Netflix em Portugal há cinco anos. Já faz companhia a milhões de assinantes portugueses

A 21 de outubro de 2015 a Netflix anunciava a entrada no mercado português. Cinco anos depois, em plena pandemia, a plataforma ocupa os tempos livres de milhões de portugueses.

Figura alusiva a “La Casa de Papel”, uma das séries originais da Netflix que mais sucesso tem tido em Portugal.EPA/SASCHA STEINBACH

A Netflix está há cinco anos em Portugal. O marco assinala-se numa altura em que os filmes e as séries em streaming têm ocupado o tempo livre de muitos portugueses, forçados a limitarem as interações sociais e as saídas de casa neste período atípico de pandemia.

Com alguma ironia, foi a 21 de outubro de 2015 que a plataforma entrou no mercado português e assinalou a ocasião com uma festa privada no Pátio da Galé, em Lisboa, com a presença de dezenas de figuras públicas e até do presidente executivo do grupo norte-americano, Reed Hastings, e do atual vice-presidente e administrador com o pelouro dos conteúdos, Ted Sarandos.

O lançamento da plataforma em Portugal coincidiu com a chegada a outros mercados do sul da Europa, como Espanha e Itália. Na festa, a empresa distribuiu aos presentes vouchers de seis meses de serviço grátis, mas a diversidade e a quantidade do catálogo da plataforma ainda estava muito longe daquilo que é hoje.

A festa seria uma das poucas iniciativas públicas da plataforma em Portugal ao longo de cinco anos, período para o qual também não existem dados concretos e oficiais sobre a evolução do serviço no país. Questionada sobre essa evolução, a empresa não quis fazer comentários.

Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, na festa de lançamento da plataforma em Portugal, no Pátio da Galé, em Lisboa.Flávio Nunes 21 de outubro de 2015

A chegada da Netflix a Portugal em 2015 viria a inaugurar, poucos anos depois e também neste mercado, a tão falada “guerra do streaming” que teve origem nos EUA. Cinco anos, os preços da Netflix no país mantêm-se, mas os portugueses podem agora escolher entre diversas plataformas com diferentes catálogos de conteúdos, como é o caso da HBO Portugal, Amazon Prime Video, Apple TV+ e, mais recentemente, Disney+.

Só por via de estimativas é possível aferir a quantidade de portugueses com subscrições nestes serviços. Dados recentes do Barómetro de Telecomunicações da Marktest permitem estimar que quase 2,58 milhões de portugueses subscrevam serviços de streaming, um número que acelerou bastante durante a pandemia, com estas plataformas a angariarem perto de 800 mil subscritores neste mercado somente entre fevereiro e abril, período que coincide com a declaração do estado de emergência por causa da Covid-19. Enquanto líder de mercado, a Netflix terá pelo menos um milhão, senão dois milhões de subscritores em Portugal, seguindo as mesmas estimativas.

Netflix é, assim, um nome já bem popular na sociedade portuguesa, mas os cinco anos não foram suficientes para cravar uma maior presença de Portugal no mapa do streaming. Só mais recentemente é que começaram a surgir mais rostos portugueses no pequeno ecrã da plataforma, como Nuno Lopes em White Lines, ou antes o de Joaquim de Almeida e Pêpê Rapazote em Rainha do Sul, esta última não sendo um original da empresa.

Somente em meados de setembro deste ano foi anunciado o primeiro original da Netflix com ADN totalmente português e elenco nacional. A série vai chamar-se Glória e está a ser conduzida pelo realizador Tiago Guedes, sendo uma coprodução da SPi e da RTP. Contactada, a SP Televisão não quis fazer qualquer comentário para este artigo: “Não temos grande margem para falar sobre o projeto”, foi afirmado ao ECO, um sinal do controlo apertado da plataforma no que toca à comunicação exterior.

Recentemente, a empresa também procurou argumentistas no país, tendo criado um concurso em conjunto com o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA). Os argumentistas e autores residentes em Portugal foram convidados a enviarem projetos no início do verão. “Esta é uma iniciativa especialmente relevante que, por via da escrita de argumento e do desenvolvimento de ideias por autores portugueses, representa um importante passo para a consolidação da ficção audiovisual e do documentário no nosso país”, considerou então o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, citado numa nota de imprensa do ICA.

