António Saraiva está preocupado com os sinais externos de abrandamento da economia e sublinha que foram exatamente esses receios que levaram os patrões a ser mais moderados nas suas reivindicações.
A guerra comercial de Donald Trump, o Brexit, a Catalunha e o arrefecimento da economia alemã. São estes os sinais externos que mais preocupam o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) relativamente ao futuro da economia portuguesa. Em entrevista ao ECO, António Saraiva explica que foram mesmo esses sinais que levaram os patrões a apresentar um caderno reivindicativo mais moderado, no âmbito da negociações do acordo sobre competitividade e rendimentos. A segunda reunião sobre essa matéria está marcada para a próxima segunda-feira.
Esses sinais externos preocupantes levam, por outro lado, o patrão dos patrões a criticar o Executivo de António Costa, por fixar a meta de subir o salário mínimo nacional para 750 euros mensais até ao final da legislatura, como se tivesse “uma bola de cristal”. “E se a economia — pelas variáveis externas e internas — não o suportar?”, questiona Saraiva.
Está preocupado com os sinais de abrandamento da economia?
Estou preocupado, até por causa das variáveis externas de que a economia depende, mais do que das internas — somos uma economia pequena, aberta ao mundo. Estou preocupado por causa dos sinais de alguma turbulência internacional: a guerra comercial dos EUA com a China, a guerra comercial dos EUA com a UE, o Brexit, a questão da Catalunha, o arrefecimento da economia alemã. Estou preocupado com estes sinais externos e o perigo que eles encerram, com esta redução das economias às quais está ligada uma grande fatia das nossas exportações.
Uma redução do consumo por parte dos nossos compradores levará também à redução do nosso mercado interno, porque as empresas que cá trabalham, trabalham muito para suportar aquelas que exportam. Por isso, estou preocupado sobretudo com os sinais externos e o seu reflexo na nossa economia como um todo. Enfim, estou apreensivo. Vamos ver como é que dobramos o Cabo das Tormentas.
Esses reflexos podem pôr em causa o acordo de rendimentos que agora se discute na Concertação Social?
Precisamente porque as variáveis externas nos preocupam é que doseámos a nossa ambição de querer ver tudo contemplado já neste acordo e tudo já neste Orçamento. Sabemos das dificuldades que o país tem; e que o país tem de evoluir sustentadamente. Da mesma maneira que as empresas estão sustentadamente a fazer o seu caminho para um novo modelo de desenvolvimento da economia portuguesa, também na nossa ambição de querermos tudo temos de definir prioridades.
Com estes sinais externos que nos preocupam, doseámos um pouco o nosso caderno reivindicativo. Vamos sustentadamente evoluindo, mas por isso também é que não percebemos o racional de se definir um salário mínimo de 750 euros, em 2023. E se a economia — pelas variáveis externas e internas — não o suportar? Por isso é que deve haver, ano após anos, uma adaptação, de acordo com o crescimento económico, ganhos de produtividade e inflação. E não decretar, qual bola de cristal, que o futuro nos será sempre risonho.
Precisamente porque as variáveis externas nos preocupam é que doseámos a nossa ambição de querer ver tudo contemplado já neste acordo e tudo já neste Orçamento.
Antecipa que não haja condições para chegar aos 750 euros em 2023?
Não antecipo que não há condições. Digo é que devemos ter o cuidado de ir medindo as condições. Não é definir já objetivos, sem saber se temos condições para ele.
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Face aos sinais externos preocupantes, “doseámos um pouco o nosso caderno reivindicativo”
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