Reestruturação na Corticeira Amorim já custou 7,5 milhões e uma centena de empregos
Grupo fecha processo que envolveu “redução da estrutura superior e dos efetivos de produção e supervisão”. Fusão das três unidades de negócio não rolhas implica aumento de capital de quase 5 milhões.
A reestruturação em curso na Corticeira Amorim para concentrar numa nova unidade de negócios (Amorim Cork Solutions) os atuais três segmentos “não rolha” — produção de pavimentos, isolamentos e compósitos de cortiça — vai ser concretizada através da incorporação da Amorim Cork Flooring (ACF) e da Amorim Cork Insulation (ACI) na sociedade Amorim Cork Composites (ACC), que será “renomeada e reestruturada”, passando o seu atual CEO, João Pedro Azevedo, a liderar esta nova estrutura a partir de janeiro de 2025.
Esta reorganização, que tem sido realizada nos últimos meses, avançou na sequência da reestruturação na área de pavimentos (flooring) iniciada em maio, já depois do ultimato lançado pelo grupo. “Está concluído no que respeita a pessoas e implicou a alteração da gestão da empresa com redução da estrutura superior e dos efetivos de produção e supervisão”, refere fonte oficial. O conglomerado de Santa Maria da Feira garante ainda ao ECO que “todos os trabalhadores” absorvidos pela nova unidade “irão manter os seus direitos adquiridos”, isto é, a antiguidade dos vínculos laborais para efeitos de reforma.
De acordo com o Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, a gigante corticeira aproveitou “esta onda para negociar acordos de rescisão com, pelo menos, 102 trabalhadores das áreas fabris e algumas da parte administrativa – sobretudo pessoas com 60 anos e com uma carreira larga de descontos”. Ao ECO, o presidente do sindicato, Alírio Martins, disse também que estas pessoas “estão a sair gradualmente da empresa e algumas só [o farão] em 2025”, tendo apenas conhecimento de um funcionário que não aceitou o acordo e que já está a contestar o despedimento em tribunal.
O processo está concluído no que respeita a pessoas e implicou a alteração da gestão da empresa com redução da estrutura superior e dos efetivos de produção e supervisão. (…) Todos os trabalhadores irão manter os seus direitos adquiridos.
O grupo liderado por António Rios de Amorim não quis contabilizar o número de trabalhadores dispensados nem estimar o custo total deste plano de reestruturação. No entanto, no último relatório e contas, reconheceu 7,5 milhões de euros de gastos não recorrentes na Amorim Cork Flooring no segundo trimestre: quatro milhões relativos às “medidas de reestruturação inerentes ao plano de otimização industrial”; e 3,5 milhões relacionados com a “decisão de reavaliar a oferta dos novos produtos da unidade de negócios, (…) essencialmente relacionados com marketing tools, imparidades de inventários e desenvolvimento de produto”.
É que, além do ajustamento da estrutura produtiva e de suporte para reduzir as perdas operacionais e aumentar a eficiência na fábrica, este processo envolveu o “encerramento ou otimização das empresas de distribuição próprias no exterior”. Questionada pelo ECO, a Corticeira explicou que “as principais alterações comerciais traduzem-se no foco da atividade na produção e comercialização de pavimentos de cortiça, com pegada de carbono negativa, e eliminando de gama todas as referências de importação”. “Adicionalmente, em alguns mercados, haverá uma alteração de um modelo de distribuição próprio assente em filiais para um modelo assente em distribuidores”, completou.
Aproveitaram esta onda para negociar acordos de rescisão com, pelo menos, 102 trabalhadores das áreas fabris e algumas da parte administrativa – sobretudo pessoas com 60 anos e com uma carreira larga de descontos.
Estes três negócios, que passarão a integrar uma única unidade, produzem e comercializam um conjunto alargado de produtos que utilizam a matéria-prima sobrante ou que não pode ser utilizada na produção de rolhas. É o caso de revestimentos de solo, cortiça com borracha para a indústria automóvel e para aplicações antivibráticas, aglomerados para isolamento térmico e acústico, para a indústria de construção civil e calçado, ou granulados para a fabricação de rolhas aglomeradas, técnicas e de champanhe.
