Novo Banco entre o “sprint da liquidez” e a “maratona da retoma económica”

António Ramalho fala das mudanças na gestão do Novo Banco que a pandemia trouxe. E aborda ainda a resposta que o banco está a dar para ajudar as famílias e as empresas nesta crise.

Com 1.500 funcionários a trabalharem a partir de casa, António Ramalho diz que o Novo Banco corre em duas velocidades nesta crise do coronavírus. No “sprint da liquidez”, o banco é um dos que tenta assegurar que as empresas não são esmagadas pela paralisação da economia. E isto enquanto se prepara para participar na “maratona da recuperação económica” que se seguirá após a vaga do Covid-19 passar. Mas o CEO do Novo Banco deixa o aviso: “As maratonas implicam sempre sacrifícios”.

Os bancos estão sob intensa pressão política por estes dias. Deles se exige que estejam disponíveis para ajudar o país a ultrapassar a turbulência causada pelo vírus, uma contrapartida considerada razoável depois de anos em que o setor financeiro recebeu ajuda dos contribuintes.

Se isto é verdade para a maioria dos grandes bancos, é ainda mais evidente para o Novo Banco: o banco, que nasceu em 2014 da resolução do BES, já recebeu apoios públicos de mais de oito mil milhões de euros nos últimos anos.

António Ramalho, que continua a liderar os destinos do banco a partir do seu gabinete na sede lisboeta, garante ao ECO que fará o que estiver ao seu alcance. E já está no terreno.

“O Novo Banco percebeu logo a 13 de março que era necessário redefinir prioridades para um cenário central de confinamento de três meses“, explica o gestor em declarações para a rubrica do ECO “Gestores em Teletrabalho“.

“Isso permitiu apostar tudo na sua operacionalização tão remota quanto possível e num importante modelo de incentivos aos clientes. Fomos os primeiros a reduzir as comissões no online, a facilitar o onboarding [acesso a serviços e produtos do banco] e a isentar os mínimos nos meios eletrónicos de pagamento aos comerciantes”, acrescenta António Ramalho.

Seguiu-se a aposta na disponibilização das linhas de crédito ao mercado. “Fomos os primeiros a esgotar a linha dos 400 milhões e os primeiros a disponibilizar fundos aos clientes, 20 dias depois”, nota o CEO do Novo Banco, que também está a facilitar a vida às famílias e empresas, permitindo que paguem as prestações dos créditos mais tarde, depois de a crise passar.

Gestão acelerada e primazia das soft skills

Durante a pandemia, nem todos os administradores vão às instalações do banco na Avenida da Liberdade. “A administração está dividida, metade em teletrabalho e metade na sede, por razões de dispersão de risco”, diz o CEO do banco.

O mesmo se passa com os outros quadros. Quem pode trabalhar em casa, fica em casa. Ainda assim, 2.100 trabalhadores continuam a ir diariamente para os seus postos de trabalho, com destaque para a área comercial — o Novo Banco tem todos os balcões abertos, exceto dois — e para as áreas operacionais. Na área de suporte e controlo cerca de 15% estão “in site” em modelo rotativo.

António Ramalho sublinha que estas circunstâncias imprimiram novas dinâmicas na gestão do banco. Por exemplo, mudou a organização do trabalho. Passou-se a ter em conta a rotina do teletrabalho, e isto obriga a sistemas de controlo mais ritmado, maior utilização das ferramentas online e organização dos objetivos com ciclos temporais mais curtos e mais focados (modelo sprint), conta o gestor.

Por outro lado, em tempos de pandemia, as soft skills (capacidades mais subjetivas como saber trabalhar em equipa, inteligência emocional, criatividade, por exemplo) dos colaboradores ganharam outra dimensão, relegando as hard skills (competências técnicas) para segundo plano.

“Na vida dos trabalhadores muito mudou. O modelo de trabalho individual/partilhado, um modelo que expõe a casa e individualiza o trabalho de equipa, a exigência de flexibilidade e a valorização para muitos da responsabilidade social do trabalho de cada um”, frisa António Ramalho.

Banco analisa crises dos últimos 100 anos

Sobre o impacto da crise, embora muitas instituições já tenham arriscado as suas previsões, António Ramalho diz que ainda é cedo para fazer qualquer estimativa. “Estamos a estudar cenários múltiplos analisando as múltiplas crises nos últimos 100 anos, dado que nos parece que esta crise é setorizável”, explica o CEO do Novo Banco. Segundo o gestor, os efeitos da pandemia na atividade económica vão ser curtos, cíclicos e estruturais.

Para lá disso, também terá efeitos na forma como o trabalho é visto. “Estamos a analisar os efeitos futuros do homeoffice, da perda de mobilidade e do aumento do remoto”, diz António Ramalho.

Numa primeira fase, a preocupação é sobretudo responder à crise de liquidez que muitas empresas enfrentam e à qual o Novo Banco está num “sprint” para fazer chegar rapidamente o dinheiro aos empresários. Depois virá a crise económica, cuja recuperação será uma prova de longa distância, uma verdadeira “maratona”. Em ambos os casos, os bancos vão estar presentes, garante Ramalho.

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