Colômbia aprova negócio que permite à Jerónimo Martins chegar às 1.500 lojas na América Latina

No pódio dos supermercados colombianos com a Ara, grupo português foi autorizado pelo supervisor da concorrência a ficar com 75 espaços da Colsubsidio, que somam às 150 aberturas previstas para 2025.

É mais um passo rumo à ambicionada liderança do mercado de retalho alimentar na Colômbia, onde está apenas atrás das rivais Almacenes Éxito e D1. A Jerónimo Martins já recebeu a aprovação da autoridade da concorrência do país da América Latina (Superintendencia de Industria y Comercio) para ficar com 75 lojas que pertenciam à Colsubsidio, operadora local que no final de 2024 decidiu encerrar os supermercados ao fim de seis décadas a atuar neste segmento.

Com este negócio, que envolveu a aquisição de alguns ativos e o arrendamento dos imóveis comerciais onde funcionavam estas operações, a cadeia de lojas alimentares de proximidade Ara – inaugurada em 2013, já valeu no ano passado mais de metade das vendas do Pingo Doce – prevê a criação de 900 empregos diretos e supera, assim, os 1.500 estabelecimentos. Junta-se às 1.438 unidades que tinha a 31 de dezembro e asseguravam 16 mil postos de trabalho no país.

Os espaços agora incorporados irão reabrir faseadamente com a nova insígnia até ao verão. Estão localizados nas regiões de Bogotá, Cundinamarca, Tolima, Risaralda, Quindío, Boyacá e Meta, reforçando a presença da Ara no centro do país, onde vai também abrir um novo centro de distribuição.

Já presente em mais de 350 municípios, tem outras 150 aberturas previstas para este ano no plano de expansão divulgado pelo grupo português, que no último exercício viu os lucros caírem 20,8% para 599 milhões de euros, com vendas globais de 33,46 mil milhões – Portugal já vale menos de 20% do total.

A Ara contribuiu com 2,8 mil milhões de euros (17% acima do ano anterior), equivalendo a 8,4% do volume de negócios consolidado em 2024. “A Colômbia é uma prioridade para a Jerónimo Martins. Com esta operação e com os nossos investimentos na expansão, na infraestrutura e no talento humano, reafirmamos a nossa aposta de longo prazo no país”, referiu à imprensa local o CEO da Tiendas Ara, Nuno Sereno, notando que este acordo com a Colsubsidio “mostra o compromisso com o consumidor colombiano e é o resultado do trabalho realizado há mais de uma década no país”.

O ECO questionou a Jerónimo Martins sobre esta operação e o valor do negócio, mas não obteve resposta por parte da retalhista liderada por Pedro Soares dos Santos, que vai propor na próxima assembleia geral a entrada do ex-CEO da Caixa, António Domingues, no conselho de administração.

Alegando “razões contratuais”, também Nuno Sereno recusou divulgar o montante em causa, referindo apenas que “o investimento é comparável ao que teria realizado se tivesse aberto estas lojas diretamente”. “Finalizada com êxito esta transação, prosseguimos com o objetivo de nos consolidarmos como número 1 na Colômbia”, remata o gestor.

Além da Ara na Colômbia e do Pingo Doce e do Recheio em Portugal, a Jerónimo Martins é dona da rede de supermercados Biedronka e da cadeia especializada em higiene e cosmética Hebe, ambas na Polónia. É neste país do leste europeu, onde está presente há quase três décadas, que lidera o mercado do retalho alimentar com a ‘joaninha’ – uma marca que acaba de iniciar a internacionalização para a vizinha Eslováquia – e que no ano passado assegurou 72% das vendas consolidadas do grupo.

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Ex-CEO da Caixa António Domingues entra na administração da Jerónimo Martins

Com percurso na banca, incluindo passagens pelo BPI e pela Caixa, António Domingues vai entrar na administração da dona do Pingo Doce. Ex-embaixador João Vale de Almeida é outra novidade.

António Domingues vai integrar o novo conselho de administração da Jerónimo Martins JMT 0,00% , dona do Pingo Doce, de acordo com a proposta que a família Soares dos Santos vai levar à assembleia geral de 24 de abril.

Com um percurso de quatro décadas no setor financeiro, António Domingues conta com passagens pelo BPI, onde foi administrador financeiro e vice-presidente, e pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), onde foi CEO durante cerca de três meses em 2016, tendo saído após a polémica relacionada com a declaração de património junto do Tribunal Constitucional.

Enquanto administrador, António Domingues será um dos vogais da comissão de auditoria, que será liderada por Elizabeth Ann Bastoni.

Outra novidade na próxima administração da Jerónimo Martins para o triénio 2025-2027 é João Vale de Almeida, antigo embaixador da União Europeia nos EUA e no Reino Unido, contando com uma experiência de quatro décadas de diplomacia a nível europeu.

Embora a liderança do conselho se mantenha com Pedro Soares dos Santos (também se manterá como administrador-delegado), a administração de 11 membros sofrerá seis alterações.

Entre os nomes que estão de saída encontra-se o do embaixador Francisco Seixas da Costa.

Em Portugal, a Jerónimo Martins opera as insígnias Pingo Doce (vendas de 5,1 mil milhões de euros em 2024) e Recheio, mas é lá fora que tem a sua maior atividade. Designadamente na Polónia com a Biedronka, cuja faturação atingiu os 23,6 mil milhões de euros, e com a cadeia especializada em saúde e beleza Hebe (583 milhões). A marca da joaninha acaba de se expandir para a Eslováquia. Também conta com operação na Colômbia através da Ara (2,7 mil milhões).

O lucro do grupo retalhista atingiu os 599 milhões de euros no ano passado, baixando mais de 20% em relação a 2023.

A Jerónimo Martins é detida pela família Soares dos Santos através da Sociedade Francisco Manuel dos Santos, que detém 56,14% do capital, enquanto os restantes 43,86% estão dispersos na bolsa.

(Notícia atualizada às 19h16)

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Polónia sentencia “abuso de poder negocial” da Jerónimo Martins com multa de 118 milhões

Tribunal da Concorrência valida sete casos de vantagem contratual apresentados por regulador. Grupo alega ao ECO que negociações de preços com fornecedores da Biedronka são “transparentes e honestas".

É mais uma decisão judicial desfavorável à Jerónimo Martins na Polónia. O Tribunal da Concorrência e Defesa do Consumidor (TCDC) daquele país, onde o grupo português lidera o mercado de retalho alimentar com a marca Biedronka, confirmou uma multa de 506 milhões de zloty (cerca de 118 milhões de euros) por abuso de poder negocial em relações comerciais com fornecedores de frutas e vegetais.

Alegando “[carecer] em absoluto de fundamento de facto e de direito”, a dona do Pingo Doce tinha recorrido da condenação por parte da Autoridade da Concorrência e Proteção do Consumidor (UOKiK) polaca, em dezembro de 2020, ao pagamento de 169 milhões de euros pela prática de descontos que prejudicaram os fornecedores. Porém, o tribunal acabou mesmo por validar 7 dos 214 casos apresentados de vantagem contratual, reduzindo a coima em 43,7 milhões de euros.

Insatisfeita pela impugnação não ter conduzido à “absolvição total”, a empresa decidiu recorrer para o tribunal de segunda instância. Questionada pelo ECO sobre a quantidade de processos relativos a questões concorrenciais que tem enfrentado nos últimos anos no mercado polaco, fonte oficial do grupo Jerónimo Martins assegura que “a Biedronka pauta a sua atividade pelo respeito pela lei e pela observância de princípios éticos e de responsabilidade em todas as relações que estabelece com as partes interessadas”.

“Ao longo dos últimos 30 anos, a Biedronka tem desenvolvido parcerias de longo prazo com os fornecedores, baseadas em negociações de preço transparentes e honestas, sempre focadas em oferecer aos clientes produtos da mais alta qualidade aos preços mais baixos do mercado”, reclama o grupo liderado por Pedro Soares dos Santos, remetendo detalhes sobre este recurso, “em caso de eventual evolução relevante”, para o relatório de fecho de contas do ano passado.