No primeiro semestre de 2024, em que os lucros da Corticeira encolheram 29% para 36,5 milhões de euros, só a área dos compósitos aumentou as vendas (3,2% em termos homólogos), que totalizaram 60 milhões. Nos pavimentos — prolongando as perdas anteriores e com o setor a nível europeu penalizado pelo contexto desfavorável na construção e pela intensificação da concorrência asiática –, sem sinais de recuperação nos principais mercados, como a Alemanha, a quebra semestral na faturação foi de 10,7% (para 44,2 milhões) e o EBITDA negativo em 2,9 milhões (vs. -2,7 milhões no período homólogo). O mesmo indicador foi negativo (-1,7 milhões) também na área mais pequena dos isolamentos, em que as vendas desceram 13,4% para 8,6 milhões.
Redução “significativa” de custos e ganhos de produção
A futura Amorim Cork Solutions vai resultar da renomeação e reestruturação da ACC, que vai incorporar as sociedades ACF – detida diretamente a 100% pela holding – e ACI, sendo que nesta última o grupo detém 20% do capital social e os restantes 80% são detidos indiretamente através da ACC. É por este motivo que, de acordo com o projeto de fusão consultado pelo ECO, o capital da Composites será aumentado em 4,85 milhões de euros através da emissão de 907.576 novas ações, com o valor nominal de 5 euros cada uma, que serão atribuídas à Corticeira Amorim SGPS. (4,58 milhões relativos à transmissão de património da ACF e 277,4 mil euros relativos à ACI).
Do ponto de vista patrimonial, esta operação implica a extinção das ações da ACF e da ACI, e a incorporação do património das duas sociedades na ACC — ao conjunto de bens, ativos e passivos a incorporar por fusão correspondia a 30 de junho de 2024 o valor contabilístico líquido global de 32,35 milhões de euros. O mesmo documento salienta que “serão transferidos para a ACC todos os elementos do seu ativo e passivo, incluindo todos os contratos, direitos, obrigações, deveres, garantias e posições jurídicas e processuais que vinculam” as outras duas sociedades.
“Esta fusão e a reorganização daí resultante terão efeitos positivos em termos de estrutura, reduzindo de forma significativa os custos, originando ganhos de produção e obtendo uma otimização da estrutura organizativa existente nas três unidades de negócio atuais. Garantirá ainda uma gestão orientada e focalizada, com um aproveitamento de sinergias funcionais e de economias de escala, e ainda uma otimização dos ativos que as três empresas possuem através da sua junção numa única entidade por forma a haver uma adequada identidade na sua gestão”, expõe.
Atendendo à complementaridade das atividades, sublinha ainda o grupo, “surgirão naturais reflexos positivos ao nível da gestão, comercial, industrial e administrativa, e uma otimização da situação económico-financeira operativa através da redução de custos administrativos e financeiros daí resultantes, nomeadamente a nível da fabricação, distribuição, comunicação e da própria atividade comercial, e ainda da gestão de ativos das sociedades”. O grupo identifica três tipos de sinergias:
- Sinergias industriais: oportunidades de elevado potencial na partilha de granulados de cortiça, utilização de prensas e otimização da capacidade de aglomeração;
- Sinergias comerciais: exploração de relações comerciais com os atuais clientes e identificação de estruturas logísticas com potencial de partilha;
- Sinergias de suporte: identificação de funções com potencial de sobreposição após a fusão das três empresas.
Este projeto obriga à “clara redefinição da estrutura organizativa e do modelo de gestão”, incluindo a criação de uma área que “combine funções de suporte sinergísticas (sic) que prestem serviços numa lógica global, evitando duplicação de funções”; a reformulação da área de operações para “refletir a transição progressiva de organização por localização para organização por tecnologia”; ou uma “governança uniforme das três sociedades que terá como consequência a uniformização dos horários de trabalho e das condições remuneratórias dos trabalhadores das três sociedades envolvidas e respetivos ajustamentos nos quadros de pessoal”.
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