Despesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa aumenta 20% em seis anos, mas receitas caíram

A debilidade financeira da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa está no centro das atenções e levou o Governo a exonerar a administração. Como evoluiu a saúde financeira da instituição desde 2017?

O Governo decidiu exonerar toda a mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), incluindo a provedora Ana Jorge, acusando a administração de ser “incapaz de enfrentar os graves problemas financeiros e operacionais da instituição” e de “atuações gravemente negligentes”, que poderão comprometer a “curto prazo” a “fundamental tarefa de ação social que lhe compete”. O investimento na internacionalização da Santa Casa no Brasil já ‘custou’ 50 milhões de euros (pelo menos). Mas, afinal, como evoluiu a saúde financeira da instituição fundada em 1498 no espaço de seis anos, período em que foi liderada por Edmundo Martinho?

Com um orçamento anual de cerca de 200 milhões de euros, a Santa Casa beneficia de várias fontes de financiamento, nomeadamente das receitas proveniente dos jogos sociais, dos rendimentos provenientes do património imobiliário, bem como de doações. De acordo com o último relatório de Gestão e Contas apresentado, referente a 2022 e que foi alvo de uma correção depois da autoria pedida pelo anterior Governo, a SCML contava com cerca de 6.080 funcionários, dos quais 561 (9%) eram dirigentes. Se a comparação for feita com os seis anos anos anteriores a diferença é significativa: em 2017 tinha 5.033, dos quais 309 (6%) eram dirigentes.

O momento de “viragem” da saúde financeira da instituição, que conta com mais de cinco séculos de existência, coincidiu com o primeiro ano de pandemia, com a Santa Casa a passar de lucros a prejuízos. Em 2020, a SCML apresentou prejuízos de 52,8 milhões de euros, valor que contrasta com os lucros de 37,5 milhões de euros no ano anterior, com os lucros de 33,3 milhões de euros em 2018 e de 42,4 milhões em 2017.

No segundo ano de pandemia, em 2021, a SCML viu os prejuízos encolherem para 39,8 milhões e em 2022 para 12,4 milhões de euros (este resultado foi corrigido na sequência da auditoria, dado que inicialmente o primeiro relatório apontava para lucros de 10,9 milhões), ainda que neste último ano tivesse orçamentado já um resultado positivo de 6 milhões de euros. De acordo com o novo relatório, este resultado foi “fortemente influenciado por perdas de imparidade associadas às perdas de valor decorrentes dos negócios de internacionalização e pela redução do justo valor das propriedades arrendadas“. Mas, afinal, como evoluíram as receitas e a despesas da SCML desde 2017?

Receitas caem quase 8% em seis anos

No que concerne às receitas correntes, atingiram os 241,2 milhões de euros em 2022, isto é, uma quebra de quase 8% face aos 261,8 milhões de euros alcançados em 2017 e abaixo dos 291 milhões de euros orçamentados para 2022. Através da análise ao relatório de Gestão e Contas é possível verificar que esta rubrica tem recuperado desde o “rombo” provocado no primeiro ano de pandemia, mas está ainda longe do alcançado antes da Covid. Já se a comparação for feita com 2021, esta rubrica aumentou em 16,5 milhões de euros (7,4%) à boleia “sobretudo do acréscimo em 8,6 milhões de euros da distribuição dos resultados dos jogos sociais”.

A principal “fonte” de receitas da SCML diz respeito aos jogos sociais, que em 2022 representavam cerca de 81% do total da receita corrente, ascendendo a 195 milhões de euros. No entanto, apesar de esta rubrica ter aumentado cerca de 4,6% face aos 186,5 milhões registados no ano anterior, ficaram longe dos 208,5 milhões de euros estimados para esse ano e dos resultados alcançados no pré-pandemia (em 2019 chegaram aos 226,1 milhões).

Já no que diz respeito às restantes rubricas que compõe as receitas correntes, a saúde representa a segunda maior fatia, com as receitas a ascenderem a 25,1 milhões de euros em 2022, isto é, um aumento de 20% face a 2021 e de 36,4 face a 2017. Ainda assim, ficaram abaixo do orçamentado para 2022.

Apesar de ter o exclusivo da exploração dos jogos, a instituição apenas recebe 26,52% das receitas líquidas geradas, sendo este dinheiro usado “para prosseguir os seus fins estatutários, que abrangem cada vez mais áreas de intervenção, sendo que as principais são a ação social (lares, centros de dia, resposta de emergência, apoio a idosos, proteção e promoção de crianças no distrito de Lisboa, alimentação, entre outras) e saúde (três hospitais, duas unidades de cuidados continuados, várias unidades de saúde de proximidade, saúde oral gratuita para jovens até aos 18 anos em Lisboa, um centro médico, entre outros equipamentos e respostas)”, adianta fonte oficial da SCML, ao ECO.