A Biedronka tem desenvolvido parcerias de longo prazo com os fornecedores, baseadas em negociações de preço transparentes e honestas. (…) Pauta a sua atividade pelo respeito pela lei e pela observância de princípios éticos e de responsabilidade em todas as relações.

Fonte oficial do Grupo Jerónimo Martins

Visão diferente expressou o presidente do UOKiK na sequência da decisão judicial, reforçando que “as cadeias retalhistas devem pagar aos fornecedores o preço que acordaram” antes da entrega. Citado na rede social X, Tomasz Chróstny escreveu que “este julgamento estabelece um precedente importante para todo o mercado [e] confirma o rumo de atuação adotado sucessivamente e com determinação (…) para proteger os fornecedores e os produtores de alimentos polacos”.

Num outro processo em curso na Polónia, esse relacionado com a divulgação do país de origem das frutas e produtos hortícolas ao nível da loja, o Tribunal da Relação negou provimento ao recurso da Jerónimo Martins, que já pagou a multa de 60 milhões de zloty (perto de 13 milhões de euros) em abril passado. A retalhista continua a aguardar resposta do Supremo Tribunal ao “recurso extraordinário” que interpôs, “convencida dos fundamentos jurídicos e factuais da sua posição”.

A Polónia continua a ser o grande motor de crescimento da Jerónimo Martins, com as 3.730 lojas da Biedronka, que empregam mais de 80 mil pessoas, a contribuírem para 70,4% das receitas totais da companhia. De acordo com os dados preliminares já enviados à CMVM, no ano passado, a marca da “joaninha” faturou o equivalente a 23,6 mil milhões de euros – acima dos principais concorrentes Lidl e Eurocash. É uma subida de 9,6% em termos homólogos, embora nas vendas comparáveis (like-for-like) signifique um ligeiro recuo de 0,3%.

Em Portugal, como o ECO noticiou a 10 de janeiro, ao fim de 12 anos a recorrer aos tribunais para impugnar a cobrança da Taxa de Segurança Alimentar Mais (TSAM), a Jerónimo Martins decidiu “proceder ao pagamento integral de todos os montantes faturados”. A dona das cadeias Pingo Doce, Recheio e Hussel adiantou que a liquidação do valor em dívida aconteceu no final do ano passado e ascendeu a “cerca de 30 milhões de euros, incluindo todas as faturas de 2024”.

No final de novembro, os acionistas da dona do Pingo Doce aprovaram a mudança da sede para os Países Baixos. Em causa está a transferência de Lisboa para Amesterdão da Sociedade Francisco Manuel dos Santos SE, constituída por membros dos vários ramos da família Santos, entre os quais a família Soares dos Santos, que tem como único ativo a participação (99,99%) na neerlandesa SFMS BV, através da qual controla o capital da cotada Jerónimo Martins SGPS.

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As cotadas portuguesas mais afetadas pelas políticas de Trump

As políticas protecionistas de Trump e as mais que esperadas alterações ao “Inflation Reduction Act” colocam empresas do PSI sob tensão, particularmente a família EDP e a Corticeira Amorim.

As políticas protecionistas e imprevisíveis de Donald Trump, que regressou esta segunda-feira à Casa Branca, estão a gerar preocupações entre as principais empresas portuguesas cotadas no índice PSI da Euronext Lisboa com forte exposição ao mercado norte-americano.

EDP EDP 0,00% , EDP Renováveis EDPR 0,00% e Corticeira Amorim COR 0,00% destacam-se como as mais vulneráveis às medidas anunciadas pela nova administração Trump, que prometeu impor tarifas de 10% sobre todas as importações e reverter incentivos às energias renováveis.

A EDP e a sua subsidiária EDP Renováveis são, de longe, as empresas do PSI mais expostas ao mercado norte-americano e, consequentemente, as que enfrentam maiores desafios com o regresso de Trump ao poder. E isso é bem visível no comportamento recente das ações das duas empresas, que entre 4 de novembro, um dia antes das eleições presidenciais dos EUA, e segunda-feira acumulam perdas de 14% (EDP) e de 26% (EDP Renováveis), enquanto o PSI registou uma queda marginal de 0,02% no mesmo período.

A política “America First” de Trump e a ameaça de impor tarifas de 10% sobre todas as importações podem encarecer significativamente os equipamentos e componentes que a EDP Renováveis importa para os seus parques eólicos e solares nos EUA.

Segundo o plano estratégico 2023-2026 da EDP, a empresa pretende investir cerca de 8,5 mil milhões de euros no mercado norte-americano até 2026, o que representa mais de um terço do seu investimento global previsto de 25 mil milhões de euros para o período. Já a EDP Renováveis tem mais de metade da sua capacidade instalada (51%) localizada nos EUA, de acordo com o relatório e contas de 2023.

O CEO da EDP e da EDP Renováveis, Miguel Stilwell, tem motivos para estar apreensivo. As promessas de Trump de reverter incentivos às energias renováveis e reforçar o apoio aos combustíveis fósseis ameaçam diretamente o ambicioso plano de expansão da EDP e da EDP Renováveis nos EUA.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

A nova administração já sinalizou a intenção de cancelar o Inflation Reduction Act (IRA), aprovado por Joe Biden, que, entre outros, prevê mais de meio bilião de dólares em incentivos para projetos de energia limpa, hidrogénio e tecnologias renováveis. A concretizar-se esta promessa, seria um duro golpe para a EDP Renováveis, que contava com estes apoios para expandir a sua presença no mercado norte-americano.

Com a Casa Branca e o Congresso controlados pelos republicanos, o futuro do IRA é incerto. A escassez de maiorias no Senado e na Câmara dos Representantes pode representar um desafio para os legisladores republicanos na criação de uma coligação para a revogação total da IRA, uma vez que os incentivos da IRA beneficiaram os eleitores republicanos.

“No entanto, o IRA continua a ser vulnerável, uma vez que não são necessárias coligações no Congresso para ações executivas que ponham em causa a aplicação do IRA”, referem Riki Fujii-Rajani e Sanjay Patnaik, investigadores do Instituto de Brooking, num artigo publicado recentemente.

Além disso, a política “America First” de Trump e a ameaça de impor tarifas de 10% sobre todas as importações podem encarecer significativamente os equipamentos e componentes que a EDP Renováveis importa para os seus parques eólicos e solares nos EUA.

Donald Trump toma posse como 47.º presidente dos EUA esta segunda-feira, esperando-se que logo nas primeiras horas do seu mandato assine cerca de 200 ordens executivas.Lusa

Rolhas e papel também estão sob pressão

A Corticeira Amorim é outra empresa do PSI com uma exposição significativa ao mercado norte-americano que poderá ser afetada pelas políticas de Trump. Desde 4 de novembro, a cotação das ações da Corticeira Amorim resvalaram 4,6%.

Segundo o último relatório e contas anual, os EUA são o segundo maior destino das vendas da empresa liderada por António Rios de Amorim, com uma quota de mercado de 16,4%, logo após a França.

A ameaça de Trump de impor tarifas de 10% sobre todas as importações poderia encarecer significativamente os produtos da Corticeira Amorim no mercado norte-americano, reduzindo potencialmente a sua competitividade face a alternativas locais. Além disso, a empresa possui uma unidade industrial nos EUA, a Amorim Cork Composites, que poderá ser afetada por eventuais restrições à importação de matérias-primas ou componentes.

A Navigator NVG 0,00% , uma das maiores produtoras mundiais de papel de impressão e escrita, enfrenta também desafios significativos com as políticas protecionistas de Donald Trump. Embora o relatório e contas de 2023 da empresa não especifique a percentagem exata de receitas provenientes dos EUA, as vendas para mercados fora da Europa são cruciais para a Navigator. Em 2023, as flutuações cambiais tiveram um impacto negativo líquido de cerca de 16 milhões de euros no EBITDA da empresa, indicando uma exposição considerável a mercados internacionais, incluindo os EUA.

