Mercan direciona 1.200 milhões de euros de vistos gold para 31 hotéis em Portugal
Portimão, Faro, Funchal, Santo André e a baixa de Lisboa são próximos destinos para a Mercan Properties, que iniciou em 2015 um caminho que levará 1.200 milhões de euros de vistos gold à hotelaria.
O grupo Mercan Properties, chegado a Portugal em 2015 para aproveitar a oportunidade de negócio dada pelo regime de Autorização de Residência para Atividade de Investimento (ARI, vulgo vistos gold), prepara-se para, antes do final da década, crescer dos atuais 12 até aos 31 hotéis no país. Esta dimensão, no dia de hoje, colocaria os canadianos a apenas uma unidade do Grupo Vila Galé, terceiro maior hoteleiro a operar em Portugal.
O investimento via ARI, iniciado em Portugal em 2012, ano seguinte à assinatura do programa de assistência financeira com a troika, permitiu aos canadianos desenvolver a esmagadora maioria do 31 hotéis sob o regime de visto gold para reabilitação. Além destes 28 hotéis, em que se incluem unidades abertas, outras em construção e ainda algumas em projeto, existem outros três com projeto desenvolvido com base na modalidade de investimento que a Mercan Properties está a promover atualmente, numa resposta à alteração legal das regras de ARI.
Este modelo em curso é o do investimento em “hospitality”, no qual se insere o fundo Mercan Private Equity Fund I, de 140 milhões de euros, já pertencente à nova geração de investimento de ARI, centrada na hotelaria. Para viabilizar a sua estratégia, a Mercan Properties, gestora das unidades hoteleiras, confiou a gestão do fundo a uma entidade terceira, devidamente registada na CMVM, aponta o diretor-geral.
O regime de “hospitality” pressupõe a aplicação de um capital de 500 mil euros em unidades de investimento. No regime legal anterior, entre a variedade de opções para candidatura a visto gold, a Mercan Properties optava pela reabilitação urbana, que exigia um investimento individual de 350 mil euros em áreas de alta densidade urbana e 280 mil euros nos territórios de baixa densidade.
Para gestão dos hotéis, os canadianos estabeleceram uma equipa específica, recrutando profissionais com experiência em hotelaria, alguns há décadas ligados a esta indústria.
O Grupo Mercan, canadiano, é uma empresa de gestão de emigração. A entrada em Portugal deve-se ao facto de na altura a Mercan ter identificado o país como ótimo para captar investimento e capitalizar esse investimento em projetos hoteleiros.
Dos 31 hotéis da lista hoteleira da Mercan Properties, 12 estão já em funcionamento, sob marcas dos grupos Hilton, Marriott, Wyndham e IHG, dispersos pelo Algarve, Alentejo e pelas duas margens do Douro no Porto. Só nas aberturas realizadas em 2024 foram investidos 70 milhões de euros, com os quais surgiram 338 quartos e se criaram 164 postos de trabalho, diz, ao ECO, o diretor-geral em Portugal da Mercan Properties, Miguel Gomes.
“O Grupo Mercan, canadiano, é uma empresa de gestão de emigração. A entrada em Portugal deve-se ao facto de na altura a Mercan ter identificado o país como ótimo para captar investimento e capitalizar esse investimento em projetos hoteleiros”, esclarece.
“A Mercan já tinha desenvolvido um modelo semelhante nos EUA, no passado, mas no qual não era investidor maioritário nas unidades onde captou o investimento. Portugal é o primeiro país onde fez o investimento da totalidade de cada projeto e foi promotora de cada um dos projetos”, prossegue o responsável do grupo canadiano.
“O modelo de investimento que operamos em Portugal foi inovador por ter sido o primeiro país onde captámos investimento e direcionámos para projetos desenvolvidos pela própria Mercan. Captámos investimento na totalidade para cada um desses projetos”, destaca Miguel Gomes.
O direcionamento atual para a hotelaria está, na atualidade, a levar o capital dos cidadãos com nacionalidade de países fora do espaço Schengen aos três novos hotéis de Gaia e Portimão.