Já o remanescente é distribuído pelos restantes beneficiários, como é o caso do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (32,98%), o Ministério da Saúde (15,70%), o Ministério da Educação (10,29%) ou o Governos regionais da Madeira e dos Açores (2,47% e 2,38%), entre outras entidades públicas, e tal como definido no Decreto-Lei 56/2006.

Em 2022, foram distribuídos 650 milhões de euros pelos vários beneficiários”, revela ainda fonte oficial da SCML, ao ECO, sinalizando que “fora do âmbito deste Decreto, ainda é distribuído por vários setores da sociedade (outras áreas da Santa Casa, Fundo de Salvaguarda do Património Cultural e Entidades do Desporto) mais cerca de 42 milhões de euros”.

“Na prática, as receitas dos jogos sociais do Estado são devolvidas em quase 100 por cento à sociedade através das diferentes vias acima assinaladas”, remata.

Raspadinha é “prémio estrela” e Totobola perde gás

Entre os jogos explorados pela Santa Casa, a famosa “raspadinha” é o ‘prémio estrela’, com as vendas brutas deste jogo a atingirem os cerca 1,7 mil milhões de euros em 2022, de acordo com o Relatório e Contas 2022 Jogos Santa Casa. Trata-se de mais de metade das vendas totais brutas de todos os jogos explorados pela Santa Casa, cujo montante rondou os três mil milhões de euros em 2022. Segue-se o Euromilhões e M1lhão (com as vendas brutas a atingirem os 646 milhões de euros) e o Placard (com 498 milhões).

Numa altura, em que os jogos sociais explorados pela SCML estão sob a concorrência das apostas online, um dos projetos estratégicos definidos para 2022 era transformar os jogos “numa referência da indústria 4.0, digital e socialmente responsável”, segundo consta no último relatório de Gestão e Contas apresentado. Por isso, foram lançados 61 novos tipos de aposta no Placard, o que permitiu um “acréscimo de 26,3% na receita média diária deste jogo de 15,5% na média diária de apostadores ativos”.

No polo oposto, e com o menor peso nas vendas brutas, está o Totobola, cujas vendas brutas ascenderam a apenas cinco milhões de euros e o que representa uma quebra de 20% face a 2021.

Despesa aumenta 20% em seis anos pressionada pela ação social e saúde

Já no que concerne à despesa corrente, atingiu os 252,5 milhões de euros em 2022, isto é, um aumento de quase 20% face aos 211,1 milhões de euros registados em 2017. Através da análise do relatório de Gestão e Contas, é possível ainda constatar que esta rubrica tem aumentado consecutivamente entre 2017 e 2021, tendo recuado ligeiramente no último ano analisado (menos 2,8 milhões de euros, o equivalente a uma quebra de 1,1%).

As principais áreas da despesa corrente são a ação social e a saúde que, no seu conjunto, representavam em 2022 78% do total da despesa da SCML. Entre 2017 e 2022, a despesa da instituição na área da saúde social cresceu quase 17%, enquanto com a saúde aumentou cerca de 21,5%.

Já no que toca à despesa com capital (investimento), a evolução é mais desigual. No entanto, perante a análise aos últimos seis anos é possível constatar que foi entre 2017 e 2018 que teve a maior queda: se, em 2017, o investimento rondou os 63,3 milhões de euros, no ano seguinte encolheu para 26,9 milhões de euros, isto é, menos 36,4 milhões. Já se a comparação for entre 2017 e 2022 registou-se uma quebra de 58%, tendo atingido nesse último ano os 26,9 milhões de euros.

No que concerne à tipologia de investimento, o relatório de Gestão e Contas referente a 2022 destaca que só nesse ano foram feitos investimentos financeiros no montante de 18,5 milhões de euros (valor que contrasta com os 12,8 milhões registados em 2021), dos quais 9,5 milhões para a Santa Casa Global ( criada para gerir as lotarias e jogos de apostas no mercado externo) e 8 milhões para o Hospital Cruz Vermelha, onde a SCML tem uma participação de 55%.

Por fim, e no que toca aos gastos com pessoal, estes têm aumentado consideravelmente nos últimos anos, ainda que entre 2021 e 2022 se tenham verificado uma quebra ligeira. Se em 2017, os gastos com pessoal rondavam os cerca de 126 milhões de euros, em 2022 atingiram os 147,6 milhões de euros. Contas feitas, trata-se de um aumento de cerca de 17%.