A situação da Navigator é ainda mais complexa devido ao prolongamento em 2022 do processo anti-dumping que o Departamento de Comércio dos EUA tem em curso contra a empresa. Este processo, que foi estendido por mais cinco anos, pode resultar em tarifas adicionais sobre os produtos da Navigator no mercado norte-americano.

As potenciais tarifas de 10% sobre as importações, propostas por Trump, somadas às possíveis tarifas anti-dumping, poderiam afetar drasticamente a competitividade dos produtos da Navigator nos EUA.

As políticas de Trump têm o potencial de afetar significativamente várias empresas do PSI, seja diretamente através de tarifas e restrições comerciais, seja indiretamente através de mudanças nas dinâmicas globais de mercado.

Efeito de contágio em Portugal

Entre as 15 empresas que compõem atualmente o PSI, destaque ainda para as retalhistas Sonae SON 0,00% e Jerónimo Martins JMT 0,00% que, embora não tenham operações diretas nos EUA, poderão sentir os efeitos indiretos das políticas de Trump de maneiras significativas.

As tarifas sobre importações podem levar a um aumento generalizado dos preços dos produtos importados, afetando as cadeias de abastecimento globais destas retalhistas. Isso pode pressionar as margens das operações empresas, forçando a Sonae e a Jerónimo Martins a procurar fornecedores alternativos ou a repassar os aumentos de custos aos consumidores.

Além disso, as políticas protecionistas de Trump poderiam afetar o poder de compra dos consumidores em mercados onde a Sonae e a Jerónimo Martins operam, especialmente se houver uma desaceleração económica global como resultado de tensões comerciais.

A Galp Energia GALP 0,00% é outra das empresas do PSI que pode ser implicada pelas políticas energéticas de Trump. A promessa de impulsionar a produção de petróleo e gás nos EUA, espelhada num dos slogans da sua campanha “We will drill baby, drill” (“Vamos perfurar, perfurar”, numa tradução livre) que foi repetido uma vez mais na segunda-feira por Trump no discurso de tomada de posse, pode levar a uma maior oferta global do ouro negro, pressionando potencialmente os preços do petróleo.

A confirmar-se esta dinâmica, naturalmente as margens da Galp seriam afetadas, tanto nas suas operações de upstream (exploração e produção) quanto nas de downstream (refinação e distribuição).

Além disso, as políticas de Trump relativamente ao acordo nuclear com o Irão e as sanções a países produtores de petróleo poderiam causar volatilidade nos preços globais do petróleo, afetando a previsibilidade das receitas da Galp.

As políticas de Trump têm o potencial de afetar significativamente várias empresas do PSI, seja diretamente através de tarifas e restrições comerciais, seja indiretamente por mudanças nas dinâmicas globais de mercado. Às empresas portuguesas caberá demonstrarem agilidade e adaptabilidade sobre cada uma das medidas que Trump venha a aprovar.

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Dona do Pingo Doce paga dívida de 30 milhões ao Estado por taxa contestada em tribunal

Sem deixar cair ações judiciais e queixa a Bruxelas, Jerónimo Martins liquida taxa de segurança alimentar que recusava pagar desde 2012. Já rendeu 130 milhões e Governo diz que “será para manter".

Ao fim de 12 anos a recorrer aos tribunais portugueses para impugnar a cobrança da Taxa de Segurança Alimentar Mais (TSAM), a Jerónimo Martins JMT 0,00% decidiu “proceder ao pagamento integral de todos os montantes faturados”. A retalhista adianta ao ECO que a liquidação do valor em dívida aconteceu no final do ano passado e ascendeu a “cerca de 30 milhões de euros, incluindo todas as faturas de 2024”.

Ainda assim, o grupo liderado por Pedro Soares dos Santos, que detém as cadeias Pingo Doce, Recheio e Hussel, ressalva ao ECO que vai “manter as impugnações judiciais em curso”, com que tem avançado de seis em seis meses. Assim como a queixa feita à Comissão Europeia em junho de 2019, em que alegou também estar em causa “um auxílio ilegal do Estado”, e que continua sem resposta por parte do Executivo comunitário.

Não obstante continuarmos convencidos da injustiça da TSAM e considerando a demora da Comissão Europeia em pronunciar-se (…), não sendo possível antecipar quando tal pronúncia possa vir a ter lugar, foi decidido proceder ao pagamento integral de todos os montantes faturados.

Fonte oficial do grupo Jerónimo Martins

Em causa está uma taxa criada em 2012 pelo Governo de Pedro Passos Coelho e mantida no consulado de António Costa – e agora pelo Executivo de Luís Montenegro. Paga em função da área de vendas, com um valor de sete euros por metro quadrado (m2), aplica-se aos estabelecimentos de comércio alimentar com mais de 2.000 metros quadrados ou que tenham várias lojas em Portugal que perfaçam mais de 6.000 m2.

“Não obstante continuarmos convencidos da injustiça da TSAM e considerando a demora da Comissão Europeia em pronunciar-se sobre a queixa apresentada pela Jerónimo Martins e outros [operadores], não sendo possível antecipar quando tal pronúncia possa vir a ter lugar, foi decidido proceder ao pagamento integral de todos os montantes faturados”, detalha fonte oficial da distribuidora, que viu os lucros caírem 21% até setembro, para 440 milhões de euros.

Pedro Soares Santos, presidente do grupo Jerónimo MartinsMANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Porém, durante o ano passado, antes de em dezembro pagar o valor em dívida, já tinha sido obrigada a entregar perto de cinco milhões de euros ao Estado. É que algumas decisões a favor da constitucionalidade desta taxa já tinham transitado em julgado e “nesses casos o pagamento teve de ser efetuado”. Por isso, no último relatório e contas, relativo ao terceiro trimestre, já “só” contabilizava em 21,3 milhões de euros as “taxas em discussão nos tribunais” relativas ao Pingo Doce, Recheio e Hussel.

As sociedades participadas pela MC têm procedido ao pagamento da Taxa de Segurança Alimentar Mais e, à semelhança de anos anteriores, têm impugnado a mesma junto dos tribunais.

Fonte oficial da MC (grupo Sonae)

O Ministério da Agricultura confirma ao ECO que a retalhista controlada pela holding Sociedade Francisco Manuel dos Santos, que vai mudar a sede para os Países Baixos, era “o único operador económico” a impugnar judicialmente a liquidação da TSAM, “não procedendo ao respetivo pagamento, na medida em que o recurso tem efeito suspensivo”.

Apesar de também continuar a recorrer à justiça, a concorrente MC, dona dos supermercados Continente e Meu Super, optou desde o início por pagar os montantes relacionados com essa taxa.

“Confirmamos que as sociedades participadas pela MC têm procedido ao pagamento da Taxa de Segurança Alimentar Mais e, à semelhança de anos anteriores, têm impugnado a mesma junto dos tribunais, em defesa dos seus direitos, nomeadamente por se discordar da natureza e razão de ser desta taxa”, respondeu ao ECO a principal empresa do grupo Sonae, liderado por Cláudia Azevedo.

Taxa já rendeu 130 milhões e “será para manter”, diz Governo

Implementada pela então ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, para suportar os custos inerentes ao cumprimento das normas europeias em matéria de qualidade e segurança alimentar, e proteção animal e vegetal, desde junho de 2012, a receita arrecadada com a taxa de segurança alimentar já supera os 130 milhões de euros. É que, segundo contas da tutela, até este pagamento da Jerónimo Martins já tinham entrado 99,9 milhões de euros nos cofres do Estado.

