Virgílio Lima considera que é preciso renovação na administração do Banco Montepio. Presidente da mutualista garante que o Banco Montepio não deverá pedir mais capital ao acionista.
O futuro da Associação Mutualista Montepio depende de forma como o Banco Montepio vier a cumprir o seu plano de negócio. “O banco é central para o futuro. É a grande preocupação. Tudo passa pelo banco“, afirma Virgílio Lima em entrevista ao ECO. O presidente da Associação Mutualista revela que o Banco Montepio está a preparar uma operação para reforçar os seus capitais. “Como o banco tinha ativos improdutivos, cerca de 2.000 milhões em créditos em incumprimento e imóveis que são altamente consumidores de capital, não geram rendibilidade e estavam ali estacionados a consumir capital sem retorno, antes de pôr novo capital, é preciso rendibilizar o que lá está“.
A Associação Mutualista Montepio é acionista do Banco Montepio. Como avalia o trabalho da administração do banco?
O que vou dizer tenho dito em sede de assembleia geral do banco por escrito, e ao conselho [de administração] do banco, em relação à importância do banco para a AMMG. Temos de funcionar com autonomia própria. E sem ingerências. Mas com a proximidade que a natureza do grupo e a verdadeira interpenetração de clientes e associados e toda esta realidade determina.
O banco é central para o futuro. É a grande preocupação. Tudo passa pelo banco. E daí esta proximidade. E o que nós temos observado é que no início, até conhecermos o ‘funding and capital plan’, era uma dificuldade. Hoje é algo que discutimos a cada passo. É algo que discutimos com o próprio supervisor do banco. É algo que discutimos com a gestão continuamente. E que acompanhamos e par e passo.
Isso deveria ser normal?
Deveria ser e está a ser. De facto, houve aqui dificuldades no passado que estão superadas e as equipas estão a trabalhar também num fim de um ciclo, porque vai haver eleições tal como aqui no final deste ano. Há um trabalho com outra profundidade muito centrado no cumprimento do plano de negócios aprovado. É em função do plano de negócios aprovado que a libertação de imparidades futuras se vai fazer. E nós escrutinamos isso continuamente com o próprio banco.
E estão a cumprir?
Estão a cumprir o plano de negócios.
A nossa expectativa é que agora e com o grupo todo numa inversão de ciclo, e a própria AMMG em desenvolvimento e crescimento na margem, nos resultados, no número de associados, e com este trabalho articulado do grupo, possamos de facto… não há necessidades de capital, as entidades gerarão capital endógeno, serão auto-suficientes.
O Banco Montepio precisará de mais capital?
O banco está a fazer um esforço de reestruturação também no sentido de racionalizar o seu funcionamento, de centrar nas áreas chave que são mais a sua natureza: As famílias, designadamente a habitação, onde vinha perdendo quota e hoje está a ganhar quota de mercado; As pequenas e médias empresas e não grandes operações que não são a nossa natureza. Houve todo um recentrar da atividade que permite otimizar o capital. Fazer um financiamento à habitação é um terço do capital de um empréstimo normal a outra entidade. Fazer uma linha protocolada consome muito menos capital. E cria uma longa de ligação com o cliente, fideliza, e permite depois a venda cruzada para muitas outras áreas do grupo. Isto está a ser feito consistentemente e de acordo com os planos definidos.
A própria reestruturação da carteira de negócios liberta capital. Estamos a alienar alguns ativos consumidores de capital e menos produtivos. Em domínios diversos. A simplificar o grupo o mais possível, pois também isso é consumidor de capital.
E, finalmente, estamos a preparar outra operação: Como o banco tinha ativos improdutivos, cerca de 2.000 milhões em créditos em incumprimento e imóveis que são altamente consumidores de capital, não geram rendibilidade e estavam ali estacionados a consumir capital sem retorno, antes de pôr novo capital, é preciso rendibilizar o que lá está.
O banco está a fazer esse esforço no sentido de viabilizar [esta operação], sem prejuízo para o banco, porque há aqui muitas imparidades acumuladas nestes créditos, eles estão quase completamente cobertos, então se somarmos as garantias reais que muitos deles têm, eles podem sair sem perda para o banco. Isto é uma questão sobre a qual não falarei com detalhe, pois tem de ser apurada a sua viabilidade.
Com o Banco de Portugal?
Primeiro entre nós. E, se concluída a viabilidade, antes de alguém, temos de falar com o Banco de Portugal, por um lado, porque estamos a tratar do banco, mas depois também com a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões [ASF], porque tudo isso se repercute na casa-mãe.
Já tem uma posição comum dentro do grupo Montepio sobre essa operação?