Estes são os últimos relatórios públicos conhecidos. Segundo o Público, a Santa Casa terá fechado o exercício de 2023 com resultados líquidos positivos de 10 milhões de euros, mas no primeiro trimestre deste ano terá tido receitas abaixo do orçamentado em mais de 20 milhões de euros. Perante a debilidade financeira da instituição, o novo Governo reuniu com a (agora exonerada) provedora Ana Jorge, tendo-lhe exigido um plano de reestruturação urgente, para que fosse apresentado no espaço de duas semanas, mas a antiga ministra da Saúde que não conseguiria cumprir o prazo. Além disso, ter-lhe-á sido pedido outras informações e documentos, com o relatório de contas de 2023, mesmo que provisório, que ainda não foi apresentado.

O Governo considerou que a atual administração e a provedora Ana Jorge não davam “garantias da salvaguarda das suas funções sociais”, tendo por isso, demitido a mesa da SCML. e assegura que vai “tentar escolher uma equipa que dê garantias de total sintonia nos propósitos e orientações do Governo e da respetiva tutela”. Já Ana Jorge, que tinha assumido funções há cerca de um ano, denunciou, numa carta aos trabalhadores, a forma “rude e caluniosa” com que foi justificada a sua exoneração e garante que vai contar a sua verdade “em tempo e em sede própria”. O tema está no “centro do furacão”, com os partidos de esquerda a acusarem o Executivo de saneamento político e há quem peça audições da ministra do Trabalho e da ex-provedora. Os líderes parlamentares do PSD e CDS já asseguraram que vão viabilizar os pedidos.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Provedora da Santa Casa mantém-se em gestão corrente até entrada de nova equipa

  • Lusa
  • 30 Abril 2024

A exoneração da provedora da Santa Casa tem efeitos imediatos, mas Ana Jorge e os elementos que compõe a Mesa terão de manter-se em funções até que o Governo nomeie uma nova equipa.

Apesar de a demissão ter “efeitos imediatos”, a provedora exonerada da Santa Casa de Lisboa Ana Jorge e a restante equipa da Mesa mantêm-se no exercício das funções de gestão corrente até que esteja escolhida nova equipa, adiantou o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Segundo adiantou à Lusa o gabinete da ministra Maria do Rosário Ramalho, a exoneração da provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) tem efeitos imediatos, mas Ana Jorge e os elementos que compõe a Mesa, três vogais e uma vice-provedora, terão de manter-se em funções até que o Governo nomeie uma nova equipa, o que irá acontecer “assim que possível”.

A mesma fonte explicou que a atual “equipa exonerada está em gestão corrente”, o que significa, de acordo com o Regime da Administração Financeira do Estado, que poderão realizar “todos os atos que integram a atividade que os serviços e organismos normalmente desenvolvem para a prossecução das suas atribuições, sem prejuízo dos poderes de direção, supervisão e inspeção do ministro competente”.

O Governo exonerou a provedora e os elementos da Mesa, com efeitos imediatos, e justificou a decisão com “atuações gravemente negligentes” que afetaram a gestão da instituição. Posteriormente, numa carta enviada a todos os trabalhadores, Ana Jorge acusou o Governo de a ter exonerado de “forma rude, sobranceira e caluniosa” e que foi apanhada de surpresa.

Ana Jorge tomou posse a 2 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Sonaecom paga dividendo de 7 cêntimos aos acionistas a 16 de maio

  • ECO
  • 30 Abril 2024

Depois de impostos, investidores singulares receberão um dividendo líquido por título de 0,0504 euros, enquanto as pessoas coletivas receberão um dividendo de 0,0525 euros.

A Sonaecom vai pagar um dividendo bruto de 0,07 euros por ação a 16 de maio, de acordo com um comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) divulgado após a assembleia geral.

Nos termos legais, e de acordo com deliberação da Assembleia Geral anual, realizada esta terça-feira, torna-se público que, a partir de 16 de maio de 2024, serão colocados à disposição dos srs. acionistas, através dos intermediários financeiros onde possuam as suas ações inscritas na conta de valores mobiliários escriturais, os dividendos relativos ao exercício de 2023 com os seguintes valores por ação, sendo o agente pagador nomeado para o efeito o banco Caixa Geral de Depósitos”, lê-se na nota.

Na nota, a empresa liderada por Ângelo Paupério indica que os investidores singulares receberão um dividendo líquido por título de 0,0504 euros, enquanto as pessoas coletivas receberão um dividendo de 0,0525 euros, isto depois de serem cobrados os impostos em sede de IRS e IRC, respetivamente.

