Inaugurada há um ano, a Nova SBE é transparente, com espaços de colaboração e aberta ao mundo. É a melhor escola de formação de executivos do país e quer conquistar a Europa.
Uma nova casa, o 34.º melhor mestrado em gestão do mundo, a melhor escola portuguesa de gestão em Portugal e a 23.ª melhor em formação de executivos da Europa, um campus onde todos – alunos, empresas e a comunidade – querem estar.
O que é que a Nova SBE tem? Que campus é este e em que é que o mindset difere de outras escolas de negócios?
Daniel Traça (DT): O campus é só um reflexo do mindset. Esta escola tem 40 anos, e esse mindset tem 40 anos. Foi evoluindo, crescendo, acompanhando o mundo. Há alguns anos decidiu-se que havia uma ambição de crescer ainda mais, e isso significava internacionalizar, querer ter um lugar entre as maiores escolas na Europa. Foi uma questão de ambição mas também de sobrevivência, no sentido em que achámos que, com a nossa história de diferença, vanguardismo e inovação, mantermos-nos fiéis a essa história num mundo em que havia muito mais competição no ensino superior o exigia.
Foi essa estratégia que deu origem a este projeto e esta ambição, de termos uma escola portuguesa que tirasse melhor partido daquilo que há em Portugal mas com ambição de estar entre as melhores da Europa. E foi algo para que contámos com um apoio enorme da sociedade portuguesa. Tivemos uma campanha de fundraising para a construção do novo campus, um apoio de uma série de empresas: Santander, Soares dos Santos, Jerónimo Martins, entre muitas outras.
Estas empresas já eram parceiras antes deste processo ou foram parcerias que se fizeram especificamente para a construção deste campus?
DT: Eram parceiros antes mas obviamente tudo isto foi novo. Onde é que isto nos traz? Uma escola que tem duas grandes dinâmicas/ambições estratégicas: a primeira é o projeto de uma escola ambiciosa, internacional e conhecida internacionalmente, que ajuda a trazer talento para Portugal e transforma o país num hub na educação na área de negócios, economia e finanças. Uma projeção internacional é o nosso primeiro objetivo estratégico mas, também o desafio de um mundo que tem estado a mudar e de uma forma muito rápida. No mundo há três desafios que contam: o da tecnologia, o da sustentabilidade e o da globalização.
Qual é o papel das universidades nesse contexto?
DT: Antigamente as universidades formavam as pessoas. Formavam jovens e algumas faziam um exercício em formar pessoas que já estavam no mercado de trabalho, ajudando a melhorar as suas competências. O que sentimos é que é preciso mudar ainda mais depressa porque esta disrupção trazida pela tecnologia, globalização e sustentabilidade à vida das pessoas, das empresas e da sociedade vai ser enorme, muito rápida, e vai exigir que as universidades se transformem. Uma parte importante desse projeto é que, se havia muito desse trabalho feito antes nas universidades, era feito sobretudo do lado da formação de talento apenas.
Só se consegue fazer a verdadeira transformação se todos puderem trabalhar uns com os outros: e isto exige novas formas de trabalhar em que até um líder de topo pode passar a ser um contribuidor individual.
Tinha a ver com formação técnica?
DT: Davam-se competências técnicas, sim. É preciso aprender finanças, estratégia. Mas hoje é preciso mais competências de tecnologia, maior capacidade de desenvolver liderança, empatia, a possibilidade de as pessoas trabalharem umas com as outras. Por um lado, as competências das pessoas estão a alterar-se mas, por outro lado, não faz sentido desenvolver só talento se percebermos que as organizações, elas próprias, não se estão a transformar para sobreviverem a isto.
