“Problema de Portugal não tem sido falta de dinheiro, mas a fraca qualidade dos políticos”, diz CEO da dona do Pingo Doce

O CEO da Jerónimo Martins sublinhou que a estagnação da economia nos últimos vinte anos resulta da falta de qualidade dos políticos, o que leva a pensar "se temos de mudar":

Portugal não tem sabido responder às necessidades económicas nas últimas duas décadas devido à “fraca qualidade dos políticos” e da gestão, afirmou esta quinta-feira, Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, sublinhando que a sociedade tem de pensar “se vale a pena ou não mudar“.

Questionado, em conferência de imprensa, sobre as eleições legislativas de 10 de março, Soares dos Santos recordou: “Estamos mesmo à porta”, portanto é preciso ter algum cuidado”.

“Mas acho que hoje demos aqui um bom exemplo. Sem boa gestão não há resultados”, explicou o CEO, apontando para os números que a retalhista divulgou esta quarta-feira, com um aumento de 28,2% nos lucros líquidos de 2023, para 756 milhões de euros, com o EBITDA – resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações — a subir 17% para 2,2 mil milhões de euros.

“A gestão e a fraca qualidade dos nossos políticos, obriga-nos a pensar se não deveremos mudar como sociedade e esse para mim é talvez o maior desafio”, disse o responsável.

Adiantou que “o grande problema de Portugal não tem sido a falta de dinheiro, mas sim de qualidade e a falta de gestão das pessoas em perceberem qual é o bem comum e o que é que interessa“.

“Nos últimos 20 anos, se tivessem sabido responder às necessidades, Portugal teria crescido, não teria estagnado”, vincou Soares dos Santos. “Era bom como portugueses pensarmos nalguma mudança” e que tenham a “coragem de assumir isso”, concluiu.

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Lucros da Jerónimo Martins sobem 28% para 756 milhões em 2023. Dividendo sobe para 0,655 euros por ação

As vendas do Pingo Doce subiram 7,9% para 4,9 mil milhões. Na Polónia, a empresa alertou que a deflação alimentar poderá colocar ainda mais pressão na margem este ano do que em 2023.

Os lucros líquidos da Jerónimo Martins JMT 0,00% subiram 28,2% em 2023, para 756 milhões de euros, informou a empresa em comunicado enviado ao mercado. A retalhista liderada por Pedro Soares dos Santos adiantou ainda que vai propor aos acionistas o pagamento de um dividendo bruto de 0,655 euros por ação, o que compara com os 0,55 euros por ação pagos no ano passado relativos ao exercício de 2022.

A empresa já tinha informado, a 11 de janeiro, que o volume de negócios disparou 20,6% para 30.608 milhões de euros em 2023, devido ao forte desempenho de vendas com “foco na competitividade de preço e no crescimento em volume”, que permitiu superar pela primeira vez o marco dos 30 mil milhões de euros de vendas.

No comunicado, divulgado no site da CMVM esta quarta-feira, a empresa sublinhou que o forte desempenho ao nível das vendas em valor e em volume “reforçou as nossas posições de mercado e protegeu a rentabilidade, levando o EBITDA consolidado a crescer 17%“. Essa rubrica, que representa os resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, atingiu os 2,2 mil milhões de euros.

A respetiva margem EBITDA caiu 22 pontos base para 7,1% face ao ano anterior, “refletindo o impacto do investimento em preço e a inflação registada ao nível dos custos”.

Em relação aos resultados do quarto trimestre, a Jerónimo Martins informou que o EBITDA cresceu 14,1% para 578 milhões, uma subida de 7,1% a taxas de câmbio constantes, correspondendo a uma margem sobre as vendas de 7,1%, face a 7,2% no quarto trimestre de 2023. As vendas totais dispararam 16,7% para 8.157 milhões, enquanto o lucro líquido avançou 15,8% para 171 milhões.

Em Portugal, o Pingo Doce registou uma subida de 7,9% nas vendas anuais para 4,9 mil milhões de euros, com venda ‘like-for-like (LFL)’, ou seja comparando as mesmas lojas sem ter em conta novas aberturas, de 7,7%. No segmento cash&carry, o turismo foi o motor de crescimento, com o Recheio a aumentar as vendas em 15,1% para 1,3 mil milhões de euros, com um LFL de 14%.

Nas perspetivas para 2024, a empresa frisou que em Portugal persistem sinais de pressão sobre as famílias relacionados com taxas de juro elevadas, “esperando-se, por isso, que o consumo continue pouco dinâmico”, adiantando que o Pingo Doce “manterá a sua forte e reconhecida dinâmica comercial e prosseguirá com a implementação do novo conceito de loja que evidencia a diferenciação da insígnia, a nível de meal solutions e perecíveis” A companhia prevê remodelar entre 60 e 80 lojas no ano e inaugurar cerca de 10 novas localizações.

Margem na Polónia pode sofrer maior pressão que em 2023

Na Biedronka, lider do segmento discount no retalho alimentar na Polónia, as vendas em moeda local cresceram 18,2%, com um LFL de 14,2%. Em euros, as vendas atingiram os 21,5 mil milhões, mais 22,3% do que em 2022. “O crescimento em volumes manteve-se positivo ao longo de todo o ano, num claro contraste com a queda registada no mercado de retalho alimentar polaco”, referiu.

Este significativo crescimento das vendas impulsionou o EBITDA a aumentar 19,4% (+15,4% em moeda local). A respetiva margem foi de 8,5% (8,8% em 2022), com a evolução “a refletir o investimento em preço, conjugado com a inflação de custos”.

Em termos de crescimento de vendas LFL na Polónia, a tendência de abrandamento no ritmo, atingindo os 5,1% no quarto trimestre, face aos 24,5% no primeiro. Em janeiro, quando estes números foram revelados, os analistas mostraram desilusão face aos 7% que esperavam para os últimos três meses do ano, o que aliado com uma possível guerra de preços num ambiente mais concorrencial, levou a uma queda de 7,17% nas ações no dia seguinte.

 

No quarto trimestre, a margem EBITDA foi de 8,5% versus 8,7% no período homólogo. “Embora a Biedronka, tal como no terceiro trimestre, tenha beneficiado, também no quarto, de um comparativo favorável do preço da eletricidade e da normalização das cadeias de abastecimento em relação ao mesmo período do ano anterior, a pressão do investimento em preço e da elevada inflação dos custos refletiu-se na evolução da margem”, explicou a empresa.

Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, explicou no comunicado que “neste arranque de 2024, estamos conscientes de que a deflação alimentar que estimamos para o primeiro semestre será o nosso maior desafio, uma deflação que tenderá a levar à priorização do crescimento dos volumes por parte de todos os retalhistas e, consequentemente, a uma crescente intensidade concorrencial nos mercados em que operamos”.

A empresa sublinhou que na Polónia, “num contexto concorrencial que se intensificou e no qual o preço se revela mais do que nunca como o fator decisivo de compra, a Biedronka manterá a liderança de preço e dará prioridade ao crescimento de vendas, alavancando na sua força comercial para criar ainda melhores oportunidades de poupança e de valor para os consumidores polacos”.

Adiantou que para mitigar a extrema pressão que advém da rápida queda da inflação alimentar combinada com uma elevada inflação de custos, a Biedronka, trabalhará para converter em volumes e num mix de vendas de maior valor acrescentado um ambiente de consumo que se espera mais favorável. “Ainda assim, e também perante a decisão da companhia de continuar a investir de forma relevante na atualização dos salários das suas equipas, não excluímos que a margem EBITDA da Biedronka possa vir a sofrer maior pressão do que a registada em 2023”.