A assembleia acordou ainda que as ações negoceiam sem direito a dividendo a partir de 14 de maio, inclusive.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Marcelo garante estar alinhado com o Governo sobre as reparações coloniais. “Parece-me evidente”, diz

Em Cabo Verde, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu estar alinhado com o Governo nesta questão, rejeitando estar arrependido das declarações que fez e da polémica que delas resultou.

O Presidente da República garante estar alinhado com o Governo de Luís Montenegro relativamente ao tema lançado pelo próprio, na semana passada, sobre as reparações colonias.

Na cidade da Praia, em Cabo Verde, esta terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa rejeitou estar arrependido das declarações que fez e das polémicas reações que delas surgiram – entre elas a de André Ventura, líder do Chega, que anunciou um voto de condenação contra o Presidente –, argumentando que “há liberdade de pensamento e opinião em Portugal, e o Parlamento é o fórum dessa liberdade”.

Questionado sobre se está alinhado com o Governo nesta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa diz ser “evidente” que sim, acrescentando que o Executivo de Luís Montenegro tem “toda a razão em fazer um comunicado” de resposta às declarações do Presidente.

No passado dia 27 de abril, o Governo emitiu um comunicado no qual frisava que “não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com o propósito” de reparação pelo passado colonial português, defendendo que se pautará “pela mesma linha” de executivos anteriores.

“A propósito da questão da reparação a esses Estados e aos seus povos pelo passado colonial do Estado português, importa sublinhar que o Governo atual se pauta pela mesma linha dos Governos anteriores. Não esteve e não está em causa nenhum processo ou programa de ações específicas com esse propósito”, refere o executivo, em comunicado da Presidência do Conselho de Ministros.

Marcelo Rebelo de Sousa não avançou mais detalhes sobre que tipo de reparações (materiais ou financeiras) às ex-colónias devem ser trabalhadas pelo Estado português, salientou apenas ser expectável que surjam “muitos mais” projetos de cooperação face aos existentes, uma vez que se trata de “um processo contínuo mas que enfrenta novos desafios”.

As declarações de Marcelo procedem os comentários proferidos na semana passada, durante um jantar com correspondentes internacionais, em Lisboa, no qual o Presidente da República sugeriu Portugal deve assumir responsabilidades por crimes cometidos durante a era colonial, propondo o pagamento de reparações pelos erros do passado. O Presidente da República defendeu que Portugal deve liderar o processo de assumir e reparar as consequências do período do colonialismo e sugeriu como exemplo o perdão de dívidas, cooperação e financiamento.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Acionistas da Navigator votam em maio na cooptação de administrador e dividendos

  • Lusa
  • 30 Abril 2024

Na assembleia-geral , marcada para 24 de maio, acionistas vão votar a nomeação, por cooptação, de António Quirino Vaz Duarte Soares para “o desempenho do cargo de administrador".

Os acionistas da Navigator irão deliberar, no dia 24 de maio, sobre a ratificação da cooptação de um administrador e a proposta de aplicação de resultados, incluindo de dividendos de 0,21 euros por ação, segundo uma convocatória.

Na informação, divulgada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a empresa disse que os detentores de títulos da sociedade, que se reúnem em assembleia-geral (AG) naquele dia, têm em cima da mesa a análise e votação da nomeação, por cooptação, de António Quirino Vaz Duarte Soares para “o desempenho do cargo de administrador, com funções executivas, no mandato em curso, correspondente ao triénio 2023/2025, na sequência da renúncia ao cargo apresentada” por João Paulo Araújo Oliveira.

Os acionistas irão também deliberar sobre a proposta de aplicação de resultados, incluindo de quase 150 milhões de euros em dividendos, ou seja, 0,21 euros por ação e 14 milhões de euros a distribuir pelos colaboradores.

A AG da Navigator irá ainda deliberar sobre os documentos de prestação de contas relativos a 2023, proceder à apreciação geral da administração e fiscalização da sociedade, à eleição de membros para o conselho fiscal e votar na aquisição e alienação de ações.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Auchan já é dona do Minipreço. Pagou 155 milhões ao grupo Dia e passa a ter 583 lojas em Portugal

Grupo francês passa de 100 para 583 lojas em Portugal e integra também 30 gasolineiras, quatro armazéns e uma loja digital. Terá 11 mil trabalhadores no país e prevê investir mais 100 milhões.

É oficial. Após receber o parecer de não oposição da Autoridade da Concorrência, a Auchan dá como concluída a aquisição de 100% da operação do Grupo Dia em Portugal, “reforçando a posição” no formato de proximidade, em que já opera com a marca MyAuchan, e apostando no franchising.

Com esta transação, que envolveu um investimento de 155 milhões de euros, o grupo de origem francesa aumenta o número de lojas em Portugal de 100 para 583, passando a integrar também no portefólio um conjunto de 30 gasolineiras, quatro armazéns e uma loja digital.

