O presidente da União das Misericórdias afirma que se metade das instituições entrar no Montepio "é uma sorte". E, mesmo as que entrarem, só deverão pôr mil euros cada uma.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai entrar no capital do Montepio. Mas não o fará sozinha. Outras misericórdias vão fazer o mesmo, mas não serão muitas. Se metade destas entidades entrar no capital “é uma sorte”, diz Manuel Lemos, adiantando ao ECO que, no máximo, cada uma deverá aplicar apenas mil euros. O presidente da União das Misericórdias que salienta, por isso, que este investimento não servirá para salvar o banco.
Manuel Lemos afirma, em entrevista telefónica, que “há um equívoco brutal” quando se fala em investimentos até 10 mil euros por parte das restantes misericórdias. “Se tivéssemos muito dinheiro… mas as misericórdias estão muito descapitalizadas”, diz o presidente da União das Misericórdias.
Se entrarem 200 misericórdias, num universo de cerca de 400, “é uma sorte”, afirma. “Estamos a falar de 200 mil euros”, uma contribuição que fica muito aquém do que tem sido falado. Este montante, defende Manuel Lemos, procura garantir a criação de um banco social, não será para salvar o Montepio.
Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, afirmou, numa entrevista à RTP3, que a SCML e algumas dezenas de misericórdias deverão investir cerca de 48 milhões de euros para comprarem uma participação de 2% no banco. Mas esta entrada no capital da instituição financeira deverá ser gradual, confirmou fonte oficial da Santa Casa ao ECO. Inicialmente, a Santa Casa deverá entrar com menos de 20 milhões por 1% do banco. Os outros 1% (ou seja, 30 milhões) deverão ser adquiridos pelas outras misericórdias e IPSS.
Está tranquilo com este investimento da Santa Casa e misericórdias no Montepio?
Há aí uma confusão muito grande… O investimento [das misericórdias] pode variar entre os mil e os 10.000 euros. Se multiplicar 1.000 euros por 400 misericórdias, estamos a falar de 400 mil euros. Isto se todas entrassem… mas penso que se entrar metade já é um número fantástico. Se entrarem 200 misericórdias estamos a falar de 200 mil euros. É um equivoco brutal.
Mas há uma margem entre mil e dez mil…
Sim, mas quem entrar, vai entrar com mil euros.
O resto é a SCML que põe?
Deve ser. Mas isso tem de lhes perguntar a eles, não a mim. A posição da União das Misericórdias é meramente residual. E residual quer dizer que vão entrar no máximo 200, 150, 100 misericórdias. Algumas ligam-me e dizem que vão entrar. Se for uma dúzia é muito.
A entrada no capital do Montepio será feita através da União ou a decisão será de cada uma das misericórdias?
Cada misericórdia é que decide. A entrada não será feita através da União. Por isso é que digo que se entrar metade já é uma sorte. Pelo menos agora… depois podem ir entrando. Mas, neste primeiro momento, é mais uma manifestação política do que financeira de que Portugal deve ter um banco de economia social. Há bancos de economia social em toda a Europa. Estamos a dizer às pessoas e aos representantes políticos que é bom para Portugal termos um banco de economia social. Não estamos a salvar o Montepio, nem a entrar no capital do Montepio para ter lugar no banco. Não é nada disso.
"Estamos a dizer às pessoas e aos representantes políticos que é bom para Portugal termos um banco de economia social. Não estamos a salvar o Montepio, nem a entrar no capital do Montepio para ter lugar no banco. Não é nada disso.”
Está satisfeito com o modelo em que esta entrada é feita?
Estou satisfeito com a notícia de que esta operação será igual às outras que já aconteceram na Europa.
Investir no capital de um banco é rentável para as misericórdias?
Estamos a falar de mil euros por instituição. Não é para ter rentabilidade, é para marcar uma posição política de que queremos um banco de economia social. Pensa que será rentável com uma misericórdia a pôr mil euros?
Mas estes mil euros não seriam melhor aplicados em ação social?
Não. Isso não resolve nada porque para termos ação social estamos constantemente a recorrer à banca. Portanto, ao aplicarmos esses mil euros estamos a criar condições para pôr “muitos mil euros” na ação social. Nenhuma misericórdia se vai descapitalizar por causa de mil euros. Se fossem 100 mil, 200 mil ou um milhão de euros… Isso sim.
Há misericórdias a produzir vinho, gado, compotas, azeite. Isso sim é economia social. É por isso que precisamos de ir à banca, de ter um banco que perceba que o setor solidário em Portugal é fundamental para ajudar as pessoas. Não vamos pedir dinheiro para comprar iates.
Não há nenhuma misericórdia disposta a pôr mais do que mil euros?
Não sei, não andei a perguntar. Não falamos sobre isso. Toda a gente percebeu o que estava em causa e ninguém foi atrás da rentabilidade. Temos feito muitas ações de economia social. Há misericórdias a produzir vinho, gado, compotas, azeite. Isso sim é economia social. É por isso que precisamos de ir à banca, de ter um banco que perceba que o setor solidário em Portugal é fundamental para ajudar as pessoas. Não vamos pedir dinheiro para comprar iates. É para isto. Por isso é que queremos um banco de economia social. Se tivéssemos muito dinheiro… mas as misericórdias estão muito descapitalizadas. Tem de ser olhado de forma positiva como mais um contributo do setor social e solidário e das misericórdias para um Portugal mais coeso e mais justo. Não é para ganhar dinheiro.
De que forma é que este investimento vai influenciar a economia social?
Se tivermos um banco forte de economia social podemos influenciar e muito.
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Manuel Lemos: “Misericórdias não estão a salvar o Montepio. Só põem mil euros cada uma”
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