Em Gaia, o Riverview será um Marriott de quatro estrelas com 75 quartos. Na cidade do Barlavento surgirão o Alvor Beach Hotel, com marca Hilton, cinco estrelas e 193 quartos, e, na Praia do Vau, o Hard Rock. Desenvolvido em fases, este terá uma parte de investidores sob o regime anterior de ARI e a outra em “hospitality”.
Miguel Gomes responde à questão relativa à polémica levantada em Portimão por este grande empreendimento a 200 metros do areal (na informação online, a empresa promove o Ponte do Vau Beach Hotel como estando “a poucos metros da praia”) com a característica atual dos terrenos, ao abandono e com escavações a céu aberto que alagam em tempo de chuva, constituindo um potencial perigo para a população, aponta o gestor. A intervenção no Hard Rock incluirá a reabilitação de um edifício abandonado de uma antiga residencial para criação de um Beach Club.
Este hotel significará um investimento superior a 200 milhões de euros e a soma de cerca de 450 apartamentos e quartos de hotel. “Prevemos concluir em 2026”, explicita o responsável da Mercan Properties.
Quando questionado sobre o tipo de investidor de fora do espaço Schengen que vem procurar investimentos na hotelaria a Portugal, o diretor-geral da Mercan Properties aponta “investidores que procuram esta autorização de residência e que têm perfil muito diversificado, quer de origem quer de estrato social, mas identificam em Portugal uma oportunidade de adquirirem uma potencial nova forma de vida”.
De entre as mais de 80 nacionalidades, China, EUA e Médio Oriente predominam. Desta última geografia surgiu junto da Mercan Properties o “CEO de uma grande empresa americana, que vive no Dubai. Tive oportunidade de falar com ele, abordámos o tema do porquê do visto gold em Portugal e explicou que está muito satisfeito de viver no Dubai, mas tem dois filhos adolescentes e quer dar uma perspetiva de vida diferente aos seus filhos. Por isso, fez esse investimento em Portugal, que permitiu ter autorização de residência, e os filhos já estão a estudar aqui em Portugal. Este é o exemplo de um típico investidor de visto gold, ou ARI, em Portugal e nos produtos da Mercan”, assegura.
Taco-a-taco com o terceiro maior grupo hoteleiro em Portugal e próximo do segundo
A Mercan Properties tem em fase de obra mais uma dezena de hotéis. Uma das novas localizações é o município de Santiago do Cacém, onde está em construção um Hilton Tapestry frente à praia em Vila Nova de Santo André. Também a ser erguido, mas em Alfragide, encontra-se o Moxy, da Marriott, unidade de três estrelas com 218 quartos.
Uma das particularidades geográfica das escolhas da Mercan Properties é a presença junto das maiores portas de entrada aérea no país. Junto ao Aeroporto Humberto Delgado surgirá um Double Tree (marca do grupo Hilton) de quatro estrelas com 230 quartos.
Noutra capital, a do Algarve, o Hotel Indigo (grupo IHG) adicionará 135 quartos com classificação de quatro estrelas a Faro.
O investimento superior a mil milhões de euros por via de ARI será aplicado, nos próximos anos, para reforçar também no Funchal, onde surgirá um quatro estrelas da Marriott. Este mesmo grupo norte-americano de hotelaria quase centenário e a Mercan Properties planeiam chegar juntos também ao Bairro Alto, com uma unidade de cinco estrelas, e à Avenida 24 de julho, junto ao Cais do Sodré, dois dos dez hotéis ainda em fase de desenvolvimento e licenciamento.
Mais a sul, em Lagos, a empresa gerida em Portugal por Miguel Gomes acaba de colocar a primeira pedra do projeto Lagos Marina Hotel.
Para erguer este imponente portefólio hoteleiro num espaço inferior a década e meia, os canadianos, chegados a Portugal apenas em 2015, souberam aproveitar as possibilidades dadas pelos vistos gold e com isso aumentar a oferta de hotelaria num país em que o turismo representa cerca de 13% do PIB, tendo valido metade do crescimento registado em 2023.
Do investimento feito por cidadãos candidatos a ARI em projetos de reabilitação, nasceram já hotéis como a Casa da Companhia Hotel, na Rua das Flores, num edifício com cerca de três séculos que já pertenceu à Real Companhia Velha. Nesta unidade no Porto, foram investidos 11,2 milhões de euros por 32 investidores.