Em comunicado enviado às redações, a Auchan, que passa a ter 11 mil trabalhadores no país, calcula ainda que, nos próximos três anos, prevê investir outros 100 milhões de euros no desenvolvimento e modernização das lojas Minipreço.

Na mesma nota, assinala que “numa primeira fase, as duas empresas continuarão a funcionar normalmente e em paralelo, e a manter os mesmos pontos de contacto”. “A integração de novos sistemas e políticas e as alterações de marca serão graduais e co-construídas”, acrescenta, antecipando desta forma o futuro desaparecimento da marca Minipreço.

Esta aquisição é uma forte aposta da Auchan, que junta a sua experiência de hipermercados com o segmento de proximidade e franchising.

Pedro Cid

Diretor-geral da Auchan Retail Portugal

“Esta aquisição é uma forte aposta da Auchan, que junta a sua experiência de hipermercados com o segmento de proximidade e franchising. Com este negócio, pretendemos construir em conjunto uma empresa de futuro que nos permita ser a marca preferida dos nossos clientes, colaboradores, parceiros, cidadãos e acionistas. (…) Temos um caminho ainda em construção pela frente, mas temos a certeza de que a marca que somos hoje será a marca do futuro”, refere o diretor-geral da Auchan Retail Portugal, Pedro Cid.

Como o ECO noticiou no verão passado, quando a proposta foi conhecida, este negócio vai criar o quarto maior negócio no mercado nacional do retalho alimentar, com uma quota a rondar os 7%. Em conjunto, as duas cadeias colocam-se a par do Intermarché e da cadeia espanhola Mercadona, em termos de vendas, e ficam apenas atrás do Continente, do Pingo Doce e do Lidl.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Justiça portuguesa termina 2023 com mais de meio milhão de processos pendentes

  • Lusa
  • 30 Abril 2024

Os tribunais judiciais portugueses terminaram 2023 com mais de 581 mil processos pendentes, registando-se um ligeiro aumento (0,3%) face a 2022, segundo as estatísticas  divulgadas pela DGPJ.

Os tribunais judiciais portugueses terminaram 2023 com mais de 581 mil processos pendentes, registando-se um ligeiro aumento (0,3%) face a 2022, segundo as estatísticas divulgadas pela Direção-Geral da Política de Justiça (DGPJ).

Segundo os dados do último ano, registavam-se 581.891 processos pendentes nos tribunais judiciais de primeira instância (sem contar com os tribunais de execução de penas), ou seja, mais 1.759 processos do que em 2022.

Entraram no ano passado 431.512 processos (mais 3,4% relativamente a 2022) e foram declarados findos 429.753 (menos 6,5% do que no ano anterior).

Apesar do ligeiro aumento do número de processos, as estatísticas da justiça evidenciam que os processos pendentes estão bastante abaixo do máximo registado em 2012, quando a pendência chegou a ser superior a 1,6 milhões de processos.

Os processos pendentes contemplam, segundo a DGPJ, todos aqueles que entraram no sistema e ainda não têm uma decisão final, seja na forma de acórdão, sentença ou despacho na respetiva instância, independentemente do trânsito em julgado da decisão.

A maioria dos processos que deram entrada (63%) e que foram dados como terminados (65%) em 2023 eram da área cível, existindo igualmente um ligeiro aumento na justiça na área tutelar de família e menores.

Registaram-se menos novos processos na área penal e na área laboral, mas em todas as áreas processuais foi observada uma descida no número de processos findos.

A diferença nos processos pendentes em relação a 2022 traduziu-se num recuo da taxa de resolução processual – que mede a capacidade do sistema judicial num determinado ano para enfrentar a procura de novos processos – para 99,6% em 2023, “sendo o primeiro valor, nos últimos 11 anos, com valor de taxa de resolução processual desfavorável”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Défice orçamental regressa em março. Finanças culpam anterior Governo

  • ECO
  • 30 Abril 2024

O novo Governo culpa o anterior executivo pela "forte degradação do saldo orçamental" no primeiro trimestre. No último mês de Medina nas Finanças, em março, o défice atingiu os 259 milhões de euros.

As contas públicas voltaram ao vermelho pela primeira vez “desde dezembro de 2022”. De acordo com um comunicado das Finanças, enviado esta terça-feira às redações, o excedente de 785 milhões em fevereiro passou para um défice de 259 milhões de euros em março, último mês de Fernando Medina como ministro.

“Esta forte degradação do saldo orçamental, entre janeiro e março de 2024, resulta, em grande medida, de decisões e compromissos assumidos já este ano pelo anterior governo e, em muitos casos, após as eleições de 10 de março”, adianta a curta nota do ministério, agora liderado por Joaquim Miranda Sarmento.