A grande alteração filosófica que pode servir de modelo às outras universidades é esta ideia de que temos de estar do lado do talento e do lado das empresas, a ajudá-las a transformarem-se. Isto significa que, não só ajudamos a preparar os recursos humanos como ajudamos na estratégia, na inovação e em todas as dimensões que as empresas precisam para se transformarem em vida nova. E isto é que é realmente novo: esta lógica de que não faz sentido apenas trabalhar o talento se as próprias empresas, como organizações, não se reorganizarem. A meu ver é esse o modelo em que estamos: fomos os primeiros a chegar até aqui e, quando falamos nisto às empresas sentimos uma enorme adesão à ideia.
Que valor acrescentado tem a universidade perante as empresas?
DT: Conhecemos melhor as competências e as empresas, graças também a todo este processo de fundraising que nos levou a estar mais próximos das empresas e das suas dores. Se hoje tivermos uma empresa que esteja a mapear os seus concorrentes e não perceber que a disrupção há de vir de alguma startup que está a ser criada algures em Silicon Valley ou na China — e aqui liga à questão da globalização -, e que não perceba como é que o seu negócio vai ser alterado por causa dos parâmetros da tecnologia, esta empresa está pura e simplesmente perdida, no meio das árvores e a não conseguir sair para ver a floresta. E para isso é preciso trabalhar com estas empresas para dizer: atenção, afinal os seus concorrentes não são os cinco tradicionais. E isto permite retomar a nossa estratégia fundamental: num mundo que será fundamentalmente diferente daqui a cinco e, extraordinariamente diferente daqui a 10 anos, todos e cada um de nós, tem de repensar a estratégia para a carreira, a empresa ou o negócio.
A tradição da Nova ao longo dos últimos 40 anos tem sido ser uma escola voltada para o futuro, para o mundo, sem medo de disrupções para fazer face a esses desafios. E o que estamos a fazer agora é uma continuidade, não só dos últimos três anos mas dos últimos 40 porque é o nosso DNA e a nossa história.
“Voltada para o mundo”. Este campus reflete essa abertura?
DT: Sempre fomos abertos mas agora somos muito abertos ao mundo. Este campus tem duas coisas importantes: para a comunidade é um campus extraordinariamente aberto. Se entrar e sair, não há portões. Temos algumas empresas que se instalaram no campus com as suas áreas de inovação para estarem aqui a fazer as suas atividades: mais aberto do que isto não existe. Já não temos os alunos a saírem para conhecer as empresas, que era o modelo antigo das universidades. Nós temos as empresas no campus, a estarem junto dos alunos: este é o grau de abertura que queremos e acreditamos que não há outra forma. A transformação das universidades passa por essa abertura mas passa também por perceber que é a pensar o futuro que as universidades serão úteis.
"Gostava que as organizações que sentem que querem abordar o seu futuro numa lógica de transformação sintam que a casa para o fazerem é a Nova.”
As universidades são o sítio, por excelência, para pensar o futuro, e têm de assumir essa responsabilidade. É este o desafio: uma escola de negócios preocupada sobretudo com a forma como cada um de nós, as empresas e organizações em Portugal e no estrangeiro, encontramos um roadmap, um caminho para termos um futuro que não seja de ansiedade e de medo como o que vivemos mas que seja de esperança. Só conseguimos transferir esperança à sociedade: quando a trouxermos às organizações e às empresas.
Como está a ser feita esta abertura às empresas de maneira a estarem cá?
Pedro Brito (PB): Em primeiro lugar, a expectativa das empresas mudou muito nos últimos anos. Olhando para trás, era mais instrumental, com a expectativa de chegar à educação dos “meus” executivos, dos “meus” talentos. Hoje tem a ver com impacto e adoção desses conhecimentos, com uma agilidade que não conseguem encontrar nas suas empresas pela dimensão, complexidade e compliance que cada vez é mais pesado nas empresas, e também pela transformação individual. Isto significa que temos de conseguir tornar prática a adoção de conhecimento – que é de excelência – em algo que é possível aplicar no dia a dia. Essa é que é a nossa ambição: não só passar conhecimento mas garantir que há uma aplicação prática. Estamos num contexto em que nunca foi tão difícil ter tantos papéis diferentes na vida pessoal e profissional, é difícil fazer escolhas, sentimos sempre que estamos no red light a caminho do burnout, porque as coisas mudam muito rapidamente, as nossas funções são ambíguas mas a culpa não é das organizações: o mundo está a mudar tão depressa que as organizações estão a fazer o melhor que conseguem. Nós temos a responsabilidade, e a oportunidade — eu diria — de ajudar as empresas a fazer esse caminho. Por um lado, essa transferência de conhecimento por adoção, por outro, a tal questão da agilidade. Estamos a ajudar empresas, por exemplo da área dos seguros, a criar desde o momento da ideação até ao go to market.