Na Colômbia, o grupo inaugurou 200 localizações na rede de supermercados Ara, terminando o ano a operar 1.290 lojas. As vendas atingiram 2,4 mil milhões no ano, 37,7% acima de 2022. O EBITDA foi de 45 milhões de euros, face a 60 milhões de euros em 2022, com a respetiva margem a situar-se nos 1,9% (3,4% em 2022).

Dividendo representa metade dos lucros

Em relação à remuneração acionista, o Conselho de Administração vai propor à Assembleia Geral Anual de Acionistas a distribuição de 411,6 milhões de euros em dividendos, correspondente à aplicação da política de a um dividendo bruto de 0,655 euros por ação (excluindo as 859.000 ações próprias em carteira) e representa um payout de cerca de 50% dos resultados consolidados ordinários (ou cerca de 54% dos resultados líquidos consolidados), quando excluídos os efeitos da aplicação da IFRS16.

“A proposta de distribuição de dividendos permite ao Grupo preservar a flexibilidade para continuar a investir de acordo com os seus planos de expansão e aproveitar potenciais oportunidades de crescimento não orgânico, mantendo, em simultâneo, a força do seu balanço”, explicou a empresa.

Sublinhou ainda que a “visão de longo prazo mantém-se válida e reiteramos o compromisso com o nosso programa de investimento, que, em 2024, se espera venha a cifrar-se em 1,2 mil milhões de euros, em linha com o realizado em 2023”.

“Para além da expansão e remodelação das redes de lojas, o programa inclui o reforço da operação logística na Polónia, em Portugal e na Colômbia e considera também o investimento inicial para lançar a operação na Eslováquia, cujas primeiras lojas deverão abrir no final deste ano,” acrescentou.

Antes da divulgação dos resultados, as ações da Jerónimo Martins encerraram a sessão de quarta-feira a subir 1,03% para 21,50 euros cada.

 

[Notícia atualizada às 19h07]

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Jerónimo Martins perde mil milhões de capitalização e arrasta bolsa de Lisboa para o vermelho

As ações da retalhista portuguesa estiveram sob forte pressão e determinaram o fecho negativo do PSI na última sessão desta semana. Dona do Pingo Doce teve a maior queda bolsista em mais de dois anos.

A Jerónimo Martins perdeu esta sexta-feira mais de mil milhões de euros do seu valor de mercado, depois de a retalhista ter revelado uma desaceleração das suas vendas na Polónia no quarto trimestre, apesar de ter fechado o ano passado com um volume de negócios recorde. Os títulos tombaram mais de 7%, a maior queda registada pela empresa liderada por Pedro Soares dos Santos desde novembro de 2021. Um comportamento que arrastou a bolsa portuguesa.

O índice PSI fechou a sessão a desvalorizar 0,79%, arrastado pela forte queda da retalhista. A empresa fechou com uma desvalorização de 7,17% para 20,98 euros, que tirou 1.018 milhões de euros à capitalização bolsista da empresa, face ao dia anterior.

A pressionar as ações da companhia estiveram as vendas preliminares de 2023. O volume de negócios da Jerónimo Martins disparou 20,6%, para um total de 30.608 milhões de euros, no entanto o crescimento das vendas da Biedronka ficaram abaixo das estimativas, o que determinou a reação negativa dos investidores.

Os analistas do Jefferies, citados pela Reuters, sublinham que as vendas no último trimestre do ano ficaram nos 8.157 milhões de euros, abaixo do consenso dos analistas, que era de 8.237 milhões, “com a Biendronka a ficar abaixo do esperado”. As vendas no quarto trimestre “confirmaram um cenário mais pressionado na Polónia, e também na Colômbia“, adiantam.

A pressionar a negociação em Lisboa estiveram ainda as empresas do setor da pasta e do papel. A Altri e a Navigator fecharam a ceder 0,84% e 0,66% para 4,494 euros e 3,608 euros, respetivamente.

A travar maiores quedas da bolsa estiveram os CTT. A empresa de correios fechou a última sessão da semana com um avanço de 2,95% para 3,66 euros, o melhor desempenho do índice de referência.

Notícia atualizada às 17h00

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Vendas da Jerónimo Martins dispararam 20,6% em 2023, superando o “marco” dos 30 mil milhões de euros

Dona do Pingo Doce justifica o “forte desempenho” de vendas no ano passado com o “foco na competitividade de preço e no crescimento em volume”. Portugal já só vale 20% das vendas do grupo retalhista.

Num ano marcado pela “progressiva redução da inflação alimentar e pela persistente contenção do consumo por parte das famílias”, o volume de negócios da Jerónimo Martins disparou 20,6%, para um total de 30.608 milhões de euros. Grupo retalhista justifica “forte desempenho” de vendas com “foco na competitividade de preço e no crescimento em volume”.

Pedro Soares dos Santos destaca que, pela primeira vez, o grupo superou o “marco dos 30 mil milhões de euros de vendas”, notando, num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que “esta conquista traduz o reconhecimento pelos consumidores da consistência do foco das insígnias na liderança de preço e na melhoria contínua da oferta e da experiência de compra”.

“A prioridade dada às vendas, a clareza das políticas comerciais, o trabalho árduo das equipas, e a execução exemplar dos ambiciosos planos de expansão e remodelação pelas companhias permitiram somar, nos dois últimos anos, 10 mil milhões de euros ao volume de negócios consolidado”, acrescenta o presidente e administrador delegado da Jerónimo Martins.

A dona do Pingo Doce e do Recheio decidiu alocar no último trimestre do ano passado, “a título excecional”, um valor de 25 milhões de euros ao “reconhecimento do contributo das equipas operacionais, que acresce aos prémios de desempenho previstos”. A decisão é justificada na mesma nota com os “aumentos significativos do custo de vida para as famílias”.

Como o ECO noticiou em dezembro, a Jerónimo Martins deixou um “presente” no sapatinho de 25 mil dos seus trabalhadores: um bónus de 350 euros, que se vem juntar ao prémio de 750 euros que já tinha atribuído em abril. Estes cheques, salientou na altura, tiveram como propósito ajudar as famílias a enfrentar os “constrangimentos” que estão a sentir nos orçamentos.

Portugal já só vale 20% das vendas do grupo

O grande motor de crescimento da Jerónimo Martins continua a ser a Biedronka. A retalhista polaca faturou 21,5 mil milhões de euros no ano passado, uma subida de 22,3% em termos homólogos, passando a pesar 70% no volume de negócios global do grupo. Abriu 203 novas lojas (174 adições líquidas) e remodelou 375 localizações.

Apesar de ter sido o negócio do grupo que registou, em termos percentuais, o menor aumento de vendas (7,9%), o Pingo Doce segue como o segundo que mais contribui para as receitas totais: 4,9 mil milhões de euros em 2023. Num período em que abriu 11 novos supermercados e encerrou um, “reforçou o seu posicionamento de preço, mantendo uma forte intensidade promocional ao longo de todo o ano”.

Ainda em Portugal, que vale agora apenas um quinto (20,2%) das vendas globais – abaixo dos 22,3% que pesava em 2022 –, o Recheio beneficiou da atividade que se verificou durante o ano passado no canal da restauração e da hotelaria (Horeca) no país, tendo registado um “forte crescimento de vendas no ano”: +15,1%, para 1,3 mil milhões de euros.

No relatório de vendas preliminares relativas ao ano passado, divulgado esta quinta-feira, destaca-se ainda o disparo de 37,7% na Colômbia, em que opera com a insígnia Ara. Ascenderam a 2,4 mil milhões de euros, num mercado em que o grupo diz ter reforçado o “posicionamento de preço de uma forma assertiva, tendo em conta as necessidades das famílias colombianas”.

