Luanda Leaks. “Isto não é bom para o negócio, mas o banco está sólido”, diz presidente do EuroBic
Fernando Teixeira dos Santos garante a "legitimidade" das transferências executadas por Isabel dos Santos a partir da conta da Sonangol no EuroBic para uma empresa offshore no Dubai.
O presidente executivo do EuroBic garante que as transferências da Sonangol para uma empresa offshore no Dubai “foram ordens legítimas” e que o banco “não tem que sofrer da suspeição” em torno da empresária angolana Isabel dos Santos. Esta é a primeira reação de Fernando Teixeira dos Santos, em entrevista à RTP, sobre as revelações dos Luanda Leaks. O gestor admite que a situação “não é boa para o negócio, mas não põe em causa o banco”, que “está sólido”.
Referindo-se aos pagamentos de mais de 100 milhões de euros de uma conta da Sonangol no EuroBic para uma empresa no Dubai controlada por uma amiga de Isabel dos Santos, Teixeira dos Santos garante que essas ordens foram executadas com toda a legitimidade: “Foram ordens legítimas, dadas por quem tinha legitimidade para as dar, dadas legitimamente por quem as podia dar, em tempo em que as podia dar, e por isso foram executadas por este banco”, disse Teixeira dos Santos, num trecho da entrevista que vai ser emitida, na íntegra, pelas 20h00.
Com isto, o gestor nega que a empresária já tivesse sido demitida da liderança da Sonangol quando, em apenas um dia de novembro de 2017, deixou a conta da Sonangol no EuroBic com saldo negativo, após uma sucessão de transferências milionárias para a offshore constituída pelo advogado Jorge Brito Pereira e controlada por Paula Oliveira.
Assim, para o gestor, o EuroBic não tem de ser afetado pela polémica. “Este banco não tem que sofrer da suspeição que se possa colocar sobre a engenheira Isabel dos Santos em torno da gestão da Sonangol. Esse é um problema entre a Sonangol, o Estado angolano e a engenheira Isabel dos Santos. Não tem de ser um problema deste banco”, disse. E frisou: “Este banco cumpriu as obrigações perante um cliente chamado Sonangol”.
Teixeira dos Santos também considera que a sua reputação não foi manchada. “A engenheira Isabel dos Santos foi elogiada, muito venerada [no passado], e por isso eu creio que estar num banco em que ela é acionista não tem necessariamente de manchar a reputação de quem aqui tem procurado fazer um bom trabalho“, defendeu.
O gestor admitiu que “isto não é bom para o negócio, mas não põe em causa o banco”, que “está sólido”. Ainda assim, Teixeira dos Santos assumiu que “certamente que não” voltaria a aceitar o convite para liderar o EuroBic, caso pudesse voltar atrás.
O EuroBic está debaixo de fogo desde que o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) publicou milhares de documentos que expõem negócios suspeitos de Isabel dos Santos. Entre eles, a transferência de milhares de milhões de dólares de uma conta da Sonangol no EuroBic para uma empresa offshore no Dubai controlada por uma amiga da empresária angolana.
Isabel dos Santos controla 42,5% do banco liderado por Teixeira dos Santos, através da Santoro e da Finisantoro, posição que pôs à venda na sequência dessas notícias. Aliás, logo no rescaldo das revelações, na semana passada, o EuroBic anunciou um corte nas “relações comerciais” com Isabel dos Santos. Mas isso não impediu o escrutínio público que se abateu sobre a empresa.
Esta quinta-feira, o próprio governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, apelou a que os bancos sejam “diligentes e eficazes na prevenção do branqueamento de capitais”. Declarações que, apesar de não mencionarem o nome do EuroBic, devem ser vistas à luz dos resultados de meses de investigação do ICIJ.
Isabel dos Santos tem negado todas as acusações de ilegalidades, nomeadamente a de que enriqueceu às expensas dos cofres públicos angolanos, com a ajuda do pai, José Eduardo dos Santos, que presidiu o país ao longo de 38 anos. Vai correr à justiça e, para a sua defesa, contratou uma sociedade de advogados que trabalha com o craque português Cristiano Ronaldo, ou com Meghan Markle.
O EuroBic também esteve nas notícias na semana passada devido à morte do diretor de private banking, Nuno Ribeiro da Cunha, que terá cometido suicídio. Ribeiro da Cunha era o gestor de conta de Isabel dos Santos e também da Sonangol, mas não veio a público qualquer prova de que o caso esteja relacionado com a divulgação dos Luanda Leaks.
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