Em termos homólogos – ou seja face ao primeiro trimestre de 2023 –, existiu uma redução do saldo orçamental, em contabilidade públicas, em 5,3 mil milhões de euros no primeiro trimestre deste ano. As dívidas da Administração Central a fornecedores aumentarem cerca de 300 milhões de euros nos primeiros três meses do ano, adianta ainda a nota.

A síntese de execução orçamental, entretanto publicada pela Direção Geral do Orçamento (DGO), adianta mais pormenores da evolução das finanças públicas. Por um lado, recorda que a variação do saldo foi influenciado pela “transferência, em 2023, da totalidade das responsabilidades asseguradas através do Fundo de Pensões do Pessoal da Caixa Geral de Depósitos (FPCGD) para a CGA, no valor de 3018,3 milhões de euros”, que não “teve impacto no saldo das contas nacionais”.

Sem esta operação de transferência do FPCGD, a receita cresceu 4,3%, à boleia do aumento da receita contributiva (9,6%) e da receita não fiscal e não contributiva (10,2%). Já a receita fiscal caiu 0,3%. Na receita fiscal das Administrações Públicas é sublinhada a quebra do IVA (-5,6%), embora a receita do IRS e ISP tenham aumentado 3,1% e 13,7%, respetivamente.

Já a despesa subiu 15,1%. A DGO destaca que o crescimento da despesa é explicado “essencialmente pelos aumentos nas transferências (23%), nas despesas com pessoal (7,8%) e na aquisição de bens e serviços (7,2%)”. A atualização das pensões, assim como o aumento do número de pensionistas, no regime geral, pesaram na gaveta das transferências. Tal como as medidas para mitigar o choque geopolítico e inflação, em particular a compensação para conter os preços das tarifas de eletricidade.

Estas medidas representaram, em março, uma redução da receita de 249,8 milhões de euros e um aumento da despesa total em 673,9 milhões. Os mecanismos para travarem a subida do Impostos sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) retiraram, por exemplo, cerca de 244 milhões às receitas públicas. Com maior peso, no lado da despesa, esteve a alocação de verbas para o Sistema Elétrico Nacional (SEN) de forma a reduzir a tarifa, que teve um custo de 566 milhões de euros.

Entre as despesas com pessoal é indicado o “impacto das medidas de atualização remuneratória dos trabalhadores em funções públicas, com efeitos desde o início do ano, bem como o impacto das medidas de valorização intercalares ocorridas no ano anterior e da medida especial de aceleração das carreiras na Administração Pública”.

 

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

CTT pagam dividendo de 0,17 euros a 16 de maio

  • Lusa
  • 30 Abril 2024

O dividendo ilíquido de 0,17 euros por ação corresponde um dividendo líquido de 0,12240 euros ou de 0,12750 euros, consoante a sua sujeição a IRS ou IRC, respetivamente.

Os CTT vão pagar um dividendo, aprovado em assembleia-geral, de 0,17 euros por ação em 16 de maio, comunicou esta terça-feira a empresa à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

“Nos termos e para os efeitos do disposto na alínea b) do n.º 1 do artigo 29.º-K do Código dos Valores Mobiliários e no n.º 1 do artigo 7.º do Regulamento da CMVM n.º 1/2023, os CTT – Correios de Portugal, S.A. (‘CTT’), na sequência da aprovação da proposta de aplicação de resultados pela assembleia geral anual realizada no passado dia 23 de abril, informam sobre o pagamento de dividendos referentes ao exercício de 2023”, refere o comunicado.

Em causa está um dividendo ilíquido de 0,17 euros por ação, a que corresponde um dividendo líquido de 0,12240 euros ou de 0,12750 euros, consoante a sua sujeição a IRS ou IRC, respetivamente. A mesma informação indica 16 de maio como data de pagamento do dividendo, referindo que este será efetuado através da Central de Valores Mobiliários, sendo agente pagador o Banco Montepio.

O resultado líquido dos CTT subiu 66,2% no ano passado, face a 2022, para 60,5 milhões de euros. As ações do CTT fecharam a sessão desta terça a ceder 1,89% para 4,41 euros.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Sonae paga dividendo de 5,6 cêntimos a partir de 16 de maio

Assembleia-geral aprova contas de 2023, em que a dona do Continente aumentou os lucros em 6,4% para 357 milhões de euros, e também a subida do peso da remuneração variável dos administradores até 76%.

A Sonae vai começar a pagar aos acionistas o dividendo de 5,639 cêntimos por ação a partir de 16 de maio, por conta dos resultados alcançados no ano passado. Representa um aumento de 5% face a 2022 e equivale a um dividend yield de 6,2% face ao preço de fecho a 31 de dezembro de 2023.