Com o apoio de alunos do mestrado, que também entram não só numa perspetiva descontaminada como também são os clientes do futuro. Temos 50% dos alunos de mestrado internacionais, o que dá uma perspetiva muito mais internacional do impacto que aquele produto pode ter em diferentes mercados e não só no nacional. As empresas estão a olhar para nós como solução de grandes problemas.
DT: O conceito passa por trabalhar organizações e pessoas como um ecossistema, do qual o campus é a casa mas o mindset é o mais importante. E esse mindset de abertura faz com que estejamos aqui a trabalhar em conjunto e a aprender uns com os outros. Antecipa esse contacto e assegura que os alunos, quando estão nas aulas, falam com as empresas ao mesmo tempo. Com isto, todos melhoramos, enriquecemos e somos desafiados: isto é que é fundamentalmente novo. Este campus foi pensado exatamente para ser isto: ser este ecossistema aberto de pensar o futuro e trazer soluções novas.
Quais são os próximos passos nessa estratégia?
PB: Temos a ambição de ser uma das business schools mais admiradas da Europa e isto consegue-se com dois grandes fatores: uma equipa robusta — temos procurado recrutar cá e fora equipa com bagagem e com potencial tremendo para nos colocar ainda mais alto no ranking do Financial Times — e uma lógica mais colaborativa. Não temos a arrogância de pensar que temos todas as soluções mas a ambição de sermos reconhecidos local e internacionalmente tem a ver com o que acreditamos que é o nosso potencial: para podermos entregar a nível nacional a melhor proposta de valor temos de entregar internacionalmente as melhores soluções, não podemos ficar na concha do mercado doméstico. Essas duas vertentes podem ajudar a posicionar-nos como uma das business schools mais admiradas.
DT: Consegue-se percebendo que o que vem aí é diferente e, sem medo, sem demasiadas reservas e sem demasiados estados de alma, aceitarmos essa mudança porque é inevitável. E também sem passar muito tempo a refletir sobre estas questões, sermos os primeiros a dar este salto de mudarmos a nós próprios para sermos mais capazes, úteis nesta transformação. O mundo muda tão depressa que só há espaço para os primeiros a chegar.
"O mundo muda tão depressa que só há espaço para os primeiros a chegar.”
Esse é o mindset, e volto ao início. É esta abertura que é total. Somos uma business school mas trabalhamos em tecnologia. Somos uma universidade mas trabalhamos com empresas e startups dentro do campus. Somos uma escola mas trabalhamos em rede com outras escolas. Esta vontade de trabalhar sempre em rede e em comunidade com todos é o fator mais importante. O resto é uma declinação dessa abertura.
E isso confunde ou aperfeiçoa a ideia que o mundo tem acerca de vocês?
DT: Acho que é novo, é uma tendência nova e acho que, por ser novo, as pessoas ficam surpreendidas.
PB: Quando olhamos para a quantidade de coisas que fazemos, elas convergem para uma necessidade que é denominador comum. As pessoas neste momento têm uma necessidade — não só a nível individual mas também corporativo — que implica ajudarem-nas a lidar com este desafio que é a mudança constante, repentina e never ending…
DT: E complexa. De uma enorme complexidade.
