António José Teixeira e Nicolau Santos trocam argumentos em artigos de opinião
A demissão do diretor de informação da RTP tem sido justificada pelo presidente com os resultados da RTP3. Após uma semana de silêncio, António José Teixeira responde em artigo de opinião.
António José Teixeira respondeu esta quarta-feira, em artigo de opinião publicado no Público, a Nicolau Santos. “Em nome da verdade”, o até à última semana diretor de informação da RTP pretende assim desmontar os argumentos que, segundo o presidente da RTP, levaram à sua demissão e, no essencial, se prendem sobretudo com os resultados da RTP3.
“Se a confiança, a qualidade e a independência não estão em causa, mesmo que todos os dias tenhamos de lutar por elas, parece estar apenas em causa a audiência de um só canal, a RTP3, que se diz continuar a afundar. É falso. E não é uma questão de opinião. É factual”, começa por afirmar, passando de seguida aos resultados. “No presente trimestre está acima do período homólogo de 2024. Em 2024, teve o mesmo share de 2023. Em 2024, os nossos concorrentes diretos perderam audiência, ao contrário da RTP3“.
Ou seja, conclui António José Teixeira, “em resumo, nestes últimos três anos não houve quebra de audiência na RTP3. O rating de 2024 até foi superior ao de 2023. Já agora, as audiências dos principais formatos informativos diários (seja o Telejornal, o Jornal da Tarde ou o Portugal em Direto) ou não diários (Linha da Frente ou A Prova dos Factos) estão a crescer. O mesmo se pode dizer da área de notícias no digital, que teve crescimentos acima dos 30% no ano passado”.
“Estamos satisfeitos? Não”, prossegue o jornalista. “Por isso, há vários anos que alertamos e insistimos na necessidade de renovação dos estúdios, das condições de trabalho na redação, da sua organização e da imagem da informação. Foi por persistente proposta da DI que avançámos há um ano e meio para um projeto ambicioso, intitulado Casa das Notícias, cuja primeira fase se concluirá dentro de pouco mais de dois meses. Foi por nossa iniciativa que se avançou para um novo estúdio de informação no Porto, dois estúdios completamente remodelados em Lisboa, uma nova imagem para a informação e a reformatação do canal de informação, incluindo a sua marca. Porque é preciso fazer mais e melhor, estivemos a trabalhar com todas as áreas da empresa e com o acompanhamento permanente de um vogal da administração da RTP e a assessoria técnica e editorial da EBU”, descreve António José Teixeira.
“Por alguma razão, até agora por explicar, se quis interromper este processo”, conclui o jornalista, que termina o artigo afirmando que “os portugueses precisam de uma RTP livre e independente, que não mude ao sabor de equívocos ou dos ciclos políticos”.
Esta segunda-feira, Nicolau Santos respondeu, também em artigo de opinião no Público a Pedro Adão e Silva, que tutelava a pasta da comunicação social no último Governo de António Costa. “Após a sucessão de ataques de que a RTP foi alvo, vindos diretamente do centro do poder, é um sinal errado exonerar o seu diretor de Informação. As coisas são como são, perante este historial e na ressaca da tomada de posse de um novo Governo, esta substituição deve preocupar todos aqueles que defendem um jornalismo independente e incómodo. Afinal, vislumbra-se na decisão a concretização do desejo de Montenegro de “termos uma comunicação social mais tranquila e não tão ofegante”, escrevia também em artigo de opinião o ex ministro da Cultura, no dia 27 de junho.
Na resposta, e após garantir que “nas mudanças que agora ocorreram na RTP não houve qualquer interferência do poder político”, Nicolau Santos escreve: “Afirmei publicamente, no início de 2024, na Assembleia da República, que alguma coisa teria de ser feita para resolver o seu problema em termos de audiências; repeti-o em meados de 2024 no encontro anual da APDC; e voltei a falar no tema no primeiro trimestre de 2025 durante o encontro da APIT“, para concluir “e o que ocorreu? A RTP3 continuou a cair nas audiências, foi ultrapassada por um canal recém-chegado ao mercado e tornou-se o canal informativo diário que menos interessa aos espectadores portugueses”.
Em 2023, de acordo com dados trabalhados na altura pela Dentsu para o +M, no universo Adultos a RTP3 registou um share de 0,6% e um rating de 0,2%. Já em 2024, no acumulado do ano e também no universo adultos, a audiência média foi de 0,2 e o share de 0,8%. No último trimestre, de abril a junho, o share é de 0,9%, que compara com 0,7% do período homólogo.
De notar que todos os canais de informação crescem neste trimestre. A CNN Portugal passou de 2,5% para 2,7%, a SIC Notícias de 2% para 2,5% e o Now passou de 0,3%, em junho, mês de estreia, para 1,5%.
António José Teixeira, recorde-se, foi demitido da direção de informação da RTP e do cargo de diretor da RTP3 no início da última semana. Pouco depois, soube-se que estava em curso uma reorganização do organograma da empresa, que leva ao fim de 11 direções, e também à saída de Teresa Paixão, até agora diretora da RTP2, Nuno Galopim, diretor da Antena 1, RDP África e RDP Internacional. Entretanto, Vítor Gonçalves será o próximo diretor de informação.
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