Um valor que só é possível depois de o Executivo ter alterado a lei, retirando a administração da CGD do estatuto do gestor público. Mas a questão gerou polémica.
O valor foi criticado pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, assim como pelo PSD e CDS que apresentaram propostas no Parlamento. Mas as críticas acabaram por ceder aos argumentos de António Costa de que “pode ser muito impopular o vencimento [dos gestores da Caixa], mas não arrisco a má gestão na CGD”.
O balcão da CGD em Almeida
Foi no final de fevereiro que começou a nascer uma outra polémica: o encerramento de balcões previsto no plano de negócios definido com a Comissão Europeia e que permitiu que a injeção de capital público no banco não fosse considerada como ajuda de Estado. “Ninguém peça à CGD para ficar em todos os sítios onde os outros bancos não querem ficar. Se isso acontecesse, então a Caixa não saía dos seis anos de prejuízos que teve”, afirmou Paulo Macedo na divulgação das contas de 2016. Mas a implementação desta exigência — que inclui o despedimento de 2.200 trabalhadores e o fecho de 180 agências — foi contestada pelo poder político local.
Ninguém peça à CGD para ficar em todos os sítios onde os outros bancos não querem ficar. Se isso acontecesse, então a Caixa não saía dos seis anos de prejuízos que teve.
O caso mais polémico foi em Almeida. Desde que foi anunciado o encerramento da agência do banco público nesta localidade, que a população da autarquia se manifestou contra. Os protestos tiveram eco e levaram Marcelo Rebelo de Sousa a reunir-se com o presidente da autarquia, António Baptista Ribeiro, e ainda com a administração da CGD. Mais tarde, a Caixa Geral de Depósitos admitiu a prestação de serviços aos clientes “noutros moldes”. Ou seja, a prestação dos diversos serviços bancários é agora feita através da presença de uma funcionária do banco nas instalações da autarquia.
A carrinha móvel da CGD
Foi para responder aos protestos da população após o anúncio de que o banco público iria encerrar quase duas centenas de agências que o presidente da CGD decidiu criar um serviço móvel de balcões para servir as populações. Ou seja, uma carrinha que vai às zonas do país que não têm ou se preparam para perder uma agência da CGD. Neste apoio, incluem-se esclarecimentos, simulações, transferências, apoio em operações bancárias, desde que não envolvam numerário.
“Não é apenas em Inglaterra que há estes exemplos. Também há em Espanha”, salientou Paulo Macedo, considerando que este “é um dos instrumentos para combater a exclusão financeira”.
Emissão de dívida. Ainda falta uma tranche
O banco liderado por Paulo Macedo foi novamente a teste em março do ano passado. Isto quando teve de ir ao mercado para obter 500 milhões de euros através de títulos de dívida subordinada, uma das condições impostas pela Direção Geral da Concorrência para a concretização do aumento de capital do Estado em dinheiro fresco. E foi um sucesso, pelo menos em termos de procura. No roadshow, a CGD registou “um forte interesse” dos 120 investidores institucionais com que se reuniu.
Mas o interesse do mercado não impediu um custo elevado nesta operação. A taxa final da operação foi de 10,75%. Esta taxa baixou face aos níveis iniciais, acima de 11%. O banco estatal terá agora de regressar ao mercado, no prazo de 18 meses, para obter os restantes 430 milhões de euros. Ou seja, até setembro deste ano.
“Há diariamente tentativas de politizar a Caixa”
Entre polémicas e emissões de dívida para cumprir as exigências das autoridades europeias, passaram 100 dias desde que Macedo assumiu a liderança da Caixa. Mas não foi por isso que os desafios diminuíram.
Para o presidente do banco estatal, “há diariamente essas tentativas de politizar ou trazer a Caixa para o centro do debate político, seja a nível nacional ou local”, referiu Macedo ao ECO, relembrando que “a Caixa não faz a reestruturação da sua rede por capricho, faz porque a relação com a banca, da maioria das pessoas, mudou”. Isto numa altura em que a CGD estava a ser criticada devido ao encerramento de balcões um pouco por todo o país.