PB: E nós temos de ter de facto soluções que trabalham, algumas, numa lógica de stand alone e outras numa lógica combinada porque os desafios são diferentes. Estamos a procurar fazer cada vez mais é trabalhar com uma manta customizada à realidade de cada indivíduo numa lógica de long life learning: de facto as pessoas já não vêm aprender uma vez, vêm ter connosco quase como se fosse um advisor a longo prazo.
Além das empresas, os alunos também mudaram muito ao longo dos últimos 40 anos?
DT: Eu sou aluno de há vinte e muitos anos e vejo estes alunos a chegar. São diferentes e este é um país completamente diferente.
Quais são as principais diferenças?
DT: Temos hoje uma juventude que, por um lado, quer o mundo. A última coisa que eles querem, como era na minha geração, é alguém que lhes deixe o caminho mais ou menos trilhado e depois eles só têm de fazer os saltinhos todos para percorrer o caminho. Hoje os jovens querem ter a abertura total, experimentar, ser desafiados e, sobretudo, querem sentir que o que estão a fazer faz sentido.
Esta vontade de estar no mundo do ponto de vista geográfico, do ponto de vista das oportunidades e de poderem fazer tudo, dentro deles sentirem-se a crescer, a ter impacto e a transformar esse mundo, é muito diferente daquilo que era a minha geração. E as universidades têm de mais uma vez perceber isso e ajustarem-se. E, claro, também as organizações. Se as empresas não conseguirem transformar-se do ponto de vista desta lógica de sustentabilidade, de sentido de propósito, de poderem dizer aos trabalhadores “é isto que fazemos no mundo, é este o nosso impacto”, e com isso motivarem estes jovens, eles, para mercenários, não vão estar muito tempo.
Como reter estas pessoas?
DT: Não vale a pena criar talento e criar uma geração que tem esta visão do mundo — que é o que Portugal precisa — e depois as empresas dizerem “ai não, não, não, queremos pessoas que sigam passos e ordens”. Não dá, as empresas têm de se transformar. E esta transformação é importante: quando as empresas conseguirem tirar partido da capacidade destes jovens de inovar e criar valor, de ter ideias e da sua capacidade de execução, vão crescer. Mas para isso têm de se transformar, não há crescimento sem transformação.
Uma escola com empresas
Com mais de 60 parceiros institucionais e corporativos, a Nova SBE de Carcavelos abriu a escola às organizações. É lá que empresas como o Santander, a Jerónimo Martins ou a EDP têm desenvolvido projetos de impacto, tanto dentro das suas organizações, desde a área de desenvolvimento de talento ou de inovação, como numa perspetiva de goodwill da própria marca. “Temos tido inclusivamente empresas estrangeiras interessadas em trazer os seus hubs de data analytics ou de inovação para Portugal. Há um ecossistema que é muito feliz porque temos diversidade do ponto de vista das nacionalidades, Portugal do ponto de vista de segurança, temos um ecossistema que se permite a fazer este trabalho mais ágil, de disrupção com uma equipa que é cada vez mais reconhecida a nível internacional”, explica Pedro Brito.
Transparência de dentro para fora
Inaugurado há um ano, o edifício da Nova SBE em Carcavelos foi pensado com um princípio fundamental: transparência. “Muitos espaços de estar comuns, abertos. Esta lógica de ser um edifício com muito vidro, muito transparente e em que todos nos vemos uns aos outros. Ter um edifício que é aberto e permite que as pessoas entrem e saiam, sem portões e barreiras”, explica Daniel Traça. O dean da universidade explica o grau de abertura com “um exemplo simples”. “Há um piano lá em baixo. Vêm pessoas durante o dia, da comunidade da quinta de S. Gonçalo, entram pelo campus e tocam. E estamos todos aqui, temos serenatas maravilhosas, de pessoas que entram no campus para tocar. Esta transparência, abertura, vontade de estar com o mundo, fazem desta escola o que ela é: uma comunidade de um grupo de atores que se sentem todos em casa assim que entram por estas portas”.
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Nova SBE: A ambição de ter um lugar ao sol [na Europa]
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