"Gostava muito de ter mais IPO", mas o Via Bolsa não tem produzido esses resultados. Ainda assim, a presidente da Euronext Lisboa diz que o evento continua a ser uma ferramenta importante.
A Euronext Lisboa vai realizar a 3ª edição da Conferência do Via Bolsa, um evento em que procura atrair mais empresas para o mercado de capitais português. Até agora não conquistou nenhuma, mas Maria João Carioca, a presidente da bolsa de Lisboa, desvaloriza. Diz que continua a ser uma ferramenta importante. E “mais do que precisar de mais empresas, a bolsa portuguesa precisa muito de consolidar as histórias de qualquer empresa que esteja no mercado”.
O Via Bolsa, até agora, não deu frutos. Vai dar agora?Imagino que esteja a medir: produzo três IPO de cada vez que faço um Via Bolsa. Gostava muito de ter produzido e de ter no mercado mais IPO, mais entradas entradas de capital e mais colocações de obrigações. Gostava muito de ter um mercado com mais profundidade. Acho que se o tivesse não seria apenas resultado do Via Bolsa, assim como acho que o Via Bolsa não tem como resultado apenas os IPO e novas colocações. Vemos o Via Bolsa como parte de um trabalho de fundo que temos de fazer. É um momento importante. Dá-se às empresas a oportunidade de estarem entre si num ambiente em que é normal falar destes temas de financiamento e de mercado. O Via Bolsa continua a ser uma aposta. É uma ferramenta.
Já identificou empresas para irem para a bolsa?Esse é um trabalho que estamos efetiva, real e concretamente a fazer. Estamos a identificá-las não apenas com o crivo de termos a certeza absoluta de que elas vão fazer connosco um caminho até ao mercado, seguramente com o crivo de que achamos que são empresas que têm condições, que têm pessoas que manifestam interesse e que têm já uma visão para a empresa que nos leva a acreditar que mesmo que não seja uma imediata, no curto prazo, ao mercado, é seguramente um repensar da estrutura financeira e um usar do trabalho que se pode fazer com essas empresas para reforçar as suas condições, nomeadamente para fazerem investimentos. Estamos a identificá-las. Não tenho ainda a lista fechada. É um trabalho que estamos a fazer com as associações empresariais. A nossa ideia é tê-las identificadas até ao final do ano para podermos começar a trabalhar em concreto com elas no início do próximo ano.
A bolsa precisa desesperadamente de novas empresas?Desesperadamente é uma expressão muito, muito muito forte. Hoje em dia os mercados de capitais, e não apenas a bolsa de Lisboa, precisam de profundidade, de liquidez, de reforçar o papel que conseguem ter junto das empresas. A bolsa portuguesa em particular tem, neste momento, um contexto que tem um peso importante de alguns casos, tem um peso importante daquilo que é hoje em dia o facto de o PSI-20 não ter 20 empresas, ter apenas 18. Isso obviamente chama muito à atenção e suscita muita preocupação. Acho que mais do que precisar de mais empresas, a bolsa portuguesa precisa muito de consolidar as histórias de qualquer empresa que esteja no mercado.
As boas histórias. Consolidar as histórias pode ser contar uma boa história, contar um bom percurso para se recuperar uma boa história, pode ser o trabalho que se está a fazer, acreditando que se tem uma boa história, criar condições para que o mercado a perceba melhor. E isso tudo é o que a bolsa portuguesa precisa. Empresas que estão a trabalhar e que têm histórias de investimento e planos de negócio sustentáveis e são sólidos e que as conseguem contar aos investidores. Não preciso só de empresas… preciso de empresas que pela história que contam alimentam o interesse dos investidores no mercado português.
As más histórias dificultam esse interesse? Como é se dá a volta à história?"A bolsa portuguesa em particular tem, neste momento, um contexto que tem um peso importante de alguns casos, tem um peso importante daquilo que é hoje em dia o facto de o PSI-20 não ter 20 empresas, ter apenas 18. Isso obviamente chama muito à atenção e suscita muita preocupação.”
Dificultam. Não vale a pena escamotear o problema. O outro lado dessa história é que não somos o único mercado onde há dessas histórias. O relevante é sermos capazes de ver um caminho, ver que havendo um conjunto de casos, eles estão em resolução, que se aprendeu com eles, que o caminho que se está a usar para os resolver entende que pode usar o mercado como solução, e que tendo aprendido somos agora mais capazes de garantir que isto não se repete. O mercado sempre conviveu com falhanços e sucessos.
Lisboa tem muitas empresas zombie. Como é que se gere isso? Tenta-se esconder?Quando se esconde elas voltam à superfície mais cedo do que se pensa. Não se esconde. Percebe-se a natureza do problema. Em algumas percebe-se que é uma decisão acionista que reflete uma política de investimento que também deixa claro que a prazo pode haver um regresso a capital. Nalguns casos percebe-se que são empresas que vão estão afastadas daquilo que é a dispersão de capital, o que não quer dizer que estão longe do mercado no que é a necessidade de se financiarem. O mercado tem sempre de ser visto numa perspetiva de longo prazo. Temos de ser capazes de conviver com estes ciclos deprimidos garantindo que os mecanismos de mercado continuam a funcionar e que não deitamos o bebé fora com a água do banho.
Como vê o comportamento da bolsa? E as várias forças que estão a mexer com os mercados?Estamos numa confluência de vetores. Não gostaria de estar a fazer projeções, mas o que estamos a ver são tendências de muito grande dimensão: estamos a ver uma grande pressão sobre os mercados de ações que continua a refletir-se no desempenho do índice português, mas também a nível internacional. Continuamos a ver uma grande preocupação dos investidores com histórias de investimento claras. Não quer dizer que não haja apetite pelo risco.
Mas o contexto empurra os investidores para o risco...Estamos a falar de um mercado que hoje em dia tem um peso muito forte dos institucionais. Os institucionais podem ser levados a acelerarem o seu apetite ao risco, mas fazem-no com exigências de visibilidade que são muito mais fortes do que quando temos um mercado com mais risco mas com outras classes de investidores. Os institucionais estão no mercado, mas estão cada vez mais exigentes.
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Maria João Carioca: “Mais do que novas empresas, a bolsa precisa de consolidar histórias”
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