Esta taxa que integra o Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar, dirigido pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), é liquidada em abril e deve ser paga em duas prestações de montante igual, em maio e outubro. Começou por ter um valor de 4,08 euros por metro quadrado de área de venda do estabelecimento comercial, logo em 2013 subiu para sete euros e, desde então, permanece inalterado. O Ministério liderado por José Manuel Fernandes garante ao ECO que “a taxa será a mesma” em 2025 e afasta a possibilidade de deixar de ser cobrada.

Tendo em vista a manutenção destes controlos, na sua grande maioria impostos por legislação europeia, cujos resultados beneficiam todos os consumidores, constituindo ainda elemento promotor para o comércio externo, a taxa será para manter.

Fonte oficial do Ministério da Agricultura

“A TSAM destina-se a financiar ações conducentes à salvaguarda da saúde pública, através da realização de controlos oficiais no âmbito da sanidade animal, sanidade vegetal e segurança dos alimentos. A receita proveniente desta taxa acolhe os custos inerentes à aquisição de análises laboratoriais, aquisição de vacinas, medicamentos, abate e destruição de animais e projetos com vista ao incentivo ao desenvolvimento da qualidade dos produtos agrícolas e património genético”, justifica o Governo.

Assim, acrescenta fonte oficial do Ministério, “tendo em vista a manutenção destes controlos, na sua grande maioria impostos por legislação europeia, cujos resultados beneficiam todos os consumidores, constituindo ainda elemento promotor para o comércio externo, a taxa será para manter”. “Na prática, as ações levadas a cabo através do financiamento da TSAM, consubstanciam uma garantia para o consumidor de que os alimentos postos à venda mantêm a respetiva qualidade e genuinidade”, concluiu a tutela.

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Dona da Jerónimo Martins muda a sede para os Países Baixos

Sociedade Francisco Manuel dos Santos muda-se de Lisboa para Amesterdão, onde já está a participada que controla o Pingo Doce e tem “soluções jurídicas mais eficientes e flexíveis" do que em Portugal.

A Sociedade Francisco Manuel dos Santos SE (SFMS SE) prepara-se para transferir também a sede social para os Países Baixos. Constituída por membros dos vários ramos da família Santos, entre os quais a família Soares dos Santos, tem como único ativo a participação (99,99%) na neerlandesa SFMS BV, através da qual controla (56,136%) o capital da cotada Jerónimo Martins SGPS, dona do Pingo Doce e do Recheio em Portugal.

De acordo com o projeto, a que o ECO teve acesso, esta sociedade anónima europeia de direito português, instalada até agora no Largo Monterroio Mascarenhas, em Lisboa, pretende mudar a sede social para Amesterdão. O conselho de administração quer que o processo “fique concluído até ao final do ano de 2024, após o que será solicitado, logo que possível, o registo da nova sede nos Países Baixos e o consequente cancelamento do registo na Conservatória do Registo Comercial em Portugal”.

A proposta assinada por Maria de Lourdes Soares Alexandre dos Santos e José Manuel da Silveira e Castro Soares dos Santos, com data de 25 de setembro, vai ser votada na reunião da Assembleia Geral agendada para as 11 horas do dia 29 de novembro. Ponto único: “deliberar sobre a transferência da sede social para a Holanda, com a consequente alteração integral dos estatutos da sociedade e nomeação dos órgãos sociais, incluindo o órgão de administração”.

O movimento concretizado em 2012 procurou assegurar uma maior capacidade de investimento e acesso a mercados financeiros de maior dimensão, no contexto do crescimento da SFMS. Esta é mais uma fase que decorre do contexto de expansão internacional do grupo.

Fonte oficial da Sociedade Francisco Manuel dos Santos

Questionada pelo ECO, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos justifica que “este movimento é a natural continuação da internacionalização e do crescimento” desta holding e garante que “não tem impacto na carga fiscal da sociedade e dos acionistas, nomeadamente na que incide sobre a distribuição de dividendos”. Realça ainda que “não há nenhuma implicação para a Jerónimo Martins SGPS”, sendo a empresa de distribuição cotada e sediada em Portugal, “enquanto a SFMS SE é uma sociedade privada”.

Foi em janeiro de 2012 que a Sociedade Francisco Manuel dos Santos anunciou a venda da participação à volta de 56% na Jerónimo Martins à subsidiária nos Países Baixos, que tem o mesmo nome que a empresa portuguesa e que foi criada em 2007 como veículo para os seus investimentos. Uma transferência de propriedade que gerou polémica, numa altura em que o país estava sob intervenção da troika, e que originou várias semanas de acesa discussão no meio político e nas redes sociais.

“O movimento concretizado em 2012 procurou assegurar uma maior capacidade de investimento e acesso a mercados financeiros de maior dimensão, no contexto do crescimento da SFMS. Esta é mais uma fase que decorre do contexto de expansão internacional do grupo”, sublinha agora, através de fonte oficial, a sociedade cuja origem remonta há 83 anos. Atualmente liderada por Pedro Soares dos Santos, que é também presidente e administrador da Jerónimo Martins, segundo dados da Informa D&B registou em 2023 lucros de 439,8 milhões de euros, 68% acima do ano anterior.

A SFMS BV tem participações em empresas com atividade “primordialmente” em Portugal, nos Países Baixos, Polónia, Colômbia, Eslováquia, EUA, Alemanha e Suíça – e “tem vindo a crescer, através das suas empresas participadas e aplicando os seus investimentos em diversos países”. Neste contexto, alega que “os Países Baixos disponibilizam soluções jurídicas para a expansão das empresas e para a organização efetiva dos acionistas que são mais eficientes e flexíveis do que os modelos existentes em Portugal”.

Esta é a segunda tentativa de transferir para Amesterdão a sede social da antiga SFMS SA – a sociedade com o nome do empresário que liderou a Jerónimo Martins entre 1921 e 1955 foi, entretanto, transformada em Sociedade Anónima Europeia (SE). Uma proposta semelhante tinha sido levada igualmente a deliberação da assembleia-geral em dezembro de 2016, mas acabou chumbada.

“Na altura, os acionistas entenderam não ser ainda necessário fazer esse movimento. Volvidos praticamente oito anos, o portefólio da SFMS cresceu e diversificou-se, voltando a fazer sentido a proposta de transferência”, esclarece a mesma fonte.

Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins MANUEL DE ALMEIDA/LUSA 7 março, 2024

em julho deste ano foi realizado um aumento de capital nesta mesma sociedade no montante de 1.248 milhões de euros, para 1.257,6 milhões de euros, por incorporação de reservas existentes à data. Fonte oficial explica que esta operação concretizada no verão passado “é totalmente independente da proposta de mudança de sede”. “Trata-se meramente de uma operação contabilística que implica uma alteração de rubricas de capitais próprios, aumentando o compromisso acionista com a sociedade”, completa.

Nos primeiros nove meses deste ano, os lucros da Jerónimo Martins baixaram 21,2% para 440 milhões de euros devido à descida dos preços alimentares, aliada a um aumento dos custos, o que se tem refletido numa “forte pressão sobre as margens”. Apesar da redução do resultado líquido, a faturação cresceu 10,3% até setembro, para 24,8 mil milhões, como reportou à CMVM o grupo de distribuição que detém também a retalhista alimentar Biedronka e as drugstores Hebe na Polónia – o principal mercado, com um peso de 70,5% nas vendas totais –, a cadeia de supermercados Ara na Colômbia e que está agora a lançar a operação na Eslováquia.

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BCE e Galp “ligam” máximos de uma década em Lisboa

2024 está a ser amigo para as bolsas. "Pior já ficou para trás", admitem analistas. Lisboa escala para máximos de dez anos. Galp brilha com descoberta de petróleo na Namíbia. O que esperar a seguir?

O ano de 2024 tem sido amigo para as bolsas. Lisboa acumula ganhos de 8% desde o início do ano e encontra-se a negociar no nível mais elevado em dez anos. A perspetiva de alívio dos juros está a animar os investidores. O Banco Central Europeu (BCE) poderá cortar as taxas já no próximo mês. E o facto de os principais índices de ações estarem em máximos históricos leva a crer que o pior já passou, segundo os analistas.