A proposta da dona do Continente foi votada favoravelmente esta terça-feira na assembleia geral anual, em que foram também aprovadas as contas relativas ao último exercício, em que os lucros aumentaram 6,4% em termos homólogos, para 357 milhões de euros, assim como votos de louvor e confiança aos órgãos de administração e fiscalização.

Além da cooptação de Maria Teresa Ballester Fornes para assumir as funções de administradora não executiva independente até ao termo do mandato em curso, relativo ao quadriénio 2023/2026, foi também dada “luz verde” as alterações à política de remunerações dos administradores executivos que elevam para 76% o peso máximo da remuneração variável.

A revisão proposta pela comissão de vencimentos, composta por Artur Santos Silva, José Côrte-Real e Ramon O’Callaghan, falava em “fortalecer a competitividade” e reforçar o “alinhamento e compromisso” dos administradores executivos com “os interesses de médio e longo prazo da sociedade e com a sua estratégia empresarial, reforçando e premiando a sua contribuição, individual e coletiva, para o sucesso da sociedade”.

Em 2023, o volume de negócios da Sonae cresceu 9,2% e superou os 8,4 mil milhões de euros, impulsionado principalmente pelo crescimento da MC (retalho alimentar) que, “perante o contexto inflacionista desafiante e competitivo, conseguiu reforçar a sua posição de liderança no mercado português de retalho alimentar”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Investimento e exportações pesam no PIB mas arranque do ano foi positivo

Economia desacelerou no primeiro trimestre, em termos homólogos, mas mesmo assim cresceu acima da média da Zona Euro. Investimento e exportações são fatores de preocupação.

A estimativa rápida do Instituto Nacional de Estatística mostrou que a economia portuguesa começou o ano a crescer, ainda que com uma desaceleração. Economistas ouvidos pelo ECO alertam para os efeitos do abrandamento das exportações e do investimento, mas apontam que é positivo nesta conjuntura se ter verificado na mesma um crescimento e novamente acima da média da Zona Euro.

Os dados mostraram que o PIB de Portugal cresceu 1,4% no primeiro trimestre face ao período homólogo, o que se traduz numa desaceleração. Já na comparação trimestral, a economia avançou 0,7%, o que representa uma estabilização face ao trimestre anterior.

Como explica o diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira, ao ECO, esta desaceleração em termos homólogos deveu-se a um “efeito base”, já que o primeiro trimestre de 2023 teve um crescimento de 1,5% que foi “muito excecional e era difícil de repetir”.

Admite ainda assim que o crescimento de 0,7% em cadeia, igual ao trimestre anterior, é “significativo”. Se este crescimento fosse o mesmo nos quatro trimestres do ano, daria um crescimento de 2,8%, o que está “muito acima do que qualquer previsão para o conjunto do ano”, nota.

Ricardo Ferraz, investigador no ISEG e professor na Universidade Lusófona, também destaca ao ECO que “é positivo que temos arrancado o ano a crescer” e “acima da média da Zona Euro, tanto em termos homólogos como em cadeia”.

No entanto, alerta que “é preciso ter cautelas”, já que “é facto que tanto o investimento como as exportações estão a desacelerar”. “O comportamento desta última indicia uma conjuntura que ainda não é a melhor, apesar de estar a melhorar”, nota, como se vê pelo facto de que “há países que estavam em recessão técnica e já não estão (como a Irlanda) e o PIB alemão também cresceu”.

Pedro Braz Teixeira partilha destes receios, salientando que o Fórum para a Competitividade não vai mudar a previsão para o conjunto do ano, até porque apesar do crescimento ser razoável, a composição “já não é tanto”. A procura externa líquida “foi positiva ainda que as exportações tenham caído: foram as importações que ainda caíram mais”, o que “não é inteiramente positivo”.

Já em relação à procura interna, “houve uma redução no investimento, o que não é muito favorável”. Tal pode estar relacionado com a execução do Plano de Recuperação e Resiliência, que pode ter sofrido com o Governo em gestão no início do ano, além de que a “incerteza política fez adiar uma serie de decisões de investimento”. E esta incerteza “não ficou resolvida com as eleições”, alerta.

Ricardo Ferraz também salienta que “é preciso que haja uma aceleração da execução do PRR”, que seria até “fundamental para puxar pelas empresas”, numa “conjuntura instável” que pode dar “menor incentivo a que as empresas se comprometam com investimentos”.

