Baixa produtividade nacional é culpa da falta de capital das empresas

O Conselho para a Produtividade divulga esta sexta-feira o relatório do seu primeiro ano de atividade, no qual sublinha que a produtividade nacional não cresce por falta de capital das empresas.

O ritmo de crescimento da produtividade em Portugal tem ficado significativamente afastado daquele registado nos restantes países da Zona Euro, uma tendência que parece estar mais associada ao baixo nível de “capital disponível por trabalhador do que à falta de eficiência do fator trabalho”. Esta conclusão faz parte do relatório do primeiro ano de atividade do Conselho para a Produtividade, que é apresentado esta sexta-feira e ao qual o ECO teve acesso.

“Mais recentemente, o crescimento da produtividade do trabalho em Portugal permaneceu relativamente lento, contrastando com a performance da Zona Euro. Esta desaceleração nos últimos anos pode ser explicada pelo facto da recuperação económica portuguesa no pós-2013 ter sido acompanhada de um aumento significativo do emprego em setores intensivos em mão de obra e uma acumulação de capital mais limitada”, lê-se no estudo publicado por esta entidade, que foi criada em março de 2018 para monitorizar e propor políticas públicas para incentivar a produtividade.

“Esta pouca capitalização das empresas leva a pouco investimento. Se há pouco investimento, há pouco valor acrescentado bruto”, esclarece o coordenador do Conselho para a Produtividade e diretor do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais. Em conversa com o ECO, José Carlos Pereira salienta que, uma vez que o tecido empresarial português é maioritariamente populado por micro e pequenas empresas, a questão do financiamento agrava-se. Isto porque os empresários tendem a evitar a alavancagem, na medida em que tal implica um “outro tipo de gestão” e “dá muito trabalho”.

“Para além das pressões financeiras das empresas, o seu financiamento é também determinado pelas condições de oferta de crédito por parte do sistema financeiro. Não obstante a melhoria observada, ao longo dos últimos anos, em termos da maior capitalização do sistema financeiro e da redução do stock de ativos não produtivos, estes fatores poderão ainda condicionar a oferta crédito”, acrescenta o relatório publicada esta manhã, frisando que a dificuldade de acesso a financiamento e os níveis de endividamento têm condicionado a capacidade de investimento e produtividade das empresas.

O estudo salienta também que “a produtividade do trabalho depende largamente da eficiência com a qual o capital é utilizado no processo produtivo”, nomeadamente no que diz respeito à quantidade e à qualidade de investimento em capital físico e em ativos intangíveis, como as TIC.

No que diz respeito ao capital humano, José Carlos Pereira reforça que os salários não têm seguido o mesmo ritmo de crescimento que a produtividade, o que constitui um obstáculo ao seu reforço. Se o empresário não passa parte dos ganhos de produtividade para o trabalhador, faz com que não haja motivação e com que não haja nenhum acréscimo de produtividade”, elucida o coordenador do conselho.

"Se o empresário não passa parte dos ganhos de produtividade para o trabalhador, faz com que não haja motivação e com que não haja nenhum acréscimo de produtividade.”

Por outro lado, o responsável sublinha que a qualificação da mão-de-obra mantém-se como um dos principais “bloqueios” do mercado de trabalho português, uma vez que há um “stock de população sem qualificações gigantesco”. “Vai demorar algum tempo para que essas pessoas saiam e para que haja um aumento da produtividade”, considera Pereira.

Em que degrau está Portugal na escada europeia?

De acordo com os dados citados pelo relatório divulgado esta sexta-feira, a produtividade do trabalho em Portugal, definida em termos de Produto Interno Bruto (PIB), representou 76,6% da média da União Europeia e 71,9% da Zona Euro, em 2017. Ainda assim, entre 1995 e 2000 e entre 2003 e 2007, os portugueses crescerem mesmo acima da média da área da moeda única, tendo-se observado um período de estagnação entre 2000 e 2003 e de desaceleração depois de 2008.

No caso desse último período, o relatório acrescenta ainda que a contração na procura global resultante da crise financeira fez reduzir a produtividade a nível global, tendo sido esta queda mais acentuada nos demais países da Zona Euro do que em Portugal.

Por cá, desde 2013 que o crescimento da produtividade do trabalho no setor da indústria desacelerou e a produtividade dos serviços diminuiu, “contribuindo para o menor crescimento da produtividade do trabalho agregada”.

Tudo somado, o Conselho para a Produtividade identifica como áreas prioritárias do seu trabalho a avaliação do impacto da qualificação dos recursos humanos (incluindo os empresários) na produtividade, a avaliação da eficácia das políticas de incentivo ao investimento em investigação, a avaliação do impacto das alterações das dinâmicas de investimento e a análise do impacto da segmentação do mercado de trabalho e de outras distorções à concorrência sobre a produtividade.

O relatório pretende de ser um retrato, não um compêndio da produtividade”, remata José Carlos Pereira, adiantando que o Conselho para a Produtividade deverá agora seguir dois caminhos: analisar o que de melhor se faz sobre esta matéria no Velho Continente e propôr políticas públicas que incentivem a produtividade do trabalho em Portugal.

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