Apesar do bom desempenho, o PSI — que dá um pulo de mais de 1% esta sexta-feira, para 6.907,01 pontos, o valor mais elevado desde junho de 2014 — está longe de acompanhar os ganhos de 16% do Stoxx 600, o índice de referência europeu. Melhor performance regista o alemão DAX, que soma 20% no mesmo período.

Mas a praça nacional não sai tão mal na fotografia se compararmos com os desempenhos dos principais índices de Espanha e França: o madrileno IBEX-35 valoriza 9,4% e o CAC-40 de Paris avança quase 7%.

PSI escala para máximos de uma década

Fonte: Refinitiv

“O bom desempenho dos mercados bolsistas este ano (não só na Europa, mas também nos EUA) deve-se ao facto de o combate à inflação estar num bom caminho e de as perspetivas de alívio das políticas monetárias dos bancos centrais a curto prazo, em particular o BCE, estarem a apoiar as valorizações destes mercados”, explica Henrique Tomé, analista da XTB.

“Apesar de se a inflação ter vindo a revelar algo mais persistente do que o desejado pelos bancos centrais, limitando assim a sua margem de manobra em termos de cortes de taxas, a verdade é que assumiu uma tendência consistentemente decrescente que permite ao mercado projetar taxas de juro mais baixas para um futuro próximo, ajudando assim também a justificar as elevadas avaliações do mercado acionista”, completa Fernando Castro e Sollar, partner da Baluarte.

"A verdade é que já se assumiu uma tendência consistentemente decrescente que permite ao mercado projetar taxas de juro mais baixas para um futuro próximo, ajudando assim também a justificar as elevadas avaliações do mercado acionista.”

Fernando Castro e Solla

Partner da Baluarte

Tomé adianta ainda que com os principais índices bolsistas na Europa em máximos históricos, e numa altura em que começam a surgir sinais de melhorias na dinâmica económica, “os mercados estão a assumir que a pior fase em termos de macroeconómica já passou”.

Fernando Castro e Solla concorda: “Parece agora mais evidente que a temida recessão económica terá sido evitada“.

Em suma, estamos perante “um contexto que agrada aos mercados: crescimento com inflação controlada e resultados em alta“, destaca o responsável da Baluarte.

Stoxx soma o dobro do PSI

Fonte: Refinitiv

Namíbia dá asas à Galp

O ano tem sido particularmente positivo para meia dúzia de cotadas nacionais, com a Galp GALP 0,00% em grande evidência.

As ações da petrolífera já valorizaram quase 50% desde 1 de janeiro. Os ganhos aceleraram depois da descoberta de petróleo muito promissora na Namíbia e permitiram à Galp retirar à EDP o título de maior cotada da bolsa de Lisboa.

Para CTT, BCP, Navigator, Semapa e Altri o ano de 2024 também tem sido bastante positivo. Cada cotada tem uma história diferente para apresentar, mas todas acumulam ganhos na ordem dos 20%.

“Os resultados fortes e as suas perspetivas futuras impulsionaram os preços das ações dessas empresas. Estas empresas encontram-se em setores que beneficiaram dos seus contextos”, explica Henrique Tomé.

“BCP e CTT beneficiaram da subida das taxas de juro por parte do BCE. No caso da Galp, beneficiou do contexto geopolítico e da descoberta na Namíbia, e as produtoras de papel beneficiaram do preço da matéria-prima”, frisa o analista da XTB.

Winners and losers no PSI

Fonte: Refinitiv

Nem todos têm razões para sorrir, ainda assim. Três pesos pesados da bolsa registam perdas este ano, desempenhos que condicionam a performance geral do PSI.

A EDP Renováveis EDPR 0,00% perde mais de 21% este ano e a casa-mãe EDP EDP 0,00% cede quase 19%, o que também ajuda a explicar a ultrapassagem da Galp como cotada portuguesa mais valiosa.

As ações da Jerónimo Martins acumulam uma desvalorização de 13%.

"BCP e CTT beneficiaram da subida das taxas de juro por parte do BCE. No caso da Galp, beneficiou do contexto geopolítico e da descoberta na Namíbia, e as produtoras de papel beneficiaram do preço da matéria-prima.”

Henrique Tomé

Analista da XTB

O que esperar a seguir?

Para Henrique Tomé, os dados da economia estáveis dão margem para “mais aumentos generalizados em todas as empresas” do PSI, “em linha com os índices europeus”.

Ainda assim, o analista recomenda que se esteja atento à “trajetória da inflação” e, ligado a isso, ao rumo “das políticas monetárias”, e ainda aos resultados das empresas cotadas. Estes fatores devem estar no centro das atenções e “deverão ser o driver dos mercados” nos próximos tempos.

Fernando Castro e Solla sublinha o fenómeno da Inteligência Artificial que vai continuar a impulsionar, “em primeira linha, todo o universo de empresas tecnológicas mais diretamente ligadas ao ecossistema que lhe está associado, mas dando já alguns sinais de arrastamento de outras áreas da economia que por outras vias, nomeadamente por via dos ganhos de produtividade, são também beneficiários líquidos do fenómeno”.

Mas “há naturalmente um conjunto de riscos presentes no atual contexto e vários deles com potencial para perturbar este ambiente de glodilocks (de equilíbrio ideal)”, atira o partner da Baluarte.

“Até ao momento têm sido menos valorizados pelo mercado”, com os investidores mais atentos ao desempenho económico das empresas.

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Galp leva PSI a melhor desempenho semanal em mais de um ano

O PSI encerrou a semana com ganhos de 5,04%. É o melhor desempenho semanal desde 31 de março de 2023, com 85% destes a serem gerados somente à conta da subida explosiva de 28% das ações da Galp.

O principal índice da Euronext Lisboa teve uma semana memorável, com o PSI a valorizar 5,04% até aos 6.612,51 pontos. Apesar de nem todas as 16 empresas que constituem o índice nacional terem fechado a semana com ganhos, o PSI teve o melhor desempenho semanal desde 31 de março de 2023.

“Em termos agregados, o PSI apresenta um desempenho muito bom, que surge de fatores muito específicos”, salienta Carlos Pinto, gestor do fundo de ações nacionais Optimize Portugal Golden Opportunities, lembrando que o “PSI tem uma elevada concentração”, dando como exemplo o facto de a Galp Energia GALP 0,00% pesar 15,5% no índice e esta semana ter registado o melhor desempenho semanal desde 9 de novembro 2007, com as ações a subirem 28,05%.

Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

A sustentar o comportamento positivo do PSI ao longo desta semana esteve naturalmente o desempenho dos títulos da Galp Energia, que chegaram a disparar mais de 20% na sessão de 22 de abril com o anúncio de uma importante descoberta comercial numa exploração que a petrolífera tem na Namíbia, e que colocou as ações da empresa a negociarem no valor histórico de 20,68 euros.

Segundo contas do ECO, 85% dos ganhos gerados pelo PSI esta semana foram da inteira responsabilidade da petrolífera.

“A Galp mostrou um sólido aumento percentual no mês, ajudando a elevar o índice”, destaca João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, mas alerta os investidores a terem alguma cautela, referindo que o indicador de análise técnica RSI a 14 dias (que mede a força do movimento das cotações de um ativo comparando os ganhos médios com as perdas médias durante um determinado período) “indica uma possível condição de sobrecompra que pode levar a uma consolidação ou retração no curto prazo” das ações.

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PSI para lá da energia da Galp

Para lá da petrolífera, que tem marcado para o final da próxima semana (30 de abril) a apresentação das suas contas do primeiro trimestre, esteve também em grande destaque ao longo de toda a semana as ações do BCP BCP 0,00% , que acumularam ganhos de 6,47% nas últimas cinco sessões, com os títulos a fecharem esta sexta-feira nos 0,3242 euros após uma subida diária de 1,44%, “demonstrando as perspetivas positivas com a margem juros a alimentar de forma virtuoso o setor bancário europeu”, refere João Queiroz.

