Bancos encerram 19% das agências e cortam 3.700 trabalhadores nos últimos cinco anos

A forte reestruturação da banca nos últimos anos tem-se traduzido numa escalada dos resultados. Só em 2023, os bancos tiveram lucros recorde de 5.576 milhões de euros, mais 79% do que em 2022.

O setor bancário tem atravessado uma profunda reestruturação nos últimos anos. Só nos últimos cinco anos foram encerradas 801 agências e contabilizada a saída de 3.700 trabalhadores. Mas esta tendência de emagrecimento da banca nacional dura há cerca de uma década, com o setor a reduzir em 41% o número de agências e a cortar mais de 18 mil postos de trabalho desde 2013.

A dinâmica arrancou na sequência da crise financeira mundial de 2008, desenvolveu-se no decorrer da crise das dívidas soberanas e das resoluções de bancos, e foi alavancada com a pandemia à medida que os bancos se foram adaptando às novas tecnologias e ao crescimento da digitalização de todas as suas operações.

Este quadro fez com que, por exemplo, na última década, a rede de agências tenha passado de 5.647 para apenas 3.327 no final do ano passado, e o número de trabalhadores tenha passado de 77.706 em 2013 para 59.087 em 2023. Só nos distritos de Lisboa e do Porto, o número de agências caiu para quase metade no espaço de uma década, como resultado do fecho de 1.020 espaços.

O distrito menos penalizado pela reestruturação do negócio dos bancos foi Angra do Heroísmo, que nos últimos 10 anos perdeu apenas 13% das suas agências bancárias, mantendo atualmente 33 espaços abertos, que compara com as 38 agências que detinha em 2013.

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Em 2023, o setor continuou a ajustar-se, com os dados do Banco de Portugal a mostrarem uma redução de 36 agências no território nacional, ao mesmo tempo que se assistiu a uma redução da concentração do número de balcões nos maiores distritos do país. “O peso das agências nos cinco maiores distritos diminuiu quase 10 pontos percentuais desde o início da crise financeira, em 2008”, destaca o Banco de Portugal em comunicado.

Ao nível de trabalhadores, a tendência de cortes na banca comercial manteve-se em 2023, mas os dados do Banco de Portugal revelam uma subida do número global de funcionários do setor pelo segundo ano consecutivo, por conta da “subida de trabalhadores de uma entidade residente pertencente a um grupo internacional que presta serviços a uma escala global para outras entidades do grupo” e que, segundo o regulador, já é “o maior empregador do setor em Portugal.” A entidade bancária a que o Banco de Portugal se refere é o francês BNP Paribas, estabelecido em Portugal desde 1985 e que atualmente emprega mais de 8.700 pessoas.

Uma maratona de lucros

O ano que passou ficará na memória da banca nacional como o melhor de sempre. De acordo com dados do Banco de Portugal, os bancos tiveram lucros recorde de 5.576 milhões de euros, 79% acima dos resultados alcançados em 2022 e 42% acima dos 3.928 milhões de euros de 2007, que até então envergava o estatuto de melhor ano para o setor.

Só os cinco maiores bancos contabilizaram lucros recorde de 4.444 milhões de euros em 2023 (cerca de 80% dos lucros do setor), um aumento de 72% face aos números de 2022. Destaque para os resultados da Caixa, que fechou o ano com lucros de 1.291 milhões de euros e que, posteriormente, entregou ao Estado (o seu acionista) 525 milhões de euros sob a forma de dividendos.

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A sustentar os resultados líquidos da banca em 2023 esteve a escalada das taxas de juro ao longo de todo o ano, que provocou um disparo de 63% da margem financeira para um marco recorde acima dos 12 mil milhões de euros. “O aumento da margem financeira é justificado, essencialmente, pela subida mais rápida das taxas de juro dos empréstimos do que das taxas de juro dos depósitos”, explica o Banco de Portugal.

No final do ano passado, o diferencial entre as taxas aplicadas aos stocks de empréstimos e depósitos era de 4,6 pontos percentuais, “tratando-se, pelo segundo ano consecutivo, do valor mais elevado destas séries de taxas de juro”, que remontam a 1990, destaca o regulador.

Os dados históricos do Banco de Portugal mostram também que os bancos portugueses estão mais sólidos e são muito mais rentáveis do que eram no passado. Por exemplo, em 2023, a banca apresentou um rácio de fundos próprios de nível 1 (Tier 1) recorde de 17,9%, quando as exigências do regulador europeu apontam para um rácio mínimo de 6%.

Na componente da rendibilidade, de acordo com cálculos do ECO, a banca fechou 2023 com uma rendibilidade dos capitais próprios (do inglês return on equity, ou simplesmente ROE) histórica de 16,4%. Além de se tratar deu um rácio 1,7 vezes superior ao apresentado em 2022, é também mais do triplo do ROE registado nos cinco anos anteriores e bem acima do ROE médio de 8,97% registado pelos bancos da União Europeia em 2023.

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O panorama bancário português está a passar por uma metamorfose sem precedentes, moldando um novo paradigma financeiro para o país. A era dos balcões em cada esquina e do atendimento presencial massificado parece estar a chegar ao fim, dando lugar a uma banca mais enxuta, digitalizada e, paradoxalmente, mais lucrativa.

Enquanto as portas físicas se fecham, as digitais escancararam-se a uma velocidade estonteante. A banca portuguesa demonstrou uma resiliência notável, alcançando lucros históricos de quase 6 mil milhões de euros em 2023, impulsionados por uma margem financeira recorde. Este desempenho financeiro, aliado a rácios de solidez impressionantes, sugere que o setor emergiu mais forte e ágil desta reestruturação.

A questão que se impõe não é se a banca sobreviverá a esta transformação, mas como ela redefinirá sua relação com os clientes e a sociedade. Grande parte do desafio passará pelo equilíbrio da eficiência operacional com a responsabilidade social, garantindo que a inovação financeira não deixe para trás aqueles que ainda dependem dos serviços bancários tradicionais.

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