Também na “Invicta”, o Fontinha Porto, Trademark Collection by Wyndham reuniu 40 investidores, que ali aplicaram 14 milhões de euros. Metade deste valor, em Amarante, deu origem à Casa das Lérias, o único dos 31 hotéis da Mercan que não é explorado com uma insígnia internacional.
Igualmente a norte, a Mercan Properties está presente com dois Hilton e um Marriott (através da marca Renaissance, hotel que está em fase de expansão) no Porto, e um Sheraton em Matosinhos, num total de quase 120 milhões de euros e mais de 330 investidores.
Na margem esquerda do Douro, está em construção o Riverview Hotel.
Além de Amarante, o direcionamento para o interior já levou a Mercan Properties a duas grandes cidades alentejanas. Em Évora tem dois hotéis, o mais recente dos quais o Holiday Inn Express, num investimento de 16,8 milhões de euros inaugurado no final de outubro.
A estratégia passa pela dispersão geográfica diversificada, porque o país não é só Porto, Lisboa e Algarve. Existem outras localidades com bastante potencial turístico.
“A estratégia passa pela dispersão geográfica diversificada, porque o país não é só Porto, Lisboa e Algarve. Existem outras localidades com bastante potencial turístico”, explica Miguel Gomes, quando questionado sobre o racional destas cidades do interior alentejano para o estabelecimento de grandes marcas internacionais.
“As contas de exploração não estão piores por estarmos em Évora. Évora capta muito turismo, tem uma estadia média ligeiramente menor, mas tem as suas atratividades”.
Beja tem uma lógica distinta, explica. “Entrámos em Beja porque nos surgiu esta oportunidade, acreditámos no projeto, fizemos as nossas projeções e [considerámos que] Beja tem potencial. Também porque até à data não existia oferta de hotelaria com a qualidade de uma marca internacional”. Aberta em meados de agosto, esta unidade atingiu 45% de ocupação em finais de outubro e o seu restaurante já está a captar também quem passa pela cidade, mesmo sem ser hóspede, constata a Mercan Properties.
“A nossa ideia é que o turista que passa uma semana no Porto, passe uma ou duas semanas no Douro, Amarante, ou relativamente perto. O mesmo em Lisboa. Diria que metade dos turistas internacionais que visitam Évora estão a passar alguma temporada no Algarve ou Lisboa e complementam ali com dois ou três dias”, refere o responsável do grupo canadiano em Portugal.
Mais a sul, Albufeira e Lagos são parte de uma expansão para sete hotéis no Algarve. Dois Hilton, de 4 e 5 estrelas, e um Marriott em Lagos, dois hotéis em Portimão, um dos quais o primeiro Hard Rock no país, a unidade em Faro com marca Indigo, da IHG, e o já existente Hotel California Urban Beach, em Albufeira.
O portefólio, entre os hotéis abertos e os que estão em pipeline, é de 31 hotéis, 3430 quartos, 1.200 milhões de euros de investimento.
O California Urban Beach constituiu, explica Miguel Gomes, “uma novidade na atuação em Portugal. Incorporámos um hotel em funcionamento, que adquirimos no início do ano. O California foi desenvolvido unicamente pela Mercan, mas prevemos que seja incorporado num futuro veículo de investimento, como é aquele que a Mercan tem em vigor neste momento”, detalha o diretor-geral ao ECO.
“O portefólio, entre os hotéis abertos e os que estão em pipeline, é de 31 hotéis, 3430 quartos, 1.200 milhões de euros de investimento”, descreve, afirmando-se à “procura de novos projetos e oportunidades de investimento”.
Em perspetiva, note-se que o segundo maior grupo hoteleiro do país, Vila Galé, tem 32 hotéis no continente e ilhas — apesar de com planos de expansão, como o hotel anunciado este mês para a Golegã. A Accor, detentora de marcas como a Ibis, tem 38 hotéis. Ainda muito distante dos canadianos, o grupo Pestana, com mais de 70 unidades no país, número em que se inclui a rede de Pousadas de Portugal.
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