Ponto positivo também para o desempenho semanal de 7% da Jerónimo Martins JMT 0,00% , que somente esta sexta-feira chegou a subir mais de 9,3% após a apresentação dos resultados do primeiro trimestre mostrarem um crescimento dos resultados operacionais em todos os seus segmentos e um aumento de 18,6% das vendas para 8,1 mil milhões de euros.

No entanto, as ações da retalhista, que desde o início do ano acumulam uma desvalorização de quase 17%, acabaram por fechar a sessão desta sexta-feira a subir 2,15% para os 19,11 euros (apenas superado pela subida de 3,54% da Mota-Engil EGL 0,00% ), após a empresa colocar alguma água na fervura, indicado que o ambiente económico é mais desafiante e reafirmando, uma vez mais em conferência com os analistas, a intenção de “continuar a investir em ganhar quota de mercado nos mercados em que opera, que poderá significar estar disponível a pressionar alguma da sua margem em períodos mais desafiantes para conquistar a confiança dos consumidores”, refere Carlos Pinto.

Entre os títulos mais penalizados durante a semana histórica do PSI estiveram as ações da Nos NOS 0,00% , que apesar de nesta sexta-feira terem subido 1,08% até aos 3,28 euros, foram a lanterna vermelha desta semana ao resvalarem quase 9%.

A pressionar também o PSI estiveram as ações da EDP EDP 0,00% , que apesar de terem fechado a sessão desta sexta-feira com ganhos de 0,83%, fecharam a semana a perder 2,33% e com quatro sessões consecutivas no vermelho. Desde o início do ano que as ações da EDP acumular perdas de 22,7%.

Desde o início do ano que o PSI acumula ganhos de 3,42%. No entanto, até ao final da passada sexta-feira (19 de abril), o principal índice da Euronext Lisboa contabilizava uma desvalorização de 1,6% em 2024. “Após um período de desempenho mais moderado ou até negativo, o PSI passou por fase de correção e consolidação que resulta numa recuperação rápida conjugada com um facto relevante da Galp que detém um ativo que sofreu uma tremenda avaliação positiva ou mesmo explosiva e a Jerónimo Martins que reviu em alta as vendas do primeiro trimestre”, resume João Queiroz.

O PSI contou assim uma semana muito positiva, sendo impulsionado por ganhos de várias das suas principais ações, “apesar de alguns sinais de sobrecompra com 5 das 16 cotadas próximas ou em sobrecompra (RSI 14 dias > 70%)“, destaca João Queiroz, mas que também não deixa de notar que “o ímpeto geral ainda parece favorável.

Para as próximas semanas, que serão fortemente impactadas pela apresentação das contas do primeiro trimestre das 16 empresas do PSI, o responsável do Banco Carregosa considera que os números que serão revelados “podem ajudar a impulsionar a confiança dos investidores, resultando em compras substanciais e, consequentemente, uma valorização a prazo do índice.”

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Jerónimo Martins dispara 9%. Investidores aplaudem resultados

As ações da Jerónimo Martins subiram cerca de 9% depois de ter apresentado resultados trimestrais. Empresa tem tido um ano negativo na bolsa, mas esta pode ser a melhor sessão desde o verão de 2023.

O ano tem sido negativo na bolsa para a Jerónimo Martins, mas as ações da empresa que detém o Pingo Doce estão com novo fôlego esta sexta-feira, depois de ter apresentado resultados trimestrais. Cerca das 8h30, os títulos estavam a somar 9%, para 20,3 euros.

Se mantiver a tendência até ao fecho, será a melhor sessão para a Jerónimo Martins desde que subiu mais de 5% em junho de 2023. Apesar de ter revelado uma quebra nos lucros trimestrais de quase 31%, as vendas subiram e superaram os oito mil milhões de euros entre janeiro e março. O menor lucro é explicado pela dotação inicial para a constituição da Fundação Jerónimo Martins.

Este forte desempenho estava a erguer a praça nacional em mais de 2%. A retalhista era a cotada que mais subia entre todos os membros do PSI, a cotar em cerca de 6.673 pontos.

Confrontada com uma conjuntura de descida dos preços dos bens alimentares e aumento dos custos por causa da inflação, a dona dos hipermercados Pingo Doce apresentou esta sexta-feira uma descida percentual de dois dígitos nos lucros do primeiro trimestre — que, ainda assim, atribui à dotação inicial para a criação da sua nova Fundação, pois as vendas cresceram.

A Jerónimo Martins fechou o primeiro trimestre com um lucro de 97 milhões de euros, menos 30,7% do que nos primeiros três meses do ano passado, apesar do crescimento de quase 19% nas vendas e prestação de serviços. A queda é justificada pelo grupo com a “dotação inicial de 40 milhões de euros da recém-criada Fundação Jerónimo Martins”, pelo que o resultado líquido do período, “se excluídos os outros ganhos e perdas de natureza não recorrente”, está “em linha com o mesmo trimestre do ano anterior”, refere a empresa.

Evolução da Jerónimo Martins na bolsa de Lisboa:

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Jerónimo Martins com menos lucro mas crescimento nas vendas

Deflação alimentar, aliada à inflação nos custos, é conjuntura "particularmente desafiante" para a dona do Pingo Doce. Lucros caem por causa da dotação inicial da nova Fundação Jerónimo Martins.

Confrontada com uma conjuntura de descida dos preços dos bens alimentares e aumento dos custos por causa da inflação, a dona dos hipermercados Pingo Doce apresentou esta sexta-feira uma descida percentual de dois dígitos nos lucros do primeiro trimestre — que, ainda assim, atribui à dotação inicial para a criação da sua nova Fundação, pois as vendas cresceram.

A Jerónimo Martins JMT 0,00% fechou o primeiro trimestre com um lucro de 97 milhões de euros, menos 30,7% do que nos primeiros três meses do ano passado, apesar do crescimento de quase 19% nas vendas e prestação de serviços. A queda é justificada pelo grupo com a “dotação inicial de 40 milhões de euros da recém-criada Fundação Jerónimo Martins”, pelo que o resultado líquido do período, “se excluídos os outros ganhos e perdas de natureza não recorrente”, está “em linha com o mesmo trimestre do ano anterior”, refere a empresa.

“Entrámos em 2024 conscientes de que a conjugação da deflação alimentar com a inflação nos custos iria intensificar o ambiente concorrencial nos diferentes mercados, em especial na Polónia. Mantivemos, por isso, um foco inabalável na liderança de preço como forma de continuar a crescer volumes e a reforçar as nossas posições competitivas”, diz o presidente e administrador delegado, Pedro Soares dos Santos, citado num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), esta sexta-feira.

A estratégia levou “todas as insígnias do grupo a entregar, nos primeiros três meses do ano, crescimentos de vendas na mesma base de lojas e para além do efeito positivo do calendário, apesar da inflação negativa ou nula registada nos respetivos cabazes”, afirma ainda o gestor, salientando que “o desafio adicional de operar num contexto de deflação alimentar e elevada inflação de custos manter-se-á”.

No relatório enviado esta sexta-feira ao regulador dos mercados de capitais, a Jerónimo Martins indica que o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) aumentou 13,9%, para 508 milhões de euros. Para tal ajudou o crescimento das vendas: entre janeiro e março, o grupo aumentou as vendas e prestação de serviços em 18,6% em termos homólogos, para 8.066 milhões de euros

A margem de EBITDA fixou-se nos 6,3%, reduzindo-se em 26 pontos base face ao mesmo trimestre do ano passado, “pressionada pelo investimento em preço e pela inflação nos custos”, segundo a Jerónimo Martins. Os custos operacionais agravaram-se em 18% e alcançaram 1.142 milhões.

No final do mês de março, a dívida líquida da Jerónimo Martins era de 2.583 milhões de euros, um aumento face aos 2.097 milhões registados a 31 de dezembro de 2023.