“Se a CGD não der lucro tem de ir pedir mais dinheiro aos contribuintes”
Foi assim que Paulo Macedo justificou o aumento das comissões bancárias cobradas aos clientes. “A CGD tem de ser igual aos outros na rentabilidade porque as regras são iguais para públicos e privados”, afirmou o gestor durante um almoço debate promovido pela Câmara de Comércio Americana em Portugal, em Lisboa.
“Temos a noção do que teria acontecido a um banco com sete anos seguidos de prejuízos se não fosse público”, realçou Paulo Macedo, vincando que “só com a reestruturação [em curso] a CGD pode voltar aos lucros”. E acrescentou: “Se a CGD não der lucro tem que ir pedir mais dinheiro aos contribuintes. E tenho uma ideia de qual será a resposta”.
Se a CGD não der lucro tem que ir pedir mais dinheiro aos contribuintes. E tenho uma ideia de qual será a resposta.
E, apesar de a CGD ter aumentado as comissões, Macedo garantiu que a “Caixa tem as comissões mais baixas do mercado. E não cobra qualquer valor, ao contrário dos outros bancos, nos serviços mínimos bancários. A população mais vulnerável está abrangida por este segmento e, portanto, paga zero”.
Malparado? Vamos lá criar uma plataforma
A melhoria da rentabilidade foi um dos objetivos assumidos por Macedo quando assumiu a liderança da CGD. Mas, para que isto aconteça, era (e é) necessário resolver um problema: o peso do crédito malparado no balanço do banco. Para isso, a CGD juntou-se ao BCP e ao Novo Banco — os três bancos com níveis mais elevados destes créditos em incumprimento — e criaram uma plataforma para ajudar a resolver os chamados Non Performing Loans (NPL).
“Estamos com valores [de malparado] muito acima dos nossos concorrentes europeus” e “isto reflete-se no rating dos bancos. Temos de trabalhar nesse sentido”, salientou o presidente do banco público. Apesar de considerar esta iniciativa positiva, Macedo, assim como os presidentes dos outros dois bancos, considera que há que resolver uma outra questão: as empresas com créditos em incumprimento têm de perder rapidamente esse “carimbo” para que os bancos possam voltar a conceder crédito. E isso depende da validação do Banco Central Europeu.
Mais exigências, mais capital
“Daqui a seis meses, todos os bancos vão precisar de mais capital.“ O presidente da CGD salientou, numa conferência organizada pelo ISEG, que as instituições financeiras têm mais exigências em termos regulamentares. Recorde-se que o Banco de Portugal deu um ano aos maiores bancos para que constituíssem uma reserva adicional de capital. E este prazo acabou em janeiro, quando as novas regras entraram em vigor, com o objetivo de garantir a estabilidade do sistema financeiro.
Mas esta realidade não se reflete na concessão de crédito às empresas, defendeu Macedo, que quer que a CGD volte a estar ao serviço da economia. A Caixa “quer” dar mais empréstimos, salienta. “Houve uma redução do crédito. Era o que se pedia ao país, às empresas e às famílias”. Isto não quer dizer que os “bancos não tenham capacidade para emprestar”. Pelo contrário, no caso da Caixa, o banco “tem claramente liquidez que permite ter uma concessão de crédito” muito além do que tem.
CGD no caminho dos lucros em 2018
Quando Paulo Macedo chegou à liderança da CGD encontrou prejuízos de 1.859,5 milhões de euros, que resultaram de montante elevado de imparidades reconhecidas. A fatura ascendeu a três mil milhões. Agora, um ano depois, o cenário é diferente.
Na apresentação dos resultados para os primeiros nove meses do ano passado, o gestor afirmou que os resultados dos últimos trimestres reforçam o cenário de que a Caixa vai regressar aos lucros já este ano. “É este o cenário que temos”, disse Macedo. A CGD apresenta os resultados referentes a 2017 já esta sexta-feira, depois do fecho do mercado.
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