O cenário é diferente em Espanha, nomeadamente com a entrada no catálogo internacional do drama criminal La Casa de Papel. O título cativou milhões de fãs em todo o mundo, muitos também em Portugal, e deverá contar com uma quinta e última temporada no próximo ano, cuja rodagem passa também por território português. Além disso, e seguramente não de forma inocente, uma das personagens principais foi batizada “Lisboa”. A 25 de abril de 2019, outra personagem principal, “Berlim”, surgiu nas redes sociais da Netflix a cantarolar Grândola Vila Morena.

Mas mesmo com a “guerra do streaming” a acelerar, o crescimento da Netflix a nível internacional tem sido notável. No final de 2015, a plataforma contava com 93,8 milhões de subscritores em todo o mundo, depois de ter angariado 17,4 milhões de novos assinantes, um aumento de 4,4 milhões face ao que conseguiu angariar em 2014.

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Em julho de 2020, já com o efeito da pandemia, a Netflix contava com 193 milhões de assinantes em 190 países nos quatro cantos do globo. Destes, 61,5 milhões estavam na região da Europa, Médio Oriente e África, 36,7 milhões na América Latina e 22,49 milhões na Ásia-Pácifico. A esmagadora maioria, 73 milhões, localizavam-se no mercado principal da Netflix, isto é, EUA e Canadá.

O efeito da pandemia é claro, mas difícil de contabilizar. No entanto, numa das últimas cartas aos investidores, a plataforma contextualizou que, no segundo trimestre deste ano, a nível global, a média de subscrições disparou 25% em relação ao ano passado. Foram três meses em que a Netflix angariou 10,1 milhões de novos assinantes, contra os 2,7 milhões angariados nos mesmos três meses do ano anterior.

Este crescimento tem sido aplaudido na bolsa pelos investidores. Hoje, uma ação da empresa pode custar cerca de 530 dólares, quase seis vezes mais do que a cotação que a empresa registava há cinco anos, quando entrou em Portugal. A 1 de setembro, os títulos bateram mesmo um máximo histórico em plena crise sanitária, fechando nesse dia a valer 556,55 dólares cada.

Cotação das ações da Netflix em Nova Iorque:

De resto, é também importante relevar o papel de modelos de negócio como o da Netflix no combate à pirataria. O fenómeno verificou-se no passado com a chegada do Spotify ao mercado, e é também observado no setor audiovisual, ainda que a problemática esteja longe de estar totalmente ultrapassada. O ECO solicitou dados ao ICA e à Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC), mas não obteve respostas a tempo de publicação deste artigo.

Contactada, a Associação para a Gestão Coletiva de Direitos de Autor e de Programadores Cinematográficos e Audiovisuais (GEDIPE) também não respondeu. Mas, numa entrevista em janeiro de 2019, o diretor-geral, Paulo Santos, admitia ao Sapo Tek que a chegada destes serviços ao país ajudou a baixar os números da pirataria em Portugal. Em causa está a facilidade do acesso, mas sobretudo fatores como a variedade de escolha e os preços relativamente acessíveis.

Quanto ao mercado como um todo, está a ganhar maturidade e até os três principais canais de televisão já têm catálogos de conteúdos disponíveis na internet. O caso mais recente é o da SIC, que se prepara para ser a primeira estação generalista portuguesa a apostar num modelo de assinaturas numa nova plataforma própria a que chamou de Opto. Entre as funcionalidades estará a possibilidade de ver as novelas da SIC antes de serem emitidas no terceiro canal.

Estando em franco crescimento, a próxima era poderá ser de maior regulamentação. Esta terça-feira, soube-se que o grupo parlamentar do PS apresentou uma proposta para a criação de uma nova taxa sobre as plataformas de streaming, de forma a responder às exigências do setor do cinema.

O objetivo é sujeitar estes operadores “ao pagamento de uma taxa anual correspondente a 1% do montante dos proveitos relevantes”. Nos casos em que não for possível apurar os valores, “presume-se que o valor anual da taxa é de um milhão de euros”, propõem os socialistas.

📹 Há cinco anos que a Netflix fala português

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