O economista defende ainda que “para não ficarmos para trás quando os grandes motores arrancarem, temos de pensar no futuro” e para tal seria benéfico um “plano de reformas estruturais que seja transversal a toda economia”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Acordo com extrema-direita? Socialistas ameaçam retirar apoio a von der Leyen na corrida a Bruxelas

Von der Leyen admitiu estar disponível para negociar com o ECR na próxima legislatura, e não agradou os socialistas. Candidata precisa de ser um nome consensual entre os 27 para garantir reeleição.

Ursula von der Leyen arrisca-se a ficar sem o apoio dos socialistas (PSE) no Conselho Europeu para uma reeleição como Presidente da Comissão Europeia, em setembro, depois de ter admitido estar disponível para negociar com o grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), na próxima legislatura.

Os valores e os direitos não podem ser comprometidos em função do próximo parlamento“, afirmou esta terça-feira Stefan Löfven, presidente do PSE e ex-primeiro-ministro sueco. “Ou se quer lidar com a extrema-direita ou não se quer. Como progressistas, podemos dizer com firmeza: não apoiamos nenhuma coligação no Parlamento Europeu com o Identidade e Democracia (ID) ou o ECR“, afirmou Löfven numa mensagem nas redes sociais.

A resposta dos socialistas surge na sequência da intervenção de von der Leyen, durante o primeiro debate entre todos os candidatos à presidência da Comissão Europeia que decorreu, esta segunda-feira, em Maastricht, nos Países Baixos. Embora a atual chefe do executivo comunitário tenha excluído um pacto com o grupo de extrema-direita populista identitário, o Identidade e Democracia – que inclui a francesa Marine Le Pen e, futuramente, o Chega de André Ventura –, a atual chefe do executivo comunitário foi mais ambígua quando se tratou de trabalhar com a ECR, que é apoiada pela primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.

“[Uma coligação com o ECR] depende muito da composição do Parlamento e de quem está em que grupo”, respondeu von der Leyen, esta segunda-feira, durante o debate. Atualmente, o ECR representam o terceiro maior grupo no Parlamento Europeu, com 70 deputados de 15 países, e integram, designadamente, os Irmãos de Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, o Vox, de Espanha, e o partido Lei e Justiça, da Polónia.

Candidatos ao de Presidente da Comissão Europeia no primeiro debate político, esta segunda-feira, 29 de abril, em Maastricht. (Da esquerda para a direita) Valeriu Ghiletchi (MPCE – Movimento Político Cristão Europeu), Walter Baier (Partido da Esquerda Europeia), Marie-Agnes Strack-Zimmermann (Partido da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa), Nicolas Schmit (Partido dos Sociais & Democratas Europeus), Ursula von der Leyen (Partido Popular Europeu), Bas Eickhout (Partido Verde Europeu), Maylis Rossberg (Aliança Livre Europeia) e Anders Vistisen (Partido da Identidade e da Democracia).EPA/MARCEL VAN HOORN

O gesto de von der Leyen pode dificultar a conquista do apoio necessário para uma recondução por mais cinco anos, em Bruxelas, não só da sua família partidária, o PPE, como também de dirigentes socialistas, uma vez que a eleição para o presidente da Comissão Europeia terá que ser suportada, em primeiro lugar, pelos 27 chefes do Conselho Europeu. Posteriormente, o Parlamento Europeu deverá confirmar essa nomeação com uma maioria absoluta dos votos.

Um dos aliados socialistas de peso que von der Leyen terá de segurar é Espanha. E a própria cabeça de lista já se manifestou contra as declarações da atual presidente.

“A mensagem de Von der Leyen é muito preocupante. Em Espanha, sabemos bem o que significa fazer um pacto com a extrema-direita; o que ela representa em termos de redução de direitos, liberdades e serviços públicos“, cita o El País, as declarações de Teresa Ribera.

Em Espanha, o Partido Popular, da família europeia de Von der Leyen, já fez acordos com o Vox nas câmaras municipais e nas comunidades autónomas, e o presidente do partido, Alberto Núñez Feijóo, chegou a admitir formar uma coligação a nível nacional para formar Governo.

Neste momento, existem oito candidatos na corrida à presidência da Comissão Europeia, com as sondagens a indicar uma provável reeleição de Ursula von der Leyen por mais cinco anos no top job em Bruxelas.

A nomeação só deverá acontecer em setembro, depois da tomada de posse dos 720 eurodeputados e da eleição da mesa do Parlamento Europeu. Esse processo deverá ocorrer a 16 de julho, na primeira sessão plenária, depois de serem apurados os resultados das eleições europeias que vão acontecer, em toda a União Europeia, entre 6 e 9 de junho. Em Portugal, as urnas estarão abertas a 9 de junho e serão eleitos 21 eurodeputados.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.