Do ponto de vista conceptual, está tudo muito aprofundado. Estamos numa fase final de conclusão sobre a viabilidade. Se, como espero, concluirmos pela viabilidade da operação, e antes de sequer darmos a conhecer esta situação, temos de junto dos supervisores obter o sancionamento para a solução. Se isso for feito e for obtido, nós temos aqui uma via significativa de libertação de capital.
Mesmo sem isso, há soluções de titularização de alguns ativos que estão a ser pensadas no sentido de, se necessário, podermos de facto trabalhar com o capital que temos. E assim noutras entidades do grupo também, como nos seguros. É exatamente o mesmo para não se estar a pedir mais capital à casa-mãe continuamente, pois não há necessidade disso.
Não espera, portanto, que estas entidades do grupo venham bater à porta da Associação para pedir mais capital?
Não. Já no ano de 2020 todo o grupo teve resultados positivos. Todo, com exceção do banco, por esta razão, e as nossas residências assistidas que, por virtude da pandemia, tiveram custos excecionais e que, tendo vindo num ciclo de resultados positivos, foram negativos no ano passado. Este ano já estão positivos outra vez de forma consistente. E assim também todo o grupo. Temos as seguradoras a dar dinheiro. O melhor ano da seguradora Vida nos seus 30 anos de existência foi o ano passado, a seguradora Não Vida teve um desempenho excecional, antecipou até responsabilidades futuras e, mesmo assim, apresentou resultados positivos de 3,5 milhões de euros. O próprio banco, antes da pandemia, vinha no seu terceiro ano de resultados positivos e até março do ano passado tinha resultados positivos. Isto infletiu depois da pandemia.
A nossa expectativa é que agora e com o grupo todo numa inversão de ciclo, e a própria AMMG em desenvolvimento e crescimento na margem, nos resultados, no número de associados, e com este trabalho articulado do grupo, possamos de facto… não há necessidades de capital, as entidades gerarão capital endógeno, serão auto-suficientes. E como terão imparidades para libertarem, se cumprirem os seus planos de negócios, isso gera valor bastante para o acionista mesmo sem dividendos, recuperando resultados transitados dos últimos anos. É neste quadro que todos os planos estão suportados e que estamos a trabalhar.
Há uma coincidência de eleições da mutualista e nos órgãos sociais do Banco Montepio. Defende a continuidade desta equipa do Banco Montepio no próximo mandato, com Carlos Tavares e Pedro Leitão?
É uma matéria que a seu tempo se colocará. Na minha opinião, como temos eleições também na AMMG, há uma muito maior legitimidade da equipa que os associados escolherem, para ser ela, depois, a escolher a equipa do banco. Há sempre, por razões de dinâmicas próprias destas coisas, necessidade de alterações. É uma matéria a que estamos muito atentos.
Com os dados que tem hoje, já tem uma reflexão sobre o tema?
É crítico, é imperativo, até pela importância do banco, que se pense isso desde já. Isso tem de ser articulado com todas as instâncias que relevam para o efeito.
Pode esperar pelas eleições que serão no final do ano para que a associação mutualista, enquanto acionista, tome uma decisão sobre a equipa de gestão do Banco Montepio…
Há aqui questões de calendário que o permitem. Vai haver eleições para a associação em dezembro. Chegou-se a admitir alguma antecipação por causa da necessidade de eleições para a assembleia de representantes, mas efetivamente vai ser no período normal de dezembro. E, cessando também a equipa do banco o mandato nessa altura, tem a responsabilidade ainda de fechar as contas em março ou abril.
Há aqui quatro meses em que isso é possível, em conjugação com todas as entidades envolvidas numa decisão desta importância. Mas tem de ser preparado com tempo. Agora, o momento para efetivamente concretizar é nesse intervalo, e há aí tempo para isso.
Vê necessidade de um novo ciclo no banco do ponto de vista da composição dos órgãos sociais do banco, da administração do banco?
Pelas razões que aduzi, não devo pronunciar-me sobre isso, nem sei quem os associados vão escolher. Isso seria um pouco estranho estar a pronunciar-me com rigor e objetividade sobre essa situação.
Em todo o caso, gostaria de dizer que, decorrente deste desempenho conseguido e que temos observado, naturalmente, quem quer que seja o gestor, o gestor que estiver aqui tem de olhar para esse desempenho. Isto também não se faz com ruturas, mas não se faz sem renovação.
Ou seja, sem ruturas, mas com renovação.
Sem ruturas com a renovação necessária e inerente a estas situações e à complexidade destas entidades e também à dinâmica dos próprios órgãos sociais.
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“O Banco Montepio é central para o futuro da associação”
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