Novo Banco defende-se com “dimensão ética” para não explicar negócios polémicos
António Ramalho escreveu a Marques Mendes para lhe explicar as razões do seu silêncio sobre as vendas de imóveis com perdas. O ECO teve acesso à carta e mostra-lhe as justificações.
O Novo Banco está debaixo de fogo devido às perdas avultadas que gerou a venda da carteira de imóveis. Mas o presidente executivo da instituição diz que não avança com mais explicações porque o banco está a ser auditado pela Deloitte e isso obriga a uma “descrição adicional” relativamente às operações abrangidas por essa auditoria especial. Uma obrigação que António Ramalho considera ser ética.
“O Novo Banco está sob auditoria especial, o que obriga eticamente a um dever de descrição adicional em relação a operações incluídas nessa auditoria. É essa dimensão ética que nos impede de responder”, justifica o presidente executivo do banco na carta que enviou a Marques Mendes, e a que o ECO teve acesso, depois de este ter atacado as opções do Novo Banco ao nível das vendas de ativos. “Dois pecados capitais”, nas palavras do comentador.
O Novo Banco está sob auditoria especial, o que obriga eticamente a um dever de descrição adicional em relação a operações incluídas nessa auditoria. É essa dimensão ética que nos impede de responder.
A Deloitte está a passar a pente fino os atos de gestão no banco desde 2000, num exercício semelhante ao que a EY fez em relação à Caixa Geral de Depósitos há dois anos. Mas a consultora falhou o prazo limite que o Executivo lhe tinha dado para apresentar as suas conclusões. Na sequência deste atraso, o Governo pediu para suspender todas as eventuais operações de venda de ativos até ser conhecido o relatório da referida auditoria.
Em causa estão duas operações em particular, nas quais as carteiras de imóveis foram vendidas com um desconto de 70%. No projeto “Sertorius”, o Novo Banco vendeu cerca de 200 imóveis com uma perda de 328 milhões de euros ao fundo Cerberus, que é acionista do banco austríaco onde o atual chairman do Novo Banco, Byron Haynes, era presidente executivo. Já no projeto “Viriato”, a carteira de 5.355 imóveis compostos foi vendida à Anchorage Capital, que tem sede nas ilhas Caimão, e não se conhecem os seus beneficiários últimos, uma operação que gerou uma perda de 160 milhões de euros.
Ambas as situações foram denunciadas pelo Público que, esta segunda-feira, voltou à noticiar que o Novo Banco vendeu a seguradora GNB Vida (agora Gama Life) com um desconto de quase 70% a fundos geridos pela Apax. Venda essa que gerou uma perda de 268,2 milhões, que foi compensada com verbas do Fundo de Resolução.
António Ramalho, na missiva que escreveu a Marques Mendes na sequência do comentário de 2 agosto na SIC, frisa que o Novo Banco é a instituição “mais escrutinada dos bancos portugueses” e que vai fazer todos os “esforços” para “contribuir para a transparência do seu processo de capitalização, acordado em 2017″. Nesse sentido, o banco contratou uma consultora internacional independente.
“Queria que soubesse que a importância do seu comentário nos levou” a pedir uma opinião independente a uma consultora internacional de renome, que possa responder de forma imparcial às dúvidas” levantadas, diz António Ramalho na mesma carta. Em causa estava a falta de explicações relativas à venda da carteira de imóveis com perdas, mas também o facto de o banco ter financiado o comprador nessa venda.
Na mesma carta, António Ramalho aproveita para lembrar que o “financiamento de imóveis associado à venda de imóveis, é prática corrente no mercado” e que o Novo Banco foi “expressamente autorizado”, “desde 2014, pela Comissão Europeia” a fazê-lo “dado o elevando montante de imóveis estacionados que possuía”, tal como o Jornal Económico avançou na semana passada.
O presidente executivo do Novo Banco esclareceu ainda o antigo líder do PSD de que irá à Comissão de Orçamento e Finanças para falar sobre o tema e que será nesse fórum que dará uma “explicação mais detalhada”.
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