Ainda assim, neste negócio da América do Sul ficou ligeiramente abaixo das metas que tinha comunicado ao mercado em setembro. Nessa altura, o grupo referiu num comunicado à CMVM que esperava atingir os 2.500 milhões de euros de vendas e chegar às 1.300 lojas Ara na Colômbia. Apesar de ter inaugurado 200 localizações, terminou o ano a operar 1.290 lojas.

 

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Lucros da Jerónimo Martins sobem quase 60% no arranque do ano

Refletindo a “pressão sobre a margem bruta exercida pelo investimento em preço”, a margem EBITDA da dona do Pingo Doce caiu 18 pontos face ao primeiro trimestre de 2022, para os 6,6%.

A Jerónimo Martins (JM) registou um resultado líquido de 140 milhões de euros nos primeiros três meses de 2023, o que representa uma subida de 59,1% face ao valor que o grupo que detém o Pingo Doce tinha registado no primeiro trimestre do ano passado.

Num comunicado enviado à CMVM, o grupo retalhista salienta a “forte dinâmica de arranque de ano, alavancada no momentum positivo das vendas”, que cresceram 23,4% para 6,8 mil milhões de euros, “apesar de, nos primeiros três meses de 2023, o consumo se ter mantido pressionado pelos efeitos da inflação”.

Ainda assim, avisa, os comparativos face ao ano anterior vão tornar-se “mais exigentes” a partir do segundo trimestre deste ano, “à medida que a comparação se faça com valores de 2022 que incorporaram aumentos de preços alimentares progressivamente mais intensos”.

Notando que a inflação alimentar se mantém alta nos três países onde opera – Portugal, Polónia e Colômbia – e a pressionar a confiança e o poder de compra das famílias, Pedro Soares dos Santos promete que a JM continuará a ser “uma força anti-inflacionária e absorver parte da pressão do aumento dos preços sobre os consumidores”.

Entre janeiro e março, a margem EBITDA do grupo caiu 18 pontos base em relação ao período homólogo, para 6,6%, “refletindo a pressão sobre a margem bruta exercida pelo investimento em preço realizado por todas as insígnias de retalho alimentar”. No entanto, o “forte desempenho de vendas” impulsionou um crescimento de 20,1% no valor do EBITDA, para 446 milhões de euros.

“O nosso foco está na execução disciplinada da nossa estratégia porque sabemos que é reforçando a nossa presença nos mercados onde operamos, melhorando continuamente as propostas de valor e criando as condições necessárias para garantir o crescimento das vendas em volume que melhor protegemos a rentabilidade e a sustentabilidade futura dos nossos negócios”, completa o presidente do grupo.

O presidente do grupo Jerónimo Martins, Pedro Soares Santos, intervém na apresentação dos resultados de 2022MANUEL DE ALMEIDA/LUSA 23 março, 2023

Em Portugal, onde opera com as marcas Pingo Doce e Recheio, a JM antecipa que “os desafios colocados pela fragilidade do consumo interno e pela tendência instalada de trading-down [compra de produtos de mais baixo valor] permaneçam ao longo de 2023”. Por outro lado, perspetiva que o turismo se mantenha como o principal motor de crescimento do setor Horeca (hotelaria e restauração).

Nos primeiros três meses deste ano, período em que abriu duas novas lojas e remodelou sete localizações, o Pingo Doce “manteve o investimento em promoções fortes e relevantes para os consumidores”, com as vendas a cresceram 9,4%, para 1,1 mil milhões de euros. No caso desta que é a principal insígnia no mercado nacional, contabiliza, a margem EBITDA desceu 13 pontos base “na sequência do forte investimento em preço e do impacto do trade-down”.

Na sequência dos resultados apresentados no ano passado, em que os lucros aumentaram para 590 milhões de euros (+27,5%), a assembleia geral de acionistas aprovou a 20 de abril a distribuição de 345,6 milhões de euros a título de dividendos. Correspondem a 0,55 euros por ação (valor bruto), a pagar no dia 17 de maio.

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Jerónimo Martins afasta-se da corrida pelas lojas do Minipreço

“Não estamos na corrida do Minipreço e não estamos interessados. Mesmo que estivéssemos, seriam só alguns ativos”, garante Soares dos Santos. Sonae, Lidl e Aldi negoceiam compra de 463 supermercados.

Pedro Soares dos Santos assegurou esta quinta-feira que a Jerónimo Martins (JM) não está interessada na compra das lojas do Minipreço, contrariando desta forma a informação veiculada pela imprensa espanhola, colocando a dona do Pingo Doce no lote das empresas que tinham feito uma oferta pelo negócio do grupo Dia em Portugal.

“Não estamos na corrida do Minipreço e não estamos interessados. Mesmo que estivéssemos, seriam só alguns ativos”, disse o presidente da JM durante a apresentação dos resultados do grupo, que em 2022 viu os lucros subirem 27,5%, para 590 milhões de euros, mas a margem EBIDTA recuar 0,3 pontos devido ao “aumento do investimento em preço e impacto da inflação nos custos”.

O grupo Dia, sediado na região de Madrid, está a atravessar um processo de reorganização empresarial que deverá incluir a alienação da rede de supermercados em Portugal, mercado em que opera sob a marca Minipreço. Contratou a Societé Générale para a venda de um total de 463 espaços comerciais e, segundo o Expansión, após a apresentação de ofertas não vinculativas, já terá entrado numa segunda fase de negociação com quatro finalistas: Sonae, Jerónimo Martins, Lidl e Aldi.

Contactado pelo ECO para obter detalhes sobre o processo de negociação em curso para a venda dos supermercados em Portugal, o grupo respondeu apenas, através do departamento de relações exteriores da Dia Portugal, que “avalia de forma contínua diversas oportunidades de investimento e desinvestimento, sem que a esta data tenha sido tomada qualquer decisão”.

O Grupo Dia avalia de forma contínua diversas oportunidades de investimento e desinvestimento, sem que a esta data tenha sido tomada qualquer decisão.

Departamento de Relações Exteriores da Dia Portugal

No ano passado, em que foi ultrapassado pela Mercadona no ranking do retalho alimentar em Portugal, o Minipreço registou um EBITDA de dez milhões de euros e vendas líquidas de 596 milhões, um ligeiro aumento de 0,5% em relação ao ano anterior, num período em que reduziu em 7% a rede de lojas. Um desempenho distante do crescimento global de 9,6% registado pelo grupo que tem operações também em Espanha, na Argentina e no Brasil, num total de quase 6.000 lojas.

Presente no mercado português há 42 anos, onde conta ainda com três centros de distribuição e onde contabiliza que 85% dos fornecedores são de origem nacional, o Minipreço emprega perto de 3.000 pessoas. No verão passado, no âmbito de um plano de reestruturação das operações, que conduziu ao fecho de 25 supermercados, despediu um total de 159 pessoas, depois de uma negociação que colocou 12% dos envolvidos noutras funções.

A estratégia do grupo Dia tem passado pelo desinvestimento em vários negócios. No ano passado vendeu a rede de cosméticos Clarel à cadeia de supermercados Alcampo, a insígnia com que o grupo Auchan opera em Espanha. No início de março de 2023 concluiu a venda de 235 supermercados de tamanho médio, localizados em oito regiões autónomas espanholas, ao mesmo grupo francês por 267 milhões de euros.

(Notícia atualizada às 14h20 com reação do grupo Dia)

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Inflação ajudou vendas da Jerónimo Martins. “Mas não é deste crescimento que o grupo gosta”, diz Soares dos Santos

CEO da Jerónimo Martins confirma que inflação puxa pelo negócio agora, mas diz-se insatisfeito, porque vendas com preços altos "destroem sociedades e empresas" no médio prazo.