O desafio adicional de operar num contexto de deflação alimentar e elevada inflação de custos manter-se-á.

Pedro Soares dos Santos

CEO da Jerónimo Martins

Cotação das ações da Jerónimo Martins em Lisboa:

Promoções e promoções

Analisando os diferentes mercados onde opera o grupo, destaca-se a Polónia. A empresa fala “num mercado mais promocional do que nunca e marcado pelo notório reforço da comunicação centrada no fator preço”. “As vendas em moeda local cresceram 9,3%, com um LFL [like for like] de 4,6%. Em euros, as vendas atingiram os 5,8 mil milhões, mais 18,8% do que no primeiro trimestre de 2023″, destaca. No período, o grupo abriu 28 lojas desta insígnia.

Já a Hebe viu as vendas crescerem, em euros, quase 40%, para 130 milhões de euros, tendo fechado o mês de março com sete novas lojas na Polónia. Existem já 350 lojas Hebe naquele país e duas na República Chega, refere a empresa portuguesa.

Em Portugal, o Pingo Doce também “manteve uma intensa estratégia promocional e registou um robusto crescimento das vendas, impulsionado também pela categorial de meal solutions. O bom progresso dos volumes e o efeito positivo de calendário mais do que compensaram a deflação registada no cabaz”, diz a empresa. Feitas as contas, as vendas subiram 8,3%, para 1,2 mil milhões de euros, com um LFL de 9,5%, excluindo combustível. Uma loja Pingo Doce foi inaugurada neste trimestre.

No grossista Recheio, as vendas somaram 2,7% e chegaram a 303 milhões de euros. “O EBITDA da Distribuição Portugal cifrou-se em 78 milhões de euros, 1,7% acima do mesmo trimestre do ano anterior, tendo a respetiva margem atingido 5,3%”, contra 5,6% no trimestre homólogo, encolhendo por causa do “foco no investimento em preço” e “inflação registada nos custos”.

Na Colômbia, onde opera a Ara, “em moeda local, as vendas cresceram 20%, com um LFL de 5,8%”. Em euros, atingiram 711 milhões, um crescimento de quase 44%. Foram acrescentadas 27 novas lojas ao portefólio nos três meses iniciais de 2024.

Os investidores gostaram do que viram. As ações da empresa subiam 7,68% na bolsa de Lisboa ao fim de dez minutos de negociações, superando os 20 euros cada título.

(Notícia atualizada pela última vez às 8h11)

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Preços mais altos nos alimentos sem reflexo nas margens das retalhistas

A elevada subida dos preços dos alimentos em 2023 não se refletiu em maiores margens de lucro das retalhistas. Com os preços a cair, 2024 pode ser um ano de viragem.

2023 voltou a ser um ano marcado por uma elevada inflação nos preços dos alimentos. Apesar do ano ter terminado com uma forte desaceleração dos preços, os primeiros meses de 2023 ainda marcaram aumentos que chegaram a um máximo de 20%. Apesar desta escalada, as margens das maiores retalhistas nacionais não evidenciam um aproveitamento desta conjuntura. Pelo contrário, têm contraído.

O último ano marcou uma inversão da subida galopante dos preços. A inflação média anual foi de 4,3% em 2023, abaixo dos 7,8% fixados um ano antes. Contudo, olhando apenas para os produtos alimentares, os números permanecem substancialmente mais elevados: os preços dos alimentos não transformados abrandaram para 9,5% em 2023, o que compara com 12,2% em 2022.

“As variações médias [dos produtos alimentares não processados] em 2023 foram de 14,7% no primeiro semestre e 4,8% no segundo, resultado de uma trajetória de diminuição progressiva das taxas homólogas a partir de maio (quando a maioria dos produtos considerados neste agregado passou a estar isenta de IVA)”, explica o Instituto Nacional de Estatística (INE). O IVA zero, num cabaz de 46 produtos, entrou em vigor em abril do ano passado e terminou no final do ano, uma medida que permitiu um alívio nos preços.

A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) defendeu que a isenção de IVA para 46 categorias de produtos foi uma medida “muitíssimo bem-sucedida do ponto de vista alimentar”, que permitiu uma poupança significativa às famílias. “Baixámos o IVA em 46 categorias de produtos, que representam, em muitas lojas, 10.000/15.000 produtos e achamos que o nosso papel, enquanto promotores de preços equilibrados, foi cumprido”, afirmou o diretor-geral da APED, Gonçalo Lobo Xavier.

Um relatório publicado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal refere que o anúncio da isenção temporária de IVA num cabaz de produtos alimentares “levou a um ajuste antecipado de preços” de 1,27%. Por outro lado, quando a medida foi revertida, a passagem da subida dos preços para os consumidores foi menor do que a esperada, adianta o Banco de Portugal.

Tal como já tinha sido avançado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o Banco de Portugal estima que o fim do IVA zero teve um impacto de 0,7 pontos percentuais sobre a variação do índice de preços no consumidor.

O aumento de preços [para os clientes finais] foi menos de metade do aumento de preços que nos chegou dos produtores. Houve um esforço muito grande de contenção de preços, tanto é assim que tivemos uma quebra de rentabilidade no retalho alimentar em 2023.

João Dolores

Administrador Financeiro da Sonae

O anterior ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, chegou a dizer que existe uma “divergência muito grande em alguns produtos entre os preços de aquisição e de venda ao público” — afirmações veementemente rebatidas pelo setor. Tanto a Sonae, que detém os supermercados Continente, como a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, dizem estar a controlar a subida dos preços e a absorver o aumento dos custos, com impacto na sua rentabilidade. Mas o que mostram os números?

Apesar das duas maiores redes de supermercados em Portugal — Continente e Pingo Doce — terem conseguido aumentar as suas receitas e EBITDA, quando se olha para as margens do negócio, estas não estão a aumentar e, em alguns casos, até espelham um abrandamento.

  • O negócio da Sonae MC, que detém o Continente, fechou o ano de 2023 com uma margem EBITDA (margem de lucro operacional) de 9,7%, acima dos 9,5% registados um ano antes, mas mantendo-se abaixo dos mais de 10% registados nos anos anteriores. Ou seja, por cada 100 euros de vendas realizadas, a Sonae contabilizou lucros operacionais de 9,7 euros. Quando se analisa a margem líquida (rácio entre o resultado líquido e as receitas), este indicador está em queda, revelando uma quebra de rentabilidade. Depois de já ter caído de 3% em 2021 para 2,7% em 2022, a margem líquida voltou a baixar para 2,6% no ano passado, adiantou João Dolores na apresentação de resultados anuais, falando numa “contração ligeira” neste indicador e prometendo que a dona do Continente vai continuar a “conter os preços” para manter a liderança na grande distribuição, referiu o administrador financeiro.
  • Já no caso da Jerónimo Martins, o Pingo Doce terminou o ano com uma margem EBITDA de 5,8%, abaixo dos 5,9% e 6% fixados nos dois anos anteriores. No caso do Recheio, a cadeia de cash&carry do grupo liderado por Pedro Soares dos Santos até apresentou uma evolução positiva da margem EBITDA, aumentando para 5,4%, mas permanece abaixo da fasquia dos 6% registados antes da pandemia. A margem bruta do grupo [as contas da Jerónimo Martins não detalham os custos das vendas de mercadoria por segmento, sendo apenas possível calcular a taxa bruta do grupo] baixou de 21% para 20,42%, mantendo a tendência de descida registada desde 2020.

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Os líderes da Sonae e da Jerónimo Martins têm advogado que as cadeias de supermercados que detêm continuam a aplicar preços baixos, mantendo um ambiente altamente competitivo no setor.

“Fazemos um esforço enorme para termos poupanças, mas as coisas chegam-nos mais caras – e o custo da mão-de-obra também aumentou muito. Em 2024 há uma tendência para os preços baixarem e isso ajuda sempre. (…) Esperemos que a inflação alimentar baixe durante este ano. Mas, como vimos nos últimos anos, há sempre novidades a acontecer”, reforçou Cláudia Azevedo, CEO da Sonae.

O aumento de preços [para os clientes finais] foi menos de metade do aumento de preços que nos chegou dos produtores. Houve um esforço muito grande de contenção de preços, tanto é assim que tivemos uma quebra de rentabilidade no retalho alimentar em 2023. Este é um mercado competitivo, em que tentamos oferecer o melhor preço”, acrescentou João Dolores no decorrer da apresentação de resultados de 2023 da Sonae.

Pedro Soares dos Santos, na mensagem publicada no relatório e contas de 2023, refere que “o Pingo Doce manteve uma forte atividade promocional durante todo o ano, materializada em 150 folhetos e 79 campanhas, criando oportunidades significativas de poupança para os consumidores, que se traduziram num crescimento de 7,9% das vendas para 4,9 mil milhões de euros e numa margem EBITDA de 5,8%”.

“Em geral, o retalho alimentar em 2023 teve de ajustar os preços em alta fruto do forte inflação alimentar”, refere António Seladas. O analista de ações da AS Independent Research realça que, no caso do Pingo Doce, “a margem operacional (EBITDA) contraiu ligeiramente em 2023, o que significa que uma eventual folga nos custos operacionais (pessoal e fornecimento e serviços externos) que, em geral, subiram abaixo da inflação alimentar, foram anulados pela pressão na margem bruta, que deriva do forte aumento de capacidade no setor (novas lojas das atuais marcas e entrada da Mercadona) e nível de concorrência muito elevado”.

As distribuidoras a operar em Portugal não querem perder quota de mercado e a pressão do novo player (Mercadona) em simultâneo com os programas de expansão de novas lojas e reformulação das lojas atuais, está a criar um ambiente concorrencial anormalmente intenso.

António Seladas

Analista da ações da AS Independent Research

Já no caso da Sonae MC, o analista nota que as contas divulgadas incluem o alimentar e a área de saúde, logo não é possível fazer uma interpretação direta, “mas os resultados finais não deverão ser significativamente diferentes” do Pingo Doce. “Em resumo, as distribuidoras a operar em Portugal não querem perder quota de mercado e a pressão do novo player (Mercadona) em simultâneo com os programas de expansão de novas lojas e a reformulação das lojas atuais, estão a criar um ambiente concorrencial anormalmente intenso”, conclui.

“Os operadores têm de ceder na margem bruta, caso contrário rapidamente perdem quota de mercado”, reforça António Seladas, notando que “no Pingo Doce a margem EBITDA caiu cerca de 90 pontos base nos últimos quatro anos e no caso da Sonae MC cerca de 30 pontos base“. “O principal desafio é basicamente a pressão na margem, que deverá ser combatida com volume. Mas para atrair volume é necessário investir-se em preço e abdicar-se de Margem Bruta”, explica o mesmo analista.

A partir de meados de 2023 notou-se um abrandamento mais forte das margens e nos lucros destas empresas.

Vítor Madeira

Analista da XTB

Vítor Madeira, analista da XTB, realça que, “inicialmente, estes retalhistas conseguiram incorporar facilmente os aumentos dos preços generalizados nos seus produtos no final de 2022. Contudo, a partir de meados de 2023 notou-se um abrandamento mais forte das margens e nos lucros destas empresas”. “Nesta altura em que os preços começam a estabilizar também as suas margens e lucros parecem começar a estabilizar”, conclui.

“O setor de retalho de distribuição apresentou um positivo impacto dos aumentos de preços, mas analisando as margens das principais cadeias ou insígnias podemos observar alguns sinais de melhoria, embora modestos, sobretudo, nos últimos dois anos”, destaca João Queiroz. O head of trading do Banco Carregosa acrescenta que “este setor possui regulação e existem organismos independentes que monitorizam correta e continuamente como os aumentos dos custos e encargos são refletidos no consumidor final”.

Olhando para 2024, a evolução dos preços espera-se contrária à registada em 2023. “A pressão na margem bruta dever-se-á manter devido à concorrência intensa e agravada pela pressão nos custos operacionais, nomeadamente pessoal a subir nos 5%“, antecipa António Seladas. Para o analista, “sendo que os preços deverão ter ruma evolução flat ou deflação. A única variável que poderá compensar são os volumes a crescer; no entanto, como os retalhistas estão conscientes desse aspeto, deverão fazer fortes campanhas para atrair volume, pressionando a margem bruta”.

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Pingo Doce vai abrir 50 restaurantes este ano para ser maior rede em Portugal

Resposta à concorrência internacional em Portugal passa por abrir mais restaurantes nos supermercados. Grupo quer chegar aos 240 este ano.

O Pingo Doce está a apostar na área de meal solutions como fator de diferenciação e rentabilidade num ambiente mais competitivo, prevendo abrir este ano 50 restaurantes nos supermercados, para chegar a um total de 240 e tornar-se na maior cadeira de restauração no país, afirmou esta quinta-feira a CEO da rede de retalho nacional do grupo.

Questionada, em conferência de imprensa, sobre a posição e resposta da Jerónimo Martins face a um aumento de concorrência no mercado doméstico de retalho alimentar com investimento de players internacionais, como a espanhola Mercadona, a francesa Auchan e as alemãs Lidl e Aldi, Isabel Ferreira Pinto, CEO do Pingo Doce, respondeu que os preços e a diferenciação são as apostas.

“Aquilo que está a acontecer no mercado português não é novo. Estamos habituados a operar num mercado competitivo e encaramos isso com uma certa naturalidade. Faz parte do nosso dia-a-dia”, afirmou, adiantando que a empresa vai continuar a investir na sua “proposta de preço e manter a atividade promocional como o centro da estratégia para continuar a honrar a preferência dos portugueses”.

Sublinhou, no que entanto, que a empresa tem, “acima de tudo, para marcar a diferenciação versus todos os outros operadores, de continuar a investir na área de meal solutions, que é a área de diferenciação e de rentabilidade no futuro”.

Explicou que, depois de terminar 2023 com 190 restaurantes, o Pingo Doce “está a contar abrir mais 50 este ano”. “Abrimos o nosso primeiro restaurante há 17 anos e contamos terminar o ano de 2024 a ser maior cadeia de restauração em Portugal“, concluiu.

Os lucros líquidos da Jerónimo Martins subiram 28,2% em 2023, para 756 milhões de euros, informou a empresa em comunicado enviado ao mercado esta quarta-feira.

A empresa já tinha informado, a 11 de janeiro, que o volume de negócios disparou 20,6% para 30.608 milhões de euros em 2023, devido ao forte desempenho de vendas com “foco na competitividade de preço e no crescimento em volume”, que permitiu superar pela primeira vez o marco dos 30 mil milhões de euros de vendas.

Em Portugal, o Pingo Doce registou uma subida de 7,9% nas vendas anuais para 4,9 mil milhões de euros, com venda like-for-like (LFL), ou seja comparando as mesmas lojas sem ter em conta novas aberturas, de 7,7%. No segmento cash&carry, o turismo foi o motor de crescimento, com o Recheio a aumentar as vendas em 15,1% para 1,3 mil milhões de euros, com um LFL de 14%.

Nas perspetivas para 2024, a empresa frisou que em Portugal persistem sinais de pressão sobre as famílias relacionados com taxas de juro elevadas, “esperando-se, por isso, que o consumo continue pouco dinâmico”, adiantando que o Pingo Doce “manterá a sua forte e reconhecida dinâmica comercial e prosseguirá com a implementação do novo conceito de loja que evidencia a diferenciação da insígnia, a nível de meal solutions e perecíveis.

O Pingo Doce terminou 2023 com 482 lojas, tendo aberto 11 lojas e encerrado uma. A empresa prevê remodelar entre 60 e 80 lojas no ano e inaugurar cerca de 10 novas localizações.

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