O presidente do grupo Jerónimo Martins, Pedro Soares SantosMANUEL DE ALMEIDA/LUSA

O líder da Jerónimo Martins assume que a inflação contribuiu para o aumento das vendas do grupo no ano passado. No entanto, Pedro Soares dos Santos garante não estar satisfeito com isso, devido aos problemas causados pela subida generalizada dos preços na economia e na sociedade no médio prazo.

Além disso, numa conferência de imprensa no rescaldo da apresentação dos resultados anuais, o grupo estimou que poderá ter de pagar 700 mil euros no âmbito da contribuição sobre os lucros extraordinários implementada pelo Governo, mas dá como quase certo que a vai contestar.

O grupo internacional que manda no Pingo Doce viu as vendas globais crescerem 21,5% no ano passado em comparação com o ano anterior, totalizando 25,4 mil milhões de euros. “Não posso negar que a inflação ajudou, mas não é deste crescimento que o grupo Jerónimo Martins gosta”, afirmou o presidente executivo numa conferência de imprensa esta quarta-feira.

“Estas vendas assentes em inflação só destroem as sociedades e as empresas a médio prazo. Não permitem às empresas terem crescimentos saudáveis. A inflação é o maior imposto que afeta especialmente as pessoas pobres, retira competitividade às famílias e aos consumidores”, explicou o gestor, posição que viria a repetir várias vezes aos jornalistas.

O presidente da Jerónimo Martins foi ainda mais longe, dizendo que os investidores questionam “cada vez mais” porque é que a retalhista continua a investir em Portugal. “Não há crescimento económico neste século. Estamos cada vez mais num país que está consumido pelo envelhecimento da sua população e é cada vez mais pobre”, justificou, referindo ser necessário uma razão mais económica para manter o negócio no país. Ainda assim, a intenção é manter e continuar a investir na operação.

Soares dos Santos aproveitou a conferência de imprensa para mandar recados aos políticos, relativizando o negócio em Portugal em comparação com dois outros mercados que representam a fatia de leão (80%) do negócio da Jerónimo Martins: a Polónia e a Colômbia. No ano passado, o grupo pagou 845 milhões em impostos, dos quais 679 milhões na Polónia, 148 milhões em Portugal e 18 milhões no mercado colombiano, apontou o gestor durante uma apresentação.

Ainda assim, a empresa poderá ter de pagar 700 mil euros em Portugal com a chamada contribuição sobre os lucros extraordinários, a maioria com o negócio na Madeira (que será taxado a 60% sobre os lucros, notou o grupo). Deste valor, 200 mil dizem respeito ao Pingo Doce. A administradora com o pelouro financeiro, Ana Luísa Virgínia, admitiu que a empresa “quase de certeza” que vai contestar a taxa, por considerar estar a ser penalizada depois dos prejuízos causados pela Covid-19.

(Notícia atualizada pela última vez às 13h04)

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Mercadona ultrapassa Minipreço. Lidl reforça pódio dos supermercados

Com dez vezes menos lojas em Portugal, Mercadona supera Minipreço e prepara-se para tirar Auchan do top 5 do retalho alimentar. Pingo Doce acerca-se do Continente, mas é o Lidl que mais ganha em 2022.

A Mercadona já vende mais do que o Minipreço em Portugal. A líder de mercado em Espanha, que abriu o primeiro supermercado deste lado da fronteira em julho de 2019, ultrapassou no último trimestre de 2022 a cadeia detida pelo também espanhol grupo Dia, que tem dez vezes mais lojas no mercado português do que a concorrente, posicionando-se como o sexto maior operador no mercado português, que continua a ser liderado pelo Continente.

Esta é a principal novidade relativa às quotas de mercado das diferentes retalhistas nos produtos de grande consumo (FMCG na sigla inglesa), a que o ECO teve acesso. Na reta final de um ano em que inaugurou mais uma dezena de lojas, passando a ter um total de 39 no território nacional, a Mercadona chegou aos 3,8%. Também o alemão Aldi (2,7%) superou o Minipreço (2,2%) nos últimos três meses do ano, mas a oscilação de quota tem sido mais volátil.

“A Mercadona tem vindo a consolidar a sua posição e acaba por ser o momento em que ultrapassa o Minipreço. Tem uma dinâmica dentro da loja e ao nível também da sua marca da distribuição e da oferta de marcas de fabricante diferente à que o Minipreço tem hoje em dia. Isso acaba por trazer toda uma experiência de compra diferente e também uma oferta de preço e sortido para o comprador que é muito mais completa”, destaca a diretora comercial da Kantar. Nos últimos dois anos, 15,5% dos lares portugueses já fizeram compras na Mercadona.

Já o Minipreço, contrapõe Marta Santos, está “numa perspetiva completamente distinta”. Mesmo sem a concorrência do grupo de Valência, que apresenta contas anuais esta terça-feira, “estaria certamente a ser afetado na sua quota de mercado”. “Pelo facto de não se atualizar, de não se aproximar do consumidor, de nos últimos anos ter perdido alguma qualidade na experiência de compra e de ao nível promocional também não ser tão atrativa quanto os principais players, como o Continente ou o Pingo Doce. Mesmo no sortido não tem tantas marcas de fabricante, como outras insígnias, e a sua marca própria não tem a perspetiva de qualidade por parte do comprador que têm as do Lidl ou do Aldi. Tudo isso acaba por influenciar”, resume.

Nas últimas semanas voltaram a surgir na imprensa espanhola rumores de que o grupo Dia estará a ponderar sair do mercado português, vendendo a cadeia de supermercados Minipreço, que em 2022 registou vendas líquidas de 596 milhões de euros, um ligeiro crescimento de 0,5% em relação ao ano anterior, com uma redução de 7% na rede de lojas. A porta-voz da Kantar frisa que, além de não estar com o mesmo ímpeto ao nível da comunicação e das promoções, “tem havido algum desinvestimento na própria loja e isso acaba por ser visível para o consumidor, mesmo que não esteja muito informado” sobre essas notícias.

Não surpreenderá a progressiva aproximação da Mercadona ao último lugar do top 5 do retalho alimentar em Portugal, nesta altura ocupado pela Auchan, sendo que a evolução das respetivas quotas de mercado faz prever a intersecção das mesmas daqui a poucos trimestres.

Pedro Pimentel

Diretor-geral da Centromarca

“A evolução da presença no mercado das duas cadeias e dos restantes players fazia antecipar essa ultrapassagem, a qual, apesar de tudo, terá ocorrido de uma forma mais rápida do que se esperaria. Se do lado do Minipreço se assiste, desde há muitos anos, a um definhamento comercial, com uma perda progressiva e consistente de quota de mercado, [vemos] desde 2019 um crescimento orgânico muito forte da Mercadona. (…) Assistimos ao desenho de duas curvas de sentidos opostos que se terão cruzado no último trimestre do ano passado e que, na ausência de uma inflexão muito significativa de estratégia da parte do Dia/Minipreço, se tenderão a afastar cada vez mais”, corrobora Pedro Pimentel.

O diretor-geral da Centromarca arrisca que “não surpreenderá a progressiva aproximação da Mercadona ao último lugar do top 5 do retalho alimentar em Portugal, nesta altura ocupado pela Auchan [4,5%], sendo que a evolução das respetivas quotas de mercado faz prever a intersecção das mesmas daqui a poucos trimestres”. A responsável comercial da Kantar é mais cautelosa. Argumenta que, depois da experimentada a novidade, “o passo seguinte é perceber se existe a fidelização à insígnia” – e os dados mostram que até tem um ticket acima da média nas restantes insígnias, mas uma menor frequência – e de tirar aos portugueses o “vício das promoções”, que não faz parte da política comercial da marca.

Lidl consolida terceiro lugar

No topo da lista mantêm-se os dois maiores grupos portugueses de distribuição alimentar, que em 2022 ficaram um pouco mais próximos, de acordo com o ranking elaborado pela Kantar. No total do ano de 2022, a Sonae liderou com 26,9% (vs. 28,3% em 2021), enquanto a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, subiu de 21,6% para 22,4% no mesmo período. Mas o “retalhista ganhador” no ano passado, como é classificado por esta consultora de mercado, foi o Lidl, que “tem vindo a conquistar espaço com o seu selo de qualidade-preço junto dos portugueses”.

“O Lidl tem conseguido fazer este percurso com uma estratégia entre o que é a marca própria, o ajuste produtivo das marcas de fabricantes dentro da loja e algumas promoções, mas também com muita aposta nos frescos, nos biológicos, nos orgânicos. Isto tem vindo a resultar bem, fazendo já parte dos locais de compra de 80% dos lares portugueses desde 2019”, indica Marta Santos.

Marta Santos, diretora comercial da Kantar

Parte desses ganhos terão vindo da Sonae, que em resposta ao Governo se queixou de uma “campanha de desinformação” nos preços? “Não é descabido pensar dessa forma porque vemos cada vez mais a Sonae a trabalhar o seu mix de marca própria e a dar prioridade às marcas próprias em algumas categorias, em detrimento das marcas de fabricante. Tem a consciência de que o Lidl é cada vez um concorrente de respeito e tenta adaptar-se ao que o comprador está à procura fora da Sonae, tentando adaptar o que tem dentro de casa”, responde a especialista.

Minimercados não aguentam ganhos da pandemia

Os dados compilados por esta consultora internacional mostram, por outro lado, que os oito maiores retalhistas saíram reforçados em 2022, com o peso dos restantes a baixar de 17,4% para 16,8%. Entre eles estão os minimercados e as lojas independentes de proximidade, que na altura da pandemia até conseguiram ganhar algum terreno, mas que não conseguiram reter as famílias portuguesas após o levantamento das restrições.

“O regresso a uma mobilidade quase normalizada, a perda do medo de visitar espaços de maior dimensão e mais frequentados, o sortido mais afinado com as suas necessidades, horários facilitadores de compras para quem trabalha, e preços e estratégias promocionais mais competitivas, foram tudo fatores que motivaram o consumidor a regressar à rotina de compra anterior ao período de pandemia. E daí voltarmos a assistir à erosão de quota do comércio tradicional, que se vinha observando há décadas”, aponta Pedro Pimentel.

Além das insígnias de comércio organizado, como a Coviran, Spar ou a rede Aqui É Fresco, esse espaço da proximidade tem vindo a ser ocupado pela moderna distribuição, através de insígnias como a Meu Super (Sonae), Amanhecer (Jerónimo Martins) ou MyAuchan. Essa inserção dos grandes grupos na malha urbana e nas zonas residenciais, tal como a presença de supermercados de dimensão relevante em 298 dos 308 concelhos do país, contabiliza o líder da Centromarca, “deixa – por questões de sortido, de conveniência ou de vantagem competitiva a nível de preços – cada vez menos espaço para as lojas mais tradicionais”.

Outra tendência acelerada pela pandemia foi o aumento das compras online, com o ritmo de crescimento a abrandar depois dos confinamentos, apesar de as operadoras terem mantido os investimentos nesta área, decididos durante a Covid-19. A quota em valor do canal online no fecho de 2022 foi de 2,5%, ficando ligeiramente acima do nível pré-pandemia (2,2% em 2019), mas já longe do máximo de 3,2% no comércio eletrónico que tinham alcançado em 2021. No que toca ao “cesto digital”, descreve a diretora comercial da Kantar, subsiste a “maior resistência” à compra de produtos frescos e de congelados através da internet, e a preferência pela entrega em casa de artigos mais pesados.

De acordo com os dados fornecidos ao ECO pela Marktest, somando a grande distribuição alimentar à especializada – incluindo assim a IKEA, a Worten, a Staples ou a Decathlon, num conjunto de 34 insígnias –, o número de lojas no ano passado totalizou 4.205. A diferença face ao ano anterior é ligeira (-0,8%), mas ganha relevo por ter sido a primeira descida – pressionada sobretudo pelos encerramentos do Minipreço – no número global deste tipo de espaços comerciais desde, pelo menos, 2009, quando a empresa de estudos de mercado iniciou esta contagem sobre as áreas dedicadas ao retalho em Portugal.

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Quem está a ganhar com a subida dos preços?

Nem os distribuidores alimentares nem as empresas de energia aumentaram as margens de lucro. O impacto maior sobre a subida dos preços dos bens alimentares é causado pela elevada carga fiscal.

Desde outubro que a taxa de inflação em Portugal tem vindo a corrigir. Desde então, passou de uma taxa homóloga de 10,29% (valor mais elevado desde maio de 1992) para 8,25% em fevereiro. Porém, o abrandamento da subida dos preços da generalidade dos produtos não tem sido acompanhado pelos preços dos bens alimentares.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de inflação dos produtos alimentares não transformados voltou a subir em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo, fixando-se em 20,09% em fevereiro. É o valor mais elevado em 38 anos. E ainda este mês, a Deco Proteste deu nota de que o preço de um cabaz de alimentos essenciais, que agregam mensalmente, atingiu o valor mais elevado desde que começaram a fazer esta monitorização a 5 de janeiro de 2022.

A disparidade no comportamento das duas taxas de inflação levantou muitas vozes críticas, indiciando inclusive que alguém esteja a beneficiar tremendamente com a subida dos preços.

O ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, chegou a dizer que existe uma “divergência muito grande em alguns produtos entre os preços de aquisição e de venda ao público”, notando que isso “não é criminoso” mas “é um alerta”.

De todos os intervenientes na cadeia de valor, o Estado foi o único que não fez qualquer alteração na sua “margem de lucro”.

A mensagem do governante tinha como destino, entre outros, as principais cadeias de distribuição alimentar, dado que o Governo está inclusive a estudar uma forma de pressionar o Continente, o Pingo Doce e outras cadeias de super e hipermercados a baixar os preços e as margens.

No entanto, quando se consulta as últimas contas dos dois principais players do mercado, os números revelam que nem as margens brutas nem as margens de lucro operacionais do Continente (do grupo Sonae) e do Pingo Doce (do grupo Jerónimo Martins) estão a aumentar. Pelo contrário, até caíram nos primeiros nove meses do ano, em comparação com os dados homólogos.

  • O Continente fechou os primeiros nove meses de 2022 com uma margem EBITDA subjacente (margem de lucro operacional) de 9,31%, face a 9,90% no mesmo período do ano anterior. Significa que, entre janeiro e setembro de 2022, por cada 100 euros de vendas realizadas, a Sonae lucrou 9,3 euros, menos 6% que no mesmo período de 2021. Entre 2019 e 2021, a margem de lucro operacional da Sonae MC (que agrega o Continente) foi de 9,9%. O mesmo sucede com a margem bruta (rácio entre vendas e custo das vendas de mercadorias), se bem que numa proporção mais reduzida: segundo as contas da Sonae MC, a margem bruta nos primeiros nove meses de 2022 foi de 41,9%, que compara com 42% no mesmo período de 2021 e 42% em 2019. Significa que por cada 100 euros de compras realizadas entre janeiro e setembro de 2022, o grupo Sonae faturou 41,9 euros.
  • As operações de distribuição alimentar da Jerónimo Martins em Portugal (Pingo Doce e o Recheio) fecharam os primeiros nove meses de 2022 com uma margem EBITDA de 5,87%, que compara com uma margem de lucro operacional de 5,92% no mesmo período do ano anterior ou de 8,31% em 2019. Ao nível da margem bruta, as contas da Jerónimo Martins não detalham os custos das vendas de mercadoria por segmento, sendo apenas possível calcular a taxa bruta do grupo. E, neste caso, verifica-se que se nos primeiros nove meses de 2021 a margem bruta da Jerónimo Martins era de 27,6%, entre janeiro e setembro de 2022 essa margem caiu para 26,8%.

Estes números mostram que nos primeiros nove meses do ano passado, um período marcado por uma forte subida dos preços da generalidade dos produtos, tanto o Continente como o Pingo Doce encaixaram nas suas contas parte da subida da inflação. “Baixámos as nossas margens para acomodar o aumento dos custos”, referiu Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, numa carta enviada na sexta-feira aos funcionários do grupo.

No caso da Jerónimo Martins, não deixa de ser curioso o fato de o grupo liderado por Pedro Soares Santos ter conseguido acomodar mais o efeito da inflação na sua operação na Polónia (Biedronka) do que as operações em Portugal – nos primeiros nove meses de 2022, a margem de lucro operacional da Biedronka era de 8,8%, face a 9,1% registado no mesmo período do ano anterior.

“Pela sua posição geopolítica e com um contexto energético diferente, a inflação nos custos foi superior na Polónia, pelo que a margem EBITDA da Biedronka foi mais pressionada nos primeiros nove meses de 2022 face ao ano anterior”, refere uma fonte da Jerónimo Martins ao ECO.

Decompondo a cadeia de valor até chegar ao Estado

Na semana passada, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) referiu em comunicado que “a distribuição está a comprar os produtos cada vez mais caros, já em 2023, aos fornecedores (indústria e produção).”

A associação que representa o setor lembrou que “estes aumentos no início da cadeia refletem a subida dos custos dos fatores de produção decorrentes dos aumentos dos preços dos fertilizantes, das rações e de outros custos relevantes”, notando que “o índice de preços do lado da produção agrícola aumentou 33,6 pontos percentuais (de 2,3% para 35,9%), do lado da indústria alimentar aumentou 18,4 pontos percentuais (evoluiu de 13,3% para 31,7%) e o índice de preços dos produtos alimentares na distribuição/retalho alimentar aumentou 16,2 pontos percentuais (passou de 3,7% para 19,9%), sempre inferior ao da indústria alimentar em cerca de 10 pontos percentuais”.

É uma evidência que os preços estão a aumentar em toda a cadeia de valor. A questão está em perceber se, como o Governo questiona, estará a haver especulação dos preços por via do aumento considerável das margens de lucro das empresas.

Um alvo recorrente destas críticas são as empresas de energia, como a EDP e a Galp Energia. Mas mesmo nestes casos, apesar de as vendas e dos lucros terem subido consideravelmente no último ano, as contas de ambas as empresas mostram que também as suas margens de lucro operacional não aumentaram. Pelo contrário, caíram.

Segundo as contas anuais da EDP divulgadas a 1 de março, a margem EBITDA da elétrica foi de 21,9% em 2022 contra uma margem de lucro operacional de 24,8% em 2021 e 31,7% em 2020.

As contas da Galp, apresentadas há um mês, revelam também uma queda (se bem que ligeira) da margem de lucro operacional no último ano, com a margem EBITDA a cifrar-se em 14,3% em 2022 face a 14,4% em 2021.

Restam as contas dos produtores. E, neste grupo, olhando para as contas dos maiores players da indústria como a Nestlé, a Unilever e a Procter & Gamble (P&G), verifica-se também que as suas margens também caíram.

A Unilever, por exemplo, que tanto comercializa bens alimentares como bens de higiene, fechou as contas de 2022 com uma margem de lucro operacional de 19%, menos 3 pontos percentuais face aos 22% que tinha em 2021. O mesmo sucede com a P&G, que além de baixar a margem EBITDA de 28% para 26%, baixou também a margem bruta de 51,4% para 47,6%. E o mesmo sucedeu com a Nestlé, que fechou as contas do ano passado com uma margem de lucro operacional de 20,4% face a 21,2% em 2021.

Fica apenas a faltar nesta equação o Estado, que atua no mercado através da carga fiscal que aplica sobre os bens de consumo através do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA). E de todos os intervenientes na cadeia de valor, o Estado foi o único que não fez qualquer alteração na sua “margem de lucro”: não baixou nem reviu o IVA sobre os bens alimentares básicos, como fez Espanha, nem parece ter intenção de o fazer. E o resultado da inação por parte do Estado é bem visível nas suas contas.

Segundo os últimos dados da execução orçamental, publicados pela Direção-Geral do Orçamento, a receita fiscal arrecadada pelo Estado em 2022 aumentou 11,6% para mais de 58,5 mil milhões de euros. No entanto, a receita gerada com a cobrança do IVA no último ano disparou 18,5%.

Nos últimos 10 anos que não se assistia a um desfasamento tão grande entre o crescimento da receita fiscal e o crescimento da receita gerada com a cobrança do IVA. E tudo isto aconteceu com o consumo privado a registar um crescimento de apenas 5,9% (segundo projeções do Banco de Portugal), cerca de um terço do aumento da taxa de crescimento da receita arrecadada em IVA.

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Dona do Pingo Doce trava taxa alimentar e já deve quase 30 milhões ao Estado

Jerónimo Martins volta a recorrer à Justiça para impedir o Fisco de cobrar taxa de segurança alimentar que gerou encaixe de 73 milhões numa década. Sonae paga, mas também contesta em tribunal.

A Jerónimo Martins voltou a recorrer aos tribunais portugueses no início deste ano para impugnar a cobrança da Taxa de Segurança Alimentar Mais (TSAM), criada em 2012 pelo Governo de Pedro Passos Coelho e mantida no consulado de António Costa. Paga em função da área de vendas, com um valor de sete euros por metro quadrado (m2), aplica-se aos estabelecimentos de comércio alimentar com mais de 2.000 metros quadrados ou que tenham várias lojas em Portugal que perfaçam mais de 6.000 m2.

Segundo a informação dada ao ECO pelo grupo retalhista, com base nos números consolidados até ao final do terceiro trimestre do ano passado, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) já “reclamou de Pingo Doce, Recheio e Hussel as quantias de 26 milhões de euros, três milhões de euros e 60 mil euros, respetivamente, correspondente a liquidações da TSAM relativas aos anos de 2012 a 2022”. Ou seja, o valor em dívida ascende a quase 30 milhões de euros.

Como o Pingo Doce prestou garantia bancária, a execução movida pela Autoridade Tributária deve continuar suspensa até decisão final e vinculativa dos tribunais.

Grupo Jerónimo Martins

A impugnação mais recente foi apresentada a 7 de fevereiro no Tribunal Tributário de Lisboa, pedindo a “revisão de uma decisão da Autoridade Tributária (AT) de cobrar ao Pingo Doce a TSAM no valor de 2,55 milhões de euros”, relativa ao ano passado, cujo pagamento, no seu entendimento, “ainda não é devido”. “Isto porque ainda está em discussão nos tribunais tributários a questão de saber se o pagamento é ou não devido e, como o Pingo Doce prestou garantia bancária, a execução movida pela AT deve continuar suspensa até decisão final e vinculativa dos tribunais”, explica fonte oficial.

Apesar de o Tribunal Constitucional já se ter pronunciado a favor desta taxa que integra o Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar, dirigido pela DGAV, o grupo liderado por Pedro Soares dos Santos insiste que “o diploma legal que criou a TSAM se encontra ferido de inconstitucionalidade”. Em junho de 2019 apresentou uma queixa à Comissão Europeia (CE), alegando “um auxílio ilegal do Estado”, que ainda está em apreciação. O Ministério da Agricultura diz ao ECO que ainda não recebeu “notificação de qualquer decisão judicial em resultado das impugnações apresentadas”.

Temos conhecimento da queixa, no entanto, ainda não recebemos nenhuma notificação de qualquer decisão judicial em resultado das impugnações apresentadas.

Ministério da Agricultura e da Alimentação

“As companhias do grupo continuam a apresentar regularmente impugnações à taxa, procedendo a uma análise regular do risco e da probabilidade de desenlace favorável nalgum dos processos e/ou da queixa à Comissão Europeia”, acrescenta a Jerónimo Martins. Com negócios igualmente na Polónia – opera com a insígnia Biedronka no retalho alimentar e tem a rede de lojas Hebe, especializada em saúde e beleza – e na Colômbia – entrou em 2013 e chegou em novembro às 1.000 lojas com a marca Ara) –, o grupo de origem portuguesa viu em 2022 as vendas dispararem 21,5% em termos homólogos, para 25,4 mil milhões de euros.

Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo MartinsPAULA NUNES / ECO

No mercado português, em que a subida generalizada dos preços levou a uma inflação alimentar de 13% e a “forte recuperação” do turismo beneficiou o canal Horeca (engloba os hotéis, os restaurantes e os cafés), os dados preliminares comunicados à CMVM a 12 de janeiro mostraram que o Pingo Doce faturou 4.500 milhões de euros (+11,2% em termos homólogos) e terminou o ano passado com 472 lojas (área total de 551.250 m2).

Por outro lado, o Recheio, com 139.381 m2 divididos por 43 espaços em formato Cash & Carry, vendeu 1.200 milhões de euros (+27,7% face ao ano anterior). Já a cadeia especializada em chocolates e confeitaria Hussel, que resulta de uma joint-venture entre a Jerónimo Martins (51%) e a alemã Douglas AG (49%), conta com 21 bomboneries localizadas sobretudo nos maiores centros comerciais do país.

Estado arrecadou 73 milhões numa década

Desde que foi implementada pela então ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas (CDS-PP), com o intuito de suportar os custos inerentes ao cumprimento das normas europeias em matéria de qualidade e segurança alimentar, e proteção animal e vegetal, a Taxa de Segurança Alimentar Mais já permitiu arrecadar um montante total de 72.963.222,62 euros, como adiantou ao ECO o Ministério da Agricultura e da Alimentação, liderado por Maria do Céu Antunes.

Ou seja, se não fosse o montante em dívida por parte da dona do Pingo Doce, a receita total já podia ser superior a 102 milhões de euros. Esta taxa é anual e liquidada por uma única vez, titulada por duas faturas emitidas em simultâneo, sendo paga em duas prestações que vão indicadas nas faturas. A última liquidação foi efetuada em maio de 2022, sendo atualmente o grupo Jerónimo Martins, como confirma a tutela, “o único operador que vem impugnando a taxa, sem proceder ao pagamento”.

As sociedades participadas pela MC têm procedido ao pagamento e, à semelhança de anos anteriores, impugnado a mesma junto dos tribunais, em defesa dos seus direitos, nomeadamente por se discordar da natureza e razão de ser desta taxa.

Sonae MC

Mas não é a única a recorrer à Justiça. Apesar de a Sonae MC (dona dos supermercados Continente, Meu Super ou Go Natural) ter realizado até à data todos os pagamentos relativos a esta taxa, que é calculada em função do espaço ocupado pelos grandes retalhistas, as sociedades participadas pela principal empresa do grupo liderado por Cláudia Azevedo também “têm impugnado a mesma junto dos tribunais, em defesa dos seus direitos, nomeadamente por se discordar da natureza e razão de ser desta taxa”, como confirmou ao ECO fonte oficial.

Com cerca de 36 mil colaboradores, a Sonae MC, presidida por Luís Moutinho, viu o volume de negócios subir para 5.978 milhões de euros em 2022, ficando 11,5% acima do registo do ano anterior, de acordo com a comunicação feita ao regulador do mercado de capitais. No ano passado, a empresa nortenha abriu 65 lojas próprias (25 mil metros quadrados adicionados), das quais 17 de base alimentar – dois grandes supermercados em zonas urbanas e 15 lojas de proximidade – e remodelou ainda 33 unidades, encerrando o exercício com um portefólio de 1.401 lojas (incluindo franquias) em Portugal e Espanha.

O compromisso da Mercadona com a sociedade é cumprir com a lei e efetuar todos os pagamentos inerentes à atividade da empresa, e esta taxa não é exceção.

Mercadona

O ECO questionou igualmente o Lidl, o Auchan e a Mercadona sobre este tema, mas apenas a retalhista de origem espanhola, que está a investir 225 milhões num centro logístico de Almeirim, respondeu até à hora de publicação deste artigo. “O compromisso da Mercadona com a sociedade é cumprir com a lei e efetuar todos os pagamentos inerentes à atividade da empresa, e esta taxa não é exceção”, assegura a líder de mercado no país vizinho, que soma 39 supermercados nos distritos do Porto, Braga, Aveiro, Viana do Castelo, Setúbal, Santarém, Viseu, Leiria e Lisboa, e que este ano planeia abrir mais dez unidades em Portugal.

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Jerónimo Martins e Sonae sobem no ranking das maiores retalhistas do mundo

Donas do Pingo Doce e do Continente ganham terreno na lista das 250 maiores retalhistas do mundo, elaborada pela consultora Deloitte e controlada por americanas e alemãs, com uma “intrusa” chinesa.

A Jerónimo Martins – dona do Pingo Doce (Portugal), da Biedronka (Polónia) e da Ara (Colômbia) – e a Sonae, que detém o Continente no ramo alimentar e outras marcas no retalho especializado, consolidaram as respetivas posições na mais recente edição do estudo Global Powers of Retailing 2023, elaborado pela consultora Deloitte.

Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo MartinsTIAGO PETINGA/LUSA

O grupo de origem familiar liderado por Pedro Soares do Santos subiu duas posições em relação ao ano anterior e ocupa agora o 47º posto a nível mundial. Uma performance suportada no crescimento de 8,3% das receitas consolidadas, para 24.697 milhões de dólares, de acordo com a metodologia aplicada e o período em análise (ano fiscal de 2021).

Com receitas consolidadas de 8.136 milhões de dólares no exercício fiscal encerrado a 30 de junho do ano passado, o que correspondeu a um aumento de 3,4% face ao anterior, considerando apenas a atividade retalhista, o conglomerado nortenho comandado por Cláudia Azevedo e presente em 62 geografias ganha também uma posição e passa a ocupar o 143º lugar nesta lista que integra as 250 maiores empresas retalhistas do mundo.

Claudia Azevedo
Cláudia Azevedo, CEO da Sonae

Num outro índice, divulgado em janeiro e elaborado pela Universidade de St. Gallen e pela consultora EY, a Jerónimo Martins (detida a 56% pela família Soares dos Santos) e a Sonae (controlada pela família Azevedo através da holding Efanor, que detém 53% do capital) apareceram entre a elite das 500 maiores empresas familiares do mundo. Estas empresas portuguesas, que têm a presidência executiva entregue a elementos da família, figuravam, respetivamente, no 69º e no 231º lugar do Family Business Index de 2023.

No último ano fiscal, os 250 maiores retalhistas do mundo alcançaram uma taxa de crescimento total de 8,5%, num total de 5,65 biliões de dólares. O ranking mundial continua a ser liderado pela Walmart, com a Amazon e a Costco a completarem o pódio. No top 10, dominado por empresas norte-americanas e alemães, que viu o crescimento abrandar para 8%, destaca-se a retalhista chinesa JD: ocupa agora a 7ª posição, duas acima da edição de 2022.

O Global Powers of Retailing da Deloitte identifica anualmente os 250 maiores retalhistas do mundo e analisa o desempenho obtido pelo setor ao nível do volume de negócios, crescimento e rentabilidade nas várias geografias, segmentos de atividade e formatos de loja, bem como as principais tendências de mercado. A mais recente edição deste estudo mostra que as retalhistas digitais estão a beneficiar com o aumento do comércio online, ainda que as empresas tentem trazer os consumidores de volta às lojas físicas numa era pós-Covid.

“Apesar de os comportamentos dos consumidores estarem a regressar a níveis pré-pandémicos, existem tendências que vieram para ficar não só nos hábitos mais digitais e omnicanal, mas também numa maior preocupação com operações e produtos sustentáveis. Numa altura em que a personalização é um fator diferenciador para os consumidores, os retalhistas terão de utilizar a tecnologia e a inovação para criar uma experiência de compra integrada e adaptada as necessidades de cada consumidor”, indica, em comunicado, o partner da Deloitte, João Paulo Domingos.

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Mais de um terço da Bolsa nacional está nas mãos de apenas sete investidores

Xi Jinping, presidente da China, é o maior investidor da Euronext Lisboa, contando com participações diretas e indiretas em oito empresas cotadas.

Os maiores investidores da Euronext Lisboa, da esquerda para a direita: John Graham (Canada Pension Plan Investment), Lua Queiroz Pereira (Sodim), Fernando Masaveu Herrero (Oppidum Capital), Xi Jinping (China), Pedro Soares dos Santos (Sociedade Francisco Manuel dos Santos), Paula Amorim (Grupo Américo Amorim) e João Lourenço (Angola).

O mercado de ações da Euronext Lisboa conta atualmente com 37 empresas cotadas que agregam uma capitalização bolsista de 78 mil milhões de euros. A sua estrutura acionista é constituída por milhares de investidores, de onde sobressaem os fundos de investimento e os pequenos investidores nacionais, que compram e vendem vários lotes de ações diariamente.

No entanto, quase metade das cotadas (17) apresenta uma estrutura acionista totalmente blindada pelo controlo da maioria do capital por muito poucos acionistas. É disso o exemplo a EDP Renováveis EDPR 2,83% , a maior empresa da praça portuguesa com uma capitalização bolsista de 21 mil milhões de euros, que é detida em 75% pela EDP EDP 0,86% .

O mesmo sucede com a Jerónimo Martins JMT 0,00% , que tem 56% do seu capital nas mãos da família Soares dos Santos ou a Corticeira Amorim COR 0,91% , que é controlada pela família Amorim através de três holdings familiares.

Xi Jinping é de longe o maior investidor da praça financeira portuguesa. E não é de agora. O poder do Império do Meio tem sido construído ao longo da última década.

A forte concentração do capital entre as cotadas é espelhada no domínio da Bolsa nacional por um grupo muito restritivo de apenas sete investidores, que através dos seus investimentos controlam 35% do capital da Euronext Lisboa.

Grande parte deste grupo é dominado por famílias bem conhecidas: a Soares dos Santos, que detém a maioria do capital da Jerónimo Martins, a família Amorim, que é dona de uma carteira avaliada em 2,5 mil milhões de euros como resultado de investimentos realizados na Galp Energia GALP 0,18% , na Corticeira Amorim e no Estoril-Sol ; e a família Queiroz Pereira, hoje representada pelas três filhas do empresário Pedro Queiroz Pereira que, através da holding familiar (Sodim), controlam um império de 2,4 mil milhões de euros de participações maioritárias na Semapa SEM 0,19% e na Navigator NVG 0,54% .

Apesar de o capital nacional ser ainda a estrela maior na Bolsa lusitana, as 38 cotadas têm nas suas estruturas acionistas investidores qualificados (detentores de participações acima dos 2%) de mais 15 nacionalidades. Entre os países com maior peso na Euronext Lisboa está Espanha e Angola.

Destaque para o fundo Oppidum Capital, do grupo Masaveu do empresário espanhol Fernando Masaveu Herrero, que detém uma participação de 7,2% na EDP (em 2013 chegou a comprar a participação de 1% que o BES detinha na elétrica por 37 milhões de euros), e para o próprio Estado angolano, que através de posições no capital da Galp, NOS NOS 1,50% e BCP BCP 0,95% acumula atualmente investimentos de 2,3 mil milhões de euros.

A completar o leque dos sete maiores investidores da praça portuguesa está John Graham, presidente e CEO da Canada Pension Plan Investment, a entidade que gere o fundo de pensões do Canadá que acumula mais de 350 mil milhões de euros sob gestão. Atualmente, os canadianos deteem uma posição de 7% na EDP e, por arrasto, uma participação indireta da EDP Renováveis e no BCP.

Os mais poderosos da Euronext Lisboa

Fonte: Empresas, Euronext e Refinitiv. 11 de dezembro de 2022.

Pequim tem ganho poder na Bolsa desde os anos da Troika

No topo dos maiores investidores da Euronext Lisboa está Xi Jinping e o capital chinês privado, que por via de três empresas estatais (China Three Gorges, State Grid of China e China Communications Construction Company) e da empresa privada Fosun agrega um portefólio de mais de 8,5 mil milhões de euros de participações diretas e indiretas em oito empresas cotadas: EDP, EDP Renováveis, BCP, REN RENE 0,87% , Mota-Engil EGL 4,56% , Martifer , Inapa e Reditus.

Xi Jinping é de longe o maior investidor da Bolsa nacional. E não é de agora. O poder do Império do Meio tem sido construído ao longo da última década com o arranque, em 2011, do Programa de Assistência Económica e Financeira da Troika, que incluía uma forte política de privatizações, que abriu as portas ao capital chinês nas maiores empresas nacionais.

O primeiro teste do capital chinês na Bolsa portuguesa foi dado pela empresa pública China Three Gorges (CTG) em dezembro de 2011. Na altura, a CTG pagou 2,7 mil milhões de euros ao Estado português por 21,35% do capital da EDP, então liderada por António Mexia. Desde então, Pequim já aforrou mais de 2 mil milhões de euros só em dividendos com o investimento na EDP e alargou o seu raio de ação até à EDP Renováveis e ao BCP, através da participação de 21,08% que a CTG detém hoje no capital da elétrica nacional.

Seguiram-se investimentos na Redes Energéticas Nacionais (REN), através de uma participação de 25% da State Grid of China e de 3,9% da Fosun (hoje essa participação é de 5,3% e está associada à Fidelidade, empresa detida em cresceu 85% pela Fosun) no decorrer de processos de privatização da empresa e, mais tarde, em 2016, ocorre a entrada da Fosun no BCP com um investimento de 175 milhões de euros.

A carteira de Pequim na praça nacional fica completa com a participação de 32,4% da construtora China Communications Construction Company (CCCC) no capital da Mota-Engil e com o controlo de 57,8% da Estoril-Sol pela Finansol, uma sociedade detida pelo empresário chinês Stanley Ho.

(Notícia atualizada a 14 de dezembro com a clarificação de que a Fosun